História Filhos da Cerejeira - Capítulo 26: Sorte Com a Morte, Azar Com a Vida

Unidade 3: A Destreza do Chacal

Capítulo 26: Sorte Com a Morte, Azar Com a Vida 

Katheryne está preocupada com Raphael e não sai de perto da grande pedra que o prende. Richard coloca as duas mãos na pedra para pelo menos tentar entender como a técnica funciona, mas não obtém resultado. Estressada com todo esse acontecimento, Fallin deseja boa sorte para libertarem Raphael e, diz que vai até o Egito para encontrar com um velho conhecido. Alguém que ela acredita que pode consertar sua espada, porém ela não quer ir sozinha e chama Hatem e Marmalade para acompanhá-la. Ryundai está se sentindo incomodado por dentro, já que suas visitas foram recebidas com tantas coisas ruins de uma só vez. Ele também não para de pensar na marca de Hassam que agora está tatuada no peito de Hatem, ele sem dúvidas acredita que não virá boa coisa disso... 

No Egito, os três estão em uma cidade muito distante da pirâmide de Anúbis, por isso não há tanta preocupação. Eles estão procurando por um garoto que tem dons como ferreiro, embora ela não o veja há longos anos, porém ainda se lembra de onde ele mora, mas ao chegar perto vê que a casa está caindo aos pedaços e abandonada. Fallin não acredita no que vê, mas insiste em ir lá. 

Ao entrar na casa, ela se depara com itens de ferreiro por todos os lados e com um fogareiro aceso, sinais de que alguém esteve ali. Alguns objetos se movem sozinhos, mas isso não assusta Fallin e Hatem, já Marmalade... Outros objetos são jogados com força e dessa vez quem fica com medo e Hatem. 

--- Muito bem Dan! O show acabou! Pode aparecer! – Fallin fica olhando pros lados procurando onde o Ferreiro Dan irá aparecer. 

--- Não precisa ter medo. – Marmalade sorri e recolhe o que foi arremessado. – Isso sempre acontece, preciso ser mais de vagar. 

--- Hãm? Marmalade o que... – Hatem usa o Udyat para olhar para Marmalade e vê uma outra pessoa. – Marmalade?! 

--- Por favor, me desculpem. Eu não quis assustar, mas agora que eu não tenho mais corpo eu precisei usar o da sua amiga para poder me comunicar com vocês. – Acaba de recolher e fica de frente pros dois. 

--- Então você está... – Fallin ainda não entende a atual situação. 

--- Morto? Sim. Sofri um grave acidente enquanto moldava algumas armas e morri, mas eu já esperava que isso fosse acontecer então eu usei uma técnica que me permite viver como espírito para sempre. Posso animar várias coisas, embora possuir corpos ainda seja complicado. – Enquanto Dan fala, Hatem fica gelado pensando nas últimas palavras de Natália quando ela disse que estava planejando sua própria morte. – No que eu posso ser útil? 

--- A minha espada. – Fallin materializa as duas partes da espada. – Não sei como, pensei que fosse mais resistente. 

--- Que incrível! – Dan pega os pedaços. – Uma espada que se nutre de almas. – Sem jeito. – Acho que eu não poderia estar tocando nisso. – Sorriso amarelo. – Mas posso dar um jeito... – Dan junta as duas partes da espada e logo elas se unem ficando inteira novamente. 

--- Quanta facilidade... – Hatem ainda está pensativo. 

--- Muito obrigada Dan, de verdade. Estou muito agradecida, mas se você puder devolver a minha amiga eu ficaria ainda mais feliz! – Sorriso amarelo. 

--- Ah! Claro! – Dan junta as mãos e Marmalade volta a si, um pouco sonolenta. 

--- Marmalade? Tudo bem? – Fallin pega a espada da mão dela. 

--- Que viagem... Parece que... CUIDADO! – Marmalade aponta para Dan que está atrás de Fallin e Hatem em seu corpo original. 

Quando morreu, Dan tinha uma idade próxima à de Fallin e os outros, portanto, morreu como um garoto. Ele tenta conservar o próprio corpo, mas a deterioração é inevitável. Feridas, fraturas expostas, um olho destruído e pele necrosada fazem parte do corpo de Dan que apesar disso tudo nunca foi alguém de reclamar da vida, aliás, costuma estar sempre de bom humor. Além de ser bom na fusão de armas, Dan também tem uma força assustadoramente maior que a de Hinatsu, mas evita conflitos. 

--- A coisa foi feia né? – Fallin com olhar repugnante. 

--- Bastante. – Sorriso. – Se precisarem de mais alguma coisa podem contar comigo. 

--- Ah... Com certeza devemos precisar... Estaremos na Hungria. Até mais. – Os três de despedem e saem da casa.  

Marmalade ainda sente arrepios por ter ficado unida com Dan e, Fallin se sente renovada com a restauração da sua espada. As loucuras naquele dia? Ah não, ainda não acabaram. Alexander para os três. 

--- Um mago, uma bruxa e uma dançarina! – Sorridente. – Hatem, Fallin e Marmalade... – Sonolento. – Sofia, Bryan, Zac e Raphael... Morgana, To-i, Leona e Jill... – Desperta. – QUE COISA! HAHA! Olá aventureiros! Sou Alexander Lerli, o cigano. – Beija a mão de Marmalade e Fallin. 

--- Você é estranho... Tipo muito estranho. – Fallin fuzila Alexander com nojo nos olhos.  

--- O que significam esses nomes que você disse? – A magia do Udyat fica ativa nos olhos de Hatem. 

--- É que de vez em quando eu esbarro nessa coisa de linha do tempo. – Ri. – Sabe como é né? Ossos do ofício. 

--- Sei, sei... Agora precisamos ir. – Hatem sai andando, mas Alexander segura seu braço. 

--- O grande Arquimago Hatem Mahoseth está negando meus dons? – Fala próximo ao ouvido dele. – Ela vai voltar. A dona desses olhos. – Sorri. 

--- Não tenho medo de Natalia, sou perfeitamente capaz de acabar com ela novamente! – Sério. 

--- Mas será mesmo? Será capaz também de acabar com o verdadeiro amor dela?! Seria Hatem, o salvador do universo se vingando definitivamente das pessoas que destruíram as vidas de seus pais?! Não! Jamais! – Alexander pega um baralho no bolso enquanto os três olham para ele como se ele fosse um estranho. – Vamos, vamos! Tire uma carta, qualquer uma. – Abre as cartas e Hatem somente aponta. – Não remova! Eu sei o que ela diz! Ela diz que você fará uma longa viagem pelas sombras que agora se mostra em seu peito! 

--- Isso que está em mim não é nada demais. Vai sumir em alguns dias. – Coça o peito. 

--- A marca é eterna! Nem mesmo o próprio senhor das sombras seria capaz de fazê-la desaparecer. Por falar em viagem! Todos vocês voltarão à Nova York em breve, não precisam sentir saudades de lá, é um lugar encantador, mas qual de vocês... – Passa a mão no rosto de Marmalade. – Estará disposto a presenciar uma explosão luminosa que irá devastar todo o local?!  

--- Você não fala nada com sentido. – Marmalade se afasta um pouco dele. 

--- O mundo não é uma caixinha de doces e unicórnios, pequena Marmalade. Se eu fosse você correria atrás do tempo perdido! O tempo perguntou ao tempo quanto tempo ele ainda tinha. Então o tempo respondeu ao tempo que seu tempo seria eterno mesmo não estando sempre ao lado do tempo. O tempo então foi recebido com uma rosa com espinhos e por fim o tempo morreu para salvar o tempo, pois o tempo já havia esquecido os erros daquele tempo e, também de quando tempo e tempo ainda eram um único tempo. Pequena Marmalade. – Sorri. 

--- Já vi que não vou conseguir dormir hoje pensando nisso... Deu um nó na minha... – Marmalade é interrompida por Alexander 

--- Elegante e alto! Um homem apaixonado pelas mais belas artes estará em seu trono degustando o sabor das uvas, pois ele sabe quem você é e de onde veio a bruxa Fallin. – Guarda as cartas. 

--- Cara cala a boca! Vamos embora logo! – Irritada, Fallin puxa Marmalade e Hatem pelos braços. 

--- Já sinto falta daquela que amo! Minha pobre odalisca está meditando em prol da sua habilidade magnífica! Pelo menos o eu verdadeiro não está aqui e logo adormecerá na tenda da Deusa da Lua. – O corpo de Alexander se desfaz em várias cartas de baralho. 

--- Só loucura que aparece! Tem horas que eu acho que tem um tipo de divindade brincando com gente! – Fallin esbarra em um gato laranja de duas caldas. – É muita coincidência! Chega desse lugar! – Fallin, Marmalade e Hatem desaparecem, porém para a surpresa deles quando chegam à frente da mansão se deparam com Alexander falando com os outros. – Só pode ser brincadeira... 

--- Olha só. Vocês foram rápidos também. – Sorri. 

--- Me esquece. – Fallin vai pra dentro da mansão. 

--- Aliás, Grande Criador, eu posso ajudá-lo a libertar seu filho. – Olhando para Katheryne. – Um menino muito especial que será amado até pela besta do abismo que não nos agrada dizer seu nome. 

--- Nossa... Seria muito bom saber como ajudar Raphael, acho que não há nada que possamos fazer. – Diz Ryundai. 

--- Quão poderosa é Lua? – Olhando para o céu. – Quão quente será o Sol? Quanto deve doer ficar solitário sem a pessoa amada?! Trocas! Trocas! Equivalentes e justas! Uma mão pode lavar a outra, mas juntas batem palmas! – Alexander põe a mão sobre a pedra de rubi que aprisiona Raphael. – Uma meditação de horas é necessária para alguém como eu, não muitas, mas o suficiente até que meus olhos se abram contra minha vontade para ver que duas pessoas nesta casa irão morrer! – Todos se assustam. – Assim homem e máquina triunfarão naquela noite tão triste! Conceda sua majestosa moradia para um bobo cigano como eu e, juntos bateremos palmas! 

--- Se você quer passar uns dias... – Ryundai olha pros outros e vê que Hatem e Marmalade estão balançando a cabeça pra ele não deixar Alexander ficar. – Tudo bem, pode... – Um brilho roxo sai da mão de Alexander e então Raphael é libertado em estado ofegante. – Ficar... Raphael! – Ryundai e Katheryne correm até ele. 

--- Que droga... – Raphael tenta se levantar. – Muita gente aqui... – Olha para Alexander. 

--- Filho... – Katheryne já se chateia com o jeito de Raphael. 

--- Vai voltar tudo a ser como... – Ryundai e Katheryne são abraçados por Raphael. 

--- Obrigado por terem me dado vida e por terem se preocupado com ela. Vivo só pra vocês, meus pais. – Apesar de o abraço ser apertado demais, Ryundai e Katheryne não seguram a emoção de receber um verdadeiro reconhecimento do seu filho. 

Hatem não quer ficar na presença do cigano, mas não esconde que está tentando interpretar tudo o que ele disse. Alexander é de fato um homem bom e puro, mas precisará fazer mais do que previsões para conquistar um espaço considerável na mansão Hijuuokuri.