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História Filhos da Guerra - 14 - Vitória banhada em vermelho, foice e martelo


Escrita por: Hawk03

Notas do Autor


Último capítulo da fic. Ainda terá o epílogo...

Esse é o desfecho da história do Ivan e terá três etapas: Operação Bagration, libertação de Auschwitz e a tomada de Berlim, que marcou o fim da guerra na Europa. É hora de saber como será a primeira parte do fim de sua história, já que o restante vai aparecer no epílogo, com a dos outros personagens.

Vamos ao início do fim...

Capítulo 15 - 14 - Vitória banhada em vermelho, foice e martelo


Fanfic / Fanfiction Filhos da Guerra - 14 - Vitória banhada em vermelho, foice e martelo


"Onde estão suas mentes?
A humanidade chora
Vocês acham que são deuses
Mas todo mundo morre
Não engula a minha alma
As nossas almas"

(1944 - Jamala)

 

 





 

Minsk, República Socialista Soviética da Bielorrússia - 10/08/1944

Tinham expulsado os alemães da Rússia e agora, era a hora de chegar até Berlim e acabar com tudo aquilo. Ivan ainda se lembrava da libertação de Leningrado, ocorrida ainda em janeiro. Perdeu muitos dos amigos que fizera no Exército Vermelho, já que a ordem era a de não deixar os nazistas avançarem. Foram 900 dias até a vitória chegar. Mas o preço foi caro. Principalmente para o loiro, cujo mundo ruiu ali mesmo naquele lugar. As imagens não saíam de jeito nenhum da sua cabeça, depois do que presenciou e do que ainda tentou recuperar, sendo uma tentativa em vão. Todos os dias, pensava no que tinha visto.

Viu sua querida irmã Katyusha e seu amigo Aleksei morrerem na cidade que carregava o nome de Vladimir Lenin.

Não podia mais voltar para Krasnoslobodsk. Tinha prometido que estaria de volta com a mais velha para Natalya. Agora, teria que ficar até o fim para terminar o que Yekaterina não pôde concluir. Estava na Bielorrússia para aniquilar aqueles malditos da Wehrmacht já fazia mais de um mês, já que os remanescentes de Leningrado tiveram que se juntar aos pelotões ucraniano e bielorrusso do Exército Vermelho. Não se importava mais com ordens. Deixou que seu lado partizan, que estava adormecido, despertasse e fizesse o que sabia fazer de melhor: sabotar, abater e pilhar nazistas. Se destacou entre os demais soldados do seu pelotão, porém não ligou muito. Aquilo era somente para mostrar que poderia deixar sua irmã orgulhosa, de onde quer que ela estivesse. Depois de terminar seu "serviço" naquele dia, onde ele sozinho acabou com 3 homens do exército alemão, voltou para o seu barracão. Completamente sujo de sangue teutônico. Os outros dois que estavam ali, Ilya Medvedev e Boris Pavlov, também eram da mesma laia que a sua. Ex-partizans que estavam no Exército Vermelho apenas para protegerem suas famílias de ambos os lados: dos nazistas e do próprio exército, que era muito mais cruel que o inimigo. 

- Isso que eu chamo de um passeio de verão. Foram quantos dessa vez? - quem fazia a pergunta era Ilya, o mais novo do trio.

- Três. - respondera de maneira seca. Não estava a fim de conversar. Queria se livrar do sangue impregnado em seu corpo o mais rápido possível. 

- Pega leve com o rapaz aí, Ivan. Afinal, não é todos os dias que podemos aproveitar algo do tipo. - Boris estava sentado em sua cama, polindo sua Tokarev. O loiro não lhe deu resposta. Apenas pegou algo para se enxugar, seu uniforme reserva e saiu. Pretendia tomar um banho nas margens do rio Svislach, que era o mais próximo do acampamento de seu pelotão.

Enquanto caminhava, pensava no rumo que sua vida havia tomado desde que sua pátria foi invadida, em 1941. De quando era apenas o filho do meio que cuidava das duas irmãs porque a mãe tinha desaparecido e o pai estava definhando em um gulag. Lembrou-se de quando as coisas começaram a apertar e ele entrou no grupo de partizans em Krasnoslobodsk. Yekaterina e Natalya eram a sua razão de lutar. Ivan tinha a certeza de que as coisas rumaram para esse caminho quando a mais velha decidiu que seria oficial do Exército Vermelho. Foi embora apenas com o intuito de trazer Yekaterina de volta e convencê-la de que havia cometido um erro e foi por isso que se juntou ao exército que tanto abominava. A primeira consequência disso foi o abandono de Natalya. Claro que ainda se culpava, mas achou que seria preciso. Em Stalingrado, outro choque: a morte de seu amigo de infância Mikhail. Conseguiu se vingar do alemão que o matou somente depois, jogando o corpo daquele infeliz nas águas gélidas do Volga.  Houve o reencontro com sua irmã Katyusha, que pareceu estar mais mudada depois do alistamento. Ela o levou para Leningrado quando Stalingrado caiu. E foi lá que ele a viu morrer, junto de Aleksei, numa emboscada armada pela Wehrmacht. Yekaterina Braginskaya deixou ele e Natalya sozinhos no mundo. 

Era sobre isso que refletia enquanto se banhava. Principalmente no que o futuro podia lhe reservar quando isso acabasse, mesmo sabendo o quanto era incerto pensar em algo que ainda não aconteceu. Sua prioridade era a de voltar vivo para a Rússia e tirar Natalya de Krasnoslobodsk. Não conseguiria ver o seu lar sem Katyusha em casa. E não conseguiria dormir em um lugar que evocava lembranças que ele lutaria para enterrar. 

Nove dias depois, o Exército Vermelho consegue expulsar os alemães da Bielorrússia. 

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"Porque nos Campos perdem-se o hábito da esperança e até a confiança no próprio raciocínio. No Campo, pensar não serve para nada, porque os fatos acontecem, em geral, de maneira incompreensível; pensar é, também, um mal porque conserva viva uma sensibilidade que é fonte de dor, enquanto uma clemente lei natural embota essa sensibilidade quando o sofrimento passa de certo limite.
A gente cansa da alegria, do medo, até da dor; cansa também da espera."

(Trecho do livro É Isto um Homem?, do escritor e químico italiano Primo Levi)

 

 




 

Oświęcim, Polônia - 27/01/1945

Após meses de viagem, chegaram na porta do que parecia ser mais um dos campos que encontraram desde que entraram na Polônia. Em todos eles, haviam corpos e o que restou de alguns. Ivan ficou horrorizado com o que viu em Majdanek, Belzec, Sobibor e Treblinka. Agora estavam na frente de mais um. Esse tinha o ARBEIT MACHT FREI* em letras grandes e garrafais em sua entrada. Ao notar que haviam pessoas esquálidas, ainda caminhando pelo campo, Ivan avisou aos outros que havia encontrado alguém vivo e o exército então, entrou naquele campo, que logo depois souberam que se chamava Auschwitz. O loiro adentrou um pouco mais no campo logo depois dos médicos. Enquanto eles corriam até os sobreviventes, o russo viu alguém espiando da enfermaria, onde ele já estava próximo. Foi em direção à pessoa que estava lhe observando e ficou surpreso com o que viu.

Era uma jovem mulher, magra, cujos cabelos haviam sido raspados, falando algo em íidiche. Ivan notou que sua boca sangrava um pouco e logo gritou por um médico. Fez a moça entrar na enfermaria, onde estavam mais pessoas doentes, alguns até esperando a hora de sua morte chegar. O médico que Ivan tinha chamado fez um rápido exame na mulher e constatou que a mesma estava com escorbuto. E analisou os outros pacientes que estavam no chamado Ka-Be. Viu que aquela moça dos olhos verdes era a única que se encontrava em uma condição amena, já que o restante não tinha somente uma única doença. Puxou uma garrafa da bolsa que carregava e dera para a jovem beber. A colocou na única cama limpa dali e saiu, alegando que iria chamar a equipe médica para retirar todos os doentes do Ka-Be. O outro permaneceu, para falar com aquela que lhe roubou a atenção.

- Quem é você e por que está nesse lugar horrível? - Ivan estava curioso. Apesar das horríveis condições nas quais ela se encontrava, ainda a achava bonita. Talvez fosse por causa da cor de seus olhos, que pareciam manter a vivacidade de seu corpo magro.

- Me chamo Elizabeta Héderváry. Estou aqui já tem um tempo e me deixaram para trás por eu estar aqui no Ka-Be. Onde aprendeu a falar íidiche? - o olhara com o mesmo tom de curiosidade. 

- Meu pai sabia falar íidiche e ensinou a mim e as minhas irmãs. - falara com um pouco de tristeza a última parte. - Por isso que ele foi levado para um gulag. Sou Ivan Braginski, do Exército Vermelho.

- Estou aqui por ser judia e comunista. Me trouxeram para cá só para verem se eu morria... mas estou conversando com você. 

O médico que estava com Ivan, ao voltar com toda a equipe médica, olhou para o rapaz com um pouco de receio. Ele corria o risco de pegar escorbuto de Elizabeta, mesmo que estivesse ainda no começo. Quando pediu para examinar a moça mais uma vez, surpreendeu-se com o pedido do mais alto: de que levaria a mulher com ele até Berlim. Mesmo alegando que não podia, Ivan não ligou nem um pouco. No dia seguinte, estava ele junto dos médicos carregando a húngara consigo para a Alemanha. A equipe cuidava da jovem com receio de que o loiro acabasse atacando-os. Rezava para que ela estivesse recuperada até lá. 

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"Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos."

(Winston Churchill)

 

 




Berlim, Alemanha - 25/04/1945

Não tinha mais como os alemães resistirem. Depois das pesadas derrotas no Vístula-Oder, Pomerânia, Prússia Oriental, Seelow, Halbe... só faltava agora Berlim. Conseguiram alcançar o objetivo de chegarem na capital alemã antes dos ingleses e americanos. Apesar das grandes perdas desde que saíram da União Soviética, agora era o fim. Elizabeta já estava curada do escorbuto e se situava em uma casa abandonada, no lado leste da cidade. Ivan a colocou lá para que a moça não se envolvesse na batalha. Até em Berlim, o rastro de morte e destruição era visível.

Ao correr para onde estava seu pelotão, viu um soldado alemão atacando uma garotinha. Não hesitou e o matara com um único tiro na cabeça. Tomou o maior cuidado possível para levar a criança até à casa onde deixou a húngara de Auschwitz. Depois de deixar a menina sob os cuidados de Elizabeta, voltou à luta. Conseguiu ver muitas famílias tentando fugir pelas pontes destruídas do rio Spree, soldados alemães mortos nas ruas e soviéticos invadindo casas, praticando pilhagem e tomando à força mulheres berlinenses. Aquele era o castigo que a guerra tinha reservado para a Alemanha. Inocentes pagando o preço pela megalomania de um homem. Mas não foi só aquele país que recebeu as consequências de tudo isso. Ivan já tinha pagado os seus pecados perdendo Yekaterina. Até encontrar o seu pelotão, vislumbrou todo o caos que Berlim se tornou após a invasão. Não podia culpar toda aquela gente pelo medo que elas sentiam. Se estivesse com a sua família, também passaria pelo mesmo, caso Krasnoslobodsk fosse invadida daquela maneira.

No dia 30 de abril de 1945, Adolf Hitler se suicida.

No dia 02 de maio de 1945, a Batalha de Berlim termina com a vitória dos soviéticos, que hasteiam uma bandeira da União Soviética no Reichstag.

E no dia 08 de maio de 1945, a Segunda Guerra Mundial acaba na Europa, com a rendição da Alemanha.

Nesse dia, onde aquele evento terminou em todo o continente europeu, Ivan Braginski andava pelas ruas de Berlim com Elizabeta Héderváry e Lili, a garotinha que salvou. De onde estavam, via a bandeira da União Soviética tremulando no topo do Reichstag. O russo abraçava a húngara, que não conteve as lágrimas. Sentiu o rapaz acariciar seus cabelos ainda curtos e aninhou-se nos seus braços. Desfez o abraço e foi com ele e Lili até onde os outros soviéticos comemoravam o fim. Mesmo com tudo o que todos eles passaram, eles agora queriam ter um pequeno momento de liberdade.

Porque o pior já havia passado, mas ainda restariam as cicatrizes em suas lembranças e almas.

***

 

 


Notas Finais


E esse foi o último capítulo. Tentei resumir bastante coisa... o que acharam?

Próximo capítulo é o epílogo. Saberão como terminou cada um dos filhos da guerra.

*Arbeit macht Frei: o trabalho liberta, em alemão. Esse era o letreiro que havia nas entradas dos campos de concentração.

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