História Fetiche - Flores e vícios

Depois que meu pai foi embora passei longas horas pensando em tudo o que ele falou, era muita loucura, de uma hora pra outra descobri que minha mãe era fugitiva da justiça e meu pai, que eu julgava um velho bêbado e inútil literalmente salvou minha vida... Como se processa algo assim?

Também, quem sou eu pra julgar o vício de alguém? Sei que meu passado me condena, afinal sou viciada em baladas seguidas de sexo casual, como muitos o são mas isso de não se proteger realmente foi burrice da minha parte... Não consigo parar de pensar que por essa mania estúpida um bebê inocente, o meu bebê não teve a chance de nascer, parece doideira da minha parte mas é assim que me sinto.

No dia em que receberia alta acordei vi algo lindo assim que abri os olhos: Um ramo de tulipas improvisadas num copo de água, era algo tão simples e verdadeiro que meus olhos se encheram de água, sim, estou tolamente sensível ultimamente, devem ser os hormônios descontrolados, eles enlouquecem qualquer um e se os homens sentissem isso uma vez por ano nos levariam mais a sério! Foi assim, divagando coisas sem sentido que ele me encontrou, cabelo bagunçado, olheiras fundas e aquele ar de quem não dorme há pelo menos umas 20 horas, outra coisa na minha lista de pecados, eu acho...

-Oi Ka, como vai? Sua voz cansada me deu uma pontada no peito.

-Melhor, eu acho....

-Eu vim te buscar, você já deve estar cansada desse lugar.

-Na verdade sim mas você não tinha que estar no consultório a essa hora?

-Que tipo de amigo colorido eu seria se te deixasse numa hora dessas? Além do mais foi meu filho que te deixou nessa situção

-A culpa foi minha e da minha vida desregrada, eu assumi um risco e tive meu castigo, terei que viver com isso!

-A responsabilidade foi nossa, 50 por cento da culpa é minha.

-Você falou com meus pais? Falei só pra mudar de assunto mesmo.

-Passamos metade da noite juntos, eles estavam como nós, cada um assumindo sua cota de negligência, há tempos eu não via pais que amassem tanto uma filha como eles.

-Você sabe de toda a história?

-Sim, eles me contaram todos os detalhes sórdidos da sua vida, e eu pensando que minha família era complicada! Quase me irritei com ele mas pelo seu semblante pude perceber que ele fazia uma piada, só pra amenizar tudo, como se fosse possível!

-Aliás, me ocorreu que eu sei bem pouco sobre você, parece injusto.

-Nada muito empolgante, na verdade fui criado por um lar adotivo depois que meu pais morreram num acidente de barco, do qual só escapei porque peguei uma gripe na véspera da viagem, salvo por uma gripe, foi bem irônico.

-A vida adora nos pregar peças...

Ficamos conversando até o médico de plantão chegar e me dar alta, depois de muita insistência concordei em ir pra casa do Thomas, ele e meu pais, já grandes amigos, decidiram que era melhor eu ficar lá por uns dias, engraçado como ele parece os ter conquistado tão rapidamente, logo eu descobriria o motivo.

-Ah, Katrina, tem uma coisa que eu esqueci de te contar...

-E o quê é?

-Seus pais acham que a gente tá namorando.

-Como é que é? Thomas, você ficou louco?