História Felino - Nova Vida, Novas Amizades

- Por um momento fiquei ali pensando no que havia sido dito, nunca tinha parado pra cogitar esse tipo de coisa. Sexo e sexualidade eram coisas que não faziam muita parte do meu mundo, na minha vida toda não tinha me sentido atraído por mulheres, mas também não por homens, Tyler tinha sido o primeiro que me chamou atenção, mas não necessariamente interesse. Só que a afirmação de Stacy me deixou confuso, mas antes que eu mesmo pudesse justificar algo com os rapazes, a loira continua com firmeza:

- E ele precisa responder amor? Ele foi o único garoto que não me olhou desde que entrou na sala, e nem para meus peitos.

- Às vezes ele é só respeitoso. – Tyler dá de ombros e a loira diz debochada enquanto passava a mão no ombro do jogador com firmeza:

- Até parece amor.

- Eu preciso ir, tchau. – Digo após ver a cena, me senti extremamente envergonhado e irritado com toda a situação, sai andando em alta velocidade e só consegui escutar a voz de Britany dizendo:

- Harvey, espera.

- E então eu me distanciei, não por ter dúvidas, talvez eu seja mesmo, afinal, Tyler foi quem me despertou algo, porém, a vergonha que eu sentia de estar ali na frente dele e seus amigos... Por quê? Por que essa sensação de timidez? Fui treinado para ser mais despojado nesse tipo de situação, mesmo assim não soube como reagir, apenas corri. Fui até o banheiro do colégio e literalmente me tranquei dentro de um dos box, pensativo, e ali fiquei até o intervalo acabar. O que eu tinha esquecido, é que após isso, teria que voltar até a aula, e enfrentar Stacy e suas amigas. Sentia meu rosto esquentar enquanto os olhares das três miravam meu corpo, sentei no meu lugar e a loira foi a primeira:

- Cara, o que foi aquilo?

- Eu... Na verdade não sei. – Falo de uma maneira embaraçosa, e a loira se firmando novamente responde com convicção:

- Eu sei.

- Sabe? – Eu pergunto, pois na verdade nem eu sabia, como uma líder de torcida saberia da minha vida sendo que me conheceu tem quatro horas? Mas ela fala algo que me surpreende e me faz refletir:

- Você ainda não se assumiu.

- Paro pra pensar novamente, eu nunca havia pensado nisso, só que com toda certeza e verdade, o corpo dela não me chamava atenção, seus seios brancos e fardos apertados em sua camisa apertada, as coxas lisas amostra através da saia, a mesma que cobria seu bumbum firme e levantado, nada daquilo. Mas e Tyler? O garoto conseguia roubar toda a minha atenção. O namorado da loira era demasiadamente belo, feliz, tinha um sorriso alegre que demonstrava como o mundo podia ser se eu fosse um adolescente normal. A forma que falou de mim... Bom, do herói, O Felino, com encanto e admiração, além disso, seu corpo, olhos, cabelo, tudo chamava a minha atenção... era verdade, a garota que não sabia nada do mundo real, sabia da minha condição.

- Eu, acho que é isso. – Respondo, talvez tenha sido uma epifania, e ela se desculpa meio sem graça:

- Eu não sabia, achei que era assumido, eu sinto muito.

- Não sinta você não sabia. – Digo para ela se sentir melhor, acho engraçado como ela fez de tudo pra me integrar no grupo dela, eu tinha que ser gentil, acho que é a lei desse mundo. Stacy ainda continua como se realmente já gostasse de mim:

- Enfim, você é iniciante da equipe e ninguém mexe com a gente.

- Stacy, a próxima aula é de Educação Física. – Lindsay avisa e a líder sorri feliz enquanto fala:

- Perfeito, já vamos ver com o professor se Harvey pode se inscrever para os lideres de torcida.

- Então o professor chegou. Murillo, um mexicano alto, forte, moreno de bigode e cabelos castanhos escuros, seus braços tinham mais pelos que eu estou acostumado a ver em outras pessoas, acho que é pela sua etnia. Como falado em sala as meninas marcam com ele para Quinta-feira, hoje ainda era segunda-feira e elas já tinham planejado tudo. Era engraçado como a aula corria, os garotos jogavam futebol americano enquanto as garotas permaneciam sentadas na arquibancada, eu ficava junto com elas é claro, conheci algumas outras pessoas da sala, mas superficiais, Stacy não abria espaço para muitas pessoas, exceto por Colton, um dos jogadores que veio falar conosco:

- Oi, tudo bem?

- Olá, tudo. – Eu respondo, tendo em vista que ele estava olhando pra mim. Ele era loiro de cabelos arrepiados, olhos claros verdes, o queixo bem marcado e corpo musculoso e realmente bonito, meio sem jeito e coçando o pescoço ele me pergunta:

- É Harvey certo?

- Sim, e você é o Colton. – Eu respondo, pois sou bem em guardar esse tipo de coisa, ele responde ainda como se não soubesse falar direito, eu mesmo não entendi direito:

- Isso, isso, eu só queria dizer por todos que o que você é não importa.

- Obrigado, eu acho. – Eu agradeço o dito engraçado do rapaz e ele fala logo do rapaz que eu não conseguia olhar nos olhos desde o intervalo:

- Tyler falou que depois vai vir te pedir desculpas, é que como é capitão do time não pode sair agora.

- Ele não tem o porquê se desculpar, ele não fez nada. – Me nego, até porque na verdade, ele só me fez uma pergunta, eu que acabei surtando... Só de lembrar sentia meu coração acelerar mais que um carro de corrida. Colton fala enquanto voltava ao campo:

- Ah... É... Então tá.

- Nossa Harvey! Ele tá tão na sua. – Foi a primeira coisa que Stacy falou quando o maior saiu de perto de nós, eu questiono ela curioso, pois não entendia muito bem esse tipo de situação:

- Oi?

- Bom, Tyler me disse uma vez que acharam o celular do Colton um filme pornô gay. – A garota falou com a mão na frente da boca enquanto as amigas arregalavam os olhos, e eu troco de assunto, pois naquele momento eu não queria mesmo falar sobre esse tipo de coisa:

- Isso é algo que eu não queria falar agora haha.

- Tudo bem, aliás, depois disso as meninas vão a minha casa ver um filme, quer vir conosco? – Stacy propõe e as amigas dela acham estranho, eu dou de ombros e concordo, afinal, tio Ross ficaria bem contente com esse tipo de coisa:

- Um filme? Acho que sim.

- Eba! Nosso novo GBF. – Stacy fala sorrindo com toda alegria. Não entendo de siglas comuns como “Vc” imagine essa então, eu me viro e pergunto arqueando minha sobrancelha direita:

- GBF?

- Gay Best Friend! – Ela exclama e me abraça.  Então eu fui resumido a isso? Pai onde estou me metendo? Ainda sim retribuo o ato meio sem graça enquanto ela e as garotas pulam e gritam sem necessidade.

Eu mesmo sem vontade fui a casa dela. As garotas tinham assuntos superficiais, era no geral unhas, cabelos, roupas e garotos. Eu interagia em alguns assuntos, mas não muito aprofundado. Agia um pouco tímido, pois não sei sobre o que conversar, eu entendo de armas, lutas, sistemas de segurança e invadir lugares. O carro de Stacy era lindo, prata e bem moderno, mas com certeza não se assemelhava á qualquer máquina militar que aprendi a pilotar. Foram apenas dez minutos e já estávamos em sua casa. O lugar era uma mansão, extremamente linda e elegante, assim como transparecia a garota. Sua mãe era uma mulher bonita para a idade, aparentava malhar, tinha um sorriso de miss e era demasiadamente simpática, pelo visto amava os gays.

O quarto dela era enorme, com uma TV de 80 polegadas na parede, uma cama king size e vários puffs pelo quarto decorado de rosa e branco, tudo trazia tranquilidade, mas as garotas gritando era diferente, a loira perguntava:

- E ai o que querem fazer primeiro?

- Fazer brigadeiro de panela.  – Britany dizia alegre e a sua líder se negava pelo motivo mais bobo do mundo:

- Isso engorda Britany.

- Vamos assistir vídeos do Justin D. – Lindsay dá a sua opinião. Esse nome não é de ninguém que eu julgue famoso, por isso deixo escapar:

- Quem?

- Você não conhece? – Stacy pergunta boquiaberta e eu apenas nego com a cabeça enquanto solto um leve e baixo:

-Não.

- Pelo visto você nunca beijou. – Stacy fala levantando suas sobrancelhas. Talvez seu ego não aceite não ser desejada por mim, mas eu balanço a cabeça e tento disfarçar, mas mesmo sendo ótimo mentiroso como justiceiro, era péssimo como Harvey:

- Já sim.

- Ai meu deus, ele nunca beijou. – Lindsay fala para amigas e começam a rir, mas o que mais me irrita é Britany, depois de eu finalmente ter me entendido e racionalizado o que sentia vem me acusar:

- Talvez nem seja gay.

- Talvez eu chute a sua perereca. – Felino acaba escapando um pouco de meu interior, posso estar tentando fazer amizades pra agradar o tio Ross, mas seja a pessoa que for, se me atacar eu vou revidar, Stacy pula na cama e diz:

- Feroz, eu gosto dele.

- Eu também hahaha. – Lindsay fala, e Stacy liga a TV enquanto fala com toda a convicção que tem desde o momento que a conheci:

- Bom, isso é Justin D, e vai mudar sua vida.

- Então Stacy ligou um programa de TV musical, um videoclipe se passava de um rapaz de corpo escultural, olhos castanhos, cabelos claros, cantando uma música melosa e doce, ainda sim, ele era incrivelmente bonito, ao terminar ela me olha e fala:

- Viu, isso é você de verdade, pode ser tímido e parecer sério, mas gosta de homem como qualquer outra pessoa nesse quarto.

- E você teve a sorte de ser escolhido pela Stacy. – Lindsay falava e a líder loira continuava toda esperançosa:

- Sim, nós vamos te transformar no mais estiloso e sensual gay do colégio.

- O novato projeto das Spices. – Britany dizia feliz batendo palmas, e eu pergunto curioso:

- Spices?

- É o nosso grupo, e agora você é um de nós, certo? – Stacy pergunta se aproximando e eu falo:

- Certo.

- E ai o que fazer agora? – A loira me pergunta e por instinto acabo falando sem querer:

- Podemos ver mais vídeos do Justin?

- Claro que sim menino! – A felicidade na face dela era explicita, a garota me puxa e liga a TV, enquanto Britany e Lindsay continuam conversando entre si, o tom era baixo, provavelmente porque não queriam que ouvíssemos, eram os famosos segredos.

Passei a tarde toda lá, e quando fui para casa, havia na mesa um recado do tio Ross, “Estou na escola, reunião de conselho, comporte-se” Era a minha deixa, fui para a base escondida de meu pai começar a projetar meu uniforme, peguei minha moto e corri até o local, escondido no meio do subúrbio de minha antiga casa, ela tinha o cheiro de meu pai, era nostálgico. Fui até o porão e comecei a desenhar. Foram mais de cinquenta desenhos, rabiscos, tanto para máscara quando para o corpo, mas finalmente cheguei ao veredito. O uniforme era preto, com comportas por toda a extensão para guardar armas, desde laminas até revolveres. Os olhos de gato eram minhas lentes de visão noturnas azuis na máscara, removíveis. Porque ninguém merece ficar enxergando tudo azul o tempo todo. As orelhas grandes e pontudas com fundo azul escuro, As botas tinham garras de ferro para furar concreto e ajudar na escalada, e por falar em garras, as de minha mão eram as Safiras pontiagudas que havia na máscara que acabei trazendo comigo por acidente, noutro dia, ou seja, azuis brilhantes. Estava pronto, mas quando me toquei já era 23:40PM. Corri para casa com minha moto que teoricamente não devia usar por ser “menor de idade” e essas bobagens, mas dirijo melhor que qualquer homem adulto que já vi na rua. Vou pela porta dos fundos e guardo meu veiculo, e dou a volta para entrar andando em casa. Porém, ao chegar me deparo com meu tio preocupado, tinha que inventar uma desculpa rápida enquanto Ross se aproxima e me abraça:

- Onde esteve Harvey?

- Desculpa tio, sai com meus novos amigos. – Eu disfarcei e ele continua cruzando os braços:

- Mas não ia na casa da Stacy? Liguei lá e você saiu as 16:00PM.

- Sim, depois sai com Tyler e os meninos. – Falei em resposta, foi a primeira pessoa que veio a minha cabeça, o que eu podia fazer? Ele pergunta confuso:

- O líder do time de futebol?

- Isso tio. – Eu concordo com a cabeça enquanto mordo uma maçã que estava na mesa, ele pensa um pouco e fala com sinceridade:

- É um bom menino, cabeça oca, mas bom, estava seguro então, mas não faça mais isso, pelo menos me avise.

- Claro, na próxima eu aviso sim, agora vou deitar, amanhã tenho aula. – Subo correndo para o quarto e Luck vem atrás de mim. Eu tomo um banho depressa e penso em como meu dia foi corrido e cheio de descobertas estranhas e novas amizades, eu nunca tive amigos, mas na verdade não era tão ruim assim, o único problema, era o moreno que não saia da minha cabeça.