Ájax foi o primeiro a se jogar na água quente. Após uma longa batalha todos de dirigiram para base dos Harrington, Ájax os convidara para um banho e após um tempo de insistência todos toparam participar, inclusive Páris que mantinha a toalha sobre sua flecha sagrada estando envergonhado de estar em meio a tantos homens nus, ainda mais com o grego, um inimigo e pervertido. Os outros agiam com mais naturalidade, todos tinham plena confiança no herói após lutarem ao seu lado, portanto não haveria problemas sobre se banharem na sua companhia. E para manter tudo ainda mais divertido, foi pedido a um dos empregados que service rodadas de cerveja aos Servos – e refrigerante para o pequeno Lewis que estava sentado entre as pernas de Shakespeare.
A água quente foi um presente bem-vindo, era impressionante como seus músculos relaxaram, o corpo se acalmou, seus membros estavam moles e a articulação parecia preguiçosa demais para se mexer. Mesmo assim a mente de Ájax não parou de trabalhar, ele tinha reunido informações importantes e trabalharia com elas mais tarde, por agora se ocupava com a visão que era proporcionada aos seus olhos. Ele se sentia no paraíso, poderia ficar ali o dia todo cercado por todos esses belos homens nus com seus corpos esculpos a mostra – nem mesmo Shakespeare escapava da tentação do grego, pois para um escrito seu corpo era conservado, com as proporções corretas e transmitiam um charme de elegância. Saber era um homem bruto com o mesmo biotipo que o seu, seus músculos eram volumosos, grande peitoral e barriga malhada, e as pernas... Era o copor de um guerreiro. Diarnuid era um homem belo demais, suas medidas eram corretas, os músculos bem distribuídos, era algo de se admirar, uma beleza delicada mas viril, um cavaleiro de armadura branca autêntico nascido dos contos. Arash também era trabalhado sob a pele morena, mas ele tinha um ar inocente, uma alegria que Ájax não sabia descrever. E Páris... para um arqueiro que nunca lutou de verdade ele tinha um belo físico, nada menos do que se poderia esperar de um dos homens mais belos de seu tempo.
Porém, quem lhe chamou a atenção também foi Sanson. Ele não era musculoso, mas seu corpo era moderado, sua pele alva, os olhos frios... Ájax não entendeu bem, mas também estaca feliz em ver Assassin despido das suas vestes pesadas, só sentia falta de um sorriso em seu rosto.
- Ei, obrigado por hoje a noite, pessoal – falou Ájax agradecendo a todos pelo suporte. – Não haviam razões para me ajudarem e nem confiarem em mim, mas mesmo assim se arriscaram. Não sei como agradecer.
- Não foi nada – respondeu Diarmuid com um sorriso de satisfação. – É o dever de um cavaleiro seguir as ordens de um superior.
- Além do mais – complementou Saber Negro – não posso recusar um pedido de ajuda quando dentro dos meus limites.
Quando Siegfried deu por si, Ájax estava sentado sobre seu colo com uma mão transpassada em seu pescoço e a outra sobre seu peitoral direto apalpando o músculo, era macio e firme, e com um sorriso despretensioso Ájax pronunciou seu agradecimento.
- Obrigado por toda sua solidariedade, Saber. Lembre-se que meu corpo é seu para fazer o que quiser como recompensa.
- Desculpe-me, mas já sou comprometido.
- NÃO FALE ASSIM PERTO DE UMA CRIANÇA! – Shakespeare regiu com um griro de reprovação tampando os ouvidos de Lewis, impedindo que as palavras depravadas de Ájax chegassem ao seu cérebro, assim como também cobria-lhe a visão para que não presenciasse aa atitudes se um verdadeiro depravado. – Aliás, por que senta no colo de um homem? Pensava que os gregos fossem galanteadores de damas!
- Eu galanteio damas, mas também conquisto o coração dos cavaleiros – respondeu Ájax ainda sentado no colo de Saber.
Ele se levantou rindo voltando para o seu lugar e tomando um belo gole da caneca de cerveja em seguida. Da sua garganta saiu uma gargalhada retumbante, a situação lhe divertiu e queria manter assim.
- Por acaso isso seria ciúmes, Caster?
Foi o suficiente para o rosto de Shakespeare ficar vermelho, parecia que sua cabeça iria explodir, dava para ver a fumaça saindo.
- N-não... Jamais!
- Certeza? – Ájax falou como se pronto para atacar o dramaturgo, suas mãos imitavam garras de um animal selvagem e estava pronto para saltar. Shakespeare reagiu assustado tentado esconder Lewis ao mesmo tempo que tentava cobrir sua preciosa pena, nunca se sentiu tão exposto e desprotegido como agora. – Dá pra ver em seu rosto. “Ájax, por favor, seja cuidadoso... Seu toque é tão suave... Por favor, realize meus desejos mais profundos...”
- EU NUNCA FARIA ALGO ASSIM!!
- Nunca diga “nunca”.
- Oh, não, acho que temos um selvagem entre nós, por favor, não macule meu corpo puro – quem se pronunciou foi Arash, o Archer Vermelho, cobrindo seu peitoral com as mãos.
- Oh, eu nunca seria bruto com alguém como você – Ájax respondeu a brincadeira.
- Até porque, eu, o bravo Diarmuid, não permitirei que tire-lhe a castidade! Este homem pertence somente a mim!
- Então temos um concorrente?
- Não um concorrente, mas um nobre cavaleiro que protegerá a pureza de todos aqui com a ajuda dos meus nobres cavaleiros, Archer Dourado e Saber Negro!
- O quê?! Por que eu?! – exclamou Páris assustado.
- Vamos, não fique fora da brincadeira – pediu Ájax lhe estendendo a mão.
- Calado! Eu não vou participar de algo tão bobo! Além disso... eu...-
- Oh, tem medo de não resistir aos meus encantos?
Ájax falou já se dirigindo na direção de Páris, mas foi agarrado por trás e levantado. Quem o interceptou fora Saber Negro que decidiu entrar no jogo. Eram raras as chances em que poderia descontrair, nunca abandonava seu posto, mas como o Mestre permitira deveria aproveitar ao máximo o momento ali.
- Não permitirei que faça isso.
- Muito bem, Saber, agora vamos punir este criminoso.
- Ninguém me pega tão fácil – respondeu Ájax se libertando do abraço de Saber e saltando sobre ele. – Eu irei provar dos corpos de todos aqui.
- Oh, bravo Diarmuid, não permita que ele faça isso – falou Arash se colocando atrás do lanceiro e afagando seus ombros.
- Enquanto eu estiver aqui nada o acontecerá!
Ájax correu recuou até onde estava sentado antes, ao lado de Sanson, e o Servo que até então tentava ignorar a zorra e relaxar no banho foi puxado e agarrado pelo maior, foi preso na armadilha antes que pudesse reagir, uma das mãos do grego estava cruzada da cintura pro quadril e a outra lhe atravessava o peito.
- Ninguém se mexe ou ele será o primeiro!
- Essa não...
A situação ficou complicada, Ájax agora tinha um refém em sua posse, qualquer movimento em falso e era o fim do Assassin. Shakespeare começou a uma reza pela pobre alma vítima dos desejos do grego, Lewis somente observava tudo um pouco perdido, mas ainda se divertindo em assistir o teatro.
- Solte ele! – ordenou Diarmuid dando um passo para frente. Mas assim que o fez Ájax recuou um passo e sua mão desceu para mais próximo do região de Sanson, fazendo com que o celta parasse.
Ájax sorriu vitorioso, tinha conseguido parar os homens que queriam parar seu caminho da felicidade plena. Saber e Diarmuid levantaram as mãos em sinal de rendição, estavam prontos para ouvirem suas exigências.
- Muito bem... – ele sibilou afrouxando um pouco o aperto sobre Charles-Henri Sanson, seus lábios se curvaram em um sorriso malicioso, Saber e Diarmuid não tiveram dúvidas sobre as depravações que sofriam, nenhuma extensão dos seus músculos escapavam dos toques calorosos.
Porém, os planos de Ájax foram interrompidos por uma pessoa inesperada, alguém de quem não esperavam uma reação, o próprio Charles-Henri Sanson. Invocara sua espada negra e encostou a gelada lâmina no pescoço do grego que o soltou e se ajoelhou rendido, mas mantendo o sorriso enquanto era encarado pelos olhos gélidos, Sanson não desfizera a expressão séria, contudo foi fácil notar sua irritação pelas sobrancelhas levemente curvadas. Sem falar nada, Assassin recolheu sua arma e voltou ao seu lugar, sentando e tomando outro gole da cerveja.
Após outra rodada de cervejas os ânimos se acalmaram. Os heróis ainda se divertiam e riam, não havia nada como uma reunião de homens nus para esquecer os problemas da guerra e criar laços de amizade, mesmo Páris que antes reservado se divertia, junto com os outros ergue o caneco para mais um brinde e virou a bebida tomando quase metade em um único gole. Mesmo não conseguindo ignorar a presença de Ájax, se sentiu novamente com seus irmãos em um banquete, festejando e brindando, provando de vinhos de alta qualidade e comendo das melhores comidas.
Parando pra pensar agora, sua vida foi muito boa, apesar de tudo. Desde quando fora criado pelo humilde pastor de ovelhas até descobrir que era um dos príncipes de Tróia, um dos reinos mais ricos e prósperos de toda região. Foi amado, respeitado, cuidado... Mesmo seus pais tendo o descartado ainda recém-nascido por conta de uma profecia da sua irmã, foi recebido de volta para o lar com louvor e muita alegria, e o pastor que o encontrou na beira do penhasco o criou com todo amor e conforto que podia dar, o tratou como um filho legítimo apesar de não saber sua origem – até o homem que ficou responsável por matá-lo o amou por um momento, pode-se dizer assim, afinal ele poderia ter seguido com a missão e o jogado para os gélidos braços da morte, porém decidiu pelo contrário, apiedado do pequeno ser frágil em seus braços decidiu por deixá-lo vivo, longe da beira e num lugar onde poderia ser visto e resgatado.
No entanto, será que realmente fizeram a coisa certa? Toda a tragédia que se seguiu sobre eles ocorreu por causa dele. Senão fosse por ele, os gregos nunca teriam invadido, Melenau nunca teria decidido roubas as riquezas da cidade e nem inocentes não seriam assassinados sem motivo. Seus irmãos teriam governado, Hector não teria passado pela maior das humilhações, seu pai não se rebaixaria ao inimigo... Sua irmã estava certa desde o começo, o correto seria tê-lo matado.
- ... cher...
Se não fosse por ele...
- Ar...
- Ahn? – ele respondeu ao chamado confuso.
Archer Vermelho o olhava preocupado como todos no recinto, fora estranho ver como Páris entrara em um mundo próprio e se perdeu nele.
- Tudo bem com você? – Saber perguntou querendo saber se aconteceu algo com seu parceiro.
- Sim... Aconteceu algo?
- Uma aflição que me toma – Shakespeare voltou a falar gesticulando de maneira dramática, parecia fazer um importante pronunciamento. – Apesar dos deuses terem nos feitos a sua semelhança, somos imperfeitos para assim sermos humanos. Então, por essa imperfeição todos estamos aqui nesta era reunidos para disputarmos por nossos desejos, e eu gostaria de saber o que heróis tão grandes, homens com sangue divino e guerreiros que excederam o limite humano, têm de importante para o Santo Graal.
- Não tenho um desejo – respondeu Diarmuid primeiramente. – Meu único objetivo na Guerra do Santo Graal é poder lutar ao lado de um Mestre. Sem os problemas que houveram na minha vida passada, eu quero seguir com honra e lealdade ao meu amo.
- Um cavaleiro sem desejo? Que coração puro de egoísmo – comentou Shakespeare colocando a mão sobre o peito comovido. – E você Saber?
- Também não tenho nenhum desejo que mereça ser reconhecido. Não há razão para falar em voz alta.
Shakespeare sorriu e coçou a barba alaranjada, estava admirado com o andar dos nobres cavaleiros, mas como um bom dramaturgo não poderia deixar de dar um ar glorioso à situação, seu coração estava acalentado com o que ouvia, homens honestos sobre suas ações e ambições, que seguem no campo de batalha com a certeza do heroísmo de seus atos e erros cometidos. Eram homens nobres da fama que deixaram ao longo da história!
- Um cavaleiro de alma misteriosa. Seria nobre de verdade ou apenas um ato egoísta que ele mesmo se envergonha? A cruzada de um herói perdido. Um romance de tocar o coração com a melancolia certa. O drama envolvido nos caminhos, as mudanças dos seus ideais, a evolução como pessoa... Está era é um ateliê cheio de material para obras-primas!
- Vai escrever um novo livro?!
- Com certeza! Irei fazer a obra da minha vida relatando a maior guerra de toda humanidade! – Caster terminou a frase se levantando e fazendo uma pose da vitória, o indicador apontava adiante, para um ponto além da terma, o futuro!
Lewis o acompanhou, derretendo o coração do escritor, seus olhos se encheram com lágrimas de orgulho e felicidade.
“Tão jovem, tão sábio” – pensou com orgulho e ego inflado por todo amor do Mestre por ele.
Ambos se sentaram novamente, Shakespeare passou a massagear os cabelos platinados do pequeno e continuou a conversa.
- E vocês? – perguntou se voltando para os que ainda não se pronunciaram.
- Posso dizer o mesmo que os outros – continuou Archer Vermelho. – Não tenho um desejo para ele, acho. O Graal tenta humanos e espíritos com sua onipotência, afinal, quem não quer realizar um desejo por mais simples que seja. Mas, particularmente, nada que eu queira, estou feliz de ter uma nova chance para poder lutar com meu arco. É isso.
- Hm...
Sinceramente, Willian Shakespeare, o criador de aventuras e dramas, estava ficando um pouco desapontado com a falta de ambição dos heróis. Seguirem em uma luta mortal sem nenhum desejo egoísta parece um pouco entediante, personagens assim costumam serem vazios e genéricos, simplesmente estão lá fazendo coisas sem nenhuma razão. Porém, se bem trabalhados podem serem transformados em verdadeiros protagonistas, observando como o mundo se comporta e as situações em que se envolverem mudam suas opiniões, fazem eles questionarem e procurarem um objetivo verdadeiro, algo real e que tire todas as suas dúvidas. O que o acalmou foi saber que ainda restavam outros três heróis para contarem suas histórias.
- E vocês? – instigou. – Vamos... Não me digam que também não têm desejo para o Graal.
- Nada que valha a pena – respondeu Sanson encolhendo os ombros.
- Não mesmo? Vamos, diga o que um Assassin possa querer na guerra, todos estamos curiosos.
Sanson ficou em silêncio por um tempo, não interessava a ninguém seu desejo, nem mesmo ele encarava como algo que valia ser comentado, era somente uma bobeira que ele queria resolver. Mas os olhos curiosos pesavam sobre ele, a expectativa de todos em quererem saber sobre ele era estranha, desconfortável, por que o estavam pressionando tanto?
- Bem, ele não precisa falar se não quiser.
Quem o salvou foi Ájax que tomava outro gole da sua cerveja. Ele encarou Shakespeare e continuou:
- Qual o seu afinal, Caster?
- O meu? Ora, não é nada mais, nada menos que escrever sobre esta era! Este tempo, este mundo novo cheio de possibilidades e novidades, sempre mudando, avançando, nunca sendo igual. Pessoas inventando, planejando, nascendo e morrendo, a forma como todos conduzem suas vidas na vasta gama que lhes é apresentada! Isto é uma história pedindo para ser escrita por minhas mãos, é uma obra de primeira linha que merece ser eternizada pelas mãos do melhor escritor de toda humanidade! Eu, Willian Shakespeare, irei elevar a dramaturgia a um novo nível!
- Então você é Willian Shakespeare... Desculpa, mas eu não sei nada sobre você.
Nesta hora o espírito do poeta foi quebrado em milhares de cacos como um vidro atingindo por uma enorme pedra, tanto pela burrada de ter revelado seu nome no maior descuido, como também por sua ter sido negada.
- Co-como pode dizer algo assim, Archer Dourado?
- Desculpa, mas é a verdade, tirando aqueles que são obrigados a conviverem com você, a única coisa que sabemos é o que foi oferecido pelo Graal, você foi um escritor que ficou marcado até hoje na literatura. Fora isso, mais nada, e essa informação não significa nada no fim, só que você não serve para lutar.
- ARGH...!!
Este foi o golpe decisivo. O homem que antes estava de pé com o peito estufado e exibindo toda sua glória agora desabava de joelhos, sentando sobre os calcanhares, e apoiando o peso do tronco sobre os braços. Nunca pensou que estaria em uma situação assim. Antes adorado e aplaudido na Inglaterra vitoriana, agora tinha sua pobre alma pisoteada e esmagada sem piedade, tratado como nada, exposto na frente de todos, estava completamente humilhado.
- Meu Senhor, eu peço que tenha misericórdia e perdoe meus pecados, pois estou me unindo aos seus súditos no céu.
- Shakespeare, não! – Lewis reagiu caridoso indo até o Servo para o amparar. – Como pode dizer isso a ele! Shakespeare é o melhor escritor de todos, suas peças são incríveis e cheias de emoção, não tem como assistir sem se emocionar! Ele é o melhor de todos!
Páris ficou sem reação, não entendeu o que falou de errado, só foi honesto, todos pensavam igual a ele. E era a verdade, realmente. Willian Shakespeare era um inútil no quesito combate, ele não tinha nenhum conhecimento sobre as artes místicas, não era um mago, portanto disfuncional como um Caster. Em base, Willian é capaz de contribuir para o Mestre no fornecimento de manda, podendo passar parte da sua força pra ele aumentando seus status para os de um Servo, mas um Servo da classe Assassin, não ajudando em nada no fim.
- Bom, ele conseguiu derrubar a Berserker Branca com o Noble Phantasm dele – defendeu Diarmuid.
- A matou?
- Não.
- Então.
Resumindo, Willian Shakespeare fazia a mesma diferença que uma pena na Guerra do Santo Graal, nenhuma.
- Mamãe, és tua voz que escuto... – Shakespeare continuou dramático e Lewis aparando-o como o filho cuida de um pai doente.
Todos caíram na gargalhada com o melodrama do dramaturgo, era exagerado demais para se levar a sério, mas o que tornava engraçado é que realmente era sério, ele estava sentido com o descaso de um príncipe sobre sua atuação na guerra, a sua incompetência foi estampada na frente de todo mundo, principalmente na frente do pequeno Mestre, sabia que numa situação real, sem apoio do Ájax ele não poderia proteger Lewis nem de uma mosca.
Archer Vermelho o foi confortar, ajudou Lewis a colocá-lo de volta onde estava sentado e deu alguns tapas nas suas costas o confortando.
- Calma, calma... – falava, mas o rosto de Shakespeare ainda estava com a decepção estampada, parecia que sua alma tinha deixado seu corpo.
- Ora, Shakespeare – Ájax retomou a fala após um longo gole do caneco de cerveja –, não se sinta assim, acredite, você foi uma peça fundamental para nos livramos daquela Berserker, e ainda descobrimos a identidade dela, não?
- Bem... Sim... – ele balbuciou recuperando um pouco do rubor do rosto.
- Além disso, seu desejo é basicamente sua personalidade, o seu jeito de mostrar ao mundo quem realmente é.
- O que quer dizer com isso?
- Nada. Só retomando a conversa, imaginei que iria gostar de ouvir as palavras de outro grande herói da história.
- Mas com toda certeza eu quero!
Willian Shakespeare estava completamente recuperado agora, seus olhos voltaram a brilhar e se fosse um pouco além, dava para ver o rabo abanando ansioso pela recompensa por ter sido um bom garoto. Se falassem “dá a patinha”, daria na hora.
- O meu desejo para o Santo Graal é...
Shakespeare foi ficando com o sorriso largo e se aproximando, pularia nos braços do grego de tanta alegria e lamberia a bochecha dele como agradecimento.
- Nada.
- O quê? – a quebra de expectativa foi clara. O sorriso entortou na hora, era tamanha a descrença nas palavras do companheiro de guerra. – Nada?! Hmmm... Tomando como base os outros cavaleiros neste recinto, aposto que há uma motivação nobre por trás dos seus atos que o impedem de ter um desejo egoísta, correto? – completou no fim ainda com algum resquício de esperança que logo foi quebrada.
- Não.
- Impossível! Por favor, me diga que é mentira! – Shakespeare falou – na verdade, implorou – sacudindo Ájax pelos ombros em total desespero que ver sua futura obra sendo arruinada com um personagem presunçoso e sem carisma que não quer nada com nada, simplesmente agindo porquê sim.
- Sinto muito – Ájax suspirou com um sorriso sincero.
- Hmpf. Não podia esperar mais de um grego – resmungo Páris seguido de uma virada longa da cerveja.
- O que quer dizer com isso? – Ájax perguntou confuso.
- Por que um bárbaro teria um desejo afinal? Criaturas nojentas como vocês só sabem seguir a natureza destrutiva – ele rebateu imediatamente com a voz carregada de desgosto e sarcasmo.
- Explique-se – falou Sanson em um tom imperativo, seu olhar duro e frio encarou Páris sem receios esperando uma resposta.
Para ele aquilo era absurdo. Conhecia a história da Guerra de Tróia relatada por Homero na Odisséia e Iliada, em nenhum momento o príncipe de Salamina foi retratado como um monstro, e sim um homem de bom coração e fala lenta, preferindo sempre a ação do que as palavras apesar do conhecimento militar. Mesmo que não suportasse o assédio não podia negar que ele era um homem honrado. O taxar como animal selvagem era uma afronta a ele.
“Não chame um soldado de selvagem!”
Páris devolveu a encarada com um olhar de desdenho, não errou nas suas palavras, para ele tudo que disse era verdade. Sua cidade foi destruída por ele, como não o comparar a um selvagem?
- O homem aqui presente não é nenhum herói como todos nós, é um monstro e nada mais. Esperar que ele tenha um desejo é a coisa mais ridícula do mundo.
- Ora-... – Sanson estava pronto para rebater, porém foi interrompido por Ájax.
Seu rosto não tinha o sorriso idiota de sempre de quem leva as coisas na tranquilidade, agora seu rosto estava sério, não teve como não notar, o ar pesou repentinamente, todos sentiram as faíscas resultantes da trocar de olhar. De um lado, um troiano irritado, com o coração pronto para expor suas mágoas, e do outro o grego disposto a escutar todo o desaforo, todavia não em silêncio.
- Eu não tenho um desejo porque não me arrependo de nada – explicou. – Eu tive tudo que quis, agi conforme minha vontade, amei e fui amado, lutei, comandei, ajudei e me divertir com aqueles que considero meus amigos. Pude enfrentar e conhecer guerreiros inigualáveis, os enfrentei, respeitei e os tratei como um parente há muito tempo perdido. Não tenho o que desejar.
- E também não tem pelo que se arrepender – rebateu Páris. – Você matou inocentes, incendiou e saqueou uma cidade, atacou seus cidadãos, destruiu tudo que conheciam! Como alguém não pode se arrepender de tais atos?!
Não houve resposta. Claramente qualquer pessoa com alguma humanidade se arrependeria de tais atos, quem quer carregar o peso da morte sobre os ombros? Derramar o sangue de inocentes, ter suas mãos imundas com um dos maiores pecados era razão para a pessoa se contorcer em agonia com seu espírito corrompido pela amargura e culpa, um arrependimento profundo que não poderia ser descrito em palavras, é uma sensação que não se pode imaginar, algo tão duro e frio que só pode ser compreendido quando sentido.
“Eu me arrependo de todos que matei...” – foi o pensamentos de um dos presentes que se limitou em abafar o pensamento em uma longa melancolia, não podendo encarar os outros convidados.
Sanson sentia essa culpa mais que todos. Toda vez que olha para suas mãos pode sentir o sangue transbordando dos poros e manchando-o, o preço por ter condenado essas vidas, um caminho de agonia que o destino lhe reservou e não pode contradizer.
Por outro lado, Diarmuid, Saber Negro e Archer Vermelho compreendiam mais do que ninguém aquelas palavras, entendiam mais que ninguém. Quando em batalha tiveram que fazer o mesmo, lutar e invadir, liderar e dominar, e não carregavam arrependimentos sobre isso, eram períodos de guerra, se não lutassem veriam seu lar passando pelo mesmo, igualmente seriam saqueados, mortos e destruídos. Assim como encaravam os inimigos como monstros horríveis e eles como heróis, o mesmo acontecia do outro lado do campo.
- E você tem algo pelo que se arrepender? – Ájax retrucou com um tom duro.
Ájax não esperava uma reação diferente de Páris, sua maior surpresa seria se fosse tratado como um amigo, ele ainda guardava rancor pelo que aconteceu. Mas igualmente encarava como uma grande tolice as palavras do mais novo.
O jovem príncipe se levantou e colocou a mão direita sobre o lado esquerdo do peito, então encarou Ájax com toda sua determinação e falou com a voz límpida e decidida o que seu coração estava ansiando.
- Eu quero corrigir o meu erro. Não vou permitir que Tróia seja destruída e irei salvar os meus irmãos, vou proteger o meu povo, algo que não fiz quando deveria. Vou desejar ao Santo Graal que meu nascimento nunca tenha ocorrido.
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