24 horas se passaram desde aquele incidente bizarro.
Eu diria que estava mais calmo. Meu corpo já não apresentava os fortes sintomas da ressaca e minha memória havia clareado um pouco, mas a normalidade habitual da minha vida estava longe de voltar. Baby ainda se encontrava desaparecida e eu não fazia ideia se de propósito ou se de uma maneira preocupante. Meu celular com o número de Ten para que a duvida pudesse desaparecer também era outro mistério. Muitas coisas simplesmente sumiram de um dia para o outro.
A vergonha, infelizmente, permanecia comigo como uma amiga inconveniente.
Eu não retornei a minha casa. Usei o domingo para deixar a casa de Baby como era antes e aproveitei para ficar. Estranhamente, nenhum dos empregados apareceu neste período de tempo, cheguei a pensar que estava delirando e na verdade minha irmã nunca existiu, por sorte uma amiga ligou perguntando por ela minutos depois. Sinceramente, eu não sabia nada sobre a Baby. Desconhecia seus amigos, lugares favoritos, empregos. Sem meu celular eu desconhecia até mesmo o seu número de telefone.
Usei o domingo para me martirizar à vontade, mas querendo ou não a segunda-feira chegou.
Eu já contei antes que trabalho com moda, mas não exatamente em qual área: Basicamente, sou o fotografo de uma das revistas mais famosas da Coreia. Contar isso assim sempre impressiona quem ouve, mas o trabalho é na verdade bem menos glamouroso. Ninguém te para na rua para elogiar a foto da página 6 ou a iluminação da modelo x. Um bom trabalho aumenta as vendas, mas a fama com o público permanece intacta. Por sorte com os modelos a coisa é um pouquinho diferente; Todos os famosos querem ser retratados por mim e isso sempre foi motivo para eu me orgulhar bastante. Eu adorava fingir indiferença quando me imploravam para ser o fotografo. Adorava o desespero e os presentinhos que ocasionavam.
Mas isso, na situação atual, era um problema e tanto.
Tive vontade de entrar no prédio de óculos escuro e máscara. Cada centímetro do meu corpo tremia ao imaginar as fofocas que poderiam já estar rondando: "BamBam é verdade que você pagou o maior mico?", "Você vomitou antes ou depois de chorar no meio da rua pra voltar?", "Você bateu na mãe dele de propósito??". Imaginar as expressões debochadas e as risadas...
Pegar o elevador até o meu andar foi fácil, mas passar pelo estúdio para entrar na minha sala...
Olhei meu reflexo na janela: poucas olheiras, cabelos ajeitado. Usei a mão para sentir meu hálito: aceitável.
Eu ouvia os cliques das câmeras antes mesmo de entrar. Respirei fundo.
- Bom dia! - Abri a porta e desejei com bom humor.
Meus olhos se encontraram com o moreno no fundo branco; o famoso ator Park Jinyoung.
Também conhecido como atual namorado de Kim Yugyeom.
- Bom dia, Kunpimook! - Desejou Lisa, provavelmente a única ali capaz de pronunciar meu nome corretamente. - O chefe quer te ver. Café?
Aquele atorzinho me olhava com desdém. A cada pose ele precisava me provocar; Uma piscadela, um sorriso contido.
- Extra forte hoje, Lisa. - Pedi sem olhar para ela e segui caminho até a sala do chefe.
Ele guardou segredo. Ninguém me olhou estranho. Ele guardou segredo porque quer alguma coisa em troca!
Parei em frente à porta mais excêntrica do edifício. Na porta, uma placa que se lia JYP. Tentei parecer alegre e animado, mas tenho certeza que fiquei parecendo triste e forçado. Bati duas vezes.
- Entre!
Entrei.
Park Jinyoung - porque esse nome me assombrava? - era o chefe da famosa revista JYP. Com os seus já quase cinquenta anos, ele ainda era o modelo principal e cérebro de quase tudo ali. JYP era certamente um homem brilhante. Um dos poucos Coreanos bom o bastante para dar emprego a estrangeiros como eu e alguns outros. Sua opinião importava para mim.
- Está meio cafona hoje, Bam.
Bem, não quando sua opinião era sobre minhas roupas.
- Não fui para casa ontem. Acabei pegando algumas peças emprestada do meu cunhado.
- Hum... entendo... - Ainda assim ele negava com a cabeça. Segundos depois, JYP apontou para a cadeira à sua frente. - Sente-se.
Eu obedeci. Ele parecia pensativo e empolgado, suas ideias brilhantes sempre surgiam assim.
- Bam, você assiste televisão?
Pergunta perigosa: Se algo ruim sobre ele estivesse rolando eu deveria dizer não. Se algo inovador estivesse em alta...
- Às vezes...?
- Entendo... às vezes... - Ele estava muito estranho. Era como se a cura de algo importante estivesse na ponta da sua língua; Quase saindo, mas também quase se perdendo para sempre. - E se eu te disser que encontrei? O diamante bruto?
O diamante... bruto...? Tipo, o diamante bruto? Nestes cinco anos de carreira, JYP sempre citava este diamante bruto em todas as suas reuniões: Um modelo com beleza e diferencial, uma aparência rústica e inovadora. Seu sonho sempre foi que eu retratasse este diamante, mas nunca o encontramos. Por um longo tempo eu apenas pensei que ele estivesse delirando.
Esse diamante... existe...?
- Você realmente o encontrou?
- Na TV! - Ele parecia satisfeito. - Não apenas um.
Conter meu sorriso foi quase impossível. JYP podia ter todos os defeitos, mas ele nunca errava nas escolhas de modelos. Se ele diz que é bom, chovem elogios em nossa revista. Se ele diz que é ótimo, ganhamos até mesmo prêmios...
E se ele diz que são dois diamantes...
Um arrepio me percorre...
- E onde é que eles estão?!
- Me siga.
Ele se levanta e eu o sigo. Estávamos indo para o estúdio, mas todas as minhas preocupações desapareceram. Me sentia empolgado. Me sentia realizado. Talvez com um bom trabalho eu poderia me mudar, voltar para a Tailândia e recomeçar. Talvez eu conseguiria viajar e esquecer.
Ao chegarmos ignoro Jinyoung por completo. Olho para o JYP.
- Aquele. - Aponta.
E eu olho.
O garoto ao canto do estúdio é impressionante. Mesmo comum, até meio desarrumado eu diria, sua beleza impressiona. Seus cabelos estavam castanhos e em formato tigela. Seu rosto é jovem, com expressões finas. Seu olhar demonstra ingenuidade e gentileza. Em certo momento ele sorri, e seu sorriso é ainda mais lindo; seus dentes lembram vagamente um vampiro. Ele era irritantemente lindo.
- Incrível... - Deixo escapar. JYP assente, satisfeito.
- É porque você ainda não viu o outro. Ai vem ele.
Olho para o homem indo até o primeiro com ainda mais expectativa, mas minha reação se torna exatamente o contrário. Eu gelo. Todo o meu sangue de repente se torna gelo puro e eu desejo sumir, virar invisível, correr para longe!
Ele me vê. Era tarde.
- EI! GAROTO DO EX! OI, SOU EU!! - Gritou para toda a sala ouvir. Gritou para o país todo ficar sabendo.
Céus...
E eu quase não o reconheci com roupa...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.