História Fernando - Capítulo 7

- Acho que você não deveria fazer isso. – Ouvi Omar dizer assim que cheguei próximo à porta da sala de Fernando.

- E o que eu devo fazer Omar? O meu pai vai ficar maluco se descobrir que contratei o Dr. Marcos de novo. – Falou Fernando com a voz chorosa.

- E com razão não é? Você precisa esquecer a Márcia, porque infelizmente ela já te esqueceu a muito tempo.

- Eu sei, mas não faço isso por mim. É pela Rebeca e o Victor, eles merecem ter a mãe na vida deles.

- Mas a Márcia não os merece. – Disse Omar com o tom de voz mais calmo. – Você precisa seguir em frente, já se passaram tantos anos é hora de recomeçar sua vida amorosa.

- Estou tentando. – Respondeu Fernando em meio a um suspiro.

- Com a Letícia? – Perguntou Omar e nesse momento meu coração disparou. – Ela parece ser uma boa pessoa.

- Sim ela é... A Letícia é maravilhosa...

- Mas? Pela forma como você disse definitivamente existe um “mas”.

- Eu estou com medo. – Disse Fernando. – Porque a Letícia é diferente e eu acho que realmente estou gostando dela, mas ao mesmo tempo eu ainda não a conheço...

- Ela não vai magoar você. – Interrompeu Omar.

- Como pode ter tanta certeza?

- Porque a Letícia não é a Márcia, Fernando. Não a perca pelo seu medo.

Após ouvir aquilo eu senti uma dor no peito, um aperto que fazia com que eu tivesse vontade de chorar. Corri para o banheiro e me tranquei. Meu coração estava um misto de sentimentos e eu não sabia mais o que fazer. Não queria magoar Fernando, mas ao mesmo tempo sinto que não consigo confiar nele. As coisas seriam muito mais fáceis se ele fosse o homem que eu esperava que fosse, frio, manipulador e calculista, mas Fernando era doce, gentil e carismático. O meu maior desejo era empacotar as minhas coisas e ir embora da cidade, esquecer Fernando e tentar me convencer de que a morte do Rodolfo se deu devido ao assalto, afinal, tinha grandes chances de ser apenas isso.

Fechei os olhos na tentativa de afastar todos aqueles pensamentos, e algumas lembranças passaram na minha cabeça assim como um filme. Rodolfo nunca se contentava em pensar que algo fosse de certa maneira, ele sempre buscava ter certeza e não descansava enquanto não descobria toda a verdade, e isso era uma das coisas que eu mais amava nele. Rodolfo tinha voz, e ele fazia o possível e o impossível para ser ouvido e tentar fazer a diferença. Eu deveria fazer o mesmo, por ele.

Lavei o rosto e ajeitei a minha roupa caminhando em direção a presidência. Omar não estava mais lá, o único na sala era Fernando que olhava pensativo para o nada, quando me ouviu chegar ele me olhou com ternura e senti meu coração se acelerar novamente.

- Bom dia. – Disse levantando-se e caminhando em minha direção. Fui surpreendida com um selinho.

- Bom dia. – Respondi sorrindo.

- Chegou um pouco atrasada hoje não é mocinha? – Falou de forma brincalhona.

- Eu estava no banheiro. Desculpe-me.

- Não tem problema, eu estava só brincando. – Disse enquanto alisava os meus braços. Eu preciso conversar com você sobre o balancete. – Falou e fez sinal para que eu me sentasse.

Fernando se sentou em cima da mesa próximo a mim.

- A Carolina contou para o Omar que você contou para ela sobre maquiar o balancete e o Dr. Marcos...

- Desculpa Fernando. Eu não tinha nem ideia de quem era o Dr. Marcos e...

- Calma, não precisa se desculpar, eu ia te contar quem era ele de todo jeito, e também ia contar para o Omar e Carolina que o balancete seria maquiado. Vocês duas só adiantaram as coisas. – Ele sorriu e segurou na minha mão. – Eu não procurava pela Márcia desde o dia em que Carolina havia me contado que ela estava em outro país, mas ano passado a Rebeca se formou e ela não tinha uma mãe para ajudar a escolher o vestido de formatura. Claro que eu me candidatei, mas ela disse que não seria a mesma coisa. E ela tinha razão, por mais que eu me esforce eu nunca serei a mãe dela. Eu nunca serei o suficiente. – Falou Fernando e pude notar que algumas lágrimas começaram a descer, as quais ele rapidamente enxugou.

- Não diga isso. – Falei apertando a sua mão. – Você é mais que suficiente e tenho certeza que eles estão mais que satisfeitos por terem você. E sim, eles mereciam uma mãe, mas a Márcia não os merece.

- Foi o que o Omar disse. – Falou Fernando.

- E ele tem razão. Eu daria tudo para ter tido um pai como você.

- Você não se dava bem com o seu pai? – Perguntou.

- Sim, meu pai era o melhor, assim como a minha mãe, mas infelizmente eu os perdi aos seis anos de idade. – Expliquei.

- Eu não tinha ideia. Sinto muito.

- Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim. – Falei de forma divertida tentando quebrar aquele clima tenso.

- Eu adoraria saber.

- E eu adoraria que você soubesse. – Respondi.

Ele se aproximou e me beijou. Um beijo calmo, porém bastante demorado o qual apenas paramos por termos perdido o fôlego.

- Eu não terminei de te falar o que eu ia falar. – Disse Fernando em meio a uma risada.

- E o que é? – Perguntei.

- Eu não quero que você maquie mais o balancete.

- Tem certeza?

- Sim, eu preciso ser honesto com meus pais, eles vão brigar comigo, mas...

- Talvez a gente não precise maquiar o balancete para que eles não descubram. – Falei.

- O que quer dizer? – Perguntou Fernando parecendo estar confuso.

- Bom você já repôs o dinheiro certo? E se pagarmos esse dinheiro a outro Dr. Marcos? Basta mudarmos os dados, e não será exatamente uma mentira afinal gastamos o dinheiro dá empresa com um Dr. Marcos.

- Tudo bem, sua ideia é interessante, mas onde vou arrumar um Dr. Marcos que me faça gastar R$7.000?

- Eu conheço um, mas não sei se você vai gostar... – Falei com um pouco de receio.

- Por que não?

- Ele é cirurgião plástico, um dos melhores da cidade. Uma amiga minha colocou silicone com ele ano passado e foi exatamente R$ 7.000, então já que a Rebeca...

- Não. – Falou Fernando apressadamente.

- Sim! – Gritou Rebeca aparecendo na sala do nada.

- A quanto tempo você ta ai criatura? – Perguntou Fernando assustado.

- Tempo o suficiente para ouvir vocês falarem de maquiar balancete e a ótima sugestão da Letícia. Eu te amo Letícia. – Falou ela me dando um forte abraço o qual eu logo correspondi. – Eu faço esse sacrifício, eu coloco silicone para o vovô não descobrir que você andou procurando a bruxa da Márcia.

- Rebeca, por favor, ela é sua mãe. – Advertiu Fernando.

- Não ela não é, mas não vamos falar disso, vamos falar de assunto bom. Meu silicone.

- Isso não vai acontecer, eu prefiro receber sermão do meu pai a de deixar fazer isso. Você não precisa disso, Rebeca.

- Você é um hipócrita, fala que eu não preciso disso, que o tamanho dos meus peitos são ótimos e você não para de olhar para os da Letícia! Duvido que se o dela fossem do tamanho dos meus você ficaria ai quase babando. – Falou Rebeca e rapidamente senti meu rosto corar.

- Então você quer por silicone só para os homens olharem para os seus peitos? Agora que eu não deixo mesmo!

- Não muda de assunto pai. Você acha os peitos enormes da Letícia atraentes sim ou não? – Perguntou ela. Rebeca definitivamente queria me matar.

- Isso não vem ao caso...

- Reponde pai. – Interrompeu. – Responde! Responde! Responde! – Insistiu.

- Ta, ta. Sim são lindos, são maravilhosos são muito atraentes, mas porque são naturais. – Disse Fernando e me olhou timidamente, depois disso tudo o que eu queria fazer era enterrar a minha cara em um buraco.

- Como você tem tanta certeza?

- Eu sou um homem experiente eu conheço...

- Me poupe dos detalhes. – Pediu Rebeca. – Ok, agora falando serio. Eu realmente quero colocar silicone, mas não para que os outros admirem. Eu me sinto insegura estando assim, essa mudança não será para ninguém além de mim mesma. Por favor, pai!

Fernando a olhou, me olhou, olhou para o teto, suspirou e finalmente concordou com um meneio de cabeça.

- Tudo bem, mas não é para colocar muito ok? Você só tem R$ 7.000.

Rebeca me olhou e vi nos seus olhos uma imensa alegria, ela estava feliz, muito feliz e eu me sentia feliz por ela.

- Obrigada pai! Muito obrigada! – Falou abraçando-o.

Fernando correspondeu e eu lentamente caminhei em direção a minha sala para poder deixa-los a sós.

...

O resto do dia passou rapidamente, eu e Fernando não tivemos muito tempo para conversar assuntos que não fossem sobre trabalho. Eu arrumei o balancete e ele mesmo contrariado ligou para o Dr. Marcos e marcou a cirurgia da Rebeca, devido a agenda cheia do médico a operação aconteceria daqui um mês. Fernando comemorou achando que daria tempo de Rebeca desistir de tudo isso.

Estava quase dando o fim do expediente quando Omar chegou agitado na sala da presidência.

- Vocês... Não... Vão... Acreditar... No... Que... Aconteceu. – Falou pausadamente por estar ofegante devido à suposta correria.

- O que? – Perguntamos ao mesmo tempo, confesso que estava muito curiosa.

- Acabaram de ligar da HBO, eles gostaram do nosso trabalho e estão pensando em nos contratar para dirigir a abertura da nova série deles.

- Isso é maravilhoso! – Gritou Fernando abraçando Omar.

- E o que precisamos fazer para que nos escolham? – Perguntei ao lembrar que Omar disse que eles estavam “pensando”.

- Essa é a parte complicada. – Falou Omar sentando-se em cima da mesa de Fernando. Ao ver isso Fernando rapidamente o empurrou. Omar resmungou algo inaudível e sentou-se na cadeira. – Duas pessoas precisam ir amanhã para Los Angeles representar a empresa. O evento vai ser às 13h então quem for vai ter que ir hoje. – Completou Omar.

- Ou, melhor agora não é? Quem a gente manda? – Perguntou Fernando.

- Você vai ter que ir Fernando. – Falou Omar. – Eles exigiram que um dos representantes fosse o presidente. Eu infelizmente não vou poder te acompanhar porque tenho a reunião com aquele pessoal dono da marca de lingerie. O Luigi vai começar a filmar o comercial de fraudas amanhã, então eu sugiro que vá você e a Letícia.

- Eu? – Perguntei assustada. Não esperava por essa.

- Sim, você é a assistente do Fernando e mesmo estando a pouco tempo na empresa já sabe bem como ela funciona. – Disse Omar.

- Mas...

- Ele tem razão. – Interrompeu Fernando. – Você esta com seu passaporte e visto em dia? – Perguntou. E sim, eu estava.

...

Aquela viagem me pegou completamente de surpresa, mas eu percebi o quando era importante para Fernando e para a empresa, por isso resolvi não questiona-la. Assim que aceitei ir vim direto para a minha casa e Fernando foi para a dele. Omar conseguiu duas passagens de um voo direto para Los Angeles as 20h. Eu tomei meu banho separei meus documentos e arrumei minhas malas em menos de uma hora. Para não ter que deixar o meu carro no aeroporto peguei um taxi.

Fernando fez o mesmo e quando cheguei ele estava me esperando do lado de fora. Entramos no aeroporto e no meio do caminho ele segurou na minha mão. Mesmo sendo algo simples confesso ter ficado surpresa e um pouco desconfortada, mas fiz de tudo para que ele não percebesse.

- Você gosta de aviões? – Perguntou.

- Não, mas eu me acostumei com eles. – Falei e ele sorriu.

Fizemos o check-in e ficamos aguardando a chamada para o nosso voo. Fernando estava de blusa social, mas sem gravata e por algum motivo que só Deus sabe qual ele conseguia ficar ainda mais atraente assim.

Entramos no avião e eu pedi para que ele fosse na janela, por mais que estivesse acostumada com aviões eu não tinha estomago para ficar observando a altura em que estávamos.

Eu e Fernando escolhemos um filme para assistir, eu me aconcheguei no ombro dele e mesmo achando o filme interessante o cansaço de um longo dia de trabalho falou mais alto e eu acabei adormecendo.