História Fifteen Dates - Dois

O comportamento humano sempre fora fascinante para Kyungsoo. Os instintos, as ações, os sentimentos, despertavam duvidas inquietantemente anormais nele, que durante a adolescência decidiu cursar psicologia. Desvendar os mistérios por trás das pessoas era como uma arte para si, por menor o detalhe que fosse, este poderia desencadear diversas emoções, como por exemplo, uma gota de tinta vermelha podia arruinar um balde de tinta branca, ou como o fio de cabelo branco que ele havia encontrado em seu cabelo mês passado o fez colorir todos os fios de volta ao natural preto.

Crise de meia idade aos 23 anos, tsc... Só denunciava ainda mais as peculiaridades de Kyungsoo.

Formou-se gloriosamente com uma nota 10 em seu TCC, que teve como tema a paixão. Esse fenômeno danado que revira nossa vida de cabeça pra baixo, fonte de inspiração para todas as formas de arte, o estopim do tão velho e conhecido amor – sentimento que nem mesmo Kyungsoo saberia definir, nem que estudasse a vida inteira.

Se suas divagações sobre a vida fossem equivalentes em quantidade à dinheiro, ele estaria muito bem de vida. Mas como não eram, agradeceu as forças divinas quando conseguiu entrar num projeto da faculdade em parceria com uma empresa, que seria remunerado.

Em síntese, o objetivo era criar um aplicativo de relacionamento que de fato funcionasse. Que entendesse os mais íntimos desejos da pessoa, até mesmo os que ela nem sabe definir que tem. Não seria necessariamente para relacionamentos amorosos, era também para as pessoas que se sintam sozinhas de alguma forma. Focando inicialmente na Ásia, devido as taxas altas de suicídio e a cultura fria, que afasta os indivíduos uns dos outros.

O projeto envolvia alunos de diversos cursos, incluindo o seu amigo de disciplinas passadas, Kim Minseok. Ele era o seu amigo de exatas, que compartilhava da sua mesma paixão por desvendar, só que pelos números, pois segundo o mesmo, eles não eram instáveis como os humanos, e bem, poderiam ser resolvidos com uns dias de cálculos.

A fase inicial do projeto requeria pesquisa e bastante paciência. A coordenação escolheu cinquenta voluntários para os experimentos. Homens e mulheres de todas as classes sociais, diferentes religiões, opostos posicionamentos políticos, e das mais variadas faixas etárias.

Foi arduamente trabalhoso analisar tanta gente ao longo de um ano. Houveram imprevistos, como o afastamento do projeto de sua colega Luna, que se tornou prejudicial ao andamento das análises porque se apaixonou por um dos voluntários, dando fundamento ao argumento de Minseok que pregava o quanto “os humanos são imprevisíveis e irresponsáveis” – característica que fascinava ainda mais Kyungsoo.

Dos cinquenta voluntários, apenas trinta chegaram à segunda fase. Foram divididos em dois grupos, A e B, o primeiro na responsabilidade de Kyungsoo, e o segundo na da Dra. Jiyoon. A partir de agora haveria um envolvimento mais direto com os voluntários. Eles passariam uma semana com cada um, para observar as suas singularidades e como o aplicativo poderia ajudar. O esquema funcionaria como encontros.

Quinze encontros.

Por gosto pessoal, Kyungsoo escolheu um pitoresco restaurante italiano que ficava próximo de sua casa. Algo lá lhe deixava mais tranquilo e amenizava a pontinha de ansiedade que fazia questão de aparecer sem ser chamada antes dele encontrar com os voluntários.

Dependendo da pessoa, ele escolhia um roteiro de passeio com apenas uma característica em comum: um jantar, às quintas, na mesa perto da janela, no Spazzio.

O contato direto com as pessoas era algo que ainda o deixava nervoso. Era como se fosse entregue em suas mãos algo delicado e valioso demais, exigia uma responsabilidade além do usual, e mesmo com o histórico de desastrado ao qual fora atribuído, estava se saindo bem.

Kyungsoo era apaixonado pelo que fazia. Era dedicado e concentrado, sempre recebera elogios por conta dessa característica.

E por ser assim, tão concentrado no que fazia, perdia sua percepção de campo e com ela, o rapaz que tentava desvendá-lo.