História Felix Culpa - Fate

Lauren saiu tarde do escritório, como sempre era a última funcionária a sair. No fundo da sua alma, ela sabia que passou a odiar sua casa, queria passar menos tempo nela possível. O vício no trabalho se tornou seu principal analgésico depois da morte de sua esposa. No começo de tudo, de sua carreira, apesar de amar o que fazia, ela contava os segundos para voltar à sua casa, onde era recebida por uma linda mulher com sua barriga de 6 meses já em evidência, sorrindo. Era seu lar, ela seu amava lar. 

Mesmo depois de seis anos, a dor parecia intacta. Na verdade, ela conseguia sentir o gosto da dor da perda, como se fosse o exato dia da tragédia. Como um paladar aguçado para autodestruição. Lauren era jovem, tinha apenas 36 anos, e deixou de viver, estava sobrevivendo dia após dia. Depressão? Era o que os seus familiares diziam. Nada como uma nova paixão para reacender a vontade de viver. Era fácil dizer quando não foram eles que perderam a razão de viver. Era fácil achar uma solução quando não é você que assiste sua mulher e sua filha serem mortas na sua frente.

Lauren agora cultivada seu trabalho e o álcool como seus fiéis escudeiros. Sempre estavam lhe mantendo ocupada ou no caso da bebida, fora de órbita. Mulheres que surgiam na sua vida, não passava apenas de um objeto para satisfazer o prazer primitivo. Sexo no sexo, sem mais. Sem muitas palavras como ela preferia.

                                                                                                                 ***

Lauren tinha marcado com sua mulher. Elas iriam se encontrar depois do expediente enfrente ao teatro. Era uma peça estúpida, Lauren leu várias críticas negativas, do quanto era mal feita. Tentou argumentar como sempre, que era melhor um jantar e depois uma noite de sexo, mas perdeu. Como negar algo à Elena? Ela tinha insistindo tanto, até ameaças de greve de sexo como meio de conseguir o que queria. Então Lauren comprou os malditos ingressos. Mas era coisa dela, Lauren sabia. Ela adorava filmes de baixa renda, músicos simples de bar, vinho barato. O amor da sua vida era assim, simples.

Tinha chegado em cima da hora, Lauren estava estacionando o carro com a cara mais lavada enfrente ao prédio simples que aconteceria a peça. Sua esposa estava na calçada, linda, vestido preto, sem nenhum brilho, mas que moldava perfeitamente o lindo corpo e sua barriga impecável que Lauren tanto amava beijar, deixando o brilho nela. Elena balançando negativamente e com um sorriso debochado nos lábios direcionados à ela. Sabia que Lauren ia chegar no mínimo em cima da hora de entrar, ou até perderia o começo. 

Foi então que os segundos mudaram sua vida. Elena, é abordada por dois homens. Rápido. Tudo tão rápido. Da onde teriam surgido aqueles caras? Porque justamente nesse segundo, Elena estava sozinha na calçada? Lauren assistiu. Um deles segurou o braço brozeado de sua esposa enquanto o outro tentava puxar sua bolsa. Elena,talvez por reação, segurou sua bolsa. E então, duas facadas certeiras lhe  atingiram, uma em seu peito e outro na barriga. E sua mulher caindo ao chão. Os homens fugiram sem levar nada de bem material. Levaram a vida de sua mulher e de sua filha. E a vida de Lauren.
                                                                                                          

                                                                                               ***

Camila voou para o apartamento em que dividia com Dinah. Estava cansada mentalmente, e era apenas seu segundo dia de trabalho. Ela sempre achou que absorvia demais as coisas, agora tinha certeza. Lauren foi grossa sim, mas ela achou que foi leve, comparado as coisas que ouvia entres os corredores da empresa. Não sabia definir o que tinha passado na sala de Lauren.
 

- Hey, chegou! Que bom! Olha sua cama já está pronta! Agora sim pode dormir como uma rainha mexicana!

- Você é mais teimosa que uma mula, Dinah... Obrigada, de verdade. Vem me dá um abraço, eu até gosto de você,  sabe...

- Você me ama! Bom, me conta, como foi lá com a babaca? Tudo tranquilo? 

Dinah olhava atentamente para Camila, sabia que se algo tivesse errado, ela iria gaguejar ou desconversar. 

- F-foi tranquilo sim! E para de chamar ela assim! Isso é muito feio dona Hansen.

- Whatever... Você mandou mensagem dizendo que comeu na rua, né? Ainda bem, estou com preguiça de fazer algo e comi um lanche qualquer. Eu basicamente ajudei aquela mula a montar sua cama. Mas se quiser algo, vai lá na cozinha e se sirva. Sabe que aqui é sua casa também né? 

Camila balançou a cabeça em concordância, afirmando que sim, tinha comido na rua. Mentira. Sabia que não pudia se dar o luxo de gastar com coisa supérflua como essas, ela pensava. Última coisa que havia comido foi na empresa. E não queria abusar ainda mais da hospitalidade de sua amiga

.

- Está tudo tranquilo, bom, acho que vou tomar um banho e me deitar!

- Okay... Mas antes me diga. O que Lauren disse para você. O quão grossa ela foi Camila?

A latina empalideceu, não queria falar sobre isso. Já tinha até superado.

- Nada demais Dinah, juro. Apenas não ficou muito satisfeita por não ter deixado os relatórios na mesa dela. Coisa boba, e não foi grossa. 

- Hm... - Dinah semicerrou os olhos para sua amiga, buscando qualquer indício de mentira. - Tudo bem, vá tomar seu banho, dorme suja! 

Camila riu e foi ao banheiro. Quando trancou a porta, ela sentiu o peso. Peso da saudade da família, quão longe estava do seu porto seguro, peso do desamparo materno, peso da responsabilidade que teve que criar quando decidiu morar em Nova York. E chorou por um tempo, até sentir que sua alma estava mais leve, limpou as lágrimas grossas que escorriam,  assim que entrou no seu quarto, praticamente vazio, a não ser pela cama de casal, respirou fundo e aceitou. Que ali, seria seu novo lar.