Julia.
Então Justin subiu as escadas correndo como um lobo atrás de uma ovelha fugitiva.
— Nossa, que clima desagradável. Acho que devíamos ir embora, Taiyô. - Ame se levantou do sofá.
— Mas eu não quero ir embora! Quero saber o que vai acontecer! - Taiyô fez birra.
— Devíamos ir embora! - gritou Ame e puxou Taiyô pelos braços.
— Não, não! - Taiyô tentou se segurar, mas Ame era mais forte e levou ela para fora de casa, empurrando o meu pai e o pai de Lohana que se seguravam um ao outro para não caírem.
— Que covarde! - Lohana gritou para o ar atrás dos nossos pais. - Deixar isso por conta minha e de Julia!
— Isso poderia acabar encrencando a mim! - gritou a voz de Ame, distante.
Eu estava paralisada e Lohana tentando se mexer.
Eu poderia morrer agora mesmo.
— Er...pai. - Lohana sorriu para o tio Tom. Ela não recebeu nenhuma resposta, ele estava ignorando.
— Tudo bem. Quero explicações. - mamãe disse.
— Ah, mãe, eu posso explicar tudinho - me esforcei pra dar um sorriso caloroso a ela.
— Acho que eu deveria ver como está o Justin. - Ben comentou e saiu andando para as escadas devagar. - Com licença senhora, senhores.
— Justin? Justin Bieber? O que diabos ele está fazendo aqui e esse garoto alto também? - continuou assim que o Ben saiu de cena.
— Quem é Justin Bieber? Eu vou desmembrá-lo por estar de toalha na frente das meninas! – meu pai esbravejou depois de se recompor.
Tio Tom entrou dentro de casa com o rosto vermelho e foi para a cozinha, provavelmente procurando Alberta.
— E aí, como vocês estão? – Lohana perguntou, soltando uma risadinha nervosa.
— Como está o Brasil? Estou com saudades da vovó e do vovô, mãe. – comentei, me esquivando e sorrindo docemente.
— Julia, não mude de assunto mocinha. – agora minha mãe que se recompôs. - Nós ainda queremos saber de tudo o que aconteceu aqui enquanto não estávamos e pensaremos em sua pena.
Os pais são tão injustos, quer dizer, quando eles estão errados não podemos chamar a atenção deles para isso, mas quando é o contrário eles têm o completo direito de fazer isso.
— Bom... - abaixei os olhos para as as minhas mãos, sem saber o que dizer. Mãe, pai, Lohana bateu no meu ídolo e o trouxemos pra cá foragido do mundo e agora ele é meu namorado.
— Eu posso explicar. - Lohana levantou o dedo, pegando a atenção dos meus pais. Suspirei aliviada.
— Pode começar. - disseram juntos.
Ela olhou para os lados sabe se lá porquê. Assim que percebeu tio Tom distante porém participante da conversa, engoliu em seco.
— Sabem que íamos num show do Justin Bieber, não é? - Ela começou. Nossos pais assentiram. - Eu acabei me encrencando com a situação e o trouxe para cá.
— Aquele show no mês passado? - mamãe falou em português e inspirou e expirou o ar num tom exagerado. - Ele está aqui há tanto tempo?
— A Alberta ficou de olho na gente, mãe. - tentei ajudar, respondendo em português também. - Ela não tirou folga nenhum dia desde que ele chegou aqui.
Os adultos na sala pareciam mais relaxados.
— E aquele outro? - perguntou meu pai.
— Sabe o que é, tio? - Lohana continuou, em inglês. - Eu encontrei ele atropelado na rua, aí eu liguei para uma ambulância e fui para o hospital com ele. Quando ele acordou, me disse que tinha vindo lá de Nova York de uma família rica que agrediam ele e fugiu para tentar uma vida nova, longe de lá. E parou aqui na Califórnia, ele estava procurando um emprego quando foi atropelado. Então eu deixei ele ficar aqui até se arranjar...
— Você colocou um estranho dentro de casa? - tio Tom se levantou e o rosto dele ficou roxo, depois verde e depois ficou no vermelho. - Ele pode ser um assassino, ter uma arma contrabandeada e pode estar tramando a sua morte nesse exato momento! - sussurrou em português.
— Pai, por favor. - ela revirou os olhos. - Posso procurar no nome dele numa lista telefônica de Manhattan, já que era rico.
— Claro, me diga o nome inteiro dele. – ele bateu o pé no chão, impaciente. - Eu conheço quase todas as famílias ricas de Nova York.
Tio Tom é um chefe de uns prédios de Washington, Nova York e outros estados dos Estados Unidos aí, e o trabalho dele é bem-sucedido e ele viaja muito... É só isso que eu sei porque não me interesso muito. E o que é problemático é que nas horas vagas ele é ator. Quase fez um filme aí, só perdeu para o Hugh Jackman.
— Alguma coisa como... - ela franziu o cenho, provavelmente tentando lembrar. - Allen Smith IV, sei lá.
— O QUÊ? - tio Tom quase caiu da cadeira.
— O que foi? - Lohana arregalou os olhos.
— Só pode ser mentira...só pode ser mentira... - ele começou a se abanar.
Alberta entrou na sala e abraçou meus pais.
— Senhor e senhora Westwick! E senhor Carter! - Alberta avançou para o tio Tom, mas ele parecia nervoso demais para percebê-la o agarrando. - É bom ver vocês aqui! Venham, jantar agora!
— Lohana. - ele se levantou da cadeira, parecendo estar pronto para tudo. - Você, Julia e um adulto irão chamar esses meninos para jantar e nos encontramos na mesa.
Ele caminhou para a cozinha. Quando saiu, minha mãe nos olhou com o seu olhar de “agora eu vou contar o castigo de vocês.”
— As duas vão ficar de castigo até os trinta anos de vocês. - ela anunciou. O QUE?!
— Ai, tia. - Lohana reclamou. - Podia abaixar para os vinte e cinco anos? Com trinta eu possivelmente estarei no meu terceiro noivo, bem-sucedida e rica. Um castigo ia me atrapalhar nesse processo.
— Nada de piadinhas, Lohana. - mamãe revirou os olhos. Percebi que o tom de voz dela era mais leve, então quer dizer que a pior parte já passou. Quer dizer, com ela. Mas meu pai parecia pasmo com a reação dela.
— É isso? - papai estava desfazendo a posição de autoritário a confuso. - Os garotos não são chutados de casa? Não tem gritaria? Eu não vou poder pegar uma faca da cozinha?
— Não. - minha mãe disse e olhou para ele autoritária. - E é melhor fazer o que eu digo.
— Ok. - ele olhou para o chão, parecendo uma criança que não ganhou o brinquedo que queria.
— Muito bom. Então meninas - mamãe mudou de assunto. -, que tal uma de vocês chamarem esses meninos para jantar e irmos logo comer?
— Talvez eu devesse chamar. Podem ir lá para a mesa. - me pus de pé num pulo e Lohana também levantou. Eu estava aliviada por ninguém ter ido para o hospital. Ainda.
Então dei um abraço rápido nos meus pais, querendo expressar toda a saudade que eu estava deles.
Lohana.
Enquanto eu subia as escadas, pensava em matar eu mesma o Bieboboca. Mas desconsiderei a ideia logo. Eu poderia ir mesmo para a cadeia dessa vez.
Bati na porta de seu quarto. Depois de uns três minutos ele a abriu. Já estava vestido, com calça, uma camisa branca e um boné roxo. Ele pareceu aliviado por eu estar ali. Talvez pela primeira vez em sua vida.
— Que bom que era você. - ele colocou a cabeça para fora e olhou para os dois lados. Vendo o corredor vazio ele voltou a falar comigo num tom meio triste. - Eu queria uma bagagem emprestada. Juro que assim que voltar para Atlanta mando de volta com todo esse dinheiro que eu gastei.
— Está maluco, rapaz? - coloquei as mãos em volta do pescoço dele. Justin arregalou os olhos. - Quem disse que você vai voltar para a sua casa? Que isso!
— Mas eu... - ele murmurou, como se tivesse medo de falar alguma coisa que o matasse. Literalmente.
— Nada de mas, seu idiota. - devagar, tirei as mãos do pescoço dele. Justin inspirou e expirou devagar. - Ninguém quer te tirar daqui de casa. No máximo te matar aqui dentro mesmo. - por um segundo pareceu que ele queria voltar para dentro do quarto e se trancar para sempre só por alguma coisa que eu tinha dito. - Agora vai descer, porque te querem no jantar. Como prato principal. Brincadeira.
— Onde você vai? - ele perguntou quando eu comecei a andar em direção as escadas do terceiro andar.
— Vou chamar o Ben. Ele também subiu.
— Ah, vou com você. - ele me acompanhou. Medroso.
Chamei Ben e descemos. Os meninos pareciam nervosos. Eu entendia. Se eu fosse um menino e tivesse que conhecer o meu pai e os pais da Julia... nossa, lamento pela vida deles.
Julia.
Lohana, Justin e Ben entraram na cozinha, Nós já estávamos sentados e comendo.
Assim que tio Tom os viu, soltou o garfo e levantou da mesa.
— Cara, isso não é um bom sinal - Lohana comentou.
— Você é o garoto que enganou minha garotinha dizendo que é o Allen Smith desaparecido? - tio Tom encarou Ben.
— Minha garotinha? - Lohana olhou com raiva para ele.
— Desculpe senhor, mas eu sou mesmo o Allen Smith desaparecido. Eu fugi. - Ben respondeu.
— Ah - tio Tom recuou com a formalidade de Ben. Mas um segundo depois ele refez a máscara de autoridade. - Mas suas palavras não podem provar nada.
— Isso é verdade - Ben olhou para o chão, pensativo.
Enquanto isso acontecia, Justin estava sentado ao meu lado, encarando as próprias mãos apoiadas na mesa, apreensivo. Eu queria poder abraçá-lo e dizer que iria dar tudo certo, que não era pra ter tanto medo assim do meu pai, mas eu acho que estaria do mesmo modo que ele e, eu sentia o olhar pesado do meu pai sobre nós. Não iria arranjar mais confusão, meu pai poderia mesmo enlouquecer de histeria. Então, só me restava sorrir o mais confiante possível para Justin.
— Acho que vou ter que prová-lo que não sou um mentiroso. - Ben respirou fundo, se abaixou e tirou da meia um pequeno broche com as inicias do sobrenome. - Meu pai me deu quando eu era bem pequeno. Minha mãe tinha acabado de morrer e eu não conseguia dormir. Ele entrou no meu quarto, falou que eu era um menino forte e contou a história do meu artefato. - ele explicou, olhando fixamente o broxe na palma da mão. - Foi o único momento da minha vida que ele foi um pai. Isso é da minha família desde 1945. Você deve reconhecer o brasão.
Ben estendeu a mão para tio Tom ver o broche melhor. Ele pareceu um pouco emocionado.
— Sim, é mesmo o brasão da sua família - tio Tom apertou os lábios, pensativo. - É, eu conheço sua madrasta. Ele é uma baranga bêbada.
Bem sorriu, aliviado.
— Obrigado, senhor.
— Ele guarda uma relíquia da família dentro de uma meia? - Lohana perguntou, com uma careta.
— Eu não tinha lugar melhor para deixá-lo - Ben se defendeu. - Eu nunca perdi isso de vista desde que eu o ganhei.
— Mas agora você tem essas coisas mágicas nas suas calças que são chamadas de bolsos. Serve para guardar coisas - ela rebateu.
Tio Tom pigarreou, chamando a atenção deles.
— Então, daqui a dois dias eu vou ter que sair de novo, acho que posso te deixar aqui. Você teve uma vida bem triste, aposto. Conheci seus pais e não foi uma das coisas mais empolgantes que eu já fiz. Você me parece bom garoto. - tio Tom olhou para a Lohana, gentil. - Filha, acho que ele é a sua responsabilidade.
— Venha jantar conosco! - tio Tom puxou Ben pelo braço. - Temos macarronada, sanduíches, uma sopa maluca e salada!
Justin suspirou e ficou de pé, Lohana também. Ela estava boquiaberta com as ações do tio Tom, mas eu já esperava, ele sempre pareceu mais calmo que o meu pai.
— Acho que agora é a minha vez - meu pai se levantou da mesa.
— Uau, boa sorte, colega - Lohana falou e se sentou entre Ben e eu na mesa.
Lancei-lhe um olhar encorajador. Justin pareceu relaxar um pouco.
Talvez já estivesse na hora de você conhecer seu sogro.
— Minha filha me contou que vocês estão namorando - meu pai continuou. Ele olhou de Justin para a faca que estava na mesa. Às vezes acho que quem é filha realmente dele é a Lohana.
Justin ficou vermelho. Se ele tinha ficado relaxado ao meu olhar, ele ficou uma pilha de nervos ao olhar do meu pai.
— É... Sim, senhor - ele respondeu, sem jeito.
— AGORA EU VOU MATAR ESSE MOLEQUE! - meu pai pegou a faca da mesa e se levantou. Os olhos em fúria. Justin se encolheu um pouco.
Mamãe segurou seu braço, com força. Meu pai decorava seu sanduíche com tudo que via pela frente. Eu prendi a respiração. Ben assistia atentamente a cena e a Lohana disse:
— Só falta a pipoca! - ela colocou os cotovelos na mesa e encostou o rosto nas mãos. Na mesma hora, Alberta colocou duas bacias de pipoca – com cheiro de bacon e queijo – na mesa. Todo mundo parou o que estava fazendo por um segundo para encher as mãos de pipoca e comê-la.
— Mike Westwick - mamãe olhou severamente para ele depois de engolir as pipocas. - Nada de querer esfaquear o primeiro namorado da Julia. Já conversamos sobre isso. Você sabia que esse dia ia chegar. E nossa filhinha não está com qualquer um, é o Justin Bieber.
Justin deixou transparecer um pouco de convencimento e confiança, com as palavras da minha mãe.
Meu pai largou a faca na mesa. Mamãe o soltou. Ele andou até o Justin e eu prendi a respiração novamente. Pai, PARE COM ISSO!
— Tudo bem, é o seguinte - ele olhou nos olhos de Justin ameaçadoramente. Justin vacilou um pouco a sua confiança. - Se um dia eu souber que você fez mal a um fio de cabelo da minha princesinha, eu te caço até você ter sofrido o dobro. E eu não vou me importar com prisão perpétua, desde que eu pense que eu vinguei à altura.
Lohana olhava para a cena, maravilhada e chocada ao mesmo tempo.
— Princesinha? - senti minhas bochechas esquentarem.
Então, a raiva sumiu um pouco dos olhos dele e ele deu um sorriso, já que percebeu que as suas palavras tinham deixado Justin congelado e branco de medo. Papai pousou sua mão no ombro de Justin, que olhou para a mão dele assustado.
— Agora, junte-se a nós - concluiu. - Seja bem-vindo à nossa família.
(...)
Justin.
Pois é, eu sempre soube que era maluco.
Poderia ser caçado pelo pai de Julia, mas isso iria valer a pena.
Eram seis da manhã e eu estava preparado para sair.
Saí do meu quarto, a casa estava completamente silenciosa. Como eu esperava.
Ontem, tinha sido um dos dias mais pavorosos da minha vida. Nunca poderia imaginar que conhecer o pai coruja da sua namorada seria uma experiência tão assustadora.
E ali estava eu, tramando um plano para ficar só com a Julia.
Entrei no quarto dela e ela estava dormindo, segurando um urso de pelúcia.
Sentei na ponta da cama e passei minha mão suavemente em seu rosto, até ela abrir os olhos.
— Bom dia - eu sorri para ela.
Ela sorriu sonolenta e cobriu seu rosto com o cobertor.
— O que está fazendo aqui? Sabia que eu sou um monstro quando acordo? - ouvi sua voz abafada do cobertor.
— Então é o monstro mais lindo que eu já vi na minha vida – murmurei.
— Que horas são, galã?
— São seis e quinze, minha dama. Vista-se. Vamos sair hoje. Só nós dois.
— Para onde? - seus lindos olhos verdes saíram do cobertor.
— Isso eu não vou te contar. Só acho que precisamos passar um tempo juntos – tirei o cobertor de seu rosto. - Por favor, um rosto lindo como o seu não deveria ficar escondido assim.
— O que aconteceu? Está tão romântico hoje - ela tirou o cobertor completamente dessa vez.
Como ela é linda até acordando.
Beijei o topo de sua cabeça.
— Vou te esperar do lado de fora.
— Não vai me responder?
— Por enquanto, não.
— Ok, mas nada de olhar a fechadura quando sair.
Me levantei e fui até a porta.
— Claro que não. Mas se demorar muito, talvez eu certifique que você está bem. - dei um sorriso malicioso e fechei a porta antes que seu ursinho de pelúcia me atingisse.
Eu não a tinha respondido, mas já sabia a resposta. Eu tinha cansado. Tinha cansado de negar e lutar contra isso. A partir daquele momento, decidi que ia me abrir e me entregar para esses novos, estranhos e maravilhosos sentimentos.
(...)
Lohana.
Rolei na cama para ver que horas eram.
Onze e trinta e três da manhã.
— Eu poderia dormir até meio dia - falei para mim mesma.
Mas sabia que não iria conseguir. Comecei a pensar na escola. Faltei mais um dia. Imaginei Payton rangendo os dentes. Quase sorri.
Amanhã seria o terceiro e último dia.
Soltei um longo suspiro. Decidi que estava na hora de contar isso para Julia. Tirei meu pijama e coloquei uma blusa de manga preta com o desenho de uma caveira e short jeans.
Andei devagar até o quarto de Julia. Fiquei levemente surpresa quando eu vi a porta aberta e ninguém lá dentro. Ela já deve ter acordado.
No corredor, vi o quarto de Justin também vazio. O que eles estavam aprontando?
Passeando pela casa, vi que ninguém além deles tinham se levantado.
Na cozinha, nada deles.
Nos banheiros, também não.
Em nenhum dos quartos vazios eles estavam.
Nada deles na sala de música.
Nem uma sombra na minha biblioteca.
Nem no resto da casa.
Pois é, agora eu posso me desesperar.
— SAFADO, FILHO DE UMA ÉGUA, CANALHA! - gritei, para acordar todo mundo na casa. - ROUBOU A JULIA!
Ben foi o primeiro a aparecer na escada. Ele estava com o cabelo desarrumado, o pijama que eu tinha comprado para ele e o rosto estava bem desperto. Tipo, ele estava muito lindo, parecia um deus. Tentei não olhá-lo muito.
— O que aconteceu? - ele olhou para os lados, atento.
Tia Alice e tio Mike apareceram em seguida.
—O que foi? - perguntou tio Mike, depois de um longo bocejo.
Antes que eu pudesse explicar alguma coisa, meu pai desce as escadas segurando um extintor de incêndio.
— CADÊ O LADRÃO? - ele parou na minha frente como se fosse me proteger e olhou em volta. - Quem é o safado?
— Nossa, pai - eu comentei, sarcástica. - Se tivesse um ladrão aqui, você ia fazer o quê com ele? Sujá-lo com esse negócio que tem dentro do extintor?
— Se tivesse? - ele abaixou o extintor, decepcionado. - Eu poderia fazer um belo estranho nele, mocinha.
— Aham, claro - eu disse. - Só que o negócio é muito mais sério. Justin raptou a Julia.
— O quê? - tio Mike interrompeu um bocejo. - Eles foram para onde? Ele vai morrer.
— Mike, não comece - tia Alice enrolou o cabelo num coque. - Vou voltar para o quarto. Daqui a pouco eles voltam.
Tio Mike a ignorou e olhou para mim.
— Você tem alguma ideia de onde eles estão?
— Na verdade, não - pensei um pouco. Para onde ele iria? - Vamos ter que passear pela LA inteira.
— Eu olho até Las Vegas se for preciso! - tio Mike pegou a chave do carro na mesa. - Vamos!
— Ah, tio - eu chamei sua atenção.
— O quê? - ele respondeu, determinado.
— Você está de pijama - apontei para sua roupa.
— Ah, tudo bem - ele colocou a chave novamente na mesa. - Me dê cinco minutos. Tom, você vem conosco.
— Posso levar o extintor? - perguntou meu pai, com os olhos brilhando de ansiedade.
— Claro, por que não? - disse tio Mike, com um sorriso malvado no rosto. E foi para seu quarto.
— Pai - eu o chamei, antes de ele voltar para seu quarto também.
— Sim, filha? - ele se virou para mim.
— Onde está minha mãe? - fiz a pergunta que eu queria fazer desde ontem, quando o vi, mas não tive oportunidade.
— Ah, ela ainda está no Brasil - ele disse, sério. - Ela não pôde vir te visitar, mas ela mandou dizer que está com saudade.
— Sempre - eu dei um sorriso cauteloso.
Ele deu um sorriso infantil, desfazendo a seriedade e foi para o quarto.
— E então? - perguntou Ben, quando estávamos sozinhos na sala principal. Tinha esquecido que ele estava lá.
— E então o quê? - tentei de novo não admirar seu visual “acabei de acordar”.
— Eu também vou na caça ao Justin? - ele deu um sorriso brincalhão.
— Claro - sorri. Ele estava ficando menos sério, e isso era uma mudança boa. - Vá se trocar.
— Devo levar uma tocha? - ele deu uma gargalhada. Estava diferente. Tínhamos feito um progresso!
— Com certeza. Eu levo as armas! - gargalhei com ele e depois o empurrei, demorando um pouco mais que o normal em suas costas. - Vá logo se trocar.
E ele foi.
Enquanto estavam todos fora, eu peguei meu celular e procurei no mapa todos os lugares que o Justin poderia levar Julia. Pesquisei rotas. Anotei tudo em um papel.
Eles não podem fugir assim sem me avisar e pensar que vai ficar tudo bem.
— Vamos! - tio Mike apareceu, com uma camiseta e calsa jeans. E um boné.
Peguei as chaves do carro e joguei para ele.
(...)
Justin.
O celular de Julia tocou mais uma vez.
— Não vai atender agora? - perguntei, surpreso de como Lohana e o pai de Julia poderiam ser tão teimosos.
— Você sabe que não - Julia riu e desligou o celular. - Além do mais, nem conseguiria ouvi-los num parque de diversão.
Assim que saímos de casa, pegamos um táxi que nos deixou em frente a esse parque de diversões que nem eu, nem Julia sabíamos como voltar. Mas decidimos que ligaríamos para o pai dela quando quisermos ir embora.
Eu não usei disfarce nenhum dessa vez, queria que todos soubessem que eu estava de volta. E estava com uma namorada. E talvez até apaixonado.
Julia carregava um urso panda, um coelho e um cachorro de pelúcia médio, enquanto eu segurava para ela um Mickey de pelúcia do meu tamanho, que me impedira de ficar segurando sua mão. Era um pouco irritante ter que colocar o Mickey no chão toda vez que uma fã aparecia para pedir um autógrafo, mas tinha que admitir que sentia falta disso.
Engraçado era que as meninas ignoravam completamente Julia, o que a deixava irritada. Ela estava tão linda com aquela blusa frente única estampada, aquela saia azul bebê rodada, o cabelo cacheado preso num rabo de cavalo com um laço preto, o tênis branco e aquela combinação do rosto irritado que eu não conseguia fazer nada além de ficar com cara de bobo e beijar seu rosto sempre que podia. Isso a fazia sorrir.
— Então, está pronta para o próximo evento do nosso dia? - perguntei.
— E onde seria o próximo evento? – ela olhou para mim, sorrindo. Por um minuto fiquei olhando para aqueles dois hipnotizantes e chamativos olhos.
Cara, eu tenho que parar com isso.
Já estava na hora de perceber que está dando uma de romântico demais.
Que droga, pensei que isso tinha acabado. Não! Ela está feliz, então eu estou fazendo alguma coisa certa.
Isso! Admitiu que é romântico.
Cala a boca, meu Deus!
Não posso, sou uma voz da sua cabeça, não tenho boca.
ENTÃO FIQUE QUIETA, VOZ DA MINHA CABEÇA!
— Justin? - Julia me chamou para a realidade, olhei para ela. - Onde fica o próximo evento? E por que está olhando para o chão zangado?
— O quê? - perguntei, de forma inocente. - Ah, tem uma pedra, no meu pé. Mas deixe isso para lá. - joguei o Mickey no meu ombro e passei meu braço livre nos ombros de Julia. - Tem um shopping do outro lado da rua, e vi umas revistas com filmes muito maneiros.
— Então, cinema? - ela perguntou, hesitante.
— É, cinema - respondi confuso.
— Só?
— Só. Ou quer algo mais?
— Estava pensando em... Compras.
— Compras? - eu disse, assustado.
— Te peguei, bobinho! - ela deu uma risada. Sorri como bobo mais uma vez.
— Então, vamos ou não vamos logo para ver esse filme?
Andamos até o portão do parque. Pessoas entravam e saíam o tempo todo.
— Vamos logo ver esse filme! - ela puxou minha mão.
Nem preciso dizer que ao seu toque, eu me senti quente e feliz.
(...)
Lohana.
— ATENDE, CAPETA! - gritei. Quando ninguém respondeu, joguei o celular no banco do carro. Mas acabei acertando o braço de Ben.
— Relaxe - ele me disse, esfregando o braço atingido com a mão.
— Não dá! - fechei os olhos. - Para onde ela iria?
— Para onde eles iriam? - tio Mike me corrigiu, virando com raiva em uma esquina e me jogando em cima de Ben.
Ele me segurou antes que eu pudesse bater minha cabeça no vidro da janela. Quando o carro andou em reta de novo, eu me soltei rapidamente e fiquei o mais longe o possível dele. Ben e eu ficamos nos olhando envergonhados um para o outro.
— Ah, ache eles logo! - meu pai choramingou, abraçado ao seu extintor. - Eu quero jogar isso aqui em alguém. Mike, tem um radar ali na frente. Se algum policial nos prender, posso jogar o extintor nele?
— Claro, pai - eu disse. - Então saímos correndo desesperados para não irmos para a cadeia.
— Seria tão fácil achar as pessoas se tivessem um GPS dentro delas - meu pai começou a delirar, olhando para o céu pela janela do carro.
— Espera aí - pensei no que meu pai tinha acabado de dizer. - GPS! O celular da Julia tem um GPS! PAI, VOCÊ É UM GÊNIO!
— Eu sei disso - ele empinou o nariz e abraçou mais forte o extintor. Tio Mike, que estava ao lado dele, olhava atentamente a rua como um lobo procurando por uma ovelha.
— Tente logo esse GPS! - tio Mike gritou.
— Calma homem! - eu disse. Ben me entregou meu celular, sem olhar para mim. Peguei sem dizer nada e comecei a procurar Julia.
Meu GPS disse que ela estava em algum parque de diversões, bem longe daqui.
— Tio Mike! Achei! - gritei.
Ele parou o carro imediatamente, jogando todo mundo para frente.
— ONDE?! - ele arrancou meu celular de minhas mãos.
— Existe uma coisa chamada “por favor, me dá o seu celular” que eu acho que você poderia começar a usar. Só acho.
— EU SEI ONDE ESSE PARQUE FICA! - ele me ignorou e com uma das mãos ligou o carro e aumentou a velocidade, nos jogando para trás.
Ele estava mais desesperado que eu, minha nossa.
(...)
Julia.
Justin e eu já estávamos saindo do cinema, depois de assistir dois filmes.
— E então, já desistiu? - murmurei, olhando para o chão.
Caminhávamos pelo shopping, só por caminhar. Havíamos combinado de comprar nada, já bastava estar carregando aqueles bichos de pelúcia.
— Desistir? Do quê? - ele sorriu.
— De ficar comigo? - continuei olhando para o chão.
Justin me parou e ficou na minha frente. Reuni minhas forças e olhei para ele.
— Como eu poderia desistir de você, Julia?
— Sua vida. Eu fico pensando em como vamos enfrentar tudo quando você voltar. E meu pai, eu sei o quanto ele é duro e ciumento. Me desculpe por ele.
— Nada disso tem algum tipo de importância. Seu pai me assusta mas eu também te protegeria se fosse minha filha.
— Tem sim, Justin. Você é famoso, 99% das suas fãs são meninas e meu pai é muito protetor. Claro que você pode arranjar coisa melhor e mais fácil. Ou namorar alguma dessas teens.
— Eu não ouvi isso. – sua expressão se endureceu. – Coisa melhor que você? Julia, eu não quero que pense desse jeito nunca mais. Por favor, você é tão linda por dentro e por fora!
Eu poderia morrer ouvindo ele dizer essas coisas sem problema algum.
— Não quero causar problemas para você. - admiti.
— Não, Julia. Quero que me prometa que nunca mais vai pensar nisso, ou eu não te deixo em paz aqui.
— Quem disse que eu quero que você me deixe em paz? – soltei alguns dos ursos no chão e abracei seu pescoço. - Tudo bem, vai dar tudo certo e meu pai não vai te ajudar a desistir de mim. Satisfeito?
— Muito - ele sorriu, largando os bichos e tomando-me nos braços. Nos beijamos calorosamente.
A cada beijo que damos seus lábios ficam mais e mais doces.
Seria ruim pedir ficar daquele jeito para sempre?
— Que pouca vergonha é essa? - uma voz calma, porém parecendo controlada falou baixo para nós.
Nós nos afastamos e demos de cara com o sr. Westwick. Af.
— Antes de você querer me matar - Justin disse, meio rápido. - Saiba que eu gosto muito da sua filha e não ia fazer nada que te deixasse preocupado.
Isso pareceu fazê-lo hesitar no que ele ia falar.
— Ah, bom - meu pai coçou a nuca. - Eu estava planejando te matar, mas o que você disse...
— Pai, eu não acredito que você me seguiu até aqui - cruzei os braços.
— Mas, princesinha... se você fosse pai ia entender!
Lohana apareceu correndo até nós, com seu pai atrás. Segurando um extintor.
— Tio Mike, não faz nada com ele antes de eu poder ajudar - ela disse arfando, colocando as mãos no joelhos.
— É claro que você também ia estar aqui para querer matar meu namorado - revirei os olhos.
— É claro que eu nunca ia deixar uma oportunidade dessas ir embora - Lohana sorriu, descansada.
— Ah, Lohana, eu acho que fui meio imprudente perseguindo eles - meu pai disse.
— Isso quer dizer que eu não vou poder usar meu extintor nele? - o pai da Lohana fechou a cara, como uma criança.
— Acho que sim pai - Lohana olhou para o pai com a cara tão desapontada quanto a dele.
— É sério? - Justin perguntou sarcasticamente para Lohana e o pai dela.
— Onde está o Ben? - perguntei, olhando para os lados para ver se o encontrava.
— Ah, ele estava atrás da gente, já devia estar aqui - Lohana respondeu olhando para os lados também. - A última vez que eu o vi, estávamos correndo atrás do seu pai por um cruzamento. Tinha um monte de motoristas nos xingando.
— Vamos para casa - meu pai disse disse. - Eu quero muito um almoço da Alberta agora.
Todos concordamos em voltarmos. Justin, Lohana e eu pegamos os bichos de pelúcia e fomos para fora do shopping.
Assim que saímos, vimos uma multidão olhando alguma coisa.
— Nossa gente, teve algum acidente - tio Tom comentou sério.
Lohana pareceu alarmada.
— Ben está nos esperando no carro do tio Mike do outro lado do cruzamento - ela disse para si mesma.
Aproximamos da multidão. Tinha só polícias e muitas pessoas cochichando, mas não dava para ver o que estava acontecendo lá no meio.
— Com licença moça - falei com uma velhinha que estava saindo da multidão. - Sabe o que aconteceu aqui?
— Ah minha jovem, foi muito triste. A ambulância ainda não chegou. Um garoto muito bonito foi atropelado por um van que fugiu e ninguém anotou a placa.
— Garoto? - Lohana perguntou. Ela largou todos as pelúcias que carregava e entrou na multidão, chutando e empurrando quem estava no caminho.
— Espero muito que não seja o que eu estou pensando - Justin disse.
— Eu também - eu, meu pai, o pai da Lohana e Justin corremos atrás dela.
Chegamos na cena do acidente, assistindo Lohana cair de joelhos perto do corpo inconsciente e ensanguentado de Ben
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