A menina ainda precisou ficar alguns dias a mais na enfermaria, pois T’mar nunca havia tido contado com crianças, ainda mais tão pequenas e, por mais boa vontade que tivesse, lhe faltava o instinto.
McCoy dizia que T’risa era seu pequeno presente e dedicava cada minuto livre a cuidar da menina. T’mar igualmente se mantinha cada dia mais empenhada em proporcionar bem estar á sua pequenina.
Ninguém poderia afirmar que a Enterprise era o lugar perfeito para se formar uma família, para se criar uma criança. T’mar havia crescido em um cargueiro e não via mal algum em ver sua filha dando os primeiros passos entre laboratórios e alojamentos.
Mas ela sabia que chegaria o momento que a Enterprise não seria mais adequada. T’risa precisaria de mais. Melhor e mais efetiva educação.
A menina já se mostrava bastante eloqüente. Era esperta e tinha um dom de negociação que deixava até Jim Kirk constrangido.
Como o fato de não ceder ás ordens de sua mãe de que deveria cortar os cabelos, de que deveria ao menos deixá-los presos.
Mesmo com todos os excelentes mestres que ela poderia ter á bordo da nave, sua pequena família sabia que o dia que ela deveria partir chegaria logo.
Spock se fazia o presente na educação da menina tanto o quanto poderia, mas ainda assim não era suficiente. Ela precisava freqüentar uma escola, conviver com outras crianças, desenvolver adequadamente todos seus dons.
***
-Sr Spock, posso lhe falar?
A pequena se aproximava dele com semblante sério, quase pesaroso. No alto de seus 6 anos T’risa era a criança mais adulta que aquela tripulação já conheceu. Tinha seus arroubos infantis e seus momentos de pura irritação.
Aparentemente apenas Spock conseguia fazê-la tranqüilizar-se, concentrar-se, controlar-se.
Ele parecia ocupado em decidir qual o próximo movimento no tabuleiro de xadrez.
-Estou ouvindo, Srta T’Risa.-falou sem desviar o olhar.
A menina deu um ruidoso suspiro , claramente demonstrando sua frustração.
-Veja o que posso fazer!-insistiu batendo o pé no chão.
No momento que Spock desviou seu olha para a menina, esta ergueu a sobrancelha direita tão alto quanto pôde, mantendo uma expressão estóica em seu rosto.
-Fascinante T’Risa. Vejo também que está desobedecendo sua mãe andando por aí com os cabelos soltos.
-Papai gosta deles assim.
Ela fez uma breve pausa adivinhando o aborrecimento se desenhando nas feições do vulcano.
Por vezes ela achava divertido ver a maneira acalorada como conversavam e como as expressões cheias de emoção de McCoy pareciam aborrecer Spock
-Sr Spock, minha mãe disse que vamos nos mudar para a Terra hoje... Ela sempre ouve o que você diz...diga para ela que não desejo partir.
-Eu posso te instruir nas lições da Filosofia de Surak e te ensinar métodos eficazes para o controle das emoções e meditação T’Risa, mas não tenho autoridade pra ir contra as vontade de T’mar e McCoy...não tenho autoridade pra isto.
-Mas eu não desejo partir! –ela bateu o pé fechando as mãozinhas em punho- Não desejo! Não é justo! Tudo que eu conheço está aqui na Enterprise. Meus amigos, meu quarto...o Senhor...o que eu terei na Terra? –choramingou.
-Muitas outras coisas pi' t'sai(pequena dama). Vai aprender em uma escola com muitas crianças e excelentes professores.
A menina soluçou tentando não chorar.
-Nossos sentimentos e emoções são sempre muito intensas, T’Risa. Prometa-me que não descuide de sua rotina de meditação e continue as lições que vínhamos estudando. É importante.
- O Sr não poderá mesmo descer, Spock? Não ficará conosco? Ao menos alguns dias...-insistiu
-Não T’Risa. Meu lugar é aqui na Enterprise.
***
-Capitão, estamos nos aproximando da Doca Espacial da Terra.
A voz da Oficial de Comunicações chamava pelo intercon da enfermaria.
-Quanto tempo, Uhura?
-Trinta minutos, senhor. A Base informa que os tripulantes transferidos já se encontram na Doca para ingressarem.
-Obrigado Tenente. Kirk desliga.
- É a hora de dizer adeus, Jim.
-Não parece certo que vai nos deixar, Magro.
-Também custei a acreditar que um dia isto aconteceria, Jim...mas cá estamos. Agora não sou somente um médico! Sou um pai de família.
O médico falava tentando aparentar bom humor com a decisão de deixar a Enterprise, afinal ele vivia reclamando de estar em espaço profundo, de ter que usar o teletransporte. Estar em terra firme, mais precisamente servindo no hospital da Frota Estelar na Terra parecia de fato uma boa opção. Mas no fundo ele estava pesaroso. A missão inicial de 5 anos já havia acabado, porém havia se instalado nele já um gosto pela exploração.
Ele terminou de recolher alguns itens pessoais que ainda estavam na enfermaria e retornou ao alojamento que agora dividia com “suas elfinhas” como ele gostava de as chamar.
“-McCoy, não somos serem da mitologia da Terra...”
T’mar protestava e ele se divertia. A pequenina achava graça e curiosa queria saber o que são “elfas”.
-Falta colocar mais algum item em sua bagagem, Leonard?
-Só falta minha pequena fadinha. Onde está a T’Risa?-perguntou pegando a ultima sacola que pretendia levar á sala de transporte.
-Veio me questionar sobre nossa partida, expressou toda sua frustração e saiu .
-Foi procurar por ele...-sentenciou o médico tristemente.
-Ela estará na sala de transporte no horário correto, Leonard... Vamos que nosso tempo aqui está acabando.
***
Após vários minutos de conversação intensa, T’Risa conseguira que Spock ao menos se comprometeria a visitá-la uma vez ao ano, no dia de seu aniversário, e reforçou dizendo.
-E senhor é um vulcano e não poderá voltar atrás com este compromisso, correto?
-Farei o possível. Preciso conduzi-la neste momento ao transporte, ou sua mãe virá até aqui.
-E ela estará muito zangada. De acordo, vamos ao transporte
Spock e T’Risa andaram em silêncio até a sala onde todos a esperavam.
-Adeus Capitão Kirk –disse a pequena fazendo o símbolo do ta’al com a mão de dedinhos miúdos.
- Até logo T’risa. Nos veremos em breve... ou não quer mais ser ajudante o Capitão?
Os olhinhos da menina brilharam. Ela sentia um carinho muito grande por Kirk, ele era de fato muito inspirador. Fazia com que qualquer um quisesse entrar para a Frota Estelar. Ela procurou os olhos de Spock que a fitava com a mesma imparcialidade de sempre. Fechou o semblante e acenou afirmativamente com a cabeça.
Despediu-se de Scotty que vinha lhe mostrando cada vez mais detalhes sobre os motores de dobra da nave e se encantava com a facilidade que ela compreendia.
Deu adeus também a Sulu e Chekov através do sistema de comunicação da nave. Se despediu de Uhura com certo acanho, pois a tenente era a única que não lhe dirigia muita simpatia.
-Até breve Sr Spock!- falou com seriedade se dirigindo ao vulcano de pé á sua frente.
-Até breve pi' t'sai.-ele responde erguendo a mão e a saudando.
Andou sem muita convicção até o transporte e se junto á T’mar e McCoy.
Spock permaneceu com os olhos fixos na criança enquanto a imagem da família se esmaecia diante dos olhos de todos.
-Até logo...filha.
Spock murmurou quase inaudível. Ele sabia que não era um fim. Era o começo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.