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História Feche a porta quando sair - Algo desmoronou dentro de mim


Escrita por: dudacartman

Capítulo 26 - Algo desmoronou dentro de mim


Não consegui mais falar com Ian, porque cada segundo da minha vida foi preenchido pela Mel, que mal me deixava ir ao banheiro sozinho.

Sempre que eu conseguia poucos segundos para apenas cumprimentá-lo, ela corria e me dava um daqueles abraços esmagadores e Ian nos ignorava encostado no carro e com óculos escuros, me privando de ver sua real expressão.

Ele estava magoado, dava para ver isso e só de ele tratar Mel com naturalidade, como se isso não o ferisse foi que vi o quão forte ele era e o admirei ainda mais.

Se fosse comigo, eu não sabia se aguentaria. Ver Ian conversando com alguém já dava vontade de jogar uma bomba na tal pessoa, quem dirá ele abraçando e beijando a mesma. Só de pensar nisso meu punho já cerrava e meus dentes trincavam.

Isso não estava certo, eu e Mel não éramos compatíveis em nada. Eu não sentia nem um terço das coisas que Ian me provocava. Nossos beijos me davam ânsia de vômito e seu toque me fazia querer cortar os pulsos.

Eu tinha que contornar isso, caso contrário eu acabaria o perdendo. Ele ia desistir de mim e a única forma de não deixar isso acontecer era mostrar que eu jamais desistiria dele.

Ele abriu a porta do carro para que entrássemos e quando vi seu rosto tive vontade de abraçá-lo, isso porque ele parecia inchado e sem vida, como se ele tivesse passado a noite insone ou chorando.

— Ian — tentei, antes que ele fechasse a porta e a segurei para que ele não concretizasse tal feito.

Não sabia se ele estava olhando para mim ou não, mas pude ver seu pomo de adão descer assim que engoliu em seco e suas mãos tremiam enquanto ele segurava a porta do lado oposto.

— Sim, príncipe — sua voz era engasgada, chorosa, mas ele parecia fazer força para que ela soasse o mais límpida possível e certamente não deu muito certo.

Me senti mal pela carga de formalidade que emanava de sua voz, como se tudo o que tivemos juntos não passasse de um sonho ou de uma memória distante que só aconteceu na minha cabeça. Era como se deixássemos de ser Noah e Ian e nos tornássemos apenas o príncipe e o motorista.

— Você pode... — cochichei baixinho para que Mel não ouvisse, mas ela me interrompeu com um abraço apertado, que me desequilibrou por alguns segundos antes que eu conseguisse formar as palavras.

— Para onde vamos, meu amor? — ela perguntou e vi Ian enrijecer como se estivesse sentindo alguma espécie de dor.

Ele não merecia isso, não merecia sofrer por minha causa e prometi a mim mesmo que falaria com ele a sós mais tarde, mas o pouparia de ter que conversar comigo na frente da Mel como se nada tivesse acontecido.

— Vamos para o Clube5 — falei, tentando fazer com que Ian protestasse ou algo assim, mas ele não o fez. — Nos leve para o Clube5, Ian — procurei colocar mais força na voz, para arrancar qualquer hesitação da parte dele e novamente nada disso aconteceu.

— Sim, senhor — Ian forçou um sorriso e algo desmoronou dentro de mim. Não era o meu sorriso, aquele que me deixava sem palavras e com uma pontada de inveja, mas sim algo mais próximo com o que eu dava antes de conhecê-lo. Seus lábios tremiam quando sorria e os dentes batiam um no outro, era doloroso ver aquilo.

Deixei que ele fechasse a porta e me recostei no banco um tanto inquieto, tentando me livrar do abraço exagerado da Melanie, que parecia um polvo ao meu lado.

Tentei encontrar o olhar de Ian no retrovisor, mas seus óculos não facilitavam nem um pouco meus planos. Queria me inclinar e encostar o queixo em seu banco, enquanto falava baboseiras em seu ouvido fazendo-o rir e reclamar por correr o risco de perder o controle e acabar batendo o carro, e também queria que ficasse me olhando enquanto eu tirava um cochilo com a cabeça apoiada no vidro da janela, antes de me despertar, falando o quanto eu ficava bonito dormindo, apenas para me deixar vermelho.

Eu só queria que voltássemos a ser Ian e Noah, mas com Mel ao meu lado era quase impossível.

A cabeça dele se inclinou levemente para o espelho e estava me preparando para sorrir ou me declarar para ele de uma forma que ele teria que fazer leitura labial para entender, mas fui agarrado novamente pela Mel e antes que ela me sufocasse com mais um beijo, juro que vi uma lágrima escorrer pelo rosto de Ian.

 

                                                            ***

Ao contrário da Melanie, não consegui beber. A ruiva dançava loucamente ao som da música eletrônica e seu corpo suado se movia de uma forma fascinante, tanto que me vi hipnotizado pelo balanço de seu quadril.

A luz do clube ofuscava a minha visão e comecei a ficar tonto pelas luzes coloridas que me impediam de enxergar direito. Ian não veio conosco, ficou no carro fitando o painel e quase voltei para lá para conversar com ele e era exatamente isso que eu ia fazer antes da Mel me puxar para a pista de dança e colocar minhas mãos em torno de sua cintura que estava descoberta por conta da camisa propositalmente curta demais para ela.

Mel sacudia aqueles volumosos cabelos vermelhos com confiança, como se fosse a pessoa mais interessante do clube e soubesse muito bem disso. Não podia negar de que ela era mesmo muito bonita, mas não era ela quem eu queria e se eu me permitisse continuar com essa farsa eu acabaria a machucando também.

— O que foi? — ela praticamente berrou. — Tá com essa cara por quê?

Forcei um sorriso e a puxei para mais perto. A voz dela tinha um sotaque diferente como a maioria das pessoas que moravam em Grande Sunshine. Ela puxava muito o ‘‘r’’ quando falava e eu achava esquisito, então tentava ao máximo evitar que ela falasse ou reclamasse.

Se bem que o Ícaro também tinha esse sotaque irritante, porém ele era uma exceção porque ele cantava muito bem e até combinava com a sua voz angelical. Pensar nele me fez lembrar do acordo que fiz com Ian, será que ainda tínhamos um acordo? Eu ainda veria o Ícaro?

Sem dúvida eu era uma das pessoas mais egoístas do mundo! Eu estava ali com uma ruiva maravilhosa pensando em outro homem, que estava provavelmente chorando no carro por minha causa e eu pensando se vou conhecer o meu cantor favorito através de um maldito acordo.

Só despertei do meu breve devaneio quando senti os lábios dela cheios de gloss pressionarem nos meus. Ela me agarrou como se eu fosse um urso de pelúcia e me vi imobilizado em seus braços, já que a maldita garota era mais forte do que eu — sério, eu tinha que começar a malhar urgentemente!

— Meu amor, estou tão animada para o nosso casamento! — exclamou animada, quase dando pulinhos.

Só você, minha querida — eu quis dizer, mas só fiquei parado igual a um palerma com um sorriso amarelo no rosto como se eu tivesse gostando daquela encenação ridícula.

 

                                                       ***********

Na volta foi ainda mais complicado, o rosto de Ian estava vermelho e era possível ouvir ele fungando baixinho enquanto dirigia. Queria aproveitar o fato da Mel estar bêbada para falar com ele, mas ela estava ainda mais insuportável do que sóbria, parecia um ímã.

— Ian? — consegui dizer, sentindo a minha voz falhar um pouco, mas eu sabia que ele tinha ouvido.

Não obtive resposta, apenas um vácuo, um vazio imenso que começou a nos separar no momento em que a garota de cabelos vermelhos invadiu a minha vida sem o meu consentimento.

— Ele tá falando com você, idiota! — Mel gritou, totalmente embriagada. — Não sei de onde seu pai arruma tanta gente incompetente e surda.

Fiquei chocado com a maneira rude com a qual ela falou aquilo. Tentei manter a calma e desistir de arrastar a cara dela no asfalto porque bater em mulher ainda era crime.

— Mel, acho melhor você descansar um pouco — Procurei afastá-la, mas a maldita nem se moveu.

— Eu vou, amorzinho — sua voz era irritantemente doce, tão doce que me deu nojo. — Mas só se você for comigo.

Espiei o retrovisor a fim de encontrar Ian ali, mas ele continuava sem expressão alguma com aqueles óculos escuros escondendo a negritude fantástica de seus olhos, que sempre foram o ponto mais alto dos meus dias.

— Eu vou — falei tão mecanicamente que mal senti, estava muito ocupado tentando encontrar o Ian em meio a toda a bagunça que nos separou e por mais que doesse admitir, não o encontrei.

 



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