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História Filhos da Guerra - 12 - E a cobra finalmente fumou


Escrita por: Hawk03

Notas do Autor


Para mim, esse capítulo vai ser bem pessoal. Será sobre o Brasil na Campanha da Itália e vai ser meio difícil eu não chorar enquanto eu escrevo porque se trata de uma história que faz parte da minha família. Meu falecido avô foi um dos 25 mil pracinhas da Força Expedicionária Brasileira e ele sempre contava as suas histórias da guerra, com orgulho. Todos os dias, ele cantava a Canção do Expedicionário ao acordar, para sempre lembrar dos companheiros que morreram na Itália. Ele nunca esqueceu aquele país e ele sempre costumava jantar às 16h porque "na Itália já são oito horas da noite." A última história que ele nos contou, que foi justamente a última vez que eu vi ele vivo, foi contando sobre os aviões da FAB e da USAAF sobrevoando o acampamento.

E o capítulo de hoje será um pouco mais centrado no Luciano e no Alfred, além de ter uma parte da história final do Arthur. As citações serão da Canção do Expedicionário e do Winston Churchill.

Hora de ir!.

Capítulo 13 - 12 - E a cobra finalmente fumou


Fanfic / Fanfiction Filhos da Guerra - 12 - E a cobra finalmente fumou


"Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil."

(Trceho da Canção do Expedicionário)






 

 

Luciano e Alfred 

Massarosa, Região da Toscana, Itália - 25/09/1944

No vale do rio Serchio, os brasileiros da Força Expedicionária Brasileira, incorporados ao IV Corpo do Exército Americano, comemoravam discretamente a tomada de Massarosa. Mesmo que já estivessem ali desde julho, aquele bando de "despreparados", como alguns soldados americanos os chamavam, tinham agora como provarem que poderiam ajudar na guerra contra os tedeschi na Itália. Dentro de seu barracão no acampamento improvisado, Luciano tremia de frio. Já era outono na Europa e a temperatura densa o fazia sentir saudades do calor de Natal, de onde saiu um ano antes ao ser convocado para a FEB. Antes da Itália, ficou treinando no Rio de Janeiro antes do embarque para a Europa.

E partira com a esperança de poder voltar o mais rápido possível.

Não tinha visto a hora que Alfred entrara no barracão. Notou apenas quando o americano estendeu na sua frente uma lata de sopa Campbell's ainda quente. Pegou a lata já aberta e fora tomando o líquido fumegante em enormes colheradas, a fim de tentar dissipar o frio que sentia. 

- Ainda se acostumando com a Itália, Luciano? - o loiro se sentara na cama do brasileiro, ajeitando os seus óculos. Seu português havia melhorado consideravelmente.

- Um pouco. Melhor ainda se eu pudesse voltar para a minha casa. É ruim ter que dormir ao som de aviões todas as noites. - afirmava, entre uma colherada e outra. - E ter que acordar procurando bombas no dia seguinte. Imagina se uma mina acabar explodindo debaixo do meu pé?

A função de Luciano no regimento era a de desarmar bombas e minas. Ele tinha medo do seu rastreador parar de funcionar ou acabar pisando em uma mina alemã por engano. Assim como a maioria dos pracinhas que estava naquele país desconhecido, não recebeu preparação suficiente. Acabou aprendendo como se fazia depois de ter atirado em um soldado alemão apenas para testar a mira de seu fuzil. O moreno quase sempre estava na companhia de Alfred, que havia sido transferido para o IV Corpo do Exército Americano logo após à chegada da FEB em Nápoles. Apesar de ser um piloto, o americano teve que ser designado para a infantaria, algo do qual não gostou muito.

Enquanto que o americano, a cada dia que se passava, ele ficava com bastante saudades do seu inglesinho mau-humorado. A última notícia que havia recebido de Arthur era a de que o sobrancelhudo estava perto de Bolonha. Se sentia um pouco aliviado pelo fato do loiro ainda se encontrar em território italiano. Teve medo em ficar sozinho, mas sua sorte era que Luciano estava ali. Tornou-se amigo de mais alguns brasileiros que estavam no regimento. Seus novos colegas estranhavam o fato do rapaz fazer amizade com pessoas "de cor", já que nos Estados Unidos, eram considerados como cidadãos de segunda categoria. Alfred explicou para alguns interessados o fato de que no Brasil era comum e usou Luciano como exemplo.

Ambos, o americano e o brasileiro nem perceberam que estavam adormecidos, na mesma cama estreita do barracão, logo depois de se deitarem e se distraírem com seus pensamentos sobre tudo isso. Eram reações diferentes sobre uma mesma guerra, já que um deles estava experimentando isso pela primeira vez.

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"Não adianta dizer: 'Estamos fazendo o melhor que podemos'. Temos que conseguir o que quer que seja necessário."

(Winston Churchill)






 

 

Arthur

 A 30 km de Bolonha, Região da Emília-Romagna, Itália - 03/10/1944

Estavam finalmente chegando em Bolonha. Arthur queria mesmo era estar junto de Alfred, que estava a oeste. Sentia-se cansado e preocupado com o rumo que as coisas estavam tomando. Ouvia todas as noites na Rádio BBC as notícias sobre seus companheiros britânicos na França e na Holanda. Deu graças a Deus por não ter sido escolhido para integrar a desastrosa Operação Market-Garden. Preferia a Itália porque lá, as coisas estavam mais fáceis, devido à participação dos brasileiros no contingente.

Acabou por pensar em Luciano. O amigo que fizera durante a estadia em Natal. Como será que ele estaria? Ainda mais na companhia do louco do Alfred? Ria enquanto imaginava as peripécias do brasileiro em terras estrangeiras. De acordo com uma das cartas enviadas pelo americano, ele havia relatado sobre o medo que Luciano tinha de que uma mina explodisse embaixo de seus pés. Queria poder escrever uma carta, mas não tinha tempo. Ainda tinha que percorrer um pouco mais daquele longo caminho até Bolonha. Era cansativo, porém não tinha nenhum poder de escolha. 

Queria que tudo logo terminasse para poder reencontrar o piloto e seu amigo no local onde eles prometeram se reencontrar quando a guerra acabasse. Até lá, estaria distante de ambos. Só parou com seus devaneios e pensamentos sobre aqueles que lhe tiraram do ócio e de uma quase perda de sanidade quando seu pelotão enfim parou para montar acampamento. Os ingleses agradeciam aos céus por finalmente poderem descansar. Enquanto se preparavam para acampar, alguns soldados da Wehrmacht haviam aparecido no local. Ali, acabou se instalando um clima de tensão e pânico. Em meio ao fogo cruzado entre os soldados do VIII Exército Britânico e os alemães da Wehrmacht, Arthur sentiu algo quente em suas costas, na parte final da coluna vertebral. Só deu tempo de cair no chão e perder a consciência. Já estava apagado quando um dos oficiais ingleses o pegou nos braços. O oficial, que por sorte era um médico, o levou para o hospital de campanha, que já estava montado. Só quando acordou, já nas instalações médicas, o sobrancelhudo viria a saber que perdera o movimento das pernas devido ao tiro que levou durante o fogo cruzado com os alemães horas antes.

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"Venho do além desse monte
Que ainda azula o horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz!"

(Trecho da Canção do Expedicionário)

 






 

 

Luciano e Alfred

Gaggio Montano, Região da Emília-Romagna, Itália - 30/11/1944

Primeiro dia após o segundo ataque ao monte dominado pelos alemães. Tinham que tomar o cume do Monte Castello para que os britânicos pudessem avançar para Bolonha antes que a neve começasse a cair na Itália. Não poderiam perder mais tempo. Ainda tinham que chegar em Berlim antes dos soviéticos. A França já havia sido libertada do jugo nazista e mandara mais tropas para as terras italianas, para acelerar o processo de expulsão da Wehrmacht. Só que não era nisso que dois jovens pensavam enquanto batalhavam no sopé daquela montanha.

Luciano sempre arranjava um tempo para ir no hospital de campanha levar mantas para os pracinhas feridos. Aquilo na verdade era apenas uma desculpa para poder ver Amelia Jones, uma das enfermeiras do V Exército Americano, que ele descobriu ser prima de Alfred. Havia se tornado amigo da jovem americana e quando podia, ia apenas naquela enfermaria para poder conversar um pouco com a moça, por quem ele acabou se apaixonando. 

Hello, Luciano! Veio trazer mais mantas para seus colegas? - Amelia apontou para os tecidos que Luciano segurava, assim que ele entrou no hospital de campanha.

- Sim, eu vim trazer para o Fontes, o Geraldo e o Osvaldinho. Eles acabaram se ferindo ontem durante o fogo cruzado. - entregou as mantas para a enfermeira, que pareceu corar ao sentir o toque das mãos do brasileiro.

- E o scatterbrain* do meu primo, como anda? Soube que ele anda meio triste...

- Deve ser as saudades de pilotar um avião... ele ainda não se acostumou com a infantaria. - essa era a única desculpa que podia dar no momento. Não queria que Amelia soubesse o motivo da tristeza de Alfred. Adentrou um pouco mais naquele local com a americana, indo entregar as mantas aos pracinhas citados. Ainda tinha que voltar para o acampamento no sopé do Monte Castello. 

Não muito longe dali, Alfred ainda lia a carta de Arthur, enviada ainda em outubro, na qual o inglês falara que nunca mais poderia andar e que voltou para Londres, já que estava "inválido" para a guerra. Se desculpou por não poder mais cumprir a promessa que fizeram ao chegar na Itália, de que se reencontrariam em Natal. O americano queria poder sair daquele inferno de guerra e pegar o primeiro avião que visse para ir até a Inglaterra e encontrar Arthur. O seu dever com a pátria que se danasse. Mesmo que na carta o loiro tenha lhe pedido para não abandonar a Itália, ele não queria mais lutar. Não com um Arthur precisando dele mais do que nunca. Só que não podia correr o risco de ser preso por deserção e nunca mais poder ver o inglês. Era disso que tinha medo.

Se levantou e estava a caminho do sopé do Monte Castello quando Luciano o encontrou. A única parte que o aliviava era saber que o brasileiro ainda estava lá para lhe fazer companhia. Durante a caminhada até o monte, o moreno estava contando para Alfred sobre o desaparecimento de 4 soldados** no segundo ataque, realizado no dia anterior. Ao chegarem lá, receberam ordens de voltarem para Porretta Terme*** até que o terceiro ataque a Monte Castello fosse planejado. Luciano pensou em deixar Alfred em Pistoia, mas resolveu que era melhor deixar o americano consigo devido à sua instabilidade emocional, coisa que até os americanos do IV Corpo haviam percebido.

A batalha de Monte Castello teve fim no dia 21 de fevereiro de 1945, quando a Força Expedicionária Brasileira conseguiu tomar o cume do Monte Castello e derrotar os alemães ali. Luciano e Alfred seguiram em direção à Collecchio. Dali, o brasileiro teve que seguir sozinho. Alfred F. Jones fora mandado para a Alemanha. Ele seria um dos soldados que libertaria o Campo de Concentração de Dachau no dia 29 de abril de 1945, onde estava preso o judeu Roderich Edelstein, um dos 30 mil sobreviventes da barbárie daquele campo.

***
 


Notas Finais


Foi meio difícil, mas consegui! A Amelia Jones é a versão Nyo! do América ><

Agora, teremos o desfecho do Francis e do Ivan. O nosso russo será o dono do último capítulo ><

*scatterbrain: o mesmo que cabeça de vento.
**Referência ao filme Estrada 47
***Porretta Terme é a cidade onde ficou o quartel-general da FEB na Itália

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