História Fênix - Night

Gritos e mais gritos. Era isso que Taehyung ouvia. O que acontecia era que: sua mãe e seu padrasto discutiam mais uma vez. Aquilo se tornara comum com o passar dos anos e, outra coisa que se tornara comum junto das brigas fora as fugidas que o mesmo dava durante as mesmas. Fazia exatos dois anos que Taehyung e sua mãe moravam junto do padrasto, que nos primeiros meses não se mostrava ser o bêbado e folgado que é hoje.

Taehyung era amante da calmaria, e, aquele ambiente cheio de brigas sempre o estressava. Sentir a brisa leve batendo em seu rosto enquanto caminhava trazia toda a calmaria que o fora roubada de si dentro de sua própria residência de volta. Era isso que o garoto de cabelos castanhos agora sentia.

Taehyung caminhava lentamente pelas ruas de seu bairro com as mãos no bolso de sua calça moletom após pular a janela de sua casa. Fazia o caminho de sempre, de cabeça baixa cantarolando uma música qualquer e observando seus pés á cada passo dado, mas levantou sua cabeça parando de andar de imediato ao ouvir passos.

Olhou para o outro lado da rua vendo um grupo de garotos saindo de um beco, e, ao invés de virem em sua direção como imaginou apenas seguiram a direção contrária à sua entre risos. Soltou um suspiro em alívio. Não foi desta vez que fui assaltado, pensou e soltou um riso nasalado. Taehyung vivia em um bairro um pouco perigoso e tinha plena consciência disto já que fora assaltado algumas vezes, tanto durante o dia quanto durante a noite, porém ainda assim insistia em sair sozinho pelas ruas.

- Aquele otário mereceu. – ouviu um falar e os outros concordarem em meio de mais risadas. Taehyung ainda parado no mesmo lugar sentiu-se curioso pelo o que acabou de ouvir, então após um tempo refletindo se devia ou não ir até o beco da onde os garotos haviam saído, decidiu que sim, deveria.

Atravessou a rua correndo até chegar ao beco, deu alguns passos adentrando-o e só parou ao encontrar um garoto de cabelos escuros caído no chão. Taehyung se abaixou para ficar mais próximo do garoto e tocou em pulso alheio para ver se o garoto estaria vivo, mas em resposta o pulso foi puxado de sua mão.

O garoto dos cabelos negros começou a bater em seu peito enquanto tossia sem parar, sua outra mão passava por cima de sua calça jeans, parecendo procurar por algo. Taehyung sem saber o que estava acontecendo, apoiou seus joelhos no chão ao lado do rosto do garoto e colocou suas mãos uma de cada lado, segurando nas bochechas alheia. Aquele rosto não lhe era estranho só não se lembrava de onde o conhecia, pensou Taehyung por alguns segundos.

- Ei! – falou dando tapas de leve na bochecha do garoto. – O que você tem? Aish! – exclamou ao ver o garoto começando a fechar os olhos, aquilo seria um sinal de que ele estaria morrendo? Taehyung balançou a cabeça em negação, afastando tal pensamento. Rapidamente tirou seu celular do bolso discando o número da emergência.

Uma mulher atendeu a chamada e Taehyung disse tudo que fora preciso para que uma ambulância viesse para onde estava. O Kim deitou a cabeça do garoto já desacordado em suas pernas e observou seu rosto percebendo que o lábio e a sobrancelha do mesmo sangravam. Agora, olhando melhor para o rosto alheio, e vendo a camisa que o mesmo vestia, logo soube de onde o conhecia. Era de seu colégio, não saberia dizer de qual turma, mas que ele era de seu colégio, isso era sim.

Passado alguns minutos, finalmente – segundo Taehyung – a ambulância havia chegado. Enfermeiros saíram do veículo trazendo junto deles uma maca na qual colocaram o garoto de rosto familiar e cabelos negros. Um dos enfermeiros conversava com Taehyung pedindo informações sobre o garoto, como o encontrou e seu nome. Respondeu todas as perguntas feitas sobre o garoto, e logo foram feitas poucas perguntas sobre si, como por exemplo seu nome, não entendeu direito o motivo das perguntas sobre si, mas não questionou e nem nada, apenas respondeu a moça que falava consigo. Limpou suas mãos suadas em seu moletom ao ver a ambulância partir. Logo em seguida passou as mãos no rosto e bagunçou os próprios cabelos soltando um resmungo pelo nervosismo.

- Preciso relaxar. – disse para si mesmo e começou a andar em direção ao posto de gasolina mais próximo.

O motivo de estar indo para lá não era o fato de ter uma loja conveniência, e sim que um dos seus melhores amigos trabalha lá. Taehyung já havia trabalhado lá durante alguns meses para poder ajudar a mãe que estava desempregada na época, mas mesmo depois de sua mãe ter conseguido um emprego como garçonete em um pequeno restaurante, ele continuou trabalhando lá... E estaria lá até hoje se não tivesse arrumado confusão com alguns clientes.

Segundo Taehyung, ele não estava em um bom dia, ou seja, sem paciência alguma para lidar com alguém e com essa justificativa não achava que deveria perder o primeiro emprego. Mas essa fora uma forma que encontrou de não ter que contar o que realmente havia acontecido...

- Olha só quem resolveu aparecer! – Namjoon disse ao ver Taehyung caminhando em sua direção.

- E aí cara? – os dois se cumprimentaram segurando um na mão do outro e se aproximando dando espécie de um abraço.

- De boa contigo? – o mais velho dos dois perguntou.

- Não, mas uma garrafa de Soju ajudaria bastante. – respondeu e ouviu a risada do outro.

- O que aconteceu? – perguntou Namjoon enquanto caminhava até um carro que tinha acabado de estacionar.

- Nem eu sei. – suspirou sentando-se no meio fio da calçada a alguns passos da onde estava. Passado alguns minutos, Namjoon se juntou ao amigo que diz:

- Agora pode me trazer a garrafa de Soju que eu pedi?

- Tá achando que sou algum empregado seu?

- Levantou por que então, hm? – Taehyung cruza os braços com um mini sorriso no rosto.

- Não sei se sabe, mas estou trabalhando. – o mais velho piscou e saiu andando em direção a loja de conveniência.

- Espera aí! – gritou o mais novo e se levantou correndo até o amigo. – Eu pago pela bebida, relaxa. – o mesmo tira a carteira do bolso com a quantia certa para três garrafas da bebida.

- Você é menor de idade, Taehyung! – o mais velho diz sério. – Não posso vender bebidas alcoólicas para menores.

- Ninguém vai saber, relaxa, e além do mais, não seria a primeira vez. – fala o castanho pegando as garrafas e levando-as para o caixa. – Depois podemos espalhar arte pelos muros como nos velhos tempos. – o mais velho concorda com um sorriso no rosto.

Após de pagar as bebidas, Taehyung sentou-se novamente no meio fio da calçada. Abriu uma das garrafas tomando uma grande quantidade do líquido. Sua intenção não era ficar bêbado, já que no dia seguinte, ou melhor dizendo, neste mesmo dia – já se passava da meia noite – teria que ir para o colégio por causa de uma maldita prova de química. Talvez acordasse atrasado para a aula, isso caso dormisse, pensou e riu dando outro gole na bebida. Mas a tal prova de química não lhe interessava no momento, definitivamente não. Sua mente viajava para longe enquanto olhava as poucas estrelas que estavam visíveis naquela noite. Passou quase uma hora inteirinha sentado ali mesmo, no meio fio, esperando o expediente do amigo acabar.

Agora ambos andavam lado a lado, segurando em suas mãos latinhas de spray. Haviam bebido as garrafas de Soju que Taehyung comprou com o amigo, mas não o suficiente para estarem bêbados.

- Perfeito! – Taehyung falou parando em frente a um enorme muro branco. Namjoon riu, e junto do amigo, agitou a latinha de spray que segurava em suas mãos antes de começar a escrever e desenhar no muro.

Taehyung não tinha muito talento no desenho, mas nunca deixava de desenhar já que seus desenhos sempre ficavam engraçados então resultava em gargalhadas junto de seu amigo. Pichar muros por aí, durante a noite, sem a permissão do proprietário, era errado e tanto Taehyung quanto Namjoon sabiam disso, mas isso não os impediam de infligirem a lei. Sentiam adrenalina correr pelas suas veias quando tinham que fugir de alguém, ou até da policia, como já havia acontecido. Esta noite, por sorte dos dois, a polícia não apareceu então ambos puderam pichar com tranquilidade.

Quando Taehyung resolveu voltar para casa, faltavam apenas duas horas para o sol nascer. Ao chegar em casa, encontrou em seu quarto, sua mãe dormindo encolhida na cama. O garoto suspirou após estar próximo da mãe e ver que a mesma possuía os olhos inchados causados provavelmente por algumas horas de choro. Pegou uma coberta de dentro do guarda-roupa e usou-a para cobrir a mais velha.

Antes de sair do quarto, Taehyung passou uma das mãos de leve sobre o cabelo de sua mãe e logo depositou um beijo na testa da mesma. De volta à sala de estar do pequeno apartamento, sentou-se no sofá ao lado de uma tomada e após conectar o celular ao carregador, conectou o cabo do carregador à tomada.

Passado alguns minutos, insatisfeito com o fato de estar fazendo nada, resolveu levantar-se para preparar algo para comer. Logo Taehyung já estava na pequena cozinha preparando café. Abriu um dos armários e de lá retirou um pacote de bolacha, sentou-se à mesa com um copo que continha café recém-feito. Depois de estar cheio, se direcionou ao seu quarto para pegar toalha e uniforme para tomar banho. Sua mãe ainda dormia em sua cama, só que agora estava aconchegada no cobertor. Já dentro do banheiro, despiu-se e entrou debaixo do chuveiro ligado. Ficou ali parado por longos e relaxantes minutos. A água quente batia contra seu corpo, deixando seus músculos relaxados. Adorava aquela sensação, era calmo, gostoso, quente e, de certa forma, hipnotizante.

Já de banho tomado e vestido com o uniforme, agora, secava seu cabelo com uma toalha em frente do espelho. Suspirou em sinal de irritação com seu cabelo que insistia em não ficar certo no lugar que queria. Além de estar com a maior parte das pontas do cabelo onduladas, havia algumas mechas que estavam em pé e que não se abaixavam como as outras por nada.

- Desisto! – bufou irritado e saiu do banheiro. Seguiu para o seu quarto e ao chegar ao mesmo, sua mãe que antes dormia, agora, estava acordada. Sentou-se ao lado da mais velha e a cumprimentou como de costume. Trocaram mais algumas palavras e logo a mais velha já estava fora do quarto do filho.

Taehyung organizou sua mochila e junto de um par de meias, pegou um par de sapatos e seguiu para fora do quarto. Passou pela sala ignorando seu padrasto que estava sentado no sofá com um copo de café em uma mão e na outra o controle da televisão; seus dedos apertavam os botões do controle sem parar a fim de encontrar algo para seu entretenimento.

O garoto largou seu par de sapatos ao lado da porta junto de sua mochila. Voltou para perto do velho sentado no sofá, porém, com o objetivo de pegar seu celular que está carregando, mas no meio do caminho, seu padrasto resolveu esticar a perna na frente do enteado que, sem perceber o movimento rápido da perna sendo colocada em sua frente, caiu batendo o cotovelo na mesinha de centro.

- Olha por onde anda, seu bicha! – o mais velho diz soltando um riso enquanto negava com a cabeça. Taehyung não deu a mínima para a tentativa de ofensa, a dor aguda que sentia no cotovelo era enorme; seus olhos estavam marejados por conta da forte dor. Levantou-se do chão massageando o local dolorido e pegou logo seu celular junto do carregador a fim de sair logo dali.

Esperou pelo sinal ficar vermelho para os carros e verde para os pedestres antes de atravessar a rua parando no portão do colégio. Chegou lá antes do horário dos portões serem abertos, era o único ali que usava uniforme do colégio. As poucas pessoas que passavam por ali era adultos a caminho do trabalho. Sentou-se no chão escorando suas costas na parede atrás de si. Tirou o celular do bolso e fones de ouvido da mochila, os conectou e deu play no aleatório.

Ainda com o celular em mãos checou o horário; faltavam exatos 27 minutos para os portões serem abertos. Soltou um riso soprado. O motivo foi perceber que não tinha dificuldade alguma na maioria das matérias, suas notas sempre foram altas o suficiente para passar de ano sem problema algum, porém havia uma em especial que não conseguia se sair tão bem quanto em matemática, essa matéria era Inglês. Taehyung era uma negação para a matéria, entretanto se esforçava para não ter notas vermelhas.

- Ei! Levanta do chão. – Taehyung levantou o rosto em direção da pessoa que lhe cutucava com o pé; era seu outro melhor amigo. O moreno se levantou da calçada e bateu as mãos na calça para tirar a sujeira que talvez tenha ficado ali por conta do chão sujo.

- Normalmente as pessoas dizem bom dia. – Taehyung diz empurrando o amigo de leve para o lado com o corpo.

- Sim, verdade, mas hoje o dia não está nada bom e só tende a piorar. – Jimin indaga. Taehyung ri.

- Por quê?

- Como assim “por quê?”? Hoje tem prova de química, ou você esqueceu? – o ruivo questiona enquanto caminhavam pelos corredores cheios de armários do colégio.

- Ah! Entendi. Relaxa, vai ser fácil. – dá de ombros.

- “Relaxa, vai ser fácil” – Jimin repete o que o mais novo disse tentando imitar sua voz. – Não me faça rir Taehyung!

- Não entendo o porquê de você ficar dando tanto piti com essas coisas. Se você não entender algo é só pesquisar na internet, já que ler livros é algo que você não curte muito.

- Se fosse tão fácil assim... – o ruivo resmunga destrancando seu armário enquanto Taehyung fazia o mesmo com o dele ao lado; eles tiveram a sorte de terem seus armários um do lado do outro neste ano.

Durante as duas primeiras aulas, Taehyung quase não prestou atenção em nada que era dito pelos professores, pois ficou pensativo. Seu corpo estava ali, mas sua mente viajava totalmente. O destino dessa viagem era o garoto de cabelos negros da noite passada. Perguntava-se se ele estaria bem e também o que havia acontecido com ele para ter sido... Espancado? Talvez essa não seja a palavra certa para usar por ter um significado – talvez – forte, mas para o garoto ter desmaiado, só pode ter sido isso a acontecer realmente. Despertou de seus pensamentos com o sinal da troca de aulas soando alto. Olhou para os lados vendo alguns dos alunos rezando, outros lendo algo em seus cadernos. Riu da cena. Agora era a aula de química, ou seja, seria prova.

- Você vai me passar as respostas, né Tae? – Jimin indagou virando-se para trás.

- O quê? Não. – respondeu meio desorientado.

- Kim Taehyung! – falou bravo. – Eu sou seu hyung, então você deve me passar as respostas!

- Você fica tão fofo quando quer bancar o autoritário. – Taehyung levou sua mão até o rosto de Jimin apertando sua bochecha enquanto sorria para o mais velho.

- Eu estou falando sério, não brinque com fogo Kim Taehyung!

- Chamar-me pelo nome completo não está me intimidando caso esse seja seu objetivo. – piscou.

- Af, que ódio de você. – bufou virando para frente. Logo o professor de química entrou na sala dizendo que queria ver apenas lápis, borracha e caneta encima da mesa, então em poucos minutos a sala se encontrava em completo silêncio.

Era a hora do intervalo, Taehyung estava no banheiro parado na frente do espelho. Passava água em seu rosto para conseguir manter-se acordado até chegar em casa. Jimin não estava ali com ele, o garoto ruivo ainda estava bravo com o lance da prova então preferiu deixar o amigo sozinho no banheiro e ir direto para o refeitório.

Ao sair do banheiro, Taehyung, durante todo o percurso até o refeitório, ficou olhando para cada pessoa que passava ao seu lado. Ele buscava um rosto, para ser mais especifico, o rosto do garoto de cabelos negros. Não o encontrou. Falhou em sua missão. Derrotado, sentou-se junto de seu amigo assim que o viu em uma mesa afastada comendo e conversando com uma garota. Ele conhecia aqueles cabelos longos e coloridos de longe.

- Oi gente. – Taehyung fala já sentado na mesa.

- Que cara é essa Taehyung? – a garota dos cabelos coloridos num estilo degrade rosa, raiz escura e as pontas mais claras, questiona.

- Eu não consegui dormir. – deita sua cabeça na mesa.

- Então SooJung, como eu estava dizendo antes de uma certa pessoa chegar...

- Ah, Jimin! Não acredito. – Taehyung levanta sua cabeça numa rapidez que o fez sentir tontura pelo ato repentino. – Vai ficar assim mesmo comigo por causa da prova?

- Vou sim. – responde bravo. – Agora, se me dá licença, vou seguir com o meu diálogo.

- Tá bom então. – o moreno levantou-se. – Infantil.

- Ah, por favor, vocês dois! – SooJung diz de braços cruzados enquanto revezava seu olhar entre os dois mais novos que si. Taehyung ignorou o olhar da mais velha e saiu andando para fora do refeitório. O sono estava começando a deixa-lo com dor de cabeça.