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História Feiticeiros - A Chave da Confiança - Parte 1


Escrita por: KathKlein e YoruHiiragizawa

Notas do Autor


Notas iniciais: Este capítulo contém spoiler do anime “Akame Ga Kill!” Foi mal, não deu para evitar! Então… se quer ver este anime sem spoiler ignore a quarta cena, beleza?

Capítulo 70 - A Chave da Confiança - Parte 1


Fanfic / Fanfiction Feiticeiros - A Chave da Confiança - Parte 1

FEITICEIROS

Por Kath Klein & Yoruki Hiiragizawa

Capítulo 70

A Chave da Confiança - Parte 1

Marie passou novamente a mão pela testa suada. Inferno de calor! Olhou de esguelha e viu Kazuo ao lado dela, soltou um suspiro. Olhou para frente e viu o primo com o Rashinban, guiando-os naquele meio do nada. Cheio de insetos. Balançou a mão na frente do rosto, tentando espantá-los. Estavam irritando-a novamente. Irritando-a demais.

‘Inferno.’ Ela soltou trincando os dentes.

Kazuo olhou para ela rapidamente e respirou fundo. ‘Esta irritação toda não é só por causa do calor, não é?’

Marie arregalou os olhos de leve, mordeu os lábios. ‘Está muito quente. Não estou mais acostumada.’ Mentiu.

Sabia que ele estava certo, mas não queria falar sobre o assunto. Shaolin não tinha nada que se meter em assuntos que não eram dele. Ouviu um suspiro do rapaz ao seu lado e virou-se para ele.

‘Hum… Talvez…’ Desistiu de falar.

Não queria contar para ele a verdade. Voltou a fitar o primo a sua frente e sentiu que a aura dele estava mais agitada. Kazuo também percebeu o mesmo.

‘Hei, Shaolin-kun! O que foi?’ Ela perguntou e viu o garoto, sair correndo.

Kazuo arregalou os olhos de leve. ‘O que deu nele agora?!’ Perguntou, correndo atrás do irmão.

‘Droga.’ Marie pestanejou, correndo atrás de Kazuo.

O rapaz alcançou o irmão e perguntou o que tinha acontecido.

‘Tem várias presenças mais a frente. Perto de onde está a chave.’ Ele respondeu sem parar de correr.

Kazuo franziu a testa. ‘Tem certeza?’

‘Sim.’ O garoto falou com certeza.

Correram por cerca de 10 minutos até finalmente Kazuo e Marie conseguirem perceber as presenças de que o menino os tinha alertado. O rapaz trincou os dentes, percebendo que eram semelhantes às dos feiticeiros que estavam atrás das chaves. Droga! Eles tinham chegado tarde demais no protetor.

Kazuo correu mais rápido agora, sem precisar ser guiado pelo irmão. Marie tentou usar Corrida para ir mais rápido, mas tropeçou, caindo no chão. Shaolin parou e se voltou para a prima que se levantava devagar. Soltou um suspiro e caminhou até ela.

Ela cambaleou novamente e ele a segurou. ‘Solte-me.’ Ela falou entre os dentes e se soltou dele, ficando de joelho no chão. Sentia-se fraca e com uma dor excruciante, como se o peito estivesse sendo comprimido.

‘Não tem como você permanecer com isso.’ Ele falou para ela de forma firme.

Marie levantou o rosto e encarou o primo. ‘Eu não vou abrir mão dela…’ Falou, levando as duas mãos até o peito. ‘Não agora.’ Repetiu séria.

Shaolin estreitou os olhos nela. ‘Não vou perguntar como aquela carta da minha mãe parou aí com você, até porque sei que não vai responder. Mas você tem que ser honesta com você mesma e com Kazuo.’

‘Você está metido demais, pirralho.’ Ela fez um gesto a frente. ‘Por que não vai com seu irmão ajudá-lo?’

‘Porque as presenças diminuíram. Então não preciso me preocupar mais.’ Ele replicou e se inclinou a frente, ficando com o rosto próximo ao dela. ‘Nee-san, esta é sua primeira encarnação como humana. Talvez esteja dando importância demais à sua vida passada e não saiba onde ela termina e esta começa.’

Marie desviou os olhos dele e apertou mais forte o peito. ‘Você não entende.’ Ela sussurrou.

Shaolin soltou um suspiro e estendeu a mão para ela. ‘Vem. Eu a ajudarei. Não vou mais tocar neste assunto. Você é que vai precisar tomar a decisão.’

Ela levantou os olhos para ele com a testa franzida. ‘Agora não vai mais se importar de tocar em mim?’ Perguntou com ironia.

Shaolin deu de ombros. ‘Você tinha razão quando disse que não dá para eu viver dentro de uma redoma.’ Ele respondeu. ‘Se eu entrar na sua cabeça, prometo não falar nada para ninguém. Principalmente para Kazuo, se não é o que você quer.’

Marie balançou a cabeça de leve. ‘Você sempre soube tudo de mim. Sempre contamos tudo um para outro. Não vai ter muita novidade para você.’

Ele deu um suspiro. ‘Eu sei, por isso que me preocupo por você estar assim. Não é do seu temperamento se sentir acuada desta maneira.’

Marie desviou os olhos do primo por um instante e depois voltou a fitá-lo. Sorriu de leve. Levantou a mão, aceitando a ajuda, realmente sentia-se mais fraca que o normal. Mas isso não importava. Não abriria mão daquele sentimento agora que havia se permitido senti-lo.

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Kazuo corria, guiado pelas presenças a frente, franziu a testa percebendo que elas diminuíam ao passo que outra estava se sobrepondo. Não era a presença de um demônio ou de um Feiticeiro. Era bem parecida com a presença esquisita do senhor Tao e da maioria dos protetores das chaves. Afastou com as mãos algumas folhas que impediam o seu caminho e pulou algumas raízes de árvores até finalmente chegar ao local.

Estaqueou ao ver a quantidade de pessoas caídas no chão desmaiadas. No meio delas, estava um cara sentado, com os braços e pernas cruzados. Estava com o rosto fechado. Era dele a presença que havia sentindo aumentar intensamente poucos minutos atrás.

O rapaz olhou para trás e não viu o irmão, nem Marie. Franziu a testa, pensando no que teria acontecido para eles estarem demorando tanto. A ruiva andava mais doente e fraca do que queria aparentar, mas era teimosa demais para dar o braço a torcer.

Caminhou devagar em direção ao homem que estava sentado e franziu a testa.

O cara abriu os olhos ainda com o semblante duro. ‘Humph.’ O homem murmurou. ‘Eles vieram até o meu monte… para tentar desmontá-lo.’ Disse, encarando o rapaz como quem espera uma resposta.

Kazuo ergueu uma sobrancelha. ‘Hã?’

O homem estreitou os olhos no rapaz. ‘Além de ter esta presença esquisita, você não consegue reconhecer uma boa piada, não é garoto?’

Kazuo endireitou o corpo. Olhou em volta, observando a quantidade de inimigos desacordados e fez um gesto em direção a um deles. ‘Parece que eles é que acabaram se desmontando, não é?’

‘A-há!’ O homem falou, desfazendo o rosto sério e levantando-se com animação. ‘Sua presença é esquisita, mas gostei de você, garoto!’

Kazuo franziu a testa de leve, encarando o homem à sua frente que voltou a cruzar os braços sobre o peito.

‘Este pessoal apareceu aqui, mas os coloquei para dormir. Não gosto de gente no meu pedaço.’ Falou cheio de marra. Voltou-se para o rapaz e estreitou os olhos nele. ‘Você não tem cara de ser amigo do Tao, então não é quem eu estou esperando.’

O rapaz soltou um suspiro e olhou para trás, esperando pela namorada e o irmão. ‘Você deve estar esperando o meu irmão.’

‘Irmão?’ Ele perguntou, olhando de esguelha para o rapaz. ‘Ele tem o mesmo senso de humor que você?’

Kazuo olhou para o cara novamente, realmente, de todos os protetores das chaves aquele ali era o mais inusitado. O irmão logo apareceu, caminhando devagar e ajudando a ruiva a caminhar. O braço dela estava sobre os ombros dele como apoio. Estranhou, a presença dela não estava fraca, pelo contrário. Não havia motivos aparentes para ela se sentir daquela forma. Caminhou até eles com o rosto preocupado.

‘Não vou nem perguntar o que você tem, porque sei que não vai responder.’ Ele falou, contrariado, pegando a namorada para ajudá-la.

Shaolin soltou um suspiro de alívio quando o irmão pegou Marie. Estava ainda com o corpo dolorido pela luta anterior e os ferimentos espalhados pelo corpo ardiam por causa do suor salgado. Olhou para frente, finalmente vendo os feiticeiros, de quem tinha percebido a presença, caídos no chão e reparou no homem que estava parado com os braços cruzados, encarando-os. Ergueu uma sobrancelha.

Dava para perceber a energia xamã em torno dele bem forte. E, pelo jeito, pensou voltando a olhar o grupo desmaiado, não era apenas a energia que era forte. Ainda bem que ele era conhecido do senhor Tao. Caminharam devagar até o homem que olhou para o trio peculiar.

O rapaz tinha a presença esquisita, a garota também tinha uma presença esquisita, mas era humana e, por algum motivo, estava bem fraca. Estreitou os olhos nela e reparou no foco de energia que destoava da que a circulava. Franziu a testa de leve, voltando a ficar com o semblante sério. Sentia como se já tivesse visto aquela energia antes. Soltou um suspiro. Desviou os olhos para o garoto que tinha uma aura tão forte que ofuscava-lhe os olhos e estava longe de parecer esquisita. Olhou de novo para o rapaz que falou que era irmão dele e depois voltou a fitar Shaolin. Alguma coisa não estava batendo ali. Tao sempre fora estranho, cheio de mistério, mas não conseguia entender como ele se envolvera naquela confusão toda.

‘Seguinte… Qual é a de vocês?’ Ele perguntou com o rosto duro. Apontou para Shaolin. ‘Você deve ser o tal moleque que tá destruindo as chaves, não é?’

Shaolin assentiu com a cabeça.

‘E como é que você tem um irmão esquisito desta maneira?’

O garoto olhou para o irmão e depois para o homem. Franziu a testa, não gostando do comentário. ‘Humph… Você que vive no meio do nada, neste calor infernal, e meu irmão que é o esquisito?’

O homem encarou o garoto sério, inclinou o corpo para ficar com o rosto na altura dele. ‘Você é bem arrogante, garoto. Você sabe com quem está falando?’

Shaolin permaneceu em silêncio.

‘Eu sou um xamã muito, muito poderoso. Mais poderoso que aquele metido do Ren e você deveria ter mais respeito.’

‘E qual é o seu nome?’

‘Meu nome é Chocolove McDonnel.’ Ele se apresentou, erguendo o corpo.

‘Chocolove?’ Shaolin perguntou apenas para confirmar se tinha entendido direito.

O xamã assentiu com um gesto, ainda olhando duro para garoto.

‘Chocolove mesmo?’ O garoto perguntou mais uma vez, encarando-o.

‘Isso. Chocolove. Qual é o problema? É um nome que transmite muita alegria, ajudando a espalhar os Ventos do Riso pelos quatro cantos do mundo e está totalmente de acordo com minha missão na terra.’

‘Ventos do Riso?’ Shaolin repetiu, erguendo uma sobrancelha.

‘Isso mesmo. Ventos do Riso.’ Repetiu sério.

O garoto desviou os olhos dele por um instante, voltando a fitá-lo em seguida. ‘Então, McDonnel-sama, vim atrás da chave.’ Ele falou por fim. Se o chamasse de “Chocolove”, não conseguira levá-lo a sério. Daquele jeito parecia mais apropriado.

‘Ah, não!!! Também não é para tanto!’ O homem falou. ‘Este negócio de “McDonnel-sama” lembraria o meu pai, se eu lembrasse do meu pai. Pode me chamar de Chocolove.’

O garoto encolheu os ombros. Não dava para levar realmente a sério uma pessoa com aquele nome.

‘Humph… depois meu irmão que é esquisito.’ Soltou por fim.

Chocolove olhou para o rapaz que estava com a garota. ‘Esse garoto não tem muito senso de humor, tem certeza que é seu irmão, mesmo?’

Kazuo ergueu uma sobrancelha, olhando para o homem e depois para o irmão. ‘Shaolin… Termina logo com isso.’ Falou, começando a caminhar com Marie para deixá-la em algum lugar à sombra.

Shaolin balançou o corpo de leve, olhando para Chocolove. ‘Seu nome é este mesmo ou é um apelido?’ Ainda estava incrédulo.

‘É meu nome. Como eu falei, sou um xamã muito poderoso e importante. Preciso de um nome que transmita este poder.’

‘Claro.’ O garoto falou por fim. ‘Hã… A chave de Ometecuhtli e Omecihuatl que está com você…’

‘Ah, sim! É uma das minhas missões protegê-la. Uma entre tantas outras muito importantes.’

‘Certo.’ Shaolin repetiu, olhando para ele e se perguntando como é que ele poderia ser tão diferente de Jeanne-san. Quase o extremo oposto. ‘Hum… Eu preciso… Você sabe…’

‘Sim… O metido do Ren mandou o empregado dele me ligar, avisando que você viria. Nem para me ligar pessoalmente! Depois de tudo o que passamos juntos, aquele ingrato!’ Falou, fazendo drama. ‘Enfim... São ordens superiores destruí-la.’

‘Vocês devem realmente ter passado por muita coisa juntos…’ Shaolin, comentou ainda incrédulo. Viu apenas uma vez o senhor Tao, mas não conseguia imaginar ele convivendo com Chocolove.

‘Sim… Foram momentos muito importantes e especiais.’ Ele continuou de forma teatral. ‘Mas agora… Tudo é passado. Tudo virará pó!’ Falou e franziu a testa de leve. ‘Acho que o certo é virou pó ou retornará ao pó?’ Questionou-se, colocando uma mão no queixo e olhando para cima.

‘A chave?’ Shaolin chamou a atenção dele que voltou-se para o garoto. ‘A chave de Ometecuhtli e Omecihuatl?’

‘Ah, sim! Ela deverá virar pó, também!’ Ele falou.

Shaolin balançou a cabeça de leve. ‘Onde está a chave?’

‘Ou será que ela retornará ao pó?’ Ele ainda se questionou.

Shaolin soltou um suspiro e encolheu os ombros. O cara era maluco.

Chocolove olhou para o chão ao seu lado. ‘O que você acha, Mick?’

‘Mick?’ Shaolin perguntou, erguendo uma sobrancelha.

Chocolove olhou para o garoto. ‘Mick, the Jaguar!’ Falou, abrindo os braços como se estivesse apresentando um rock star. ‘Meu espírito guardião.’

Shaolin levou uma mão ao rosto e balançou a cabeça de leve. ‘Sou um feiticeiro… Não vejo o seu espírito guardião.’

‘Não?’ Chocolove perguntou, inclinando o corpo novamente para ficar com o rosto na altura do rosto do garoto. ‘Então não tem como você ver e morrer de medo da figura imponente do Mick?’

‘Não…’ Ele repetiu. ‘Chocolove-sama… A chave…’

‘Hum… Gostei do “Chocolove-sama”! Vou pegar a chave. Deve estar em algum lugar dentro da minha barraca. Só um minuto que eu vou procurar.’ Ele respondeu, caminhando em direção a uma barraca de camping montada embaixo de uma árvore.

Shaolin olhou incrédulo para o homem entrando na barraca e logo ouviu barulho de coisas sendo movidas. O cara realmente não sabia onde tinha guardado a chave que precisava proteger? Isso só poderia ser sacanagem. Caminhou até o irmão que estava em pé, olhando em volta. Marie estava sentada encostada numa árvore.

‘Cadê o cara com a chave?’ Kazuo perguntou para o irmão.

‘Ele foi procurar.’

‘Como assim ele foi procurar?’

‘Ele não lembra onde guardou.’

‘Você está de sacanagem comigo?’

Shaolin deu de ombros. ‘Foi isso que ele falou.’ Respondeu, olhando para a barraca e ouvindo mais barulhos e alguns palavrões.

Kazuo balançou a cabeça de leve. ‘Ele não tem a menor ideia onde guardou o chave… Usa o Rashinban para encontrá-la logo. Tem alguma coisa errada.’

Shaolin franziu a testa de leve. ‘Do que está falando?’

‘Sei lá…’ Kazuo respondeu, olhando em volta. ‘Não estou com um bom pressentimento. Vai lá ajudar o cara para a gente ir embora de uma vez.’

Shaolin soltou um suspiro e caminhou em direção da barraca de Chocolove. Pegou o rashinban e o acionou, fazendo o raio de luz realmente se direcionar para a barraca.

‘Hei, Chocolove-sama.’ O garoto o chamou. ‘Isso aqui pode ajudar.’

Chocolove apareceu na entrada da barraca, olhando para o tabuleiro. ‘Isso é para quê?’

‘Levar até a chave.’ Ele respondeu.

‘Maravilha! Entra então para tentar achar. O Mick deve tê-la guardado em algum lugar que não estou achando. Eu tinha certeza que estava aqui, mas não estava. Aí, pensei eu tinha colocado ali, mas também não estava. Não sou bom em guardar coisas.’ Tentou se justificar.

Shaolin olhava para ele sem conseguir acreditar que uma chave que poderia ligar os universos, talvez provocar o caos, abrir um portal para o mundo das trevas, realmente,  estivesse aos cuidados daquele cara.

Com a ajuda do tabuleiro logo Chocolove localizou a chave e a pegou. Estava embaixo de um monte de objetos. Não acharia nunca. Os dois caminharam para fora da barraca que estava uma bagunça por causa da busca frenética do xamã antes de receber ajuda do menino.

Shaolin olhou para o irmão e acenou informando que acharam a chave. Kazuo franziu a testa de leve. ‘Vamos lá, Shaolin. Destrói logo esta porcaria e vamos voltar de uma vez para casa.’ Ele murmurou.

Marie levantou o rosto fitando Shaolin, desviou os olhos do primo e fitou as costas do namorado, ele parecia mais apreensivo do que antes. ‘Está tudo bem?’ Ela perguntou, fazendo ele virar a cabeça e olhá-la sobre o ombro direito.

‘Está tudo muito calmo.’ Ele respondeu, voltando a fitar o irmão conversando com o xamã.

‘Este negócio é legal.’ Chocolove falou, realmente impressionado com a eficiência do tabuleiro. ‘Dá para achar qualquer coisa com ele? Onde é que você o comprou? Vou comprar um para mim.’

‘É… É um objeto de famí… Ah, sei lá se dá para achar qualquer coisa com ele. É só um tabuleiro. Eu até podia emprestar para você, mas aí obaa-sama provavelmente encheria o meu saco… Ela gosta desse negócio de tradição.’

‘Tradições são muito importantes.’ Chocolove falou em tom sério. ‘Não sei exatamente para que servem, mas são importantes.’

‘Acho que sim…’ O garoto concordou. ‘Então… A chave…’

‘É, a chave.’ Chocolove falou, olhando para o objeto de madeira talhada com a imagem dos deuses. ‘É bonitinha, não?’ Falou, mostrando para o menino. ‘Deve ficar legal na decoração de uma casa.’

‘Ela vai virar pó.’ O garoto comentou.

‘Verdade… Ao pó retornará.’ Ele completou.

‘Ah, me dá logo essa droga de chave!’ Falou já impaciente, estendendo a mão pedindo a chave. ‘Anda logo!’

‘Você me lembra tanto o Renzinho!’  Ele falou. ‘Que saudades!’

‘Cara… Você é esquisito.’ Shaolin falou, olhando assustado para ele. Balançou a cabeça percebendo que haviam desviado do assunto novamente. ‘A chave?!’

‘Ah, sim… A chave… Que retornará ao pó…’

‘Dá aqui a merda da chave logo!’ Levantou a voz.

‘Hei… Tá aqui, esquentadinho…’ Ele falou. ‘Você parece filho do Ren. Pode pegar.’

‘Você precisa se tratar, cara.’ Ele falou, pegando a chave da mão do xamã e sendo obrigado a fechar os olhos pela intensa luz que quase o cegou.

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Kazuo observou o irmão entrar em transe novamente. Desviou os olhos dele e fitou o chão. Não gostava de vê-lo daquela maneira. Começou a perceber a presença de Shaolin diminuir e voltou a observá-lo. A aura em volta do garoto que estava forte e expandida, começou a diminuir o brilho, diminuindo aos poucos o alcance de seus raios até ficar bem fraca. Soltou um suspiro, e não gostou de lembrar da parte da conversa de ontem com o irmão em que ele falara que existiam histórias em que os mortos se transformavam em estrelas no céu.

Shaolin voltaria logo e eles partiriam para o Japão.

Marie soltou um suspiro cansada. Não era possível sentir-se tão mal daquela forma, fechou os olhos e tentou respirar fundo. Kazuo voltou-se para ela. Caminhou e se abaixou, tocando um joelho no chão. Levantou o braço e tirou uma mexa do cabelo ruivo que estava sobre o rosto, colocando-o atrás da orelha.

‘Vamos logo voltar para casa, está bem?’ Ele falou e ela abriu os olhos, sorriu de leve.

‘Sim.’ Ela respondeu, fitando-o e apertando mais forte as mãos no peito. Não queria abrir mão do que estava sentindo por ele.

Kazuo sentiu, de repente, uma presença forte se aproximando de forma rápida. Marie arregalou os olhos, também percebendo.

‘Que.. Que diabos é isto?’ Kazuo falou, arregalando os olhos para as árvores que eram arrancadas enquanto o chão tremia pelos impactos de algo muito pesado batendo no chão. Ele sentiu um calafrio percorrer sua espinha e uma gota de suor descer pela lateral do rosto.

Marie trincou os dentes, tentando se levantar. ‘É a presença de um demônio superior.’ Ela falou, apoiando-se na árvore para não voltar a cair, devido ao tremor de terra.

Kazuo sentiu o corpo tremer, percebendo a aproximação daquela energia enorme e ouviu um uivo de uma fera enorme. Trincou os dentes, pegando a esfera negra e materializando a espada. Olhou para irmão que ainda estava em transe. ‘Levanta o escudo em torno de você, Marie.’ Ele mandou, correndo em direção ao irmão.

Parou em frente a Shaolin empunhando a espada em posição de defesa. Olhou de esguelha para Chocolove, que também tinha o rosto sério e o corpo retesado.

Logo um gigantesco monstro com cabeça e cauda de touro num corpo humanoide apareceu, empunhando uma grande espada, que mais parecia um cutelo gigante a sua frente. Ele parou e olhou para Kazuo que trincou os dentes, engolindo em seco. O bicho feio, além de ser enorme e de ter uma arma gigantesca, tinha uma presença explosiva.

O minotauro bufou e Kazuo teve certeza que ele estava procurando o irmão que estava atrás dele. Flexionou os joelhos, apertando mais forte a empunhadura da espada. O irmão precisava de mais tempo para voltar, tinha acabado de entrar naquele transe doido.

Arregalou os olhos de leve, vendo o gigantesco monstro correr em direção a ele com a arma a sua frente. Sentiu o impacto da arma contra a sua e a magia do inimigo explodir fazendo-o ser lançado para trás, batendo em Shaolin , e ser arrastado junto com ele por alguns metros. Chocolove também não teve um destino diferente, também atingido pela energia nociva do grande demônio.

Kazuo abriu os olhos e virou o rosto para o lado encontrando o irmão que estava caído no chão, arregalou de leve os olhos vendo que a chave não estava mais na mão dele. Levantou-se sentindo o corpo dolorido pelo impacto da magia do inimigo e olhou para os lados, procurando a maldita chave para colocá-la de volta na mão de Shaolin para que ele pudesse voltar.

Arregalou os olhos, vendo a chave e foi até ela para pegá-la quando sentiu novamente a aproximação do inimigo. Apesar de grande, ele era rápido. Estendeu a mão para pegar a chave, mas fora obrigado a recuar e segurar a espada com as duas mãos para proteger-se da enorme e mortal arma que tentava acertá-lo, desviando-a no último segundo evitando ser atingido. A enorme arma arrastou-se na lateral do corpo do rapaz que olhava para o monstro a sua frente. Ele era forte demais.

Flexionou os joelhos tentando acertá-lo, mas sentiu quando o minotauro pegou sua perna e o jogou longe, fazendo-o ir de impacto a algumas árvores e derrubando-as.

Marie olhou para o rapaz e depois para o primo que estava caído no chão. Tentou dar um passo à frente, mas caiu de joelhos. Inferno! Estava fraca demais. Levantou o rosto, constatando que realmente seu escudo estava falhado.

Kazuo estendeu os braços a frente, levantando o rosto do chão. Olhou para frente e viu o inimigo caminhar devagar em direção a Shaolin, arregalou os olhos, erguendo o corpo já machucado e apertando a espada. O Monstro abaixou-se e pegou a chave com a ponta de seus dedos e sorriu mostrando todos os seus dentes afiados.

‘Finalmente.’ Ele falou, admirando a pequena peça.

Kazuo deu alguns passos na direção dele. ‘Solta essa chave!’ Ordenou, fazendo o monstro voltar-se para ele e rir.

‘Vem pegar, fedelho.’ O minotauro desafiou-o.

Kazuo arregalou os olhos vendo-o jogar a chave para cima e engoli-la. O Monstro riu. ‘Terá que me matar para conseguir pegá-la agora.’

There’s gotta be another way out

(Tem que haver outra maneira de sair)

I’ve been stuck in a cage with my doubt

(Eu fui preso em uma gaiola com minha dúvida)

I’ve tried forever getting out on my own.

(Eu tentei sempre sair por conta própria)

But every time I do this my way

(Mas toda vez que eu faço isso do meu jeito)

Kazuo trincou os dentes, olhou para o corpo do irmão que estava caído no chão. Os outros protetores tinham sido claros com ele, informando que o irmão não poderia perder a conexão do corpo com a chave, pois a alma dele retornaria ao corpo e não conseguiria acordar do transe, levando-o a morte. Desgraçado, tinha que colocar aquela chave em contato com Shaolin de qualquer maneira. Não admitiria perder o irmão.

Voltou a fitar o inimigo e correu em direção a ele com a espada a frente, tentou acertá-lo, fazendo as duas armas se chocarem com violência. Sentiu quando foi acertado na lateral do corpo, mas também havia conseguido acertar as pernas do adversário.

Viu o monstro empunhar a grande arma com as duas mãos, levantando-a acima da cabeça, e tentar acertá-lo com fúria. Colocou a espada a sua frente, protegendo-se do ataque, sendo obrigado a segurar a arma com a mão na lâmina para conseguir manter-se em pé. Kazuo sentiu os braços tremerem pela a força descomunal que estava fazendo para impedir que a arma do minotauro o acertasse. Viu o monstro abrir a boca, mostrando os dentes enquanto bufava.

‘Vou matá-lo.’ Ouviu-o gritar, levantando a arma novamente para acertá-lo com mais violência.

Ele arregalou os olhos, desviando do golpe e pulando para trás. Sentiu o impacto da arma atingindo o chão e levantando terra e pedras pelos ares. Tocou no chão, sendo arrastado por alguns metros e sendo obrigado a firmar os pés no chão.

I get caught in the lies of the enemy

(Eu sou pego nas mentiras do inimigo)

I lay my troubles down

(Eu coloco meus problemas para baixo)

I’m ready for you now

(Eu estou pronto para você agora)

Olhou para Marie que aproveitou a luta deles e se aproximou de Shaolin. Ela estava ajoelhada ao lado do corpo do garoto, tentando achar os sinais vitais dele. Virou-se rapidamente para Chocolove que estava também em estado de transe. Não teve tempo nem para tentar se questionar sobre o que o cara estava fazendo meditando daquela forma numa hora dessas, mas percebeu que a energia em volta dele tinha aumentado.

Novamente o inimigo tentou atacá-lo, obrigando-o a pular para trás e evitar de ser atingido pela poderosa e potente arma, que, ao atingir o chão, fez não só a terra tremer, ainda arremessou fragmentos para todos os lados.

Kazuo pulou sobre o gigante, conseguindo apoiar-se com uma mão no ombro dele e dar uma cambalhota. Levantou a espada acima da cabeça e desceu os braços, acertando as costas do inimigo de forma realmente eficaz pela primeira vez. A fera urrou de dor e raiva. Mas não foi ainda o suficiente para deixá-lo desestabilizado. O couro que envolvia o corpo dele era espesso, quase como uma carapaça.

A fera virou-se para ele, tentando acertá-lo novamente e fazendo o rapaz ser obrigado a esquivar-se da arma, sentiu quando novamente fora atingido em alguma outra parte do corpo. Pousou no chão e olhou o inimigo erguer o corpo e apertar a empunhadura da grande arma com uma das mãos. Ela apontou para ele.

‘Você não tem como me derrotar.’

Kazuo trincou os dentes, empunhando a espada a sua frente com as duas mãos enquanto flexionava os joelhos. Olhou para o local onde estavam Marie e Shaolin e viu que a jovem chamava o garoto em desespero.

Ela levantou o rosto para ele, que arregalou os olhos, ao vê-la chorando. Engoliu em seco e a viu balançando a cabeça de leve antes de cobrir o rosto com as mãos.

Ele sentiu a respiração acelerar mais e o peito doer de tal forma que pensou que tinha sido atingido pelo inimigo. O que Marie estava querendo dizer para ele? Que o irmão estava morto?

Bring me out

(Me leve para fora)

Come and find me in the dark now

(Vem e me busque no escuro agora)

Every day by myself I’m breaking down

(Todos os dias sozinho estou me destruindo)

I don’t wanna fight alone anymore

(Eu não quero mais lutar sozinho)

Fechou os olhos, franzindo a testa enquanto sentia o corpo todo tremer de raiva. Shaolin não estava morto. Ele não permitiria que matassem o irmão na frente dele. Ele só precisava pegar a maldita chave e colocá-la de volta na mão dele. Ele só tinha que matar aquele demônio e arrancar de dentro dele a chave para salvar o irmão. Já tinha derrotado tantos e tantos demônios antes. Não admitiria perder agora, quando não estava lutando apenas por um estúpido pedaço de areia de um lugar de merda.

Bring me out

(Me leve para fora)

From the prison of my own pride

(Da prisão do meu próprio orgulho)

My God

(Meu Deus,)

I need a hope I can’t deny

(Eu preciso de uma esperança, não posso negar)

In the end I’m realizing

(No final, eu estou percebendo:)

I was never meant to fight on my own

(Eu nunca fui destinado a lutar por minha conta)

Gritou e avançou em direção ao Minotauro, tentando acertá-lo de todas as maneiras possíveis com a espada. As armas novamente se chocaram de forma violenta, faiscando para todos os lados.  

Kazuo tentou acertar o gigante pela direita, mas ele se defendeu com a arma. Girou o corpo, rapidamente, e tentou acertá-lo pela esquerda, conseguindo feri-lo novamente. Fez um rolamento, passando por entre as pernas dele, levantou o corpo, voltando a empunhar a espada com as duas mãos, e estava para acertá-lo, quando o gigante se virou e acertou o rapaz com as costas da mão, fazendo-o voar e bater contra outras árvores, derrubando-as.

Sentia o corpo dolorido e o poder de cicatrização o queimava de dentro para fora. Trincou os dentes e se levantou devagar, afastando os pedaços de árvores que foram destruídas e caíram por cima do seu corpo. Ele desviou os olhos para a namorada, que estava abraçada ao corpo do irmão, abraçando-o enquanto chorava.

Viu que ela criou uma fogueira perto do corpo do menino tentando aquecê-lo como da primeira vez, mas percebia que, pela aura dela, a jovem estava em desespero. Fechou os olhos, percebendo que não sentia nada mais nada da aura do irmão. Sentiu que seu corpo tremia de dor e de raiva.

Every little thing that I’ve known

(Cada coisinha que eu sei)

Is everything I need to let go

(é tudo que eu preciso deixar pra lá)

You’re so much bigger than the world I’ve made

(Você é muito maior que o mundo que eu fiz)

So I surrender my soul

(Então eu rendo a minha alma)

I’m reaching out for your hope

(Eu estou buscando por sua esperança)

I lay my weapons down

(Eu coloco as minhas armas para baixo)

I’m ready for you now.

(Eu estou pronto para você agora)

‘Eu vou matar você, seu desgraçado.’ Sussurrou, levantando o rosto e estreitando os olhos no minotauro. Empunhou a espada novamente com as duas mãos, levando-a à esquerda do corpo e sentiu quando sua aura explodiu. Correu em direção à fera, tentando golpeá-la e novamente trocou golpes com ela de forma intensa e violenta.

O minotauro tentou atingi-lo, mas ele virou o corpo, fazendo a lâmina passar a centímetros do seu rosto e, quando percebeu que o inimigo estava próximo o suficiente, levantou a espada, tentando acertá-lo no abdômen a fim de provocar um ferimento mais grave.

Kazuo sorriu de lado, conseguindo cravar a espada no abdomen do monstro, mas surpreendeu-se por ele ter dado um passo para trás e, mais uma vez, tê-lo acertado com fúria, fazendo-o voar e bater com força no chão arrastando-se e rolando como um boneco por alguns metros.

O rapaz sentiu o corpo todo gritar de dor, provavelmente o forte golpe quebrou-lhe alguns ossos do corpo. Levantou o rosto com dificuldade e viu o gigante puxar sua espada da própria barriga, jogando-a no chão antes de erguer o corpo e encará-lo.

‘Você é um demônio muito fraco.’ Falou rindo. ‘Decepcionante.’

Kazuo esticou os braços, tentando erguer o corpo, e viu seu próprio sangue pingar no chão, provavelmente de algum dos ferimentos que tinha no rosto. Levantou o rosto e arregalou os olhos que tremiam de desespero, vendo o minotauro caminhar em direção ao irmão e a Marie.

‘Deixe-os em paz…’ Ele falou entre os dentes, mas não chegou nem ser ouvido.

Marie observou a fera se aproximar e levantou o escudo para proteger a ela e ao corpo do primo. O demônio bateu no escudo e sorriu com os olhos vermelhos brilhantes cravados na garota.

‘Acha que isso vai me impedir?’ Perguntou e deu um passo para trás, levantando a grande arma para atacar a bolha mágica.

Marie engoliu em seco após o segundo golpe do monstro, seu escudo estava fraco e não aguentaria por muito mais tempo. Tentou se levantar, mas ainda sentia as pernas fracas. Passou a mão no rosto, tentando secar as lágrimas que ainda saíam sem controle de seus olhos desde o momento em que não conseguira achar nenhum sinal vital nem sentir a aura do primo constatando que ele estava morto. A chama que tinha criado para tentar manter aquecido o corpo de Shaolin se apagou, pois ela tentava, de forma desesperada, manter o escudo levantado para protegê-la assim como o primo.

Kazuo ergueu o corpo, mas caiu de joelhos novamente com as mãos a frente, devido ao grande ferimento que tinha no abdomen que sangrava. Cravou os dedos melados de sangue na terra ao ver Marie abraçada ao corpo de Shaolin enquanto tentava manter o escudo mágico em volta dos dois e a fera continuava a desferir vários golpes na barreira mágica, tentando ultrapassá-la.

‘Merda…’ O rapaz sussurrou, sem saber o que fazer. Sentia o corpo todo tremendo de dor. Sabia que o escudo da namorada não aguentaria muito tempo, estava fraco. Fechou os olhos com força, sentindo raiva de si mesmo por não ter sido capaz de proteger o irmão como havia prometido para o pai e para Sakura. Não conseguia nem proteger a namorada que tentava de forma desesperada manter a barreira mágica.

Pensou que Midoriko tinha razão, ele era mesmo um fraco inútil. Sentiu os olhos arderem de desespero. Seu dever era apenas proteger o irmão enquanto ele estivesse naquele transe louco. Shaolin tinha salvado a sua vida evitando que lhe cortassem a cabeça. Tinha lutado contra um grupo enorme de exorcista depois de, como ele mesmo colocou, ter entrado em pânico com medo que o matassem e, agora, ele tinha falhado em defendê-lo. Apertou a terra entre seus dedos enquanto ouvia os golpes violentos e cada vez mais fortes do monstro no escudo de Marie. Tinha perdido o irmão e agora perderia Marie sem conseguir protegê-la.

Kazuo sentiu quando alguma coisa tocou sua mão direita, assustando-o. Abriu os olhos e franziu a testa, notando a esfera branca do irmão, que havia rolado pelo chão.

‘Nii-san…’ Ouviu Shaolin o chamando e olhou para o lado. Arregalou os olhos vendo o irmão sorrindo para ele e acenando. Ele… Ele estava vivo?!

‘Sha-Shaolin…’ Ele murmurou, virou para onde estava Marie e a viu ainda abraçada ao corpo do irmão. Voltou a tentar achar Shaolin, mas não o encontrou mais.

Bring me out

(Me leve para fora)

Come and find me in the dark now

(Vem e me busque no escuro agora)

Every day by myself I’m breaking down

(Todos os dias sozinho estou me destruindo)

I don’t wanna fight alone anymore

(Eu não quero mais lutar sozinho)

Pegou a esfera branca do irmão e a apertou entre os dedos. Sorriu de forma fraca, Shaolin confiava nele. Ele estava esperando ele conseguir a maldita chave para conseguir voltar. Shaolin estava contando com ele, estava ali para ajudá-lo como tinha dito antes. Irmão era para estas coisas. Exatamente isso. Apertou mais forte a esfera conseguindo sentir a aura do irmão vindo dela.

Fechou os olhos, elevando sua magia e, aos seus pés, surgiu a mandala octogonal do baguá com o símbolo yin-yang no centro em escarlate. Estendeu a mão esquerda a frente e sua espada, que estava jogada no chão, voou até ela. Apertou a empunhadura dela, sentindo que sua energia havia aumentado de forma estupenda.

O minotauro parou de atacar o escudo de Marie e virou-se para trás, estreitando os olhos no rapaz e na magia que o circulava, formando um redemoinho e levantando folhas, galhos e terra do chão.

Marie afastou o rosto do corpo do primo e olhou em direção ao rapaz, também percebendo a aura de Kazuo explodir. Engoliu em seco, reparando em como ele estava machucado e ferido. Observou a mandala de Syaoran aos pés dele, vendo-a brilhar intensamente. Franziu a testa e entreabriu os lábios, surpresa, quando surgiu, aos pés dele, a mandala de Shaolin que, momentaneamente, prevaleceu sobre a mandala do irmão.

Abaixou o rosto, olhando para o primo e passou a mão no rosto dele, sentindo-o gelado. Levantou o rosto, novamente, completamente surpresa ao ver o rapaz jogar para o alto a esfera branca de Shaolin, materializando, na sua mão direita, a espada do irmão que brilhava, ofuscante. As duas mandalas estavam sobrepostas, agora, com uma energia multicolorida bruxuleante que tendia mais ao púrpura e, em torno do símbolo do yin-yang, distribuíram-se o sol, a lua e a estrela, que ocupavam o centro da mandala de Shaolin, formando um triângulo equilátero.

Bring me out

(Me leve para fora)

From the prison of my own pride

(Da prisão do meu próprio orgulho)

My God

(Meu Deus,)

I need a hope I can’t deny

(Eu preciso de uma esperança, não posso negar)

In the end I’m realizing

(No final, eu estou percebendo)

I was never meant to fight on my own

(Eu nunca fui destinado a lutar por minha conta)

O monstro virou-se totalmente para o rapaz, deixando o ataque à jovem para depois ao ver que o poder de Kazuo tinha aumentado de forma absurda. Agora, sim, era um adversário perigoso e não apenas um fedelho como o julgou inicialmente. Havia magia demais circulando aquele rapaz.

Kazuo abriu os olhos e estreitou os olhos no inimigo. Apertou as duas espadas, uma em cada mão, e arrastou a perna esquerda para trás flexionando de leve o joelhos. Correu em direção ao minotauro, tão rápido, que o monstro não conseguiu nem perceber quando o rapaz pulou perto dele, atingindo-o primeiro com a espada da mão esquerda e depois com a da direita de forma cruzada.

O grandalhão soltou um urro de dor e caiu para trás com os dois potentes golpes. Kazuo deu um pulo para trás, afastando-se dele e pousando no chão como um gato. Seus olhos estavam cravados no monstro que levantava agora com o grande ferimento no peito em forma de cruz. Os olhos brilhantes vermelhos estreitaram-se em Kazuo.

‘Impressionante... Para um meio-demônio.’ Ele falou, fazendo o rapaz apenas franzir mais a testa.

Kazuo, trincou os dentes. Não deixaria que aquele idiota o distraísse agora. Precisava arrancar do corpo daquele monstro a maldita chave para trazer o irmão de volta. Tinha que fazer isso o quanto antes. Tinha que ser rápido.

A fera deu dois passos na direção dele e levantou a enorme arma para atingi-lo, novamente, de forma potente, mas o rapaz se protegeu, cruzando as espadas a frente do corpo e bloqueando o ataque.

Kazuo sentia que agora estava mais forte e sabia que conseguiria derrotá-lo. Afinal, não estava, sozinho. Pensou, empunhando com mais firmeza a espada do irmão.

I don’t wanna be incomplete

(Eu não quero ser incompleto)

I remember what you said to me

(Eu me lembro o que você disse para mim)

I don’t have to fight alone

(Eu não tenho que lutar sozinho)

O minotauro segurou a arma com as duas mãos, medindo forças com o pequeno adversário que, apoiado com um dos joelhos no chão, conseguiu surpreendê-lo com a força necessária para obrigá-lo a dar alguns passos para trás enquanto ele abria os braços com as duas armas.

O rapaz levantou o rosto para o monstro. ‘Desgraçado.’ Falou entre os dentes, avançando sobre ele e golpeando-o de forma rápida no peito por uma arma, sequenciando com a outra. Pensou, por alguns segundos, que poderia ter dificuldade para manejar as duas ao mesmo tempo, mas parecia que era ao contrário, sentia as armas como continuação do próprio corpo. Fáceis de manejar, mesmo nunca tendo lutado com duas armas ao mesmo tempo. Sorriu de lado, não sabia se por desespero ou pelo nível de magia elevado ou talvez por estar sendo ajudado de alguma forma pelo irmão.

Bring me out

(Me leve para fora)

Come and find me in the dark now

(Vem e me busque no escuro agora)

Every day by myself I’m breaking down

(Todos os dias sozinho estou me destruindo)

I don’t wanna fight alone anymore

(Eu não quero mais lutar sozinho)

Quando o monstro deu mais alguns passos para trás, girou o corpo, segurando ambas as espadas paralelamente e atingindo-o novamente, dando um salto. Tocou o chão apenas para pegar impulso, mais uma vez, e voltar a golpeá-lo sem trégua de forma rápida com as duas espadas, rompendo a couraça dura que protegia aquele demônio.

O minotauro urrou novamente, tentando evitar os ataques do rapaz e sem conseguir atingi-lo mais com sua poderosa arma. Não estava mais confiante da vitória como inicialmente. Havia subestimado aquele pequeno “inseto”. E por que não o faria? Afinal ele era um demônio superior.

Kazuo desviava agora facilmente da arma e dos golpes do adversário, mantendo-se próximo a ele enquanto o atacava. Ele pulou novamente na frente dele, virando as duas espadas e pegando-as com a empunhadura ao contrário. Gritou de raiva, enquanto cravava as duas na carapaça do monstro que gritou mais uma vez, caindo de costas no chão e fazendo a terra tremer com o impacto.

Kazuo puxou as espadas rasgando a carne do inimigo e finalmente pegou impulso para se afastar totalmente dele. Deu uma cambalhota para trás e pousou no chão com os olhos ainda vidrados no monstro. Sabia que ainda não era o fim dele. Tinha que ser mais eficaz, tinha que ser mais rápido.

Olhou rapidamente para onde estava Marie a viu olhando espantada para ele, com o rosto pálido e o corpo tremendo, como se tivesse visto um fantasma. Desceu os olhos para o corpo do irmão e sentiu a energia dele pulsar na sua mão direita onde ele empunhava sua espada. Tinha que ser mais rápido. Tinha que acabar com aquele desgraçado de uma vez e pegar a maldita chave. Olhou novamente para o minotauro e cravou os olhos nele apertando os dedos nas empunhaduras das duas armas.

Mal deixou o monstro levantar-se totalmente, girou as espadas, pegando-as ao contrário novamente e voltou a correr em direção ao grande demônio, golpeando-o com as duas espadas e chutes.

O minotauro novamente tentou acertá-lo com sua grande arma pela esquerda, mas Kazuo bloqueou o ataque com sua espada de maneira firme e estreitou mais uma vez os olhos no inimigo.

Apertou mais forte a empunhadura da espada do irmão e a sentiu vibrar e expandir seu poder, assim como o dele próprio. Levantou a arma acima da sua cabeça e desceu a espada, vendo-a brilhar de forma intensa. O golpe estendeu-se para além da lâmina da arma empurrando o grande demônio que soltou um último urro de dor ao sentir o corpo ser cortado ao meio. O corpo do monstro explodiu em uma nuvem de pó negro antes mesmo de chegar a alcançar o chão pela força do golpe final do rapaz.

Kazuo pousou no chão com a respiração ofegante. Abaixou o rosto e fechou os olhos, pensando que ainda não tinha acabado. Largou as espadas e ergueu o corpo. Estreitou os olhos, vendo o objeto sagrado no chão e caminhou devagar até ele, abaixando-se e o pegou. Apertou mais forte a chave dos deuses astecas e virou-se para onde estavam Marie e Shaolin.

Bring me out

(Me leve para fora)

From the prison of my own pride

(Da prisão do meu próprio orgulho)

Caminhou até o irmão, sentindo o corpo tremer de dor pelos maiores e mais profundos ferimentos que começavam a cicatrizar em seu corpo. Fitou Marie que tinha os olhos vermelhos e caiu de joelhos no chão ao lado do corpo do irmão em frente a Marie, sentindo-se esgotado. Colocou a chave na mão de Shaolin e fechou os dedos frios do irmão em torno do artefato, apertando-a com a suas mãos.

‘Vamos, Shaolin… Acorda.’ Ele murmurou.

My God

(Meu Deus,)

I need a hope I can’t deny

(Eu preciso de uma esperança, não posso negar)

In the end I’m realizing

(No final, eu estou percebendo:)

I was never meant to fight on my own

(Eu nunca fui destinado a lutar por minha conta!)

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Kasumi olhou em volta, vendo a destruição da Capital. Apertou mais forte a empunhadura da katana em suas mãos. Sentiu quando a energia explodiu perto de si e deu alguns passos com pressa para observar o enorme dragão se tornar sua forma original. Engoliu em seco, vendo o rapaz de cabelos claros com a espada cravada no chão envolta de uma luz e magia esplendorosa. Era forte demais! Poderosa demais!

‘Igual aos tempos antigos... a armadura está evoluindo…’ Ela sussurrou observando a enorme fera envolver o pequeno corpo do rapaz.

O grande titã que estava atacando-os sem trégua e destruindo completamente toda a cidade e matando milhares de civis com sua loucura, novamente tentou acertar o rapaz envolvido por aquela magia. Deve ter percebido que aquele seria seu fim, tamanha era o poder em torno do adversário agora. Foi obrigada a colocar o braço em frente ao rosto e cravou a katana no chão para não ser arremessada longe, quando uma onda de choque a atingiu.

Quando conseguiu se recuperar, levantou o rosto e viu a armadura dourada que agora protegia o corpo do rapaz. A armadura tinha evoluído de forma incrível. Sorriu de leve, sempre soube o potencial dele, sabia que, se alguém conseguiria isso, seria ele.

O gigante gritou de ira ao ver seu inimigo mais poderoso e soltou raios vermelhos na direção dele não se importando em destruir tudo. Protegido pela poderosa armadura alada, o rapaz conseguiu desviar dos inúmeros raios que tentavam atingi-lo, era rápido demais, ágil como nunca tinha sido antes.

Ela viu o raio dourado cortando os céus desviando dos vermelhos e arregalou os olhos no exato momento que o ser alado atingiu com tudo o enorme titã, golpeando-o na altura do abdômen de forma tão potente que faiscava energia para todos os lados.

‘Tatsumi! Você vai acabar morrendo!’ Ela ouviu uma voz masculina conhecida gritando.

‘Até parece! Eu fiz uma promessa. Custe o que custar, eu vou voltar para casa.’

Sentiu o peito ser atingido como uma lança afiada, provocando-lhe uma dor que nunca havia sentido antes, nem mesmo quando fora obrigada a matar quem pensou que era a pessoa mais importante para ela. Não! Ele era mais importante! Ele não podia morrer!

‘Tatsumi!!!’ Gritou o nome dele e o ouviu gritando dando tudo de si naquele golpe. Tinha que ser o golpe final para abater aquele moleque imperador louco. Todos sabiam disto.

Houve uma sequência de explosões no gigante. Ela ouviu o velho babaca do primeiro ministro entrar em desespero com as mãos na cabeça. Gostaria de eliminá-lo de uma vez, mas estranhamente a prioridade dela não era a missão, não era seu alvo. Sua prioridade havia mudado para a preocupação com relação a vida do rapaz.

Conseguiu soltar um suspiro aliviado quando o viu com a imponente armadura dourada planando no ar. Ele tinha sobrevivido. Tinha derrotado o poderoso inimigo com a evolução de sua arma imperial e tinha conseguido.

Mas durou por pouco tempo seu alívio. Arregalou os olhos, vendo agora o gigante abatido caindo em direção a cidade.

Virou-se para trás. ‘Corram!! Saiam daqui!’ Gritou correndo e pegando duas crianças para saírem do alcance do titã que caia sobre a cidade destruindo as construções.

Ouviu um grito desesperado e virou-se para trás arregalando os olhos, vendo que algo tentava impedir que o monstro caísse sobre as centenas de pessoas e, finalmente, conseguindo pará-lo.

Silêncio geral. As pessoas respiraram aliviadas por não terem sido esmagadas. Observavam com admiração seu salvador que mantinha-se estático com os braços abertos contra o gigante.

Levantou-se, passando a mão de leve sobre a cabeça de uma das crianças que tentou proteger em vão e virou-se para trás. Arregalou os olhos vendo a armadura dourada tingida de vermelho.

Sentiu o coração fisgar ao vê-lo, completamente machucado. O corpo coberto de sangue. Caminhou devagar em direção a ele, sentindo o peito doer de tal forma que nunca pensou que sentiria mais. Ele tinha dito que já era tempo de pararem de perderem quem lhes era importante. Não era justo ela perdê-lo agora. Não era justo!

Ele levantou o rosto e a fitou com aqueles belos olhos verdes pelos quais ela era fascinada por transmitirem tanta força, determinação e… Amor.

‘Desculpe... Pelo visto, não deu para manter a promessa.’ Falou com a voz fraca.

Kasumi correu até ele e o segurou nos braços. Sentiu ele a abraçar com carinho e já não conseguia mais segurar as lágrimas que desciam de forma livre pelo seu rosto.

‘Você me prometeu!’ Ela gritou. ‘Disse que ia sobreviver!’ Cobrou novamente, mas sentiu quando o corpo dele perdeu as forças, obrigando-a segurá-lo. Abraçou-o com força contra o corpo, fechando os olhos. ‘Tatsumi...’ Sussurrou sem acreditar que tinha perdido a pessoa que lhe era mais importante.

Kasumi abriu os olhos e fitou o teto do seu quarto. Levou uma das mãos ao peito e apertou o tecido da camisola. Fechou novamente os olhos enquanto as lágrimas rolavam pelo seu rosto de forma silenciosa. Mordeu o lábio com força tentando inutilmente que um soluço saísse através deles. Ele já havia lhe prometido sobreviver antes… Mas não conseguiu cumprir.

Levantou-se devagar e balançou a cabeça de leve. Sentia todo o corpo tremendo pela reminiscência do maldito pesadelo que a atormentava tanto. Inicialmente não reconhecia os rostos, as vozes, apenas sentia aquela dor dilacerante. Nunca fora tão nítido e tão real como agora. Vivenciar aquilo novamente era dolorido demais. Era uma eterna tortura…

‘Shaolin…’ Sussurrou o nome do menino e abraçou as pernas, repousando sua testa nos joelhos e deixando as lágrimas saírem de seus olhos sem se importar.

Sentiu quando tocaram sua cabeça, afagando de leve seus cabelos. Assustou-se.

Levantou a cabeça e virou o rosto. Arregalou os olhos, encarando Miguel que olhava-a seriamente.

Kasumi passou a mão no rosto secando-o. ‘Não me diga que ele morreu... de novo?’ Perguntou com a voz falhada para o arcanjo.

Ele não respondeu, deu alguns passos para trás, afastando-se do leito da menina.

‘Fala logo!!!’ Ela gritou.

‘Acalme-se.’ Ele falou com a voz dura. ‘Foi apenas um pesadelo.’

‘Se fosse uma merda de pesadelo apenas, você não estaria aqui com essa cara olhando para mim!’ Ela rebateu, levantando-se. ‘Onde está o Shaolin?!’

‘No México.’ Ele respondeu.

‘Ele está vivo, não está?’

‘Eu não sei.’

‘Como você não sabe?’ Ela perguntou revoltada, aproximando-se dele. ‘Não foi isso que combinamos.’

‘Ele tinha que passar por…’

‘Vai a merda!’ Ela gritou interrompendo-o e fazendo Miguel estreitar os olhos nela. ‘Vocês me proibiram de ajudá-lo, mas me garantiram que estaríamos juntos.’

‘E ficaram!’ Miguel falou com a voz firme. ‘Vocês sempre estiveram juntos desde que nasceram neste plano, neste universo.’

Ela cerrou os punhos e olhou para ele com raiva. Miguel arregalou os olhos de leve. Parecia loucura, não deveria se importar com ela, o acordo tinha sido cumprido. Seu plano estava em andamento. No entanto, era incômodo demais vê-la sofrendo daquela forma.

‘Mantenha-se calma. Ainda não acabou.’

Ela trincou os dentes e deu dois passos em direção a ele. ‘Pelo seu bem, espero que realmente não tenha acabado.’

A luz do quarto se acendeu e Kasumi virou-se para o lado, vendo os rostos da mãe e do pai observando-a assustados. Virou novamente e não viu mais Miguel, o Arcanjo tinha aproveitado para fugir.

Kurogane se aproximou da filha assustado. ‘Kasumi… está tudo bem, princesa?’ Ele perguntou com a voz falhada.

A menina abaixou o rosto e balançou a cabeça de leve negando. Nada estava bem. Nada. Sentiu quando o pai a envolveu em seus braços apertando-a forte contra seu peito e aproveitou para voltar a chorar de forma livre.

‘Ouvimos você gritar, filha. O que houve?’ Tomoyo perguntou aflita, parando ao lado do marido e passando a mão na cabeça da sua menina.

Kasumi não respondeu, apenas chorou agarrada ao pai.

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Shaolin deu um longo suspiro, novamente, vendo-se no meio do nada. Pensou que esta seria a quinta chave. Depois desta, só mais duas e acabou.

Franziu a testa de leve, pensando com que nova “surpresa” ele voltaria depois que conseguisse destruir aquela chave, se conseguisse voltar. Será que voltaria conseguindo ver o passado de todos sem nem ser necessário tocá-los? Ou quem sabe voltasse simplesmente sabendo da vida de todo mundo? Encolheu os ombros, incomodado com seus próprios pensamentos.

‘O poder é algo surpreendente, não?’ Ouviu uma voz masculina às suas costas e virou-se, arregalando os olhos ao ver a imagem do homem que se aproximava devagar. Ele tinha a pele morena, longos cabelos negros e vestia roupas coloridas. Na cabeça um ornamento feito de penas que brilhavam.

O menino se virou devagar. ‘Não entendo o que quer dizer.’

Ometecuhtli cruzou os braços e encarou o garoto. ‘Você tem certeza que não entende, ou continua a se fazer de tolo para evitar confrontar seus problemas?’

‘Não sou tolo.’ Ele respondeu entre os dentes, desviando os olhos dele.  ‘Apenas não gosto de entrar em conflito.’

‘Não gosta de entrar em conflito, não gosta de discutir com os outros… apenas quando as coisas são convenientes para você, não? Porque soube muito bem como discutir com seu irmão quando quis ou com seu pai.’

‘Eu já acertei as coisas com eles.’

‘E quando vai acertar as coisas consigo mesmo, criança?’ Ouviu agora uma voz feminina, fazendo-o virar o rosto e observar pelo ombro esquerdo a bela mulher se aproximando devagar. Como o homem, tinha a pele morena e cabelos longos negros, porém ondulados, vestia roupas coloridas e tinha na cabeça um ornamento de penas prateadas que também brilhavam de forma magnífica. Como se fossem raios prateados da lua. Sentiu o rosto queimar, observando-a se aproximar e inclinar-se até ele que se virou para ela. ‘Quando conseguirá aceitar a sua própria dualidade?’

‘Hum…’ Ometecuhtli murmurou. ‘Um homem tem que aceitar o poder que os deuses lhe entregaram com bravura e coragem.’

Omecihuatl ergueu o corpo, ainda olhando para o menino. Sorriu de leve. ‘Mas um menino tem direito de sentir medo, não?’

‘Eu não tenho medo.’ Shaolin respondeu incomodado, desviando os olhos dela.

‘Não?’ Omecihuatl perguntou, o tom era irônico.

Shaolin encolheu os ombros. ‘Um pouco…’ Respirou fundo e voltou a fitá-la. ‘Muito.’ Respondeu de forma sincera. ‘Tenho medo de como eu vou voltar, se eu voltar.’

‘Você tem medo de como vai voltar ou de não conseguir voltar?’ Ela questionou-o.

‘Dos dois.’ Respondeu.

O homem soltou um suspiro, incomodado. ‘Não se fazem mais guerreiros como antigamente. Guerreiros que não tinham medo da morte, de enfrentar os inimigos, de enfrentar seus próprios demônios.’

‘É fácil para você falar.’ Shaolin respondeu entre os dentes. ‘Está aqui no meio do nada.’ Falou, olhando em volta. ‘Sem ninguém para julgá-lo, sem ninguém que aponte para você por ser diferente, por você não ser normal.’

‘Se alguém se achar no direito de me julgar, garoto.’ O homem falou, inclinando o corpo a frente e estreitando os olhos nele. ‘Eu o faço querer não existir, entendeu?’

‘Maneira fácil de resolver as coisas, não?’ Ele rebateu, rindo de forma irônica. ‘Não me parece um “confronto” muito justo.’

‘Não gostei de você.’ Ele declarou, erguendo o corpo.

Omecihuatl rodou os olhos. ‘Você não precisa gostar dele.’ Ela retrucou.

‘Claro que preciso.’ Ele rebateu e encarou o garoto de novo. ‘Sou o Deus Supremo, fedelho. Eu decido o que é justo ou não.’

Shaolin endireitou o corpo. ‘Então se olham torto para você, simplesmente pulveriza a pessoa?’

‘Claro!’ Respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. ‘Você não acha isso também?’

‘Não.’ Shaolin respondeu, franzindo a testa. ‘Ter poder não quer dizer que você tenha que subjugar as pessoas que não os têm. Você deve protegê-las.’

Sentiu quando tocaram no seu ombro direito de forma delicada e virou-se observando a bela mulher. ‘E por que você deixa os outros subjugarem você?’

Ele balançou a cabeça de leve. ‘Eu não faço isso.’

‘Sentir-se anormal não é se deixar subjugar pelo conceito dos outros de normalidade?’

‘Não.’ Ele respondeu rapidamente. ‘Eu apenas queria que esta confusão não estivesse acontecendo na minha vida. Queria ser um garoto normal, só isso?’

‘Então você acha que não é capaz de passar por esses desafios?’ Ela perguntou com a voz suave.

‘É claro que ele não é capaz!’ O homem retrucou. ‘Não está vendo como ele só quer ser normal. Não tem capacidade de entender o dom que tem.’

‘Hei!’ Ele falou, olhando atravessado para o homem. ‘Você já falou que não foi com a minha cara, não precisa ser mais direto.’

‘Ah!’ Ometecuhtli soltou de forma irônica. ‘Agora está irritado porque eu simplesmente falei a verdade. Que você é um fraco que não tem capacidade de enfrentar os desafios aos quais está sendo submetido.’

‘Eu vou passar por eles! Eu tenho que voltar para casa!’ O garoto falou com o tom de voz mais alto.

O homem balançou a mão à frente do corpo de forma zombeteira. ‘Está morrendo de medo de como vai voltar. Como é que quer voltar?’

Shaolin desviou os olhos dele. Ele tinha certa razão.

‘Você quer voltar por você ou pelos outros, criança?’ Ouviu a voz suave feminina.

‘Preciso voltar… Preciso voltar por…’

Oras, porque ele precisava voltar! Precisava voltar por causa da mãe e do pai que estavam esperando por ele. Precisava voltar por causa de Kasumi, pois tinha prometido isso a ela. Precisava voltar por causa de Kazuo, ou o irmão não conseguiria se perdoar e ele já tinha sofrido demais na vida. Já tinham cobrado demais dele para ainda cobrarem protegê-lo. Precisava voltar por causa de Marie, que tinha largado tudo para viajar com ele para ajudá-lo.

Não… Ele não precisava voltar por causa dos outros… Ele precisava voltar porque ele queria voltar. Ele queria continuar a conviver com o irmão e os pais. Queria voltar a implicar com a prima. Queria voltar a beijar Kasumi. Como ele queria voltar a ver a menina linda e tê-la em seus braços novamente. Ele queria voltar. Ele tinha que voltar. Tinha prometido para ela. Não quebraria sua promessa. Não desta vez. Ele sobreviveria. Custe o que custasse, ele voltaria para casa.

‘Por mim.’ Ele respondeu, levantando o rosto e fitando a mulher. ‘Quero voltar por mim.’

‘E não tem medo do que acontecerá quando voltar?’

‘Tenho mais medo de não voltar. Eu sei que vou conseguir dar um jeito.’

‘Que jeito, garoto?’ O homem perguntou com tom duro. ‘Você surta por tudo. Tudo que você acha que não é “normal”.’

‘Mesmo assim… Eu prefiro voltar. Não quero deixar de existir ainda. Quero fazer muitas coisas ainda.’ Ele respondeu.

‘Então acredita que irá passar por todos os desafios?’ A mulher perguntou.

Ele assentiu com a cabeça. ‘Eu não escolhi isso, mas se é minha obrigação, eu preciso cumpri-la. E tenho que aprender a arcar com as consequências.’

‘E você acha isso justo com você?’ Ela retrucou. ‘Você provavelmente voltará com outro dom. Talvez um tão grande que não conseguirá controlar apenas evitando o contato com os outros.’

Ele desviou os olhos dela. ‘Vou ter que aprender a controlar.’

‘Não vai conseguir. Vai surtar novamente.’ O homem declarou, voltando a cruzar os braços.

‘Hei! Dá para me dar um voto de confiança?’ Shaolin falou, irritado.

‘Confiança?’ Ele falou, erguendo uma sobrancelha. ‘Como? Como posso confiar em quem não tem confiança em si próprio?’

‘Eu vou dar um jeito.’ Shaolin respondeu. ‘Verdade que eu surtei! Achei que não tinha o direito de invadir a privacidade dos outros, mas… Mas se eu não posso evitar isso, tenho que aprender a conviver com isso…’ Ele abaixou os olhos. ‘E quem sabe eu não consiga entender melhor o porquê de ter recebido este dom.’

‘E você acha que existe um porquê?’ A mulher o questionou.

Ele sorriu de leve. ‘Sempre existe um porquê das coisas.’ Ele respondeu, fitando-a. ‘Kazuo-nii-san veio para me ajudar a parar de hesitar tanto em usar minha magia. Tousan e kaasan se amam de forma tão intensa para, não só salvar a eles próprios, mas a todos e conseguir equilibrarem seus poderes. Tudo… Tudo tem sempre um porquê.’

‘E por que você acha que está sendo testado desta forma e recebendo estes poderes?’

Ele abriu um sorriso. ‘Porque eu sei que vou conseguir passar pelos testes… E sei…’ Shaolin cerrou os punhos. ‘Sei que controlarei estes poderes e encontrarei uma maneira de ajudar os outros com ele ao invés de apenas temê-los.’

O homem finalmente sorriu de leve para o garoto. ‘Então entendeu do que tinha medo antes, não é?’

O garoto assentiu com a cabeça. ‘Tinha medo de não ser capaz.’

‘Agora você acha que é?’ A mulher perguntou.

‘Tenho certeza.’ Ele falou confiante. ‘Se não fosse o tal poder que vocês me deram na última chave, eu nunca saberia o inferno que Kazuo passou. E eu nunca… Nunca vou permitir que ele volte para lá.’ Falou de forma firme. ‘Custe o que me custar, ele não volta para lá.’

‘E por que acha que é capaz de impedir que ele volte?’ Ela perguntou.

‘Porque… Bem…’ Ele deu de ombros. ‘Deve haver alguma vantagem em receber estes poderes, não é?’

O homem caiu na gargalhada e recebeu um olhar de reprovação da mulher, mas não se importou muito. Deu um passo à frente e colocou a mão no ombro do garoto de forma camarada. ‘Então agora está entendendo que ter poderes tem lá sua vantagens, não?’

Shaolin olhou desconfiado para ele. ‘Você disse que não ia com a minha cara.’

‘E não vou!’ Falou rapidamente. ‘Mas é engraçado ver as conclusões dos seres humanos. Alguns querem simplesmente dominar os mundo, outros querem apenas dinheiro e usufruir de prazeres carnais.’ Ele franziu a testa de leve. ‘Você não tem idade ainda para isso.’ Comentou, fazendo o garoto se sentir envergonhado.

‘Eu já entendi.’ Shaolin o cortou. ‘Eu entendi que você adora se divertir com as reações humanas, não precisa ser mais específico.’

‘Ometecuhtli…’ A mulher o chamou em tom de advertência. ‘Está confundindo a criança.’

‘Está bem…’ O homem falou, soltando um suspiro. ‘Estava começando a gostar de falar com o garoto.’

‘Está na hora dele ir.’ Omecihuatl avisou e Shaolin voltou-se para ela. ‘Você terá que confiar muito em si mesmo para conseguir voltar desta vez, criança.’

Ele franziu a testa de leve. ‘Como assim?’

Omecihuatl e Ometecuhtli se entreolharam e depois fitaram o garoto com os rostos preocupados.

‘Vamos ver se tudo que você concluiu agora realmente é verdade.’ Ela falou. ‘Seu verdadeiro teste… começa agora…’

Shaolin reparou que o brilho em volta da mulher começou a aumentar assim como o do homem, obrigando-o a fechar os olhos. Sabia que agora estava voltando para o seu corpo. Sorriu de leve e tentou abrir os olhos piscando-os algumas vezes. Quando finalmente conseguiu abri-los, olhou assustado para onde estava. Coçou a cabeça sem entender o que tinha acontecido.

A frente dele estava a prima ajoelhada perto dele que estava deitado no chão.

‘Hum…’ Ele murmurou. ‘Tem alguma coisa errada.’

‘E tem mesmo!’ Ouviu a voz de Chocolove atrás de si. Virou-se para trás, olhando surpreso para o xamã ao lado de um grande jaguar.

‘E-Este é o Mick?’ Perguntou, apontando para a fera.

‘Isso aí! Este o Mick, the Jaguar!’ Falou, novamente, apresentando seu espírito guardião de forma teatral. ‘Maneiro ele, não é?’

O menino coçou a cabeça. ‘Por que eu estou vendo ele agora?’

Chocolove soltou um suspiro. ‘Porque você está morto, seu mané.’

‘Morto?!’ Ele exclamou, arregalando os olhos. ‘Peraí! Tem uma coisa errada! Eu me encontrei lá com o casal estranho e respondi todas as perguntas chatas direitinho. Não deveria estar morto.’

Chocolove fez um gesto em direção ao corpo dele. ‘E o que é aquilo que está ali atirado no chão?’

Ele voltou-se para trás e viu a prima sacudindo o corpo dele enquanto o chamava. ‘Mas que merda está acontecendo aqui?’

Chocolove nem precisou responder, o garoto ouviu um estrondo e virou-se para o lado, vendo o enorme minotauro lutando contra o irmão. ‘Que merda é esta?!’

‘Este bicho feio apareceu quando você entrou em transe.’ Chocolove respondeu.

‘Beleza… me faz voltar logo para o meu corpo para eu ajudar o meu irmão.’ Ele falou, aproximando-se do seu corpo e tentando tocar, sem conseguir. Olhou assustado e tentou tocar na prima, mas também não conseguiu. Viu-a chorando e sentiu o peito fisgar, odiava ver Marie chorando.

Voltou-se para Chocolove. ‘Hei, como é que eu faço para voltar?’

‘Eu não sei.’ Ele respondeu com sinceridade.

‘Como assim você não sabe?! Você não é um xamã?! Você tem que saber!’

Chocolove cruzou os braços e olhou para o Mick. ‘Tá vendo como esse pessoal é ingrato, Mick? A gente tá aqui, tentando ajudar e eles já vêm cobrando a solução das coisas.’

Shaolin levantou os braços ao lado do corpo. ‘E você esperava o quê, sendo um xamã?’

‘Eu estou pensando…’ Chocolove respondeu. ‘A chave está na barriga do bicho feio ali. Não tem muito como conectar a sua alma com o corpo já que ela se desconectou por causa da chave, então, eu concluo que você precisa da chave…’

‘Você está na minha frente só para me dizer que não tem como eu voltar?’ Shaolin perguntou, erguendo uma sobrancelha.

‘Hei! Seu mal agradecido, saiba que você só está aqui e não em qualquer outro lugar do globo terrestre porque eu guiei você até aqui.’ Ele falou com o rosto sério. ‘Eu só não descobri ainda como vou colocar você dentro do seu corpo ainda. Não posso pensar em tudo.’

Shaolin desviou os olhos de Chocolove e olhou para o irmão que foi arremessado contra algumas árvores. ‘Droga… Preciso ajuda-lo.’ Falou correndo em direção ao irmão.

‘Mas você é um mané, mesmo. Não tem como ajudá-lo. Você é um espírito agora.’ Chocolove tentou esclarecer.

‘Você é um xamã… Então vê se acha uma maneira de me ajudar. É… É a sua missão, não é?’

Chocolove ergueu uma sobrancelha. ‘Desde quando você entende de xamã?’

‘Tousan morre de medo de vocês. Fala que vocês ficam ajudando gente morta.’

‘Rá!’ Chocolove soltou. ‘Tá vendo como esse pessoal é.’ Falou para Mick correndo atrás do garoto que seguia em direção ao irmão. ‘Mas não tô afim de ouvir o pessoal me sacaneando porque o garoto morreu no meu turno.’

Shaolin parou perto do rapaz que estava ajoelhado no chão bastante ferido. Desviou os olhos dele vendo o tal monstro agora tentar atacar o escudo da prima.

‘Droga, Chocolove-sama!!! Me dá uma ideia!’ Ele gritou para o xamã.

Chocolove coçou a cabeça, pensando. ‘Sei lá… Você agora é um espírito… Tem limitações. Precisa de um intermediário.’

O garoto franziu a testa. ‘Mas o casal esquisito lá falou que eu precisava…’ Começou, mas se interrompeu, arregalando de leve os olhos ao ver o brilho intenso da sua esfera branca perto de uma árvore. ‘Intermediário?’ Ele repetiu.

‘É de um intermediário.’ Chocolove confirmou.

‘Vamos tentar inovar.’ O garoto falou e foi até a esfera, abaixou-se e sorriu de leve quando conseguiu pegá-la sem que seus dedos passassem por ela como um fantasma. ‘Beleza.’ Soltou, alargando o sorriso.

Pegou a esfera e olhou para o rapaz, abaixou-se e jogou-a, fazendo-a rolar até bater na mão de Kazuo que olhou para o objeto mostrando-se confuso.

‘Nii-san!’ Chamou-o e viu Kazuo virar-se para ele. Sorriu e acenou, informando que confiava no irmão para resolver a situação. O anjo fora claro quando disse que a espada poderia ser usada por ele ou por quem ele permitisse. Estava permitindo que ele a manipulasse.

‘Não era bem disso que eu estava falando quando comentei sobre um intermediário.’ Chocolove comentou, parando ao lado dele.

O garoto deu de ombros. ‘A gente precisa dar uma inovada, não é?’

Chocolove passou a mão na cabeça do garoto bagunçando os cabelos dele. ‘Você até que não é tão mau humorado assim. Já estava pensando que era filho do Ren.’

Shaolin tentou afastar a mão dele que bagunçava seus cabelos. ‘Deixa eu prestar atenção para tentar ajudar nii-san.’

‘Ah! Não se preocupe… O rapaz agora vai tirar de letra.’ Chocolove falou.

‘Por que está falando isso?’

‘Porque agora ele acha que tem como colocar você dentro do seu corpo.’ Ele falou e fez um gesto em direção a Kazuo que golpeava o Minotauro. ‘O que foi que eu disse?’

Shaolin observou Kazuo atacando o inimigo de igual para igual. Sorriu, sabendo que agora ele conseguiria derrotá-lo. Confiava na força do seu irmão.

Continua.

 


Notas Finais


Música do capítulo: On My Own (Por Minha Conta) by Ashes Remain

Notas Específicas:

Chocolove McDonnel: Personagem de Shaman King. Chocolove é um xamã Afro-Americano de Nova York, Estados Unidos. Seus pais foram assassinados quando ele era pequeno, e entrou no mundo do crime. Vivia em meio a violência das gangues nova iorquinas, até conhecer Orona, um xamã idoso da Amazônia, que começou a treiná-lo para se tornar um xamã. Seu espírito guardião é Mick, uma onça pintada, que foi criada pelo seu antigo mentor. Ele é um comediante, não faz grandes piadas, mas o suficiente para irritar qualquer um.
Seu sonho, é se tornar o maior comediante do planeta, para espalhar a alegria no mundo inteiro.


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