História Felidae - Complicado

Jungkook já havia completado doze anos, seu corpo já estava começando a se desenvolver, e os pais cada dia mais preocupados, mesmo que apresentasse o porte de uma criança de cinco anos, O filho logo entraria na puberdade, viam seu filhotinho manhoso sumindo aos poucos dando lugar para um garoto quieto, reservado.

Ele só ficava mais solto quando tinha o irmão por perto, e isso começou a se tornar raro quando o mesmo foi para o ensino médio. Hoseok já estava em seu segundo ano do colegial e tinha muitos amigos, a partir desse momento passou a sair em encontros e dormir fora, o que chateou o mais novo, ele só tinha o irmão pra brincar ou conversar, não entendia porque seus pais não o deixavam sair de casa, o máximo que conseguia era ir ao jardim, sempre com o olhar atento de um dos adultos.

O dia para kookie era apenas um a mais em que ficaria sentado na cadeira almofada da biblioteca escutando sobre a história da humanidade e seus descendentes. Sua mente fervilhava em milhões de perguntas nas quais não achava respostas satisfatórias, ouvia e via as diversas formas que cada professor particular lhe falava sobre suas cadeias sociais, o quanto se orgulhavam do genes que circulavam em seus sangues.

com se já não bastasse você estar em um mundo onde os seres costumam viver em grupos organizados hierarquicamente, em que seu futuro é decidido de acordo com sua capacidade física, ainda tem de passar por mais uma separação genética, em que suas escolhas são de acordo com a descendência sanguínea de felinos.

Era ate estranho essa fato, ser separado em alfa, beta e ômega e ainda assim ter a genética de um felino, onde seu gênero poderia fazer de você o ser mais poderoso ou o excluído, menos privilegiado na sociedade.

Por mais que tentasse, não conseguia enxergar uma lógica em tudo aquilo. Sério, quem decide oque fazer somos nós, não o mundo. Porque um descendente de leão tem mais oportunidades que um descendente de gato?. Eles não fazem parte do mesmo grupo genético? Só porque um é mais fraco não pode fazer as mesmas escolhas?

Incrível como eles tem tanto orgulho de uma coisa tão insignificante. Jungkook já tentou de todas as formas entender as coisas que seus pais e professores lhe falavam, mas a única explicação que ouvia era que eles tinham de manter o poder, de que não existia brecha alguma para alguém de subfamília se misturar aos de classe superior, isso só acarretaria problemas e degradação na genética pura que carregavam em seus corpos.

Ótimo, como se essa confusão psicológica já não fosse o bastante ainda tinha de aceitar que cada dia seus pais se afastavam mais de si, não entendia o porque de tais atitudes, simplesmente, assim do nada, começaram a evitar ficar no mesmo espaço que o filho, toda vez que queria falar um simples bom dia para a mãe ou o pai eles não o respondiam, daí se irritava e tentava entender se em algum momento acabou fazendo oque não devia, mas apenas os via se encolhendo e saindo rapidamente de sua presença.

Cada dia passou a ficar ainda mais solitário, se ninguém aguentava ficar perto de si então por qual motivo veio a existir no mundo? Não podia sair de casa, não tinha pessoas pra conversar, não gostavam quando o mesmo deixava escapar sua opinião sobre as coisas da vida...sério porque vocês quiseram me deixar vivo então?

O pequeno se via num cubículo escuro sem brechas pra respirar, não achava uma saída. Por quê mesmo fazendo tudo oque querem não conseguia os agradar? Era um ciclo doentio que se perguntava todas as noites antes de adormecer.

-Jeongguk...acorda- o garoto foi desperto de um sonho vazio pela sua mãe, isso o deixou meio assustado já que ela não entrava mais em seu quarto a um bom tempo.

-mamãe...oque houve? – se levantou rapidamente.

-nada, só queria pedir pra você fazer algumas malas – disse indo pra porta do quarto.

-porque?...eu vou pra algum lugar? – disse pensando em milhões de coisas. “Agora não me querem nem em casa?”

-vamos fazer uma viajem, tenho certeza que você vai amar  o lugar que vamos- sorriu e logo saiu deixando um kookie totalmente desnorteado.

[..]

Era a primeira vez que entrava em um avião, na verdade ate se surpreendeu com o carro dos pais quando pisou fora dos portões da mansão, se sentiu um idiota quando tocou os pés no asfalto sentindo o ar a sua volta e algumas pessoas caminhando jogando conversa fora. Ficou o caminho todo vidrado na janela e em cada cor e objeto estranho que passava pelo seu campo de visão ate chegarem ao aeroporto. Nunca ficou tão assustado em sua curta experiência de vida quando adentrou o local em pleno movimento, eram tantas pessoas saindo de várias direções e diferentes barulhos que seu corpo todo encolheu enquanto agarrava fortemente um urso que ganhara de presente de seu irmão enquanto seguia seus pais.

-omma ....- puxou a blusa da alfa a sua frente a olhando com certo pavor. Oque podia fazer, não estava acostumado ao movimento de tantas pessoas quando nunca se quer saiu da porta de casa. A mãe rapidamente o pegou no colo tentando passar conforto, era horrível ver seu bebê desse jeito, odiava ficar longe dele, estava fazendo essa viajem justamente pra ver se conseguia se aproximar do filho sem se sentir ameaçada, precisava achar uma alternativa para controlar o corpo do pequeno que começava a mudar rapidamente.

- calma meu filhotinho...a mamãe esta aqui, sua omma vai te proteger sempre.- beijou a bochecha do filho que tinha uma carinha de choro e o apertou num abraço ate estarem dentro do avião. Se acomodaram nas poltronas da classe especial e ficaram de mãos dadas ate o fim da viajem.

-que lugar é esse? – arriscou em perguntar para os pais enquanto caminhavam calmamente por um caminho de terra cercado de vegetação.

-um campo onde vamos ficar...tenho certeza que vai amar .- o pai falou sorrindo segurando a mão do menor.

Realmente, era incrível para os olhos de Jungkook, uma casa bem rustica e acomodante ao lado de  um grande lago azul, ao redor você só enxergava arvores e plantas bem cuidadas, deixando sinais de que foram banhadas recentemente por um longo rocio que predominava nas manhãs daquele local. Toda sua atenção foi desviada para um homem sentado na pequena ponte que passava no lago.

- tiooo...nós chegamos- falou o pai meio desanimado, oque fez os dois ao lado rirem e olharem mais atentos para o homem de aparência velha e cansada se aproximando.

-oh, então esse é meu sobrinho-neto?...sorte que puxou a beleza da mãe- acariciou a cabeça do garoto sorrindo para ele.

-continua sendo o velho chato de sempre em –resmungou recebendo um olhar feio da esposa.

-é assim que me agradece por te aturar por quase dez anos?

Os adultos ficaram soltando algumas farpas  ate a hora do almoço, onde jungkook descobriu que o pai passou o início da adolescência ate se tornar um adulto vivendo com o velho tio, um beta de tigre siberiano solitário, que amava o conforto do silêncio que aquele lugar lhe proporcionava. Em seguida lhe foi informado que a partir daquele momento, se  repetiria com o mesmo tudo que o pai teve de passar, pois ele precisava aprender a se controlar, seus pais lhe contaram que já estava soltando o odor que os alfas costumavam soltar quando estavam pra entrar no Cio e infelizmente aquilo estava incomodando ate mesmo eles que são alfas, eles se sentiam intimidados e isso não estava sendo nada bom. Sem falar que esse cio  estava vindo cedo de mais para o filhote.

O pequeno ficou feliz por saber que seus pais não o odiavam ou coisa assim, mas sua alegria acabou um mês depois quando os alfas arrumavam as malas indo embora, precisavam cuidar das coisas da empresa e deixar ele com o tio, que se demonstrou ser uma pessoa séria e cheia de regras.

E pensar que teve que passar sua adolescência inteira sozinho naquele campo recebendo ordens e mais ordens, embora elas tenham sido de grande ajuda quando sentia que perderia a cabeça. Mesmo que seu tio, ou vovô como passou a chamar, fosse um cara ranzinza cheio de hábitos, ele sempre buscava as melhores formas de ajudar Jungkook com o próprio corpo, o mais velho ficava surpreso cada vez que fazia algum teste novo de resistência com seu querido aprendiz, Kookie era extremamente ágil e concentrado, aprendia tudo numa só explicação e executava os trabalhos perfeitamente.

Com o tempo aquele garotinho virou de um baixinho assustado para um rapaz atraente de grande físico, nossa o vovô ali nunca sentiu tanto orgulho como sentia toda vez que o mais novo aparecia em sua frente. Jungkook tinha virado um belo homem, o velhinho ate ria por achar o garoto tão bonito, mas oque podia fazer? Era a verdade mesmo, pra que negar?

Os dois arrumavam as coisas, logo teria que dar adeus ao seu pequeno grande aprendiz que finalmente ia voltar pra casa. Nunca viu um ser tão ansioso como o que estava em sua frente, Kookie olhava o relógio de um em um minuto conferindo se os pais não iam atrasar, não que ele fosse muito de demonstrar seus sentimentos, mas depois de seis anos convivendo naquele espaço pequeno com o vovô qualquer respirar diferente que se dava era observado.

E com um suspiro e um olhar silencioso ele se despediu do velho a sua frente indo ao encontro da mãe sorridente e chorona que o beijava sem parar, só se ouvia risos dos homens e resmungados do mais novo que tentava se soltar da mãe pegajosa. Entraram no carro e seguiram quietos durante todo percurso, era chato afinal, eles queriam saber como o filho, que nem reconheceram, estava e tudo mais, no entanto o mesmo fazia questão de demonstrar que não queria falar com ninguém.

Subiram no avião e adormeceram por conta do dia cansativo que cada um teve antes de viajar. Chegaram  no final da tarde e pegaram um pequeno transito, o que deixou Jungkook irritado já que havia se acostumado com o silencio do campo, estava começando a ficar impaciente então resolveu pegar um livro que tinha na bolsa ao seu lado e logo se acalmou distraído com o novo mundo nas folhas de papel.

-aleluia...chegamos- Jeon Kou se esticou fora do carro e abriu o porta-malas tirando as outras bolsas do filho que estava ao seu lado o ajudando. Andaram lentamente ate a porta aberta pela mãe e entraram finalmente no lar. Kookie tratou de levar suas coisas para seu quarto, que estava morrendo de saudades e  jogou tudo no chão pra deitar em sua nova cama, agora de casal .O rapaz suspirou e se deixou levar pelo conforto e cansaço adormecendo sem o jantar.

Acordar com cheiro de comida pronta é o melhor sonho que se pode ter. num pulo Jungkook tratou de tomar um banho, trocar as roupas do corpo pelas novas, recém compradas, que estavam em seu também novo guarda-roupa, ajeitar seu cabelo molhado e sair do quarto seguindo o cheiro da comida que vinha da cozinha. Se sentou numa banqueta branca de aço e olhou a cozinheira arrumar a comida pra levar pra sala de jantar, o alimento teria ido ao chão se o garoto não tivesse segurado a senhora a sua frente que o olhava espantada.

-meu Deus, aquele filhote virou um projeto de músculos...não acredito no que meus olhos enxergam...- começou a falar enquanto era ajudada por ele a levar o resto que ficou na cozinha

- meu filhote já ta de pé?

-senhora Jeon eu deixei de ser um filhote a muito tempo- Kookie disse se sentando na mesa começando a se servir sozinho.

-não importa, pra mim vai sempre ser...e que negócio é esse de comer antes dos seus pais se sentarem? – se sentou esperando o marido e os outros companheiros.

-eu estou com fome.- disse apenas e encheu a boca com alguma coisa depois de jogar de tudo um pouco em seu prato. As mulheres ficaram quietas olhando o comportamento estranho do mais novo ate os outros chegarem e olharem elas.

-oque houve?- se sentam e observam o rapaz a sua frente comendo sem se importar em dar um oi, ou bom dia.

-só o nosso filho com fome...vamos comer?- solta um risinho perguntando aos demais que assentem e começam a se servir.

- e o Hoseok?. não vai descer?- o ômega quebra o pequeno silêncio instalado sobre a mesa de refeições.

-deve estar passando por um enxaqueca horrível agora...não sei pra que ficar madrugando nessas festinhas da faculdade, aiai em. – reclama a ômega tomando um suco.

-ele tem vinte três anos, deixa o garoto se divertir, quando estávamos na faculdade fazíamos a mesma coisa.- o alfa riu

-rum, mas eu não fazia isso quase toda semana....pra que tantos amigos?

Ficaram conversando sobre várias coisas enquanto o mais novo só ria mentalmente pelo irmão que tinha, embora ainda guardasse um certo rancor por ter sido deixado de lado quando mais precisava. Se levantou e caminhou ate a sala ligando a televisão já que não tinha nada pra fazer, escutou alguém resmungando enquanto descia a escada e logo reconheceu o ser.

-por que vocês tem que rir tão alto em?- bocejou se jogando no sofá ao lado de Jungkook e ficou lá moscando no que passava na tv ate notar alguém ao seu lado mais distraído que o mesmo. Seu coração saltou quando reconheceu seu irmão, não acreditava que aquele projetinho de filhote tinha se tornado aquilo na sua frente, pulou no garoto o atemorizando. –kookieeeee....meu maninhooo....como você cresceeeeeu

-me solta..- tentava se livrar daquele abraço, estava meio impossível então apenas rosnou deixando as orelhas pra cima e Hoseok se levantou o olhando assustado.

-por que ta rosnando pra mim? Eu sou seu hyung sabia? – resmunga fazendo um bico enorme pelo modo como foi tratado.

-eu não ligo..com licença- se levantou e subiu a escada indo para seu quarto.

-oque o tio fez com o meu irmãozinho? – Hoseok entrou choroso na sala de jantar olhando para os pais. –aquele não é o kookie, ele nunca me tratou desse jeito..

-é..pelo que vejo nosso filhote voltou mais estressadinho.

-é nossa culpa- se senta chateado ao lado do pai que passa a mão em suas costas.

-acho que meu tio andou irritando seu irmão ate o limite pra ajudar.

-eu tenho certeza que ele logo vai voltar a ser aquele bebezinho manhoso, podem ver só...

-mãe...ele já virou um adulto né....

-não importa, é o nosso kookie!

.

.

.

“ merda Jungkook......”.

                               --- “só me deixa entender”

                                                                     --- “ até quando?”

                                                                                                 ---”bolinha laranja?”