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História Feiticeiros - Caos - Parte 2


Escrita por: KathKlein e YoruHiiragizawa

Capítulo 77 - Caos - Parte 2


Fanfic / Fanfiction Feiticeiros - Caos - Parte 2

FEITICEIROS

Por Kath Klein & Yoruki Hiiragizawa

Capítulo 77

Caos - Parte 2

Kasumi olhou assustada para as pessoas paradas como estátuas. Franziu a testa observando a mãe que estava ao seu lado paralisada também. Deu uma volta em torno de si vendo tudo ao seu redor completamente estático.

‘Deve ser o tal do companheiro…’ Murmurou lembrando-se do seu encontro com Retorno no templo Tsukimine e deduzindo que provavelmente o mesmo poder estava sendo usado.

Caminhou devagar olhando ao redor e sentindo que não era só isso. Havia algo a mais que apenas a magia que havia percebido daquela vez que viu no templo. Era uma força muito maior que estava sendo usada de suporte para que a magia pudesse ter aquele alcance estrondoso.

‘Shaolin… seu baka.’ Concluiu o óbvio ao perceber que a magia tinha a vibração parecida com a que tinha visto em volta do menino quando o encontrou alguns dias atrás. Trincou os dentes. Ele sempre tomava a mesma merda de decisão. Estava colocando-se novamente em risco para salvar os outros.

Cerrou os punhos com raiva. Fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes para se acalmar. Aquele tipo de atitude não adiantaria merda nenhuma. Quem mandou ela se apaixonar por um baka daqueles? Seria sempre um eterno ciclo de sofrimentos. Não havia como sair dele. Era melhor aceitar o destino em vez de tentar lutar eternamente contra ele.

Abriu os olhos e observou as pessoas como estátuas com os rostos em pânico pelo que acontecia.

Respirou fundo e soltou o ar devagar agora. Sabia que não poderia ajudar Shaolin. Miguel a proibiu de fazer isso, mas ele não havia proibido de ajudar os outros. Aproveitou a chance que podia se movimentar de forma livre enquanto as pessoas e tudo na verdade estava parado e começou a tirar uma a uma as que estavam em situação de risco. Talvez não fosse capaz de ajudar todas, mas tentaria fazer o seu melhor.

Olhou para o ônibus pronto para se chocar com outros veículos. Franziu a testa, avaliando quem estava em perigo e correu na direção para começar a retirar as pessoas. Quando o tempo voltasse ao seu caminho normal, elas poderiam até ficar desorientadas e confusas, mas estariam a salvo.

Sentia que estava mais forte pois a ligação com o Mundo das Trevas estava aberta e isso afetava sua aura. Estava tão rápida e forte como antes, quando era Akame. Precisava de uma missão  para focar sua mente de forma útil e prática para ajudar os outros, ou sua preocupação com Shaolin a enlouqueceria. Sempre este era seu recurso para manter-se sã.  Esta havia sido sempre a sua escolha.

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Marie levantou o escudo mágico em volta dela, Shaolin e Kazuo enquanto via Syaoran se afastar voando. Alguns demônios ainda tentavam se aproximar deles, batendo na barreira mágica. Estava nervosa com a permanência do nível elevado de magia de Shaolin.

Sentiu um impacto mais forte no seu escudo e franziu a testa de leve, vendo a figura de um homem bater de forma violenta na bolha mágica.

‘Quem é o idiota?’ Kazuo perguntou.

‘Não pensei que o veria novamente.’ Ela falou. ‘Fique com Shaolin-kun, eu cuido dele.’ Disse caminhando, quando Kazuo segurou-a pelo braço.

‘Você é humana.’ Ele a alertou.

Marie virou-se para ele. ‘E daí?’

‘Daí que seu corpo é frágil, coloque isso na sua cabeça.’ O rapaz falou. ‘E eu não quero perdê-la, entendeu?’

Marie arregalou os olhos de leve e sentiu o rosto esquentar. Desviou os olhos do rosto de seu antigo mestre. Tinha vontade de beijar o namorado, mas não no corpo do pai dele. Esperaria ele voltar.  

‘Eu vou voltar… Logo.’ Ela respondeu, afastando a mão dele.

Kazuo acenou com a cabeça, concordando. Ouviram novamente um estrondo que fez a jovem estreitar os olhos no feiticeiro. E pensar que a merda toda tinha começado porque Clow havia ajudado aquele idiota a ir para o mundo das trevas.

Marie caminhou até ele, desviou e atravessou a barreira mágica encarando-o.

‘Minha luta não é com você, garota. Manda aquele covarde ali...’ Ele falou, apontando para Kazuo que estava no corpo de Syaoran. ‘Vir até aqui.’

‘Sabe, Shyrai… Não imaginei revê-lo novamente.’ Ela falou, fazendo-o arregalar os olhos de leve. ‘O Guardião não pode perder tempo com você no momento, pois está tentando controlar o Pilar.’ Ela falou apontando para Sakura. ‘Mas vou adorar mandá-lo pessoalmente de volta para o inferno.’

Shyrai estreitou os olhos nela. ‘E eu posso saber quem é você?’

‘Marie Hiiragizawa.’ Ela respondeu, fazendo o homem trincar os dentes.

‘Hiiragizawa?’

‘Exatamente.’ Ela confirmou.

Shyrai soltou uma gargalhada. ‘Quem diria que um homem covarde como Clow teria uma filha tão determinada.’

‘Não sou filha de Clow. Sou filha de Eriol Hiiragizawa.’

‘Tão covarde como sua última encarnação.’ Shyrai rebateu. ‘Acho que vou ter muito mais prazer em mandar você para o inferno, garota.’ Disse concentrando sua magia e fazendo sua aura expandir de forma mortal. Avançou em direção a Marie que defendeu-se da espada mágica dele com a sua.

Ela reparou que ele juntou energia na sua mão e estava para desferir contra ela que, usando Salto, pulou para trás evitando ser atingida à queima roupa pela nociva carga. Franziu a testa reparando na energia que sem querer atingiu um dos inúmeros demônios, fazendo-o literalmente explodir. Não lembrava dele ser tão forte.

Novamente teve que usar Salto para desviar dos ataques sucessivos das bolas de energia que ele desferiu enlouquecido contra ela, tentando acertá-la.

‘Disparo.’ Ela invocou magia, tentando acertá-lo, mas os projéteis mágicos foram facilmente bloqueados por um escudo mágico que ele formou a sua frente. Realmente, ele estava mais forte. Provavelmente porque agora era um ser das trevas completo e não apenas um meio-demônio.

‘Alada.’ As asas surgiram em suas costas, ajudando-a escapar novamente do poder bélico do feiticeiro das trevas. Sentiu quando foi atingida, fazendo-a ser jogada para trás e rolar alguns metros pelo chão, batendo em alguns demônios e anjos que estavam lutando.

Levantou-se e sacudiu a cabeça de leve. Sentiu quando seguraram-a pelo pescoço levantando-a do chão enquanto tentava sufocá-la.

‘Vou adorar mandar seu corpo em pedaços para seu pai.’ Shyrai falou, levantando a espada.

‘Através.’ Invocou a magia escorregando da mão do homem e fazendo a espada dele atravessar seu corpo sem causar-lhe dano.

Rolou no chão, tentando se afastar do inimigo e levantou-se, encarando-o. Inferno. Ele estava muito mais forte ou ela muito mais fraca.

‘Bosque.’ Ela solicitou outra magia, mas novamente fora surpreendida vendo os ramos serem cortados de forma rápida pela arma de Shyrai.

Ele concentrou sua magia, sendo circulado por uma aura púrpura que, quando os ramos se aproximavam dele, secavam de forma instantânea. Marie trincou os dentes, tentando pensar em alguma maneira de atacá-lo de forma eficaz. Não teve muito tempo e já o viu avançar de forma rápida para cima dela tentando acertá-la com a espada de luz e fazendo a jovem bloquear os ataques sucessivos do adversário.

Marie acabou sendo atingida no braço, dando alguns passos para trás e levando a mão ao ferimento que sangrava.

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Kazuo atingiu um dos demônios que tentava acertá-lo. Estava de costas ao irmão que também lutava contra os demônios. Tentava se manter próximo a Shaolin pois temia pelo garoto. Ele tinha cambaleado duas vezes, mas era cabeça dura demais e não diminuía sua aura mágica.

Desviou os olhos e franziu a testa, observando a namorada. ‘Droga.’ Falou apertando a empunhadura da espada.

‘Merda…’ Ouviu Shaolin sussurrar, também reparando na prima. ‘Vá ajudá-la.’

‘Você vai ficar bem, Shaolin?’ Perguntou, virando-se para o irmão.

‘Kagami está comigo.’ Ele respondeu para o irmão que virou-se rapidamente para carta que estava ao lado do garoto. Ela lutava protegendo-o de forma incessante.

Kazuo assentiu com a cabeça e caminhou em direção a namorada, já golpeando de forma mortal qualquer um que se aproximasse ou que estivesse no seu caminho até ela.

Arregalou os olhos, sentindo o coração parar de bater quando viu a jovem ser empurrada para trás e o inimigo concentrar a magia para acertá-la em cheio. Tentou correr até ela, mas havia muitos demônios em seu caminho. Não conseguiria alcançá-la a tempo.

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Marie arregalou os olhos vendo a energia vindo em sua direção e tentou invocar escudo, mas se surpreendeu ao perceber que alguém se colocou à sua frente, sendo acertado pelo golpe e caindo sobre ela, fazendo os dois serem arrastados por alguns metros.

Abriu os olhos devagar, sentindo o corpo machucado e levantou o rosto, franzindo a testa de leve ao ver o pai a poucos metros dela, levantando-se com uma das mãos no abdômen.

Shyrai caminhou até eles, sorrindo de lado. ‘Oras… Oras… Meu velho amigo Clow resolveu aparecer. Uma pena…’ O feiticeiro falou de forma dramática. ‘Seria tão mais interessante mandar os pedaços de sua bela filha numa caixa para você de presente.’

‘Sua luta é comigo.’ Eriol falou, levantando a mão direita e fazendo um báculo mágico surgir entre os dedos. ‘Deixe-a fora disso.’

‘Sabe que não tinha poder antes para me derrotar e agora…’ Shyrai estreitou os olhos nele. ‘Agora que sou verdadeiramente um demônio, não tem a menor chance...’

‘Será mesmo?’ Eriol falou, encarando-o.

‘Que lindo… Está realmente acreditando que conseguirá me vencer para proteger sua filhinha? Que tocante, para um homem tão frio e manipulador como você, Clow.’

‘A vantagem de ser humano é que as pessoas mudam, evoluem… Com mais facilidade que os demônios.’ Eriol respondeu e apertou mais forte o báculo em sua mão.

Shyrai trincou os dentes, irritado com a resposta do ex-amigo e caminhou até ele, tentando acertá-lo com a espada. Eriol defendeu-se com o cetro mágico bloqueando os golpes violentos do adversário. Shyrai tentou novamente concentrar sua magia para desferir contra Eriol, mas sabendo da estratégia baixa do inimigo, Eriol segurou o pulso dele com força.

‘Deighe Dealg’ (Lança de Gelo). Hiiragizawa invocou sua magia fazendo o pulso de Shyrai ser envolvido pela magia congelante e impedindo assim que ele desferisse o golpe.

Eriol afastou-se dele, olhando-o com o rosto sério. Shyrai levantou o rosto transtornado de ódio ao ver seu braço congelado e rígido. Elevou sua magia anulando a de Eriol e, logo depois, tentando acertá-lo com as inúmeras bolas de fogo.

‘Nathair Uisgeach’ (Serpente aquática). A reencarnação de Clow fez surgir uma imensa serpente d'água que tratou de abocanhar todas as bolas de fogo que eram atiradas de forma incessante por Shyrai, que gritava enlouquecido de raiva por ver seus ataques sendo frustrados.

Kazuo se aproximou de Marie, ajudando-a a se levantar e olhando preocupado para o rosto machucado da namorada. ‘Você está bem?’

Marie não tirava os olhos da luta do pai contra Shyrai. ‘E-ele… Ele me protegeu... Com o próprio corpo.’ Ela falou para Kazuo ainda atordoada.

‘É claro, Marie! Ele é seu pai!’ Kazuo respondeu para a namorada que fechou os olhos com força, sentindo novamente se formar lágrimas neles.

‘O que aconteceu? Onde mais está ferida?’ Ele perguntou, olhando para a namorada e vendo que o braço dela estava sangrando pelo golpe de Shyrai. O rosto tinha algumas escoriações e no outro ombro havia uma queimadura feia. ‘Vamos… Eu ajudo você…’ Falou, levantando-a.

‘Não.’ Marie respondeu, afastando-se de Kazuo. ‘Não vou deixar esse idiota matar o meu otousan.’ Ela falou decidida e olhou para Kazuo. ‘Fique com Shaolin-kun. Ele não pode elevar a magia dele desta maneira e ainda conseguir se proteger. Eu e meu pai damos conta deste imbecil.’

‘Marie…’

‘Vá!’ Ela gritou para ele, materializando o arco em suas mãos e estreitando os olhos em Shyrai que tentava atacar Eriol. Trincou os dentes, sentindo os ferimentos arderem a cada movimento, e soltou a flecha que acertou o inimigo em cheio, fazendo-o cambalear para trás.

Marie caminhou rápido até o pai, parando ao lado dele e olhando-o de esguelha. ‘Este idiota está mais forte agora porque é um demônio.’

Eriol sorriu de lado. ‘Mas agora somos nós dois contra ele.’

Marie olhou para o pai e sorriu de lado, confirmando com a cabeça.  ‘Sim… Nós dois.’

Desviaram os olhos um do outro e fitaram Shyrai que encarava-os, novamente elevando sua magia ao extremo. ‘Mandarei você eu sua filha para o inferno, Clow.’

Eriol elevou sua magia fazendo a mandala surgir aos seus pés. ‘Eu já estou de saco cheio de todo mundo ficar me chamando de Clow.’ Ele falou entre os dentes, fazendo a filha sorrir de leve.

Marie elevou sua magia também formando a mandala mágica abaixo de seus pés. Olhou para o pai rapidamente e acenou com a cabeça, já tinham se entendido.

Eriol girou o báculo em sua mão e estreitou os olhos em Shyrai. ‘Theine Thonn!’ (Onda de Fogo!) Liberou sua magia de fogo em direção a Shyrai.

‘Fogo!’ Marie invocou sua magia também lançando a serpente de fogo em direção a Shyrai.

As duas magias circularam uma ao lado da outra e se uniram atingindo o inimigo em cheio que ainda tentou inutilmente se proteger com uma barreira mágica. Shyrai foi envolvido pelas chamas mágicas e gritou de forma desesperada até finalmente explodir e uma nuvem de pó se formar no lugar onde ele estava antes.

Eriol caiu de joelhos com a mão no ferimento do abdomen. Marie parou a frente dele, segurando-o pelos ombros. ‘Tousan… o senhor está bem?’

Ele levantou o rosto e sorriu de leve para ela. ‘Se você está bem… Eu também estou.’ Ele respondeu e ela o abraçou apertado.

‘Não faça mais isso. Eu daria um jeito de me proteger.’ Ela falou ainda com a voz falhada, abraçando-o.

‘Eu sei…’ Ele respondeu. ‘Mas eu gosto de proteger minha pequena.’

Ela sorriu e levantou o rosto invocando Escudo para protegê-los. ‘Vamos, tousan.’

Eriol olhou ao redor e fitou a filha. ‘O que raios está acontecendo?’

Marie apontou para Sakura. ‘Obasan… Ela perdeu o controle quando...’ Ela reteve-se e balançou a cabeça de leve. ‘Kazuo-kun… Ele é filho dela.’

‘Filho?’ Eriol tentou se levantar, mas sentiu o ferimento grande no corpo.

Marie pegou o braço do pai colocando-o por cima dos ombros e ajudando-o a se levantar. ‘Sim… Midoriko roubou Kazuo-kun do ventre dela quando ela foi para o mundo das trevas atrás de ojisan.’

Eriol franziu a testa sem desviar os olhos de Sakura que estava frente a frente com Kazuo.

‘E será então, quando o Céu arder em chamas…’ Ele falou olhando para o céu do mundo das trevas se misturar a noite estrelada. ‘...que um coração partido gerará a Esperança e uma Era de bem-aventuranças.’ Ele falou e balançou a cabeça de leve. ‘É isso, então… Vou jogar aquelas  porcarias de cadernos de Clow-sama no lixo. Não acerto uma.’

Marie deu um beijo no rosto do pai e sorriu para ele. ‘O senhor não é Clow… Deveria tê-los jogado fora há muito tempo.’

‘Mas pelo menos podemos ter a esperança de que o pior não acontecerá com Shaolin-san…’ Ele falou sorrindo de leve.

‘Sabe, tousan… Eu tenho certeza que tudo, no final, vai dar certo. E não preciso ler nenhuma anotação de Clow-sama para saber disso.’

Ele assentiu com a cabeça e sorriu para a filha que o fitava com carinho. ‘Eu também.’

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Shaolin caiu de joelho no chão novamente. A respiração estava ofegante e sentia todas as células de seu corpo explodirem. Estava usando magia demais. A mandala embaixo dele ainda brilhava de forma esplendorosa, mas sabia que não conseguiria manter a magia daquela forma tão devastadora por muito mais tempo sem se arriscar. Seu corpo estava dando sinais que não aguentaria. Tinha que fazer uma escolha.

Sentia novamente aquela agonia dentro do peito, fechou os olhos e quando os abriu, percebeu que estava planando no ar, seu corpo dolorido e com vários ferimentos, mas o importante é que estava vivo. Estava  aliviado ao constatar isso. No entanto, foi por pouco tempo. Logo ouviu os gritos desesperados de centenas de pessoas. Abaixou o rosto e arregalou os olhos, vendo as pessoas fugindo em pânico. Virou a cabeça e reparou que o gigante que ele próprio tinha abatido estava caindo na direção delas. Não poderia deixá-las morrerem esmagadas por aquele monstro.

Trincou os dentes e voou na direção dele, parando a sua frente. Estendeu os braços espalmando suas mãos contra a enorme arma imperial. Era pesada demais, sentiu quando seu corpo começou a falhar, não mais aguentando a força estúpida que estava fazendo. Inferno! Tinha que conseguir parar aquilo, tinha que segurar aquela carcaça de qualquer forma. Não permitiria que ninguém mais morresse. Mas também não queria morrer agora que descobriu que a amava, não queria fazê-la sofrer por ele. Tinha prometido sobreviver. Merda!

Ainda fazendo força para tentar parar o gigante, fez sua escolha. Sua vida repleta de crime e sangue valia menos que a de outros.

Ela tinha que perdoá-lo, mas não poderia cumprir sua promessa.

Ela… Kasumi tinha que perdoá-lo.

‘Shaolin!!!’ Ouviu a voz do pai e sentiu quando o pegaram pelos ombros, sacudindo-o. ‘Diminua agora sua magia! Você não está aguentando!’

Abriu os olhos e fitou o rosto sério do pai a sua frente. Kazuo tinha visto quando o garoto caiu de joelhos fraco e correu até ele, desferindo golpes mortais em qualquer um que chegasse perto do irmão.

‘Você está sangrando! Seu corpo não está aguentando mais! É uma ordem, Shaolin! Diminua sua magia!’

‘Não posso!’ O garoto falou e cuspiu sangue. ‘Desculpe-me, não vai dar…’

‘Que merda de “não vai dar” é essa!?’ Kazuo rebateu. ‘Faça isso ou eu dou um murro em você que vai te deixar desacordado!’

Kagami se abaixou e tocou na cabeça do menino que se virou para ela. ‘Deixe-as escolherem…’ Ela passou a mão pelo rosto do menino, limpando-o com carinho.

Kazuo levantou-se olhando em volta enquanto Kagami segurava o corpo do irmão para não cair ao chão. Aeon de costas para Shaolin e Kagami também olhando em volta e impedindo que os demônios se aproximasse. Ele sabia que Escudo estava fazendo o seu melhor, mas estava no limite.

Aeon virou-se olhando para o garoto pelo ombro esquerdo. Fora ele que avisara a Kazuo sobre o limite do irmão. ‘A presença da mestra já não está mais tão forte. Diminua sua presença agora.’

Kagami pegou o rosto do menino entre suas mãos e olhou para ele com ternura. ‘Por favor. Confie em nós.’

‘Elas saberão fazer a escolha.’ Aeon tentou convencer o garoto novamente. ‘Somos independentes, sabemos que ao obedecer a mestra, faremos algo pelo que todos se arrependerão depois. Inclusive nossa própria mestra!’

‘Diminua sua presença e confie na escolha delas.’ Kazuo gritou irritado.

‘Confie, meu pequeno.’ Kagami pediu novamente.

Shaolin trincou os dentes ainda observando o rosto sereno de Kagami. Sentiu o carinho quando ela afagou seus cabelos e fechou os olhos com força, fazendo o que sua segunda mãe lhe pediu. Manteve apenas Troca e Tempo ativados com sua magia.

Kagami sorriu para ele e o abraçou, feliz em ver que o menino tinha confiado nela e nas outras Cartas. Apertou-o mais forte entre os seus braços e olhou em volta para ver se algum inimigo estava próximo. Protegeria Shaolin nem que fosse com o próprio corpo.

Kazuo apertou a empunhou a espada. A mandala dele se formou aos seus pés e se sobrepôs novamente à do irmão.

‘Fica tranquilo, Shaolin. Eu estou aqui.’ Falou, fazendo o irmão sorrir de leve.

‘Eu sei...’ O garoto sussurrou, deixando-se ser protegido por eles.

Kazuo estreitou os olhos nos pais ainda envoltos na energia negra. Desviou os olhos, fitando as Cartas que, momentaneamente, pararam os seus ataques, sentindo-se desorientadas. Sabia que elas não se voltariam contra eles propositalmente, não seguindo as ordens da mãe, mas poderiam causar confusão que acabaria por machucá-los.

Posicionou a espada a frente já na defensiva, preparando-se para qualquer ataque. Reparou que algumas olharam para Shaolin e depois para Sakura. Franziu a testa, sabia que agora a escolha dependia delas e, apesar de tentar passar confiança para o irmão para que ele se poupasse e evitasse chegar ao limite do seu corpo, estava preocupado.

Disparo encarou-o rapidamente e balançou a cabeça de leve, voltando a atacar os demônios. Kazuo sorriu aliviado, vendo uma a uma tomar a decisão de continuar lutando contra os demônios, ao lado dos anjos.

Aeon sorriu satisfeito. Sabia assim como Kagami o caráter de cada companheira.

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Miguel apertou a espada entre os dedos. Franziu a testa, observando Shaolin lutando para manter o nível de magia elevado apesar de mal conseguir se manter lúcido. Estava no limite. O corpo logo não aguentaria. Percebeu que, por pouco, a alma do garoto não tinha se desconectado do corpo alguns instantes atrás. Se Aeon não tivesse novamente intervindo e avisado ao meio-demônio para convencê-lo a diminuir a magia que influenciava os demônios aprisionados. Aeon realmente se metia sempre em seus assuntos.

Estreitou os olhos, reparando que, apesar de não receberem nenhuma influência agora, aqueles mesmos demônios mantiveram sua luta incessante e mortal contra os seres das trevas que tentavam invadir o universo. Observou Aeon lutando em sincronia com eles, usava seu poder para paralisá-los momentaneamente e sendo assim alvo fácil para qualquer uma das outras cartas. O ex-companheiro talvez estivesse voltando a subir no ciclo evolutivo, depois de séculos estagnado no plano inferior.

Balançou a cabeça de leve, seus dogmas não poderiam vacilar agora, mas algo estava fora do que sempre acreditou. Havia estreitado demais seus laços com a humana. Sabia do risco, mas não conseguiu evitar e ignorar a força da alma dela. Era extremamente raro uma alma conseguir superar o tipo de lavagem cerebral ao qual ela havia sido submetida e ver a verdade. O senso de justiça acabou fazendo que ela recebesse o cargo de guardiã das trevas daquele universo tão primitivo ainda. Ela mereceu o cargo que inclusive ele tinha resistido demais em dar a ela. Gabriel estava errado, nunca havia escolhido ela para ser a guardiã das trevas daquela merda de universo primitivo. No fundo, foi obrigado a dar a ela o cargo porque não haviam opções. Um universo com proximidade com o mundo das trevas era repleto de demônios e humanos tão terríveis quanto. Quando a situação o obrigou a lhe dar o cargo e a responsabilidade, não havia conseguido se convencer totalmente do caráter dela.

Humanos eram corruptíveis em seus pecados. E ela com certeza  voltaria a se arrastada para a lama. Era o que ele pensava, apostava inclusive. Ela foi testada. Passou e foi ele quem falhou.

Passou a mão pelo rosto num primeiro sinal de confusão na sua mente. A guardiã havia conseguido subjulgar um demônio superior que estava lhe dando muito trabalho, principalmente quando fora aprisionado, ou deixou ser aprisionado pelos humanos que o utilizaram para mais e mais mortes. Até que Murasame caiu nas mãos de Akame. Tentou corrompê-la não uma ou duas vezes, mas várias e apesar de conseguir mudar a natureza dela fazendo-a abrir mão de sua humanidade e tornando-a um demônio, a mente de Akame ainda era clara e conseguia distinguir o certo do errado.

Quando Gabriel o procurou com a ideia estúpida do guardião das trevas do universo que estavam agora havia decidido cair para o plano inferior para que voltasse com um corpo material, mesmo que demoníaco, chegou a rir achando a ideia além de ridícula, impossível de qualquer alma escolher esta alternativa. Novamente, enganou-se. Syaoran realmente foi para o Mundo das Trevas. Sofreu como todas as almas que lá estão mereciam. Passou por uma brecha e voltou para seu universo.

Ficou receioso. Mandou Gabriel ficar mais alerta ainda, pois considerava apenas uma questão de tempo, até Syaoran perder o controle e deixar sua nova natureza aflorar tornando-se perigoso.

Assim como havia se surpreendido com Akame, surpreendeu-se com Syaoran. Dois demônios agindo como guardiões que eram.

As coisas estavam fora do que sempre acreditou… Olhou novamente para a guerra que travava a sua frente. Estava verdadeiramente começando a acreditar que seres de natureza como aquelas poderiam decidir pelo correto. Que a natureza pouco importava em suas decisões, apenas eram estados a serem superados seguindo para a evolução.

Voltou a observar Shaolin, que estava sendo amparado por um dos demônios. Aquela fêmea o protegia de tal maneira que mais parecia uma mãe protegendo um filho. Lembrou-se do seu maior erro. Lembrou-se quando havia conhecido Kasumi.

Fechou os olhos e conseguia ver o rosto desesperado dela e Azrael a sua frente com receio de se aproximarem dele. No seu braço esquerdo estava o pequeno demônio que nascera a pouco tempo e na sua mão direita a espada pronta para golpeá-lo.

Balançou o cabeça conseguindo ouvir as palavras deles.

‘Não faça isso, Miguel! É apenas uma criança inocente!’ Azrael gritou temendo se aproximar mais e o arcanjo matar sua filha.

‘Onde estão os outros milhares de demônios que o pecado de vocês deu vida?! Onde eles estão?’

‘Temos apenas ela!’ Ela se aproximou com a voz suplicante. ‘Ela é apenas um bebê.’

‘É um demônio!’ Miguel rebateu entre os dentes.

‘É minha filha! Não estamos interferindo em nada nos planos do Pai Maior! Não tem porquê disso!’ Azrael gritou inconformado.

‘Este demônio e qualquer um da linhagem de vocês poderá colocar em risco o equilíbrio dos Universos que estão surgindo. É meu dever, manter a ordem para a Era que o Pai Maior está formando.’

Ela deu alguns passos a frente. ‘Eu lhe dou minha palavra que ela não fará mal algum. Não interferirá em nada.’

‘A palavra de uma prostituta que se entregou aos demônios, não va…’  Foi interrompido pelo ataque de Azrael e teve que se defender com sua espada. Sentiu o corte no rosto no lado direito.

‘Arrancarei sua língua se referir-se a minha mulher desta maneira novamente, Miguel.’

‘Você é um arcanjo…’

‘Era! Deixei de ser! Foi escolha minha! Agora nos deixe em paz!’

Azrael estava pronto para atacar Miguel mais uma vez mas a mulher se colocou a sua frente.

‘O que eu preciso fazer para que não mate a minha filha?’ Ela perguntou decidida.

Miguel viu os olhos castanhos avermelhados inflamados de ódio. Ele endireitou o corpo e segurou mais firme o bebê que chorava e gritava. ‘Não a matarei, se vocês dois reencarnarem… separados.’

Eles se entreolharam e trincaram os dentes.

‘Farei você ainda se arrepender por isso…’  O ex-anjo soltou entre os dentes.

‘Aceitamos!’  Ela respondeu. ‘Mas não faça mal a ela.’

Miguel estreitou os olhos no casal de demônios a sua frente. Conseguia perceber a enorme energia de dor entre eles. Mas não poderia voltar atrás, era sua responsabilidade manter o equilíbrio. Aquilo tinha que ser feito pelo bem maior, não conseguia ainda alcançar com sua compreensão o porquê do Pai Maior criar aquelas criaturas tão voláteis como os humanos. Observou a jovem mulher a sua frente com cuidado, ela havia se transformado num demônio. Desviou os olhos para Azrael que tinha o rosto baixo pela resolução que ela tinha dado para os dois. Ele simplesmente havia aberto mão do plano superior e agora deixava ser subjugado por ela que decidira pelos dois. Que tipo de poder aquela mulher tinha?

Adão havia sido expulso do Universo perfeito criado pelo Pai Maior pois não conseguiu superar o afastamento dela e acabou tomando para si Eva, criada de uma parte de si… Ele fez de sua filha, sua amante. O Pai Maior havia lhe avisado que não poderia fazer isso quando a criou e ele aceitou, mas não cumpriu sua palavra. Sua escolha consciente, ou não, fez com que atravessassem a brecha que os levava para um Universo mais primitivo e iniciando assim a linhagem humana.

Abaixou os olhos rapidamente para o bebê demônio em seu braço que gritava e chorava. Ouviu um soluço e levantou o rosto observando novamente o belo rosto que chorava, mas tentava se controlar. Havia tanta dor em torno dela que por uma fração de segundos, perguntou-se se era certo.

Sim! Era o certo! Tinha que manter o equilíbrio. O humano criado pelo Pai Maior já se mostrou instável e sem honra. Eles não eram confiáveis.

Miguel voltou a sua realidade, em meio ao caos. Respirou fundo, pensando nas palavras de Gabriel e ponderou que o anjo tinha certa razão. Passou a mão no lado direito do rosto, sentindo a cicatriz leve que o lembrava sempre de ter sido ferido por Azrael. Estreitou os olhos em Shaolin. Nunca havia sido ferido em combate, ele tinha sido mais rápido do que seus reflexos, ou talvez estivesse distraído em ofender aquela mulher, o Pai Maior não deveria tê-la criado. Tudo começou por conta dela. Ela conseguiu subjugar demônios e anjos.

Droga! Não podia negar que também havia se encantado ao acompanhar o ciclo evolutivo dela, principalmente depois dela ter vivido como Akame. Tinha o espírito forte demais, não foi a toa que Azrael deixou-se subjulgar ao conhece-la e decidiu cair preferindo viver no inferno.

Tentou separá-los a todo custo, mas novamente ele voltou a se apaixonar por ela decidindo cair novamente. Franziu a testa ainda com os olhos cravados em Shaolin. No fundo, Azrael tinha sido mais corajoso do que qualquer outro por amor. Que sentimento era esse que o Pai Maior permitiu se instalar nas almas criando tantos problemas?

Desviou os olhos para o Pilar ainda envolto em energia negativa, já tinha dado tempo demais. Azrael não conseguiria manter a magia que havia parado o tempo. Estava preocupado não só com todos os frágeis humanos que estavam desesperados, como gostaria de ver como Kasumi estava. Não tinha certeza se ela tinha sido atingida ou não pela magia. Ela poderia estar sentindo-se perdida ou em perigo.

Levantou o rosto, reparando que a extensão da energia de Sakura estava ainda ampla demais, apesar de parecer ter diminuído. Isso resultaria em um grande portal entre todos os universos e, apesar de Shaolin manter ativada a magia para que o Tempo permanecesse parado e os outros não fossem envolvidos naquela loucura, era magia demais exigida para manter o alcance em todos os universos. Logo ele não aguentaria e a confusão entre os universos voltaria em grandes proporções.

Gabriel e o outros anjos lutavam de forma violenta contra os demônios, impedindo-os de atravessar o portal criado por Sakura. Teve algumas baixas constatou incomodado.

Voltou a fitar Shaolin, a frente dele estava o irmão ainda no corpo do pai. Franziu a testa, vendo que o garoto tinha permitido ao meio-demônio manipular a espada que havia lhe entregado. Era irônico ver que um meio-demônio a estava usando de forma correta enquanto os homens a usaram por tantos séculos de forma completamente equivocada. Novamente suas verdades absolutas estavam sendo colocadas a prova.

Respirou fundo. Estava na hora de agir. Não dava para ceder mais tempo para que o Guardião das trevas tentasse controlar o Pilar. Que depois lhe perdoassem, mas tinha uma missão e teria que cumpri-la.

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Shaolin levantou o rosto, fitando Miguel.

‘Droga!’ O garoto sussurrou, trincando os dentes. Afastou-se de Kagami e tentou se levantar para impedi-lo, mas não conseguiu, caindo novamente de joelhos no chão, sentindo o corpo tremer. Inferno.

‘Shaolin!’ Ouviu a voz preocupada de Kagami.

Não era possível que não conseguisse dar mais tempo para o pai trazer a mãe de volta. Ela tinha que voltar logo ao equilíbrio.

Sentiu os olhos arderem e cravou os dedos na terra. Não tinham chegado tão perto para agora perderem a mãe. Não depois de Kazuo descobrir que ela era sua mãe verdadeira. Kazuo merecia Sakura como mãe. Ele, melhor que ninguém, sabia como ela era maravilhosa e carinhosa. O irmão merecia. Não seria justo perdê-la agora.

Abriu os olhos, arregalando-os quando uma carta voou, parando a sua frente entre seus braços. Sorriu de leve e a pegou levantando-a até a altura dos olhos.

‘Eu ajudo você.’ Kagami falou, passando um dos braços do menino pelos seus ombros e levantando-o. ‘Você vai conseguir.’

Ele apertou mais forte a carta na mão e sorriu de leve para Kagami. ‘Vamos conseguir.’ Falou olhando para cima.

Kazuo virou-se para o irmão e franziu a testa. ‘O que pensa que está fazendo?’ Perguntou preocupado, vendo que, novamente, o irmão tinha elevado o nível de magia.

‘Vamos dar uma ajuda para tousan.’ Ele falou, jogando a carta para cima e transformando-a em energia multicolorida que voou de forma rápida em direção a Sakura, atravessando toda a energia negativa em torno dela e assustando Miguel que estava prestes a empunhar a espada contra Sakura.

A energia se chocou contra o corpo de Sakura que arregalou os olhos. Ela piscou algumas vezes e balançou a cabeça de maneira atordoada. Syaoran a abraçou com carinho e sorriu ao ver a magia negra aos poucos exibir manchas coloridas, mostrando que a esposa começava a se recuperar.

Miguel freou o ataque, observando a energia aos poucos se transformar novamente. Desviou os olhos para o chão e viu Shaolin em pé, olhando para os pais e sorrindo de leve. O que ele tinha feito?

‘Agora… Tudo ficará bem.’ Shaolin comentou, fazendo o irmão se voltar para ele.

‘O que você fez?’ Ele perguntou com o rosto sério.

Shaolin encolheu os ombros e trocou um olhar de cumplicidade com Kagami. ‘Devolvi a carta de kaasan para ela. A carta que estava com nee-san.’

Kazuo sorriu de leve e balançou a cabeça. ‘Até que você não é tão bobo como parece, pirralho.’

‘Ah, cala a boca!’ Ele retrucou, sorrindo. ‘Era só o que faltava agora ver até tousan me chamando de pirralho. Só falta você me chamar assim, Kagami.’

‘Você sempre será o meu pequeno.’ Falou com suavidade.

Ele franziu a esta. ‘Derivação fofa de pirralho.’

Kazuo riu, sentindo-se aliviado. Olhou para os pais e alargou o sorriso, vendo a energia em torno da mãe voltar a se tornar tão linda como quando a conheceu. Os demônios começaram a desaparecer com o fechamento do portal, conforme os universos iam se estabilizando.

Shaolin fraquejou mais uma vez e Kagami o segurou com mais firmeza para não deixá-lo cair ao chão. Ele não conseguiu mais manter Troca ativada e agora tentava, desesperadamente, manter Tempo ainda ativado até que a confusão terminasse.

Kazuo viu-se envolvido novamente pela luz intensa que o obrigou a fechar os olhos e, quando os abriu, foi obrigado a voltar a fechá-los, pois ainda havia muita luminosidade.

Sentiu que dois braços envolviam-no com força pela cintura, enquanto tinha um corpo pequeno de aparência frágil entre seus braços. Os ferimentos do ombro e do abdômen voltaram a arder de forma intensa, mas sabia que eles estavam se recuperando, como sempre. Inalou o perfume de cerejeira típico de Sakura e sorriu de leve, sabendo onde finalmente estava. E só ele sabia o quanto estava feliz em finalmente poder abraçá-la.

Sentiu um bolo se formar na sua garganta, mas, diferente da vez que sentiu aquilo pensando que o irmão estava morto, sentia os olhos arderem com um sentimento gigantesco que crescia em seu peito. Uma felicidade tão grande e tão intensa como nunca pensou ser capaz de sentir antes.

Apertou-a mais forte entre seus braços e encostou o queixo no topo da cabeça dela. ‘Kaasan…’ Sussurrou, fazendo o corpo de Sakura estremecer ao ouvi-lo chamando.

Sakura apertou-o mais forte, ainda com o rosto contra o peito dele. ‘Desculpe-me. Perdoe-me.’ Ela falou com a voz falhada.

Ele balançou a cabeça de leve, sem conseguir parar de sorrir. ‘Não há nada a ser perdoado…’

Sakura afastou-se do rapaz e pegou o rosto dele com as mãos, como ela já tinha feito tantas vezes sem saber que ele era o seu filho. Seu filho! Ele era seu filho!

‘Meu menino…’ Ela falou, sorrindo para ele. ‘Você é um bom menino, Kazuo.’ Concluiu, passando a mão no rosto dele e puxando-o para poder beijar a testa do filho de forma demorada, antes de abraçá-lo novamente. ‘Você é meu filho.’ Ela sussurrou, novamente, fechando os olhos e sorrindo.

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Syaoran abriu os olhos e sorriu ao ver a esposa com o filho abraçados. Deu um longo suspiro de alívio, vendo a energia em torno deles se tornar a bela e conhecida luz multicolorida.

Os demônios tinham sumido e os anjos agora estavam parados olhando para baixo. Franziu a testa, reparando que estavam em menor número do que antes. Cravou os olhos em Miguel que estava à frente deles, encarando-o. Abaixou os olhos, vendo as duas armas que tinha nas mãos.

‘Shaolin…’ Sussurrou, observando a espada luminosa na sua mão direita. Virou-se para trás e viu o filho amparado por Kagami. Largou as armas e parou a frente dele, segurando-o pelos ombros. ‘Hei! Como você está?’ Perguntou preocupado. Levantou o rosto do garoto, vendo-o pálido demais. O ferimento que tinha na testa havia voltado a sangrar, assim como os outros machucados que o menino tinha pelo corpo. Passou a mão pelo rosto dele tentando limpar o sangue e olhando preocupado para o filho.

‘Estou bem, tousan... Acabei de desativar Tempo.’

‘Ele foi um menino muito corajoso e muito imprudente. Igual ao senhor, Mestre.’  Kagami falou sorrindo de leve.

Syaoran sorriu aliviado para ela. ‘Obrigado por cuidar dele. Como sempre.’

Ela ficou com o rosto vermelho. Virou-se para Shaolin e deu um beijo demorado na bochecha dele. ‘Acho melhor eu ver como estão as outras.’

‘Sim… Elas lutaram muito.’ Ele falou, assentindo com a cabeça e se afastou dela, tentando firmar as pernas. Sentiu-se cambalear e riu quando tanto Kagami quanto Syaoran seguraram seus braços para evitar que ele caísse novamente. ‘Eu fico com tousan, Kagami. Vá falar com elas.’ Shaolin falou com a voz suave.

Syaoran segurou o filho e observou Kagami ainda ficar receosa em se afastar do menino. Viu-a aproximando-se das outras cartas que estavam em suas forma original e logo todas tornaram-se lâminas e voaram para dentro da pousada, provavelmente ficariam um tempo quietinhas dentro do livro para se recuperarem.

‘Elas foram incríveis…’ Shaolin comentou para o pai que assentiu com a cabeça.

‘Você também… Estou orgulhoso do que fez, Shaolin.’ Falou de forma franca para o filho que arregalou os olhos e sorriu de leve.

‘Sempre esperei ouvir isso do senhor, tousan.’

‘Pois não deveria esperar para ouvir. Não deveria ter dúvidas quanto a isso. Sempre tive orgulho de você, filho.’

O menino encolheu os ombros sem graça. Estava cansado, dolorido, quase sem forças, mas infinitamente feliz por tudo ter se resolvido. Receber um elogio daquele do pai e ver a mãe abraçada com o irmão tinha sido a melhor das recompensas. Agora só faltava abraçar Kasumi para sentir-se totalmente realizado.

Respirou fundo e sentiu o peito doer. Fechou os olhos, não sabia direito ainda as seqüelas no seu corpo depois de ter chegado ao seu limite, na verdade… sabia que tinha ultrapassado. Como da outra vez.

Syaoran sorriu para o menino que estava encabulado. Olhou para frente, vendo Marie e Eriol se aproximavam. Estavam bem machucados também.

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Gabriel parou ao lado de Miguel. ‘Parece que tudo deu certo.’ Disse, sorrindo aliviado. ‘Os universos se estabilizaram.’

Miguel concordou com a cabeça também feliz por tudo ter sido controlado. ‘O pilar voltou ao seu equilíbrio. O ciclo está finalmente para se fechar.’

Gabriel concordou com a cabeça. ‘Sim… Finalmente se fechou.’

Miguel estreitou os olhos em Shaolin que estava sendo ajudado por Syaoran a se manter em pé.

‘Ele fez a mesma escolha da sua existência anterior.’

Gabriel deu um longo suspiro, observando o garoto. ‘Sim… Ele sempre fará a escolha pelos outros.’ Balançou a cabeça de leve. ‘Ele sempre acha que a vida dele vale menos do que a dos outros.’

‘Auto-sacrifício…’ Miguel falou com os olhos cravados. ‘Ele não hesitava para matar e nem para morrer. Por isso estava na posição que merecia entre os seres celestiais.’

‘Posição a qual ele abriu mão para cair, inclusive sem hesitar também.’ Gabriel rebateu e levou um olhar duro de Miguel, não se intimidou. ‘Duas vezes, não?’ Completou em tom petulante.

‘Falta ainda ele destruir a última chave. E depois voltará para nós.’

Gabriel franziu a testa. ‘Será que é necessário?’ Perguntou incomodado. ‘A chave está com uma xamã poderosa. Não há perigo que alguém tente pegá-la.’

‘A questão nunca foi essa, Gabriel.’ Miguel respondeu voltando a fitar o garoto. ‘A destruição da chave é o fechamento do ciclo. É necessário para que ele volte para casa e que o equilíbrio se mantenha.’

Gabriel balançou a cabeça de leve, incomodado. ‘Mas… Se tem um demônio na terra, a presença de um anjo parece natural para manter o equilíbrio, não?’

Miguel inclinou a cabeça de leve. ‘Quem sabe? Vamos ver o que o Pai Maior decide.’

Gabriel concordou com a cabeça. ‘Sim… Vamos deixar que ele decida, não?’

‘Exatamente. Eu sei o meu lugar.’ Miguel repetiu. Franziu a testa ao perceber que Syaoran o encarava. ‘De um jeito ou de outro, ele voltará para nós… Um dia.’ Falou por fim e virou-se. ‘Vamos embora.’ Ordenou, batendo suas asas e sendo seguido pelos outros anjos.

Gabriel acenou com a cabeça para Syaoran que retribuiu o cumprimento antes de se virar e acompanhar os outros.

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Sakura pousou no chão junto com Kazuo. As asas desapareceram das costas do rapaz que ainda olhou para mãe sorrindo de leve. Era estranho pensar que tantas e tantas vezes havia sentido vontade de chamá-la de "kaasan”, como o irmão, e sempre se reteve por não achar que seria certo.

Passou a mão no rosto, sentindo-se incomodado por ter chorado e não gostaria que o vissem assim. Sakura virou-se para o rapaz e sorriu para ele, reparando que ele estava sem graça. Pegou novamente o rosto dele entre as mãos e abriu mais o sorriso, passando a mão no rosto do rapaz com carinho.

‘Estou muito feliz por você ser meu filho, Kazuo. Muito mesmo.’ Ela falou com a voz suave e falhada.

Ele assentiu com a cabeça e franziu a testa de leve, não sabia direito o que falar para ela. Era estranho saber que ela era sua mãe. Nunca havia considerado Midoriko uma mãe, mas sempre pensou que fosse.

‘Eu também.’ Ele falou por fim e engoliu em seco. Não queria voltar a chorar.

‘Não precisa se fazer de forte comigo.’ Ela falou ainda com a voz doce.

‘Sempre… Hum… Não devo chorar.’

‘Não há problema… Principalmente se é porque está feliz, ou não?’

‘Sim… Estou muito feliz.’ Ele falou rapidamente, fazendo-a abrir mais o sorriso.

Kazuo balançou a cabeça de leve novamente. Toda vez que chorava, Midoriko costumava bater nele, dizendo que isso a irritava ao extremo. Era estranho agora estar a frente de quem era sua mãe de verdade e ela olhar para ele daquela forma tão doce dizendo que não havia problema, pelo contrário. Nunca tinha pensado que ao atravessar aquela brecha sua vida mudaria tanto.

Estava tão desesperadamente infeliz vivendo no mundo das trevas, tão miseravelmente triste que, quando viu aquela luz multicolorida a sua frente, simplesmente se aproximou sem pensar direito nos riscos. E aquela brecha tinha o levado justamente para as pessoas de quem agora não conseguia mais se imaginar longe.

Sakura beijou a bochecha de Kazuo que sorriu abertamente.

‘Vamos para casa.’ Ela falou.

‘Sim… Vamos para casa.’ Ele repetiu, concordando com a cabeça.

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Syaoran observou a esposa com Kazuo e sorriu. Olhou para Shaolin que também observava os dois sorrindo de leve.

‘Acho que agora tudo terminou, não?’ Falou para o caçula que desviou os olhos da mãe e do irmão e olhou para o pai.

‘Ainda falta uma chave para isso tudo terminar.’

‘Pode até ser que falte, mas acho que o pior já acabou.’ Syaoran retrucou.

Shaolin soltou um suspiro. ‘Estou cansado, tousan.’ Falou com sinceridade.

‘Sim… Vou levá-lo para dentro para descansar.’

‘Não…’ Ele pediu, afastando-se do pai e tentando se firmar nas pernas. ‘Eu estou bem. Acho que seria bom o senhor ficar com kaasan e com o Kazuo. Preciso falar com Kasumi. Preciso saber como ela está.’

Syaoran franziu a testa de leve, observando o filho, que levou uma das mãos ao abdômen. Sentiu o corpo do garoto tremendo, estava fraco, debilitado. ‘No que está pensando?’

‘Eu? Nada…’ Ele falou, olhando para o pai.

Syaoran respirou fundo e soltou o ar devagar. ‘Eu não sei o que você realmente sabe sobre esta história de você ser ligado com aquele pessoal lá de cima, mas… Vou repetir o que falei para o Kazuo quando ele estava com aquela ideia idiota de voltar para o mundo das trevas: você só volta para lá se quiser. E eu, sinceramente, não tenho problema nenhum em lutar contra um monte de anjos… Já lutei contra quase o inferno inteiro. Entendeu?’

Shaolin assentiu com a cabeça. ‘Está tudo bem, tousan. Eu sei qual é o meu lugar.’

‘Eu espero que sim.’ Ele falou, passando a mão na cabeça do caçula. ‘Seu lugar é com a nossa família.’

O garoto encarou o pai e engoliu em seco. Desviou os olhos dele e virou-se, caminhando devagar em direção à pousada. Queria ligar para Kasumi, queria perguntar se ela estava bem e, principalmente, gostaria de se desculpar com ela.

Syaoran acompanhou o filho se afastando. Percebeu que ele se fazia de forte, mas estava machucado demais. Sentiu quando a Sakura parou ao lado dele junto com Kazuo e desviou o olhar do caçula para a esposa, sorriu de leve, mas percebeu o semblante sério dela.

‘Ele quer ligar para Kasumi.’ Syaoran esclareceu.

Ela olhou para o marido. ‘Isso foi a desculpa que ele usou para se afastar da gente.’ Ela balançou a cabeça de leve. ‘Como se eu não o conhecesse. Ele é estupidamente parecido com você.’ Ela soltou um suspiro. ‘Até os passos arrastados…’

‘Pirralho metido.’ Kazuo falou entre os dentes assim que reparou que o irmão se abraçou mais forte com o braço. Estava com dor, mas era orgulhoso demais.  Afastou-se da mãe, caminhando em passos duros até o garoto.

Sakura observou Kazuo se aproximando de Shaolin e passando um dos braços do garoto pelos seus ombros para ajudá-lo a chegar até a pousada. Ouviu os dois discutindo para variar. Shaolin dizendo que estava bem e que não precisava de ajuda e Kazuo chamando-o de pirralho metido e teimoso.

‘Eles se dão bem…’ Syaoran comentou, observando os dois.

‘Sim.’ Sakura concordou. ‘Eles são irmãos.’ Ela virou-se para Syaoran e sorriu abertamente. ‘São nossos filhos.’

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‘Kasumi!’ Shaolin gritou assim que finalmente atenderam o celular da menina o qual ligava freneticamente.

‘Não.’ Ele ouviu uma voz masculina e franziu a testa.

‘Quem está falando? Onde está Kasumi?’ Perguntou entre os dentes.

‘Sou eu, Li-kun. Shimizu.’ Shaolin ouviu a resposta e cerrou o punho controlando a imensa vontade de socar algo.

‘Por que está atendendo o telefone da minha namorada, idiota?’

Ouviu um suspiro pesado e contrariado no outro lado da linha. ‘Porque não aguentava mais o barulho irritante dele tocando. Kurogane-chan fugiu do colégio.’

‘Fugiu da escola? Como assim?’ Perguntou desorientado.

‘Eu não sei onde ela está. Já que ela é sua namorada, você é quem deveria saber onde ela está.’

Shaolin estava pronto para começar a xingar o garoto quando sentiu o aparelho de telefone ser retirado da sua mão pelo irmão, olhou feio para ele. ‘Me dá essa merda, Nii-san!’

‘Discutir com o idiota não vai fazer você saber onde está Kasumi.’ Kazuo respondeu em tom sério, enquanto desligava o celular. Estendeu para o irmão. ‘Tenta o telefone da mãe dela.’

Shaolin pegou o telefone da mão do irmão e discou o número de Tomoyo. Encostou-se na parede mal conseguindo ficar em pé. Ainda estava com Shimizu entalado na garganta. Quando encontrasse com o idiota tiraria satisfação dele. Ouviu o telefone chamando e novamente não atendiam. Tentou novamente e outra vez.

Soltou um suspiro de irritação e medo pela segurança de Kasumi. Tossiu mais uma vez e tentou disfarçar para que o irmão não visse o sangue. Kazuo tinha os olhos fixos no garoto.

‘Tomoyo-ba-san!’ Shaolin gritou quando o telefone finalmente atendeu.

‘Shaolin-kun? Onde você está? Como estão todos?’ A voz de Tomoyo era nervosa e mostrava preocupação.

‘Kasumi! Ela está com a senhora? Preciso falar com ela, por favor…’ Pediu, não respondendo as perguntas da tia.

‘Não sei onde está Kasumi-chan…’ Tomoyo respondeu nervosa. ‘Ela estava comigo a poucos minutos atrás e de repente desapareceu. Como mágica.’ A voz era aflita. ‘Está uma loucura aqui por causa dos terremotos. Estou tentando achá-la…’

Shaolin fechou os olhos e jogou a cabeça para trás. ‘Ela estava bem, Tomoyo-ba-san?’

‘Estava com um machucado no braço, mas estava bem… não sei o que aconteceu, Shaolin-kun. Ela simplesmente desapareceu como mágica do meu lado.’

‘Por favor… quando a encontrar, peça para me ligar.’ O menino pediu quase em súplica.

‘Kasumi-chan não é irresponsável, logo entrará em contato.’ Tomoyo falou, porém claramente mostrava se preocupada com a filha e com o que aconteceu a ela.

‘Eu espero que sim…’ O menino respondeu antes de desligar o celular. Inferno! Trincou os dentes novamente e apertou mais forte o braço contra o corpo.

Desencostou-se da parede e deu alguns passos jogando o aparelho no futon e soltando um palavrão para tentar extravasar a raiva.

‘Não adianta ficar assim.’ Kazuo falou. ‘Ela logo entrará em contato.’

Shaolin virou-se para o irmão com o rosto sério. ‘Eu não sei nem o que eu vou falar para ela!’ Finalmente explodiu. ‘Me desculpar de novo?! Dizer novamente que não deu para eu cumprir a merda da minha palavra?’ Soltou com raiva e passou a mão no rosto. ‘Merda! Voltar a ser um maldito fantasma atrás dela!’ Soltou sem conseguir mais se controlar. Sentia o corpo dolorido demais, o peito parecia que estava sendo esmagado novamente. A mesma merda de sensação que havia sentido antes.

Deu um passo a frente e cambaleou fazendo Kazuo se aproximar mais do garoto que ainda tentou se esquivar. ‘Preciso ficar sozinho.’

Kazuo o segurou firme pelo braço e o puxou. Encarou sério o irmão. ‘Não! Você vai para o hospital agora.’

‘Não preciso de hospital de novo.’

‘Precisa!’ Ele rebateu. ‘Ou você vai por bem ou eu arrasto você até lá.’

‘Me deixa em paz!’ Ainda falou tentando se soltar do irmão.

‘Não! Eu sou seu irmão mais velho. Você vai fazer o que eu estou mandando. Vamos.’ Disse pegando o garoto e arrastando-o para fora, apesar dos protesto de Shaolin.

Kazuo encontrou Syaoran e Sakura na sala com os olhares tensos. ‘Ele precisa ir para o hospital novamente. Está sangrando demais.’ Desviou os olhos para Marie e o pai que estavam próximos. ‘E vocês também.’

Marie, que segurava o pai ferido com o braço dele sobre seus ombros, ergueu uma sobrancelha olhando incrédula para o rapaz. ‘E você?’

Kazuo já estava arrastando mais uma vez o irmão. ‘Daqui a pouco, estou novo em folha.’ Respondeu contrariado. ‘Vou só pegar um analgésico… Talvez dois.’

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Kazuo observava a enfermeira dando os pontos no braço de Marie no ambulatório do hospital de Funbarigaoka. Sakura estava com Shaolin na outra sala do ambulatório. Syaoran estava com ela, tinha conseguido burlar a situação considerando a gravidade do caso do menino.

‘Sabe onde está otousan?’ Ela perguntou para o rapaz.

‘Ele está na sala do lado.’ Kazuo respondeu.

Ela soltou um suspiro e olhou para o namorado. ‘E você? Como está?’

‘Daqui a pouco estou novo em folha.’ Respondeu. Olhou para a enfermeira que o olhou rapidamente, franzindo a testa. ‘Foram apenas arranhões.’ Ele justificou rapidamente.

Marie balançou a cabeça de leve. ‘Tomou quantos analgésicos? Meia dúzia?’

‘Não dá para tomar muitos porque fico com sono.’ Ele comentou. ‘E eu quero ficar de olho em você. Em você e no pirralho metido.’ Respondeu contrariado.

Ela levantou os olhos e sorriu, sentindo o rosto esquentar. ‘Foram apenas arranhões também. Não precisa se preocupar tanto.’

‘Olha, mocinha… isso aqui estão longe de ser arranhões.’  A enfermeira comentou, finalizando a sutura. ‘Se cuidar direitinho não vai ficar cicatriz.’ Completou cansada. Hoje o dia havia sido uma loucura por conta dos terremotos. O hospital estava lotado.

‘Obrigada.’ Marie agradeceu, olhando para o ferimento e franzindo a testa. ‘Precisou de tantos pontos assim?’

‘Fiz o melhor que pude para tentar evitar uma cicatriz.’ A senhora comentou, fazendo o curativo. ‘Vou passar um anti-inflamatório e você tem que trocar pelo menos duas vezes por dia o curativo, certo?’

Marie assentiu com a cabeça. A enfermeira olhou para o rapaz. ‘Você vai ficar de olho nela?’

‘Pode ter certeza que sim.’ Kazuo respondeu.

‘Ótimo. Vou dar a receita do remédio para você. Esta mocinha tem cara de ser rebelde.’

‘Não precisa dar para ele. Eu sei me cuidar.’ Marie retrucou, incomodada.

‘Com esse monte de machucados… Acho que é melhor rever seus conceitos de “saber se cuidar”.’ A senhora comentou, rindo e se afastando.

Marie olhou para Kazuo que sorria de lado. ‘Humph… se ela visse os seus machucados debaixo desta camiseta, ela é quem precisaria rever os conceitos dela.’

‘Eu cicatrizo rápido.’ Ele comentou e depois fechou o rosto. ‘Você não devia ter se arriscado daquela forma.’

‘Não lembrava que o cara era tão forte.’ Ela comentou. ‘Ou talvez eu que esteja mais fraca agora.’

‘Você é humana, Marie. Quando vai colocar na sua cabeça que não é mais um demônio?’

Ela soltou um suspiro incomodada. ‘Não foi esta a questão.’

‘Claro que foi.’ Ele rebateu. ‘Você ainda acha que é Khala’a.’

‘Eu fui Khala’a.’

‘Exatamente. Foi. Não é mais.’

Marie balançou a cabeça de leve. ‘É difícil, às vezes, aceitar que eu não consigo mais… Sei lá… Só é difícil de aceitar os meus limites agora.’

‘Foi opção sua voltar como humana, não foi?’

Ela assentiu com a cabeça. ‘Sim. Todos querem evoluir, não?’

‘E por que você se agarra tanto assim à sua vida como Khala’a?’ Ele perguntou e encolheu os ombros de leve.

‘Eu acho que era porque eu tinha assuntos pendentes…’

‘Assuntos pendentes?’ Ele perguntou, encarando-a.

Marie desviou os olhos dele e soltou um suspiro. ‘Isso.’

‘E já foram resolvidos?’

Marie o fitou rapidamente e depois voltou a fitar o chão do hospital. ‘Eu não sei…’ Ela respondeu com a voz falhada. ‘Sakura-ba-san… ela nunca vai me perdoar…’

Kazuo respirou fundo e soltou o ar devagar. ‘Olha… Eu não sei se ela vai ou não perdoar Khala’a.’ Ele rebateu. ‘Agora se você não consegue deixá-la no passado ficará difícil para ela também.’

Marie ficou em silêncio. Sentindo um bolo na garganta. Não havia nem conseguido olhar de frente para a tia depois de tudo.

A enfermeira voltou com a receita com o nome do anti-inflamatório e estendeu para Kazuo.

‘Faça ela tomar direitinho e fica de olho nos curativos.’ A senhora falou, sorrindo de leve.

Kazuo pegou a receita e concordou com a cabeça.

A enfermeira voltou-se para a jovem. ‘Seu pai daqui a pouco também será liberado.’ Ela falou e soltou um suspiro casada. ‘Vou atender outras pessoas agora. Cuidem-se.’

Marie forçou um sorriso. ‘Obrigada.’ Agradeceu novamente, levantando-se da maca e pegando o casaco que a senhora Assakura havia lhe emprestado. Kazuo foi até ela para ajudá-la e sorriu de leve, vendo-a contrariada por realmente precisar de ajuda para vesti-lo.

Caminharam devagar para a saída da emergência e sentaram no banco do corredor para esperar Eriol terminar de ser atendido.

Marie apertou as mãos de leve que estavam no seu colo. Deu um longo suspiro. Kazuo se afastou dela alguns minutos para perguntar pelo irmão e voltou com o rosto mais fechado ainda.

‘Como está Shaolin-kun?’ Ela perguntou, observando o semblante pesado do rapaz.

‘Ainda fazendo exames.’ Ele respondeu. ‘O pirralho é teimoso demais. Não deveria ter usado tanta magia daquela forma. Os idiotas de asas estavam doidos para que ele ultrapassasse o limite dele.’ Falou sem conseguir controlar a preocupação e a irritação pela condição do irmão.

Marie soltou um suspiro. ‘Shaolin-kun ultrapassou o limite dele.’ Ela falou, fazendo o rapaz virar-se para ela. ‘Por isso o corpo dele ficou tão machucado internamente. No final, ele fez o mesmo que Syaoran-ji-san quando era mais novo.’

‘Quando oyaji morreu no tal caos que aquele maluco que você enfrentou fez, né?’

‘Exatamente.’ Ela respondeu. ‘Shaolin-kun foi imprudente demais.’

Kazuo fitou um ponto qualquer no chão do hospital. Algumas pessoas passavam de forma rápida pelo corredor. O hospital estava lotado por conta dos feridos pelos terremotos.

‘Está me dizendo que era para ele estar morto?’

‘Pela lógica, sim.’ Ela não mentiu. ‘Ele está vivo provavelmente por causa da última chave.’

‘Humph.’ Kazuo murmurou incomodado.

Ficaram em silêncio um ao lado do outro. Um enfermeiro se aproximou informando que o Eriol logo estaria liberado, estava tirando apenas algumas radiografias pois havia suspeita de fratura de uma das costelas.  Marie quis ir até o pai, mas o enfermeiro vendo-a também machucada, recomendou que esperasse ali e descansasse. Ela ao lado do pai, não poderia fazer muito.

O telefone do bolso de Kazuo tocou e o rapaz o atendeu.

‘Shaolin?!’

‘Sou eu Kasumi. Kazuo.’ Esclareceu sorrindo de leve ao ouvir a voz da menina.

‘Onde está Shaolin, Nii-san?’

‘Estamos no hospital. Ele… ele está fazendo uns exames.’

‘Ele está muito machucado?’

Kazuo engoliu em seco. Não gostava de mentir, principalmente para ela. ‘Ele… só… está fazendo alguns exames.’

‘Fala logo a merda da verdade, Nii-san! Esta loucura toda que aconteceu tem haver com Sakura-ba-san e a parada do Tempo foi obra de Shaolin. Ele não tinha como usar magia tão intensa e não ter sequela.’

Kazuo franziu a testa. ‘Como sabe da parada do Tempo?’

‘Não tenho tempo para explicar. Se você está tentando me enrolar desta maneira é porque Shaolin está muito ferido. Estão em que lugar fora de Tomoeda?’

Kazuo respirou fundo. ‘Não sei…’

‘Pergunta para Nee-san!’ Ela ordenou. ‘Tenho certeza que ela está ao seu lado.’

‘Funbarigaoka.’ Ele respondeu depois de perguntar para Marie.

‘Não fica longe. Estou indo para aí. A presença de Shaolin está muito forte, vai ser fácil achá-lo quando eu estiver mais perto. Se cuida, nii-san.’ Ela falou antes de desligar o telefone.

Kazuo olhou para o aparelho com a testa franzida.

‘Era Kasumi-chan?’ Marie perguntou

‘Sim…’ Ele respondeu. ‘Eu acho…’ Falou ainda incerto. ‘Ela… ela disse que conseguia perceber a presença do Shaolin.

Marie franziu a testa. ‘Como é que é?’ Perguntou sem entender.

Kazuo ainda olhava para o aparelho celular. ‘Ela disse que os terremotos… enfim…’ Ele soltou um suspiro. ‘Ela percebeu que Shaolin usou Tempo.’ Franziu a testa de leve. ‘Agora faz sentido quando a mãe dela falou que ela desapareceu do nada. Ela não foi atingida pela magia.’

‘Impossível!’ Marie falou espantada. ‘Apenas quem possui magia, e num nível bem alto, perceberia esta parada e não seria atingido.’

Kazuo olhou de soslaio para Marie, não teve tempo nem oportunidade de falar com ela sobre o que concluíra da sua conversa com Arthas antes daquela loucura toda acontecer. Pigarreou chamando a atenção dela. ‘Hum… Acho… acho que não foi bem ilusão que Shaolin viu naquele escape no estacionamento.’

Marie franziu a testa. ‘Do que está falando?’

Kazuo olhou com o semblante sério para a jovem. ‘No mundo das trevas os demônios com olhos vermelhos são…’

‘Os mais sanguinários e resistentes.’ Ela completou. ‘Eu sei bem disso.’ Soltou um suspiro. ‘Isso é lenda por causa… enfim… por causa das histórias do início dos tempos.’ Fitou um ponto qualquer do chão. ‘Existem lendas sobre a primeira humana que conseguiu se transformar em demônio sem ter morrido.’ Soltou outro suspiro. ‘Os universos estavam sendo formados e os Anjos e Demônios estavam tentando entender o papel deles com os humanos que estavam sendo criados.’ Ela balançou a cabeça de leve. ‘Anjos podem ser mais cruéis que demônios… não é a toa que detesto Gabriel-baka.’

Kazuo franziu de leve a testa. ‘Isso é lenda do Mundo das Trevas… Os tais anjos que caíram e controlaram o inferno… Até hoje deve ter um monte lá como aquela doida que chamou o Shaolin de Azrael.’

Marie arregalou os olhos e voltou-se para Kazuo. ‘Azrael?! Da onde você ouviu isso?!’ Perguntou em tom de urgência.

Kazuo estranhou a aura dela se agitar de repente. ‘Hum… O que que tem isso? Não importa se o nome dele foi Azrael ou sei lá o que! Ele é Shaolin e pronto!’

Ela concordou com a cabeça e voltou a fitar o chão. Balançou a cabeça de leve pensando que era besteira o que havia passado por sua cabeça. Fora apenas coincidência ou Kazuo ouviu o nome errado.

Kazuo engoliu em seco. ‘Kasumi…’

‘Ela é humana!’ Marie o cortou. Simplesmente não conseguia admitir a hipótese da amiga ser ou ter sido um demônio, principalmente pela descrição que Shaolin havia lhe dado de que a viu retalhar 5 vítimas em questão de segundos.

Kazuo desviou os olhos dela. ‘Shaolin… antes de eu o carregar contra a vontade para cá, tinha explodido por não conseguir falar com ela.’

‘Compreensível.’ Marie assentiu com a cabeça. ‘Normal ele está preocupado com a namoradinha.’ Completou sorrindo de leve, mas estranhou Kazuo permanecer sério. ‘O que foi?’

O rapaz soltou um suspiro. ‘Shaolin tinha razão. Os dois devem ter se conhecido antes pois ele acabou soltando que não queria voltar a ser um fantasma atrás dela…’ Fez uma pausa e balançou a cabeça de leve. ‘E você lembra bem que ele nos falou que era assim que ele se viu naquele escape.’

Ela concordou com a cabeça e fitou o rapaz, sabia que ele tinha mais para falar. Estava sem coragem, conhecia-o bem. ‘No que está pensando?’

Kazuo soltou um suspiro demorado. ‘Estive conversando com Arthas antes disso tudo começar. Ele me falou sobre uma Guardiã das Trevas.’ Ele encarou a jovem. ‘É possível existir guardiãs também?’

Marie ergueu uma sobrancelha. ‘Claro. Assim como existem demônios machos e fêmeas. Ou acha que o posto de guardião é exclusivamente masculino.’

‘Não!’ Ele falou rapidamente.

Ela ainda olhou para ele atravessado. ‘Inclusive… saiba que quando o problema era resolvido por guardiãs nunca tivemos problemas como com o que o idiota do Tadmoth criou. Elas eram as mais fortes e focadas.’

‘Ah! O tal que participou da missão…’

‘Isso.’ Ela concordou e soltou um suspiro. ‘No final, ele até tomou coragem… mas só no final quando a coisa se complicou muito.’ Marie franziu a testa e encarou-o novamente. ‘O que Arthas falou sobre uma guardiã? E Por que?’

Kazuo bateu a mão de leve no joelho. ‘Acho… na verdade, tenho quase certeza que Kasumi era uma guardiã das trevas e Shaolin um guardião Celestial. Do mesmo universo, antes de reencarnarem aqui.’

Marie arregalou os olhos. ‘Como é?!’ Não conseguiu nem controlar o tom de voz com a surpresa. Olhou para os lados constrangida e se encolheu instintivamente de vergonha. ‘Isso não é possível. Os guardiões… eles… são alter egos… Seria… hum…’ Ela reteve se, pensando um pouco mais com calma, realmente Kasumi tinha alguma coisa que sempre lhe lembrava Syaoran-ji-san… Franziu a testa de leve, talvez não fosse tanta loucura assim… Mas por outro lado, tinha certeza de alguma forma que conhecia Kasumi de algum outro lugar. Tinha essa certeza tão forte no fundo de sua alma que quando a menina estava evitando falar tanto com ela quanto com Shaolin pelos dois estarem comentando muito sobre magia, não havia sido apenas o menino a se entristecer com o afastamento dela.

‘Além disso, teoricamente, um guardião celeste é um anjo, não pode…’ Olhou de soslaio para Kazuo. ‘Não deveria ter… hum… sentimentos assim. Ainda mais por…’ Balançou a cabeça de leve. ‘Eu nem sei mais…’

‘Ele achou que não tinha passado no último teste submetido.’ Kazuo a lembrou.

Marie arregalou os olhos lembrando-se das palavras do primo: “Amá-la sempre seria o seu pecado.” Fechou os olhos e sorriu de leve. O casal de pirralhos realmente conseguia surpreendê-la o tempo todo. Novamente fitou um ponto no chão do hospital. Conhecia a lenda do início dos tempos, quando anjos haviam se rebelado contra o plano superior e migraram para o plano inferior e logo dominando o local por conta do poder que possuíam. Entre as lendas, existia a de Azrael que havia descido para tomar um corpo físico e poder se relacionar com a primeira humana criada. Sorriu de leve. Ela tinha sido criada, mas não deixou ser subjugada. Seu destino era criar a linhagem humana, mas não aceitou a intolerância do humano criado para ser seu companheiro. Simplesmente, o abandonou e foi quando conheceu Azrael. Os dois se apaixonaram. Quando ele caiu, ela procurou uma brecha e foi atrás dele. Sorriu de leve. Não fora a toa que ela tinha se candidatado para ir junto com a mestra para o mundo das trevas para reencontrar Syaoran. Conhecia aquela história e a admirava demais.

‘Vou tentar falar com Shaolin quando ele se recuperar.’ Ouviu Kazuo falando e voltando de seus pensamentos.

‘Ou com Kasumi-chan… já que ela está vindo para cá... sabe-se lá como.’ Replicou ainda intrigada.

‘Acho que sim…’ Kazuo falou, balançava a perna. Sorriu de leve e balançou a cabeça. ‘Sabe… achei que meu dever era proteger sempre Shaolin… por ele ser meu irmão mais novo… mas pensando assim, sei lá, parece que eu é que sou o irmão mais novo.’

Marie sorriu de forma suave, olhando para o rapaz. ‘Bem…’ Falou encolhendo os ombros de leve. ‘Não importa muito o que Shaolin-kun foi ou deixou de ser… Agora, ele é seu irmão menor.’

Kazuo assentiu com a cabeça, fechou os olhos e apoiou a cabeça na parede do hospital, estava cansado e preocupado.

Ficaram em silêncio um ao lado do outro novamente. Um incômodo silêncio.

Marie observou Kazuo ao seu lado e mordeu de leve o lábio inferior.

Going back to the corner where I first saw you

(Voltando para a esquina onde eu te vi pela primeira vez)

Gonna camp in my sleeping bag I'm not gonna move

(Irei acampar no meu saco de dormir, e não vou me mover)

Got some words on cardboard, got your picture in my hand

(Escrevi algumas palavras em uma cartolina, tenho sua foto em minhas mãos)

Saying, If you see this girl can you tell her where I am

(Dizendo: Se você ver esta garota, pode dizer onde estarei)

‘Eu sinto muito, Kazuo-kun.’ Marie falou chamando a atenção do rapaz que abriu os olhos e a fitou em silêncio. Ela não tinha coragem de encará-lo. ‘Eu…. realmente sinto muito.’ Falou finalmente o que queria dizer para ele desde que tinha descoberto tudo.

Kazuo virou-se para frente fitando o corredor do hospital assim como Marie.

‘Eu… Eu pensei que fosse forte o suficiente para proteger Sakura-ba-san e você. Eu pensei que seria capaz e, depois, quando tudo aconteceu… Eu…’ Ela balançou a cabeça de leve, sentindo o bolo na garganta. ‘Eu pensei que ela tivesse matado você… eu nunca imaginei que você tinha sobrevivido. Eu sei… Eu sei que agi errado… Eu deveria ter contato para os mestres, mas eu… Não tive coragem… Eu não queria que Sakura sofresse mais, tudo estava tão difícil… Achei que agi certo protegendo minha mestra.’ Ela engoliu em seco novamente. ‘Acho que perder um filho… ter um filho tirado de você deve ser uma das maiores dores existentes.’ Ela balançou a cabeça de leve. ‘Na verdade…’

Kazuo olhou de soslaio para Marie que apertava as mãos nos joelhos mostrando-se nervosa. ‘Na verdade…’ Ele repetiu, esperando que ela completasse. Sentiu o coração fisgar quando ela o fitou com os olhos transmitindo uma dor tão profunda.

Marie desviou os olhos dele. ‘Na verdade sei o que esta dor. Minha lembrança mais antiga como Khala’a é justamente quando fui separada da minha mãe.’ Ela falou e encolheu os ombros. Sentia o corpo tremendo. ‘Não queria por nada que Sakura-ba-san passasse por esta dor.’

Kazuo franziu a testa. ‘Seus pais eram… quer dizer os pais de Khala'a eram demônios?’

Ela apenas concordou com a cabeça respondendo a pergunta.

Kazuo sorriu de forma triste. ‘Você lembra-se dela? De sua mãe? Quer dizer, da mãe de Khala'a?’

‘Não… lembro apenas…’ soltou um suspiro dolorido. ‘Da energia poderosa dela, do seu colo acolhedor, dos olhos doces me fitando… depois… Depois fui largada sozinha no Mundo das trevas.’

‘Por ela?’

‘Claro que não! Meus pais me amavam!!! Aquele…’ Ela soltou um suspiro irritado. ‘Deixa para lá…’

Kazuo deixou, permaneceu em silêncio, olhando para as pessoas que passavam pelo largo corredor do hospital.

Some try to hand me money, they don't understand

(Alguns tentam me dar dinheiro, eles não entendem)

I'm not broke I'm just a broken hearted man

(Eu não estou quebrado, eu sou apenas um homem de coração partido)

I know it makes no sense but what else can I do

(Eu sei que isto não faz sentido, mas o que eu posso fazer?)

How can I move on when I'm still in love with you

(Como eu posso seguir em frente quando eu ainda estou apaixonado por você?)

Marie olhou de esguelha o rapaz e encolheu os ombros de leve. Passou a manga do casaco no rosto para secar as lágrimas que ela lutava para não deixar rolar pelo rosto.

Kazuo soltou um suspiro. ‘Olha, não foi culpa de ninguém… Quer dizer, foi culpa da Midoriko que fez tudo errado. E ela nem está mais aqui para a gente ficar falando isso para ela.’

‘Não é bem assim…’ Marie sussurrou. ‘Agi errado usando magia na minha mestra… Ela não vai me perdoar nunca…’

Cause if one day you wake up and find your missing me

(Porque se um dia você acordar e achar que sente minha falta)

And your heart starts to wonder where on this earth I could be

(E seu coração começar a perguntar onde na Terra eu poderia estar)

Thinkin maybe you'll come back here to the place that we'd meet

(Pensando que talvez você volte aqui para o lugar onde nos conhecemos)

And you'll see me waiting for you on the corner of the street

(E você me verá esperando por você na esquina)

So I'm not moving, I'm not moving

(Então eu não estou me movendo. Eu não estou me movendo)

‘Eu gosto de você, Marie.’ Ele falou de maneira firme. ‘Mas você tem que saber melhor o que sente.’

Ela franziu a testa e olhou para o rapaz ao seu lado.

Kazuo virou-se para ela, fitando-a. ‘Você tem que saber se você realmente gosta de mim ou se você se sente culpada pelo que fez ou deixou de fazer na sua outra vida.’

Policeman says, Son you can't stay here

(O policial diz: Filho, você não pode ficar aqui)

I said, There's someone I'm waiting for if it's a day, a month, a year

(Eu disse: Há alguém que estou esperando, seja por um dia, um mês ou um ano)

Gotta stand my ground even if it rains or snows

(Tenho que ficar plantado aqui, mesmo se chover ou nevar)

If she changes her mind this is the first place she will go

(Se ela mudar de ideia esse é o primeiro lugar que ela irá)

‘Do que você está falando?’ Marie perguntou para ele em tom de urgência.

‘Se ficar ao meu lado só a fará se lembrar do que Khala’a fez ou deixou de fazer para proteger os mestres dela… eu, sinceramente, não sei se isso será bom para você.’

Marie arregalou os olhos de leve, entendendo o que ele estava querendo dizer.

Cause if one day you wake up and find your missing me

(Porque se um dia você acordar e achar que sente minha falta)

And your heart starts to wonder where on this earth I could be

(E seu coração começar a perguntar onde na Terra eu poderia estar)

Thinkin maybe you'll come back here to the place that we'd meet

(Pensando que talvez você vai voltar aqui para o lugar em que nos conhecemos)

And you'll see me waiting for you on the corner of the street

(E você me verá esperando por você na esquina)

So I'm not moving, I'm not moving

(Então não estou me movendo. Eu não estou me movendo)

I'm not moving, I'm not moving

(Não estou me movendo. Eu não estou me movendo)

‘Você tem que resolver isso primeiro dentro de você.’ Kazuo falou, sentindo o peito pesado. ‘Eu posso esperar.’

‘Não é isso que eu…’ Ela começou a falar, mas Kazuo a olhou sério, fazendo-a calar-se e encolher mais ainda os ombros.

‘Eu posso esperar…’ Ele repetiu e soltou um suspiro. ‘E posso também aceitar qualquer que seja a sua decisão.’ Falou, forçando um sorriso para ela.

People talk about the guy

(Pessoas falam sobre o cara)

Who's waiting on a girl, woah

(Que está esperando pela garota, woah)

There are no holes in his shoes

(Não há buracos em seu tênis)

But a big hole in his world, woah

(Mas há vazios em seu mundo, woah)

Marie inclinou a cabeça em direção a ele e tocou sua testa no peito do rapaz.

Kazuo abraçou-a com carinho e beijou a cabeça dela. O que mais queria no mundo era estar agora ao lado da sua família e com a garota que sabia amar, mas não queria ser uma sombra negra na vida dela. Esperava, sinceramente, que Marie conseguisse superar aquela culpa e se desvinculasse da vida de Khala’a.

Maybe I'll get famous

(E talvez eu ficarei famoso)

As the man who can't be moved

(Como: O homem que não pode se mover)

Maybe you wont mean to

(E pode ser que você não gostará)

But you'll see me on the news

(mas me verá nos noticiários)

And you'll come running to the corner

(E você voltará correndo para a esquina)

Cause you'll know it's just for you

(Porque você saberá que isto é apenas por você)

I'm the man who can't be moved

(Eu sou o homem que não pode ser movido)

I'm the man who can't be moved

(Eu sou o homem que não pode ser movido)

*~*~*~KK*~*~*~KK*~*~*~

Cause if one day you wake up and find that you're missing me

(Porque se um dia você acordar e achar que sente minha falta)

And your heart starts to wonder where on this earth I could be

(E seu coração começar a perguntar onde na Terra eu poderia estar)

Thinkin maybe you'll come back here to the place that we'd meet

(Pensando que talvez você volte aqui para o lugar onde nos conhecemos)

And you'll see me waiting for you on the corner of the street

(E você me verá esperando por você na esquina)

*~*~*~KK*~*~*~KK*~*~*~

So I'm not moving, I'm not moving

(Então não estou me movendo. Eu não estou me movendo

I'm not moving, I'm not moving

(Eu não estou me movendo. Eu não estou me movendo)

*~*~*~KK*~*~*~KK*~*~*~

Cause if one day you wake up and find that you're missing me

(Porque se um dia você acordar e achar que sente minha falta)

And your heart starts to wonder where on this earth I could be

(E seu coração começar a perguntar onde na Terra eu poderia estar)

Thinkin maybe you'll come back here to the place that we'd meet

(Pensando que talvez você volte aqui para o lugar onde nos conhecemos)

And you'll see me waiting for you on the corner of the street

(E você me verá esperando por você na esquina)

*~*~*~KK*~*~*~KK*~*~*~

Going back to the corner where I first saw you

(Voltando para a esquina onde eu te vi pela primeira vez)

Gonna camp in my sleeping bag I'm not gonna move

(Irei acampar no meu saco de dormir, e não vou me mover)

 

Continua.

 

 


Notas Finais


Música do Capítulo: The Man Who Can't Be Moved (O Homem Que Não Pode Se Mover) by The Script


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