História Fate - Capítulo Único

– Parabéns Sra. Baratheon, está grávida, com cerca de dois meses.

A palavra martelou na sua cabeça uma e outra vez. Grávida, grávida, grávida, repetia uma voz em tom de gozo. Só podia ser mentira, mas o sorriso estampado na cara do médico dizia o contrário.

Robert não estava em Ponta Tempestade à dois meses, pensou. Ela tinha engravidado do espírito santo e ia dar à luz o novo messias. Os seus olhos arderam, mas não chorou, invés disso soltou uma gargalhada. Dr. Aemon deu algumas pancadas nas suas costas parabenizando-a e ela perguntou a si mesma como ele não partia um pulso, já era tão velho...

– Volte no próximo mês para a ecografia.

Saiu para a rua, ainda atordoada com a notícia.

Robert não estava em Ponta Tempestade à dois meses, repetiu novamente para si mesma. Estavam chateados. Tinham discutido, e tinha sido feio ao ponto de expulsá-lo de casa por um tempo. Tanto quanto sabia, seu marido tinha ido visitar o irmão mais velho em Pedra do Dragão. E ela tinha-o aceitado de volta por se sentir culpada depois de... Oh céus. A realidade abateu-se sobre si como uma avalanche.

Jon era um bebé pequenino e vermelho, a coisa mais adorável que alguma vez tinha visto. Robert apareceu depois do parto, com o hálito a feder a álcool e tropeçando em seus próprios pés. Ned, que estava parado ao seu lado fitando o amigo com reprovação, tinha segurado a sua mão e prometido que tudo ficaria bem.

Robert lançou um longo olhar a Jon, que se mexeu em seu berço, esticou o dedo e tocou-lhe no braço, como se tivesse medo que o pudesse quebrar. Lyanna respirou fundo, temendo o pior quando Jon acordou. Ainda não sabia a cor dos seus olhos... Se fossem... Deuses, já tinha sido problema suficiente convencer a médica a alinhar na história de que seu filho era prematuro.

– É a sua cara Ned, meu filho vai ser um nortenho aborrecido. Ah! Olhe esses olhos cinzentos!

Lya soltou uma risada seca, e Ned deu um longo suspiro aliviado. Não tinha percebido que ele segurava o ar. Olhou na sua direção confusa. Não precisavam trocar palavras, sempre tinham sido assim. Ele sabe. Ned sabia que Jon não era filho de Robert. Só não sabia de quem ele era.

Edric nasceu no ano seguinte, berrando e esperneando como um verdadeiro Baratheon e vestindo as cores típicas de sua família. Os seus cabelos eram negros e olhos de um tom azul profundo que Lyanna um dia tinha amado, mas não mais. Era o filho favorito de Robert, e Lyanna não conseguia ignorar o olhar de desapontamento nos olhos de Jon quando era deixado para trás numa caçada, ou quando seu marido elogiava Edric após um jogo de futebol.

Jon sempre fora o mais calado, embora extremamente curioso. Era costume vê-lo algures agarrado a um livro ou simplesmente a observar as pessoas. Sabia sempre dizer quando algo a perturbava... E não havia nada que a perturbasse mais do que a semelhança de hábitos que ele tinha em relação ao verdadeiro pai. Não que o filho alguma vez fosse desconfiar, Lyanna tinha garantido que eles nunca se cruzassem.

Mas cruzaram.

Jon tinha dezessete anos e Edric dezesseis quando o mais novo apareceu com metade do clube de futebol após um treino. Não que esse tivesse sido o problema, ou que os amigos de seu filho a incomodassem. Bem, talvez alguns a fizessem ficar desconfiada. Como o garoto de cabelos azuis que recentemente se tinha mudado para a cidade e ficado amigo de ambos os seus garotos, ou o outro que tinha mais tatuagens que pele.

O problema foi quando os pais começaram a ir buscá-los.

A campainha tocou e Jon abriu a porta. Lyanna ouviu-o conversar com alguém, mas não conseguia ver quem era e decidiu aproximar-se. Seu filho gesticulou para que o homem entrasse e olhou na sua direção, franzindo a testa ao ver seu ar de choque – Mãe está tudo bem?

Não, estava tudo péssimo, mas não conseguia encontrar palavras.

– Vim buscar Aegon, será que o pode chamar? – a voz dele continuava a mesma. A aparência também, maldito seja. Jon desapareceu algures no corredor, e os olhos violeta de Rhaegar Targaryen focaram-se nos seus – Que idade tem?

– Dezesseis – mentiu. Ele sorriu de lado.

– Tudo bem, não precisa dizer-lhe a verdade, mas eu gostaria que o fizesse um dia.

– Não há nada a dizer, não sei que verdade é essa que julga saber Rhaegar.

Jon apareceu, juntamente com o garoto de cabelos azuis, e olhou-os desconfiado – Tudo bem?

Se Lyanna achava que o pior na sua vida era Jon eventualmente tornar-se amigo do meio-irmão e passar a vida na casa dos Targaryen, ela estava enganada. E tudo começou quando Edric trouxe a namorada para conhecer a família. Não que fosse realmente necessário, uma vez que já todos tinham conhecido a garotinha mais velha de Ned, alguns anos atrás. Mas Sansa tinha oito naquela altura, e a mulher à sua frente tinha vinte e dois.

Robert elogiou a sua beleza, remarcando que nem Catelyn fora assim em sua juventude. Sansa corou, Edric riu, e Lyanna achou que aquele jantar correria ás minhas maravilhas. Até Jon chegar a casa e seus olhos se focarem na jovem. Ou desfocarem completamente.

Ouviu um clique na sua cabeça. Olhou para Sansa, que corava perante o olhar de seu filho mais velho, ao lado de Edric que parecia completamente aquém do que acontecia. Cabelos vermelhos. Oh deuses. Jon gostava de ruivas. Tudo tinha começado com Ygritte, ou assim ela achava. A primeira namorada de seu filho era dois anos mais velha que ele. Era bonita, mas perdia toda e qualquer beleza mal começava a soltar palavrões. Sem falar que cheirava constantemente a cigarro. Fora um desejo realizado eles acabarem, embora Jon se enfiasse no quarto e não quisesse falar com ninguém. Foi então que apareceu Melisandre. Lyanna quase soltou um suspiro pensando na fanática que tinha largado o seu filho para ingressar na fé. Seus olhos voltaram-se de novo para Jon, precisava remediar a situação, já.

– Até que enfim, Edric trouxe a namorada para jantar conosco.

Jon olhou dela para Sansa, e depois para o irmão. Meio-irmão na verdade. Abriu um sorriso amarelo, tirou o casaco e sentou-se à mesa. Bem ao lado de Sansa. Merda. Robert puxou a garrafa de vinho e encheu-lhe o copo. Lyanna nem tentou protestar, sentia que iria precisar de algum.

Demorou menos de um ano para que Sansa Stark e seu filho mais novo casassem. Menos de três meses para que Lyanna desconfiasse do seu caso com Jon. Não sabia se deveria sentir-se feliz pelo mais velho, ou revoltada com a traição que o mais novo sofria. Não que Edric seja um santo. Mas era seu filho e ninguém merecia aquela situação.

Mais uma Stark presa nas garras de um Targaryen.

Talvez fosse obra do destino.