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História As Flores de Seul Desabrocham no Limbo - Dança Entre Lágrimas


Escrita por: Siena

Capítulo 2 - Dança Entre Lágrimas


2 — Dança Entre Lágrimas

 

Ali, deitado sobre a mesa, observando as partículas de pó dançarem no ar, atingidas pelos raios de luz vindos do sol, o mais novo adormeceu. Adormeceu profundamente e mergulhou.


 

 

Uma batida. Duas batidas. Três batidas na porta da biblioteca. O jovem acordou num salto e colocou-se sentado na mesa cheia de papéis. Chacoalhou a cabeça, tentando pôr-se de volta no lugar. Coçou os olhos e então virou-se para a porta.

 

Uma, duas, três batidas. E agora, uma voz.

— Jimin...? — A voz do mais velho veio do outro lado da porta.

O mais novo ficou confuso. Mas sua confusão era mista de um impulso frenético. Em segundos estava ele lá, com a mão na maçaneta abrindo as portas de seu mundo de solidão depois de muito tempo.

— Y-Yoongi? Como, como é possível… — o garoto paralisou-se frente a visão daquele que acreditou estar morto.

Não houve resposta. Ao menos, não uma resposta aos ouvidos, nenhuma fala, nenhum som, nenhuma voz. Apenas um abraço. O mais novo ainda não se movia, parecia em choque; apenas podia olhar para o horizonte distante da sala onde os dois costumavam ouvir música e, às vezes, dançar. Piscou repetidas vezes, a respiração inconstante. O que era aquilo? O que estava acontecendo?

Nada fazia sentido naquela situação. Sentia apenas uma vontade imensa de acreditar que aquilo era real, de que o mais velho estava ali, a abraçá-lo fortemente, como se nunca fosse deixá-lo de novo. Junto disso sentia a vontade de retribuir, de abraçá-lo como sempre fazia quando via o amado com uma expressão de desânimo e decepção. O mais velho então o soltou e o observou nos olhos.

— O que estás olhando, Jimin? — seguiu seu olhar até o salão do outro lado da casa.

Por alguma razão a casa parecia em perfeito estado, como se alguém tivesse mantido aquilo tudo limpo por todos esses anos. O que estava acontecendo?

— Queres dançar, Minnie? — um sorriso dos mais doces se fez presente no rosto daquele que falava, terminando numa piscada de olho, já puxando o mais novo pelas mãos.

Porque estás vestindo tuas roupas favoritas? Não me lembro de que tenhas levado elas nas malas...”. Os pensamentos do mais novo pareciam barrar-se na garganta quando tentava dizê-los. Seria melhor não dizer nada. Estava em êxtase com seus sentimentos e pretendia manter-se assim o máximo de tempo possível.

Enquanto era puxado até o salão tão bem iluminado pelo sol naquele momento, olhou para os lados e algo lhe chamou a atenção. Haviam folhas mortas pelo chão. E pelos degraus da imensa escada que dava acesso ao andar superior da casa. A casa parecia impecavelmente limpa, mas havia folhas e flores mortas por todo o chão.

Ouviu o amado falar, e então voltou de seus pensamentos. Sentia tamanha saudades daquela voz, não gostaria de perder nenhuma palavra, nenhum som. E não perderia nem mesmo um olhar.

— Algo mais… Lento? Certamente, acho que será mais agradável.

Observava o mais velho indo até os vinis, escolhendo o que mais gostavam de dançar. Apesar das canções mais atuais, ambos apreciavam muito mais os antigos sons; a velhas músicas; os clássicos. Qualquer coisa entre sonetos e canons era de grande valor.

— Pachelbel? — disse o mais velho,  fechando os olhos e balançando levemente a cabeça ao ritmo dos violinos.

Sentiu uma felicidade imensa invadir-lhe o peito. Seu grande herói parecia estar de volta. Como um herói de guerra que retorna aos braços de quem ama, e faz com que os relógios voltem a dar as suas voltas, assim como os dois agora dariam, sobre o tapete ao som dos violinos e do piano.

Como sempre, foi recebido por um belo homem se curvando, estendendo-lhe a mão. Entregou-lhe a sua, e assim começaram a seguir, em passos lentos, o soar sutil dos instrumentos.


While I dance here softly, you're next to me again.
(Enquanto eu danço aqui suavemente, você está perto de mim de novo)

 

Depois de algum tempo ao silêncio das vozes, uma lágrima lhe escorreu pelo rosto. Do seu rosto, viu esta pingar no ombro do mais velho. Apoiado em seu ombro pode assistir todo o caminho daquela solitária expressão de vida descer pelas costas de Yoongi.

Foi então que a confusão voltou a se instalar em seu peito. Novas lágrimas apareceram, vindas dos ombros; pareciam aparecer mais gotas a escorrer a cada momento. Então, sentiu em seu pescoço um toque úmido. Levantou-se do ombro num instante e pode ver o pescoço do amado escorrer em lágrimas.

De repente, suas mãos também pareceram encher-se de água. Olhou então para os olhos daquele com quem dançava. O olhar que antes era acolhedor e que lhe confortava, agora parecia perdido, sem brilho algum.

Sem dizer palavra alguma, saiu da dança. Deu passos para trás, como se fugisse. Viu então um solitário e indefeso Yoongi. Um homem se desfazendo em lágrimas. Suas mãos, seus ombros, seus olhos. Seu peito. Tudo parecia chorar nele.

— Eu tentei evitar o seu sofrimento, mas parece que... Eu só piorei. — agora parecia que, de fato, as lágrimas vinham da dor que guardara em si.

Segundos de agoniante silêncio se passaram. Jimin não sabia bem como agir, estava novamente paralisado frente a pessoa que amava. Mas agora ele estava se desfazendo. E com seus passos úmidos, o mais velho tentou se aproximar novamente. Ergueu sua mão e a colocou sobre o rosto do outro, enquanto passeava seus olhos pelos dele.

— Sinto muito. Eu deveria ter feito o contrário, deveria ter aproveitado melhor meus últimos dias aqui nessa casa. Ter te dado o que merecia, pois sabia que sofreria com a partida. — olhou para o chão e respirou profundamente, voltando aos olhos nos quais adoraria mergulhar — Eu te amo.

E como num piscar de olhos, como num andar de ponteiros, o corpo do homem que parecia chorar se desfez por completo. As flores e folhas mortas que antes jaziam no chão agora boiavam sobre a água que tomara conta dos cômodos.

O mais novo então olhou ao seu redor. Um olhar que não transmitia nem dor nem alegria. Um olhar neutro, que guardava uma imensa quantidade de perguntas e desejos, mas que preferia manter o silêncio externo em meio aos gritos de sua alma.

Andou então em direção ao salão de entrada da casa. Abriu a imensa porta de madeira que dava diretamente no jardim de tulipas. Virou-se e, em passos lentos, foi até a grande escada que mantinha-se na mesma direção da porta. Subiu poucos degraus e ali sentou-se. Como se esperasse a tempestade terminar para poder ir lá fora, o jovem permaneceu ali, sentado em meio à água; Imerso nos sentimentos de outrem, afogando-se no oceano do amado.


And the stress comes to the surface, but all of the heroes are dead.
(E toda a pressão vem para a superfície, mas todos os heróis estão mortos)

 



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