Eu não vou negar que queria. Sim, eu estava ansiando por aquilo desde a primeira vez em que me deparei com aqueles olhos tão brilhantes quanto a noite iluminada, enfeitando como cristais em uma joia bem desenhada, num perfeito encaixe a face daquele ser, que por vezes parecia uma escultura grega por sua tamanha beleza.
Foram tantas e tantas vezes que observei aquela boca rosada a esboçar sorrisos e dar risadas abundantes, tantas vezes em que eu quis ser motivo daquela felicidade, tantas vezes que almejei apenas manter aquela linda aura de alegria que emanava, me contagiando dentre suas expressões tímidas e inocentes.
Por esses e outros motivos, eu nunca havia imaginado que meu primeiro contato com os lábios macios da pessoa que eu amo acabasse por ocorrer dentre soluços da mesma.
Seu coração palpitava tão alto ou ainda mais que o meu. Despedaçado por alguém que não merecia a pureza de seu amor, meu pequeno anjo entregou-me os restos de sua alma quando deixou suas lágrimas molharem meu ombro, tremulamente me envolvendo com seus braços inseguros. Era tão raro ver seu choro que eu me assustei.
Eu pensei que isso aconteceria desde o começo. Mas você estava tão radiante que não consegui te parar. Então, em parte, a culpa é minha por ter ficado nesse estado.
- Me desculpe.
Soltou em voz baixa, quebrando o longo período de silêncio, sem se afastar do meu abraço. Não, meu amor. Eu é quem deveria estar dizendo isso.
- Você não tem culpa de nada.
- Não. Não sobre... isso. Estou me desculpando sobre o que estou fazendo agora. – Seu tom permanecia inseguro, de maneira que não conseguia levantá-lo. – Eu vim até você em busca de consolo mesmo sabendo dos seus sentimentos. Mesmo que eu não os corresponda. Eu estou te usando.
Eu sei de tudo isso. Não se preocupe, eu não me importo. Eu só quero que você sorria outra vez.
- Eu sou sua pessoa de confiança. Nada mais justo. Já disse pra você não ligar pra isso.
- Mas eu ligo! – Exclamou, me surpreendendo. – Você... é muito importante pra mim. Eu não quero te machucar. De todos, eu não quero que você se afaste. Eu quero que você seja feliz de verdade... que encontre alguém muito melhor do que eu. Mas não quero te deixar ir...
Eu me machuquei quando notei que não conseguiria levar esse sentimento sem deixar que você percebesse. Comecei a me ferir quando notei que o peso dele cairia sobre você, te dando essas preocupações, que, como seu porto seguro, eu não deveria dar.
- Me dê uma chance.
- Uma chance?
- Eu quero tentar fazer você tão feliz quanto você me faz.
Falei reunindo coragem que sequer sabia que possuía. Onde estava com a cabeça? Eu prometi a mim mesmo que nunca mais tentaria isso. Da última vez em que sugeri, nos afastamos. Mas ver você em prantos por alguém que apenas cortava seu coração foi demais pra mim. Eu sempre soube que poderia fazer melhor. Que poderia te fazer sorrir muito mais do que qualquer um. Talvez por isso a ideia de lhe ter em meus braços naquele instante tenha me possuído.
- Você... sabe que eu não te vejo dessa forma...
- Eu vou fazer com que veja.
Encostei nossas testas, tomando seu rosto dentre minhas mãos, com o polegar a limpar uma gota solitária que caía após se equilibrar na ponta da pálpebra. Não forçaria nada. Sabia que não viria até mim, e talvez nunca fosse retribuir de verdade aquele amor que eu sentia há tanto tempo. Mas era necessário tentar. Eu poderia te fazer feliz.
Sua respiração quente bateu contra a minha pele, enquanto seus olhos entreabertos fitavam os meus, revelando uma mistura de insegurança e ansiedade. Mesmo me sentindo extremamente covarde por tentar roubar seu coração neste momento de vulnerabilidade, eu não me importei, ainda que a culpa batesse lá dentro.
Estava com determinação para lhe fazer sorrir como sempre desejei. E o primeiro passo e início dessa história, a nossa história, que eu começaria a escrever só e logo lhe passaria a caneta, foi dado quando finalmente matei a vontade que me cobria desde que te conheci: o pressionar gentil dos seus lábios macios contra os meus.
Foi naquele momento em que prometi silenciosamente que eu nunca mais lhe deixaria chorar de novo. E que daqui pra frente, seria a razão principal para a sua alegria.
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