KALEL apareceu na última hora. Estavam todos prontos para partir em direção ao castelo em prol da obtenção da queda do reino e a ascensão de Silky.
Todos os rebeldes olhavam atentamente para os dragões Dia e Noite, estavam confiantes com a presença deles. Os primeiros rebeldes marcharam seguindo Mira, Ayú e Caleb que agora não precisavam esconder quem eles realmente eram.
— Onde esteve, Kalel? — Silky perguntou preocupada com o sumiço dele o dia todo desde o fora que ele havia tomado. Ela sabia que poderia ter algo em relação a isso, mas preferia não dar essa certeza.
— Treinando. — Kalel respondeu com o sorriso de sempre que para surpresa de Silky não parecia estar magoado com nada.
— Vamos. Vá com Dia e eu vou em Noite. — Silky deu de ombros pela reação alegre e normal de Kalel passando as ordens.
— Sim, princesa. — Kalel sorriu para Silky e ela retribuiu simpaticamente.
Dia e Noite voaram e foram a frente. Olhando do alto, o começo da noite chegando e os vários rebeldes montados em seus cavalos espalhados entre as poucas árvores no campo. O tempo estava nublando no horizonte e a noite viria com uma forte chuva.
Durante o percurso até as proximidades do castelo Dia e Noite iam e voltava para manter o ritmo dos rebeldes a cavalo. Entre idas e vindas, Kalel e Dia se aproximaram de Silky.
— Sabe o que vai acontecer aqui, não é princesa? — Kalel perguntou com a voz fraca, como se tivesse medo de ofender.
— Sim. — Silky lembrou de Jurth, o homem que ela tirou a vida e cena tensa. — Como foi em Jurth.
— Só que centenas de vezes mais.
Ao imaginar centenas de corpos no chão por causa de uma guerra, uma palpitação forte veio ao peito de Silky que colocou a mão sobre ele de imediato como se tentasse amenizar a dor que sentiu. Ela não queria aquilo, nunca tinha pensado naquilo, mas tanta coisa tinha acontecido e o pior de tudo era saber que aquilo, por mais ruim que fosse, poderia garantir a liberdade dos pales.
Silky olhou Kalel, olhos assustados com o que tinha acabado de ouvir, mas persistentes ao seu comportamento sério e destinado. Olhou ao horizonte, as primeiras luzes da cidade de Palestra. Silky olhou para Kalel e ele assentiu com um movimento de cabeça. Está próximo de começar.
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Ariel acordou assustado, ainda sentia dor nas costas e além dela agora uma febre era sua companheira.
Abriu os olhos e se viu em meio a uma estrada cercada por árvores tão verdes que pareciam não ter fim. O verde era de grande contraste com a estrada de barro marrom. Ao olhar para os lados viu a carruagem no qual ele estava, a porta estava aberta e Ylle parecia procurar algo dentro dela. Do outro lado, o soldado que havia ajudado ele estava limpando a lâmina de sua espada e logo a colocou na bainha.
— Olha quem acordou. — Disse o soldado caminhando até Ariel com um cantil de água.
— Ariel? — Ylle se virou para ele. — Você está queimando de febre rapaz. Esse seu machucado só está piorando.
— Obrigado. Devo tudo a vocês, inclusive essa merda. — Ariel apontou para as costas.
— Ficar bravo não vai resolver nada. — Ylle retrucou. — Me fale onde está Silky.
— Eu não sei.
— Como assim você não sabe?
— Que ótimo, Ylle. Agora estamos ferrados de vez. Eu sabia que ia dar merda. — O soldado respondeu se virando e passando a mão no rosto preocupado.
— Eu não sei. A gente se separou, ''tá'' bem? Eu não faço a miníma ideia de onde ela está, mas tenho certeza que mais cedo ou mais tarde ela vai aparecer no castelo.
Ariel arfava de dor, as costas latejavam e a febre parecia aumentar seu cansaço. Ainda sentado encostado na árvore ele olhou para Ylle encarando-o.
— Vocês se parecem.... — Ariel comentou com dificuldade. — A pele clara, os olhos.... Não sabe o quanto fiquei feliz de poder falar com você dela. Ficarei mais feliz quando você a encontrar.
— E você? — Ylle perguntou.
— Eu? — Ariel olhou descrente para os lados. — Melhor eu não vê-la. Digamos que fiz coisas ruins que ela não vai aceitar.... Quero dizer... Ela não aceitou.
Ariel fechou os olhos após terminar de falar se lembrando de Silky e a dor no peito passou a incomodar mais do que a dor nas costas. Tal situação fez ele rir de si mesmo.
Ylle sentou ao lado de Ariel cruzando as pernas.
— Sabe porquê Silky cresceu entre dragões, Ariel?
Ariel ficou sério com a pergunta. Era uma novidade que ele não sabia, nem Silky sabia porque até onde ele sabia ela havia sido deixada para trás ainda criança. Respondendo a pergunta de Ylle, Ariel apenas fez que ''não'' com a cabeça.
— Eu também fiz errado em não ter ido buscar ela. Ou simplesmente ter deixado ela lá.
— Mas ao contrário de você, ela quer te ver. — Ariel sorriu. — Se ela me ver ela vai me matar.
— Mas ela quer me ver depois que eu a abandonei, não é mesmo?
— Você deve ter tido um bom motivo e ela vai querer ouvir isso de você.
— Exatamente meu jovem. Eu tive um motivo para isso e vou falar com ela. Eu não sei o que você fez para ela, mas você não me parece querer o mal dela. Até se arriscou para me encontrar e me falar dela. Seja lá o que você fez, você também teve um motivo.
A vida de Ariel correu diante dos seus olhos com o que Ylle havia falado. Sim, ele teve um motivo para fazer tudo que fez e seu medo de magoar Silky com tudo aquilo contra os da raça dela impediram que ele pudesse falar com ela.
— Eu tive.... — Ariel sussurrou ainda encarando Ylle.
— Eu era guardião da rainha Elloash, que também era minha irmã. Elloash era uma pale, mas o pai de Silky não. Ele era um humano, uma pessoa de bom coração e ele se apaixonou por minha irmã e quis casar com ela, mas muitas pessoas não gostaram disso. A união de um humano e um pale não foi bem-vista e um clima meio tenso entre as duas raças ficou iminente.
Não só Ariel, mas como o soldado agora prestava atenção nas palavras de Ylle.
— O rei Fardon queria mostrar que as raças podiam conviver em perfeita harmonia e assim se casou com minha irmã. Ele sempre fez um bom trabalho e tratou todos igualmente. Quando Elloash ficou grávida, todos esperavam um filho homem e humano e ameaças começaram a serem feitas contra o rei caso isso não acontecesse. Aquele clima de desentendimento só piorava entre as duas raças e quando Silky nasceu, uma linda criancinha pale com a cara da mãe o rei não soube o que fazer.
Ariel engoliu seco. Nunca tinha imaginado que tinha sido assim o império antes da escravidão. Sentiu um remorso pelos pais de Silky e já estava mal sem saber o que Ylle ainda falaria.
— Aos poucos o rei foi entrando em depressão sem saber o que fazer, como agir. Elloash tinha os dias mais difíceis de sua vida tomando a frente da situação, mas passou a não ser bem-vista pela maioria das pessoas do reino, ou seja, os humanos. Até os cinco anos de idade Silky viveu presa escondida de todos, ninguém poderia saber que o filho do rei era menina. A desculpa era que tinha morrido no parto, para amenizar a pressão popular contra. A coitada não teve muitos contatos na sua infância, sua mãe estava tão atarefada que mal podia vê-la, seu pai estava doente e mal saia do quarto. Eu fui seu guardião e criador. Cuidei dela o tempo que foi preciso até descobrir que de alguma forma descobriram a existência dela. Mercenários já estavam contratados para matá-la como se ela fosse culpada de toda a ignorância dessa gente.
Cada palavra entrava na cabeça de Ariel e ele se sentia ainda mal por ela. Tantas coisas ruins que ela havia passado e nunca soube. Sua vida toda foi uma aventura e ela nem sabia.
— Teberon tinha uma dívida comigo. — Ylle prosseguiu e notou que Ariel precisaria saber quem era Teberon. — Teberon é um dos dragões anciões deste mundo, um dos quatro. Em determinadas épocas os dragões te um ritual de iniciação e eleitos por outros como o futuro dragão ancião e isso quando eles ainda são filhotes. Houve um massacre durante esse ritual, muitos humanos e pales os caçavam na época e interferiram nesse ritual e Teberon ficou sozinho e eu o salvei enquanto a luta acontecia. Cuidei dele escondido nas masmorras do castelo, mas ele já era um ancião então podia manipular os dons e conforme foi crescendo eu não tinha como manter ele comigo. Antes de nos separarmos ele copiou minha sabedoria e assim aprendeu a falar a nossa língua e me agradeceu por salvar ele. Disse que no dia que eu precisasse de algo, que eu o procurasse. Bem... — Ylle respirou fundo. — Silky estava jurada de morte e eu não podia permitir isso. Sem consultar seus pais eu simplesmente a levei até Teberon e pedi que cuidasse dela, como eu cuidei dele. Que ensinasse ela a ser como uma mulher deveria ser e que a protegesse de todo e qualquer mal até um dia poder voltar para casa.
— Dia e Noite.... — Ariel disse sorrindo emocionado ao ligar as coisas.
— O que? — Ylle perguntou confuso.
— Dia e Noite são os dragões que acompanham ela. Dia é como uma verdadeira mãe para ela, ela fala nossa língua e ensinou tudo que ela deveria saber. Noite é seu guardião, isso explica o ciúme que ele tem daquela garota.
Ariel lembrou de todas as investidas de Noite para cima de Ariel quando ele se aproximava dela. Ficou emocionado com a história de Silky e queria mais do que nunca vê-la de novo. Abraçar ela e poder confortar ela, mesmo sem ela saber porquê. Ylle tinha a abandonado, mas ela perdoaria isso, porque talvez não o perdoasse se conversasse com ela.
Uma lágrima de emoção brotou em seus olhos, queri estar perto dela. A saudade de estar perto dela apertou no peito e ele se esqueceu totalmente da febre e da dor nas costas.
— Sério isso? — Ylle parecia não acreditar, mas sabia do que Teberon era capaz. — Não importa. Pelo visto Teberon cuidou dela como eu pedi, porém eu nunca pude voltar porque virei refém de Marcus depois que ele e mais um exército de rebeldes tomaram o reino.
— Mas porque você era tão livre assim dentro do castelo? Você me autorizou a entrar, andava entre os soldados e até mandava neles.
— Ariel.... Eu vivi como escravo pessoal por mais de 10 anos. Cansei de somente sofrer, então fiz coisas além de meus princípios para ganhar a confiança dele, que por sinal eu destruí quando saímos do castelo com você acreditando que você sabia onde Silky estava. — Ylle disse rindo. Não tinha mais o que fazer além daquilo.
— Então voltamos ao zero. — Ariel respondeu, mas nem deu muita ideia. Estava perdido nos pensamento em Silky, em poder vê-la.
— Se ela vem para o castelo, vamos ficar escondidos aqui perto. Não deve ser tão difícil ver dragões grandes por aqui. — Sugeriu o soldado que tinha ouvido toda a conversa.
— Melhor do que não ter o que fazer, Saron. — Ylle concordou com o soldado e se levantou. — Vamos sair daqui, Ariel.
— Não. Não consigo ir muito longe. Quanto menos esforço eu fizer melhor. Eu vou ficar por aqui.... — Ariel dizia com dificuldades. — Tentem encontrar algo para minha febre ou meu machucado que eu ficarei bem.
— Então vamos sumir com essa carruagem, Ylle. — Sugeriu o soldado e Ylle concordou.
Trotaram o cavalo para sair correndo puxando a carruagem em disparada para longe vazia. Ylle e Saron seguiram um dos lados da estrada em direção as proximidades do castelo com a promessa de buscar ajuda para Ariel ou ver talvez ver Silky. Eles sabiam que podia demorar até dias, mas mal sabiam que estavam tão perto.
— Ylle! — Ariel gritou com dificuldade e se levantou. — Se a ver, fala que quero vê-la, quero poder conversar com ela e contar tudo que fiz da maneira correta. Não quero que dê errado de novo.
— Falarei. — Ylle assentiu e logo saíram de vista enquanto Ariel entrou por uma trilha para mais dentro da floresta na esperança de encontrar água e ervas para se tratar.
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