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História Filhos das Sombras: O Jinn- Interativa - Aura Flamejante


Escrita por: little-known

Notas do Autor


Olá, senhores! Atrasei-me um pouco! Peço perdão a todos, porém o capítulo está abaixo, afinal! O capítulo ficou um pouquinho mais longo que os outros, coisa que tornará-se um tanto comum daqui para frente. O capítulo abaixo possui algumas easter-eggs, as quais acho que pouquíssimos notarão. Boa leitura.

Atenciosamente...
GAAL

Capítulo 3 - Aura Flamejante


Seus olhos abriram-se lentamente, demoraram severos minutos para acostumar-se com a luz do ambiente, parecia que dormia há muito. Sua visão rapidamente tomou foco, deixando uma pergunta explícita em sua mente: Onde diabo estava?

   Encontrava-se em encostado em um pequeno sofá, próximo a uma televisão aparentemente quebrada. Atrás do sofá visualizou uma minúscula mesa circular e um quarto a direita da mesma. Levantou-se lentamente reparando no sangue seco espalhado em seu rosto e as manchas vermelhas nas roupas.

   Não lembrava-se de quase nenhum detalhe da noite passada, apenas lembrava de vagar com fome novamente, assim como fez nas anteriores semanas, porém sentia algo diferente... Não sentia mais fome. A dor, a queimação, tudo cessara.

   Com este alívio um sentimento ainda mais confuso vinha, seria culpa por nem saber o homem que servira de alimento, aparentemente, na noite passada? Noite a qual não conseguia recordar um detalhe sequer, seria isto?

    Seguiu caminho para o pequeno quarto próximo a mesa, reparando pela primeira vez na falta de janelas no apartamento. Adentrou no local, reparando em uma cama de casal com lençóis revirados e uma larga janela coberta por persianas. Aproximou-se lentamente da janela, cogitando por alguns segundos abri-la, porém recordou-se de sua maldição, caso houvesse sol, pereceria em segundos.

     Uma voz interrompeu os pensamentos desordenados do rapaz loiro, uma voz feminina, que era proveniente de suas costas. Havia uma jovem de cabelos ruivos, pele alva como neve e de estatura mediana a porta do quarto. A mesma possuía um olhar de puro divertimento ao preferir as seguintes frases:
- Você acordou. – Disse a jovem com uma voz que claramente indicava sono.
- Onde estou?- Rebateu o rapaz loiro, com um leve sotaque italiano.
- Na minha casa. – Respondeu a menina secamente. – Encontrei você em uma vala qualquer, largado, olhando para o nada e ensanguentado. Mas acho que o sangue não seja seu.
- Obrigado, mas por que ajudou-me? – Insistiu o vampiro desconfiado.
- Porque você parecia perdido e, caso os caçadores o encontrassem nesta situação... – Solucionou a menina. – Mas, afinal, você é novato ou o que?
- Não me lembro da noite passada, só sei que não sinto mais fome. - Argumentou o vampiro, que parecia possuir a mesma idade da menina.
- Então é um novato?- Rebateu.
- Não. – Respondeu ainda desconfiado, farejando de leve o ar. Ar que possuía um aroma doce, aroma de bruxa. – Bruxa, agradeço pela hospitalidade, mas tenho que ir.
- Tem um sol bem forte lá fora, se você quiser arriscar-se, o que devo eu fazer?- Acrescentou a menina em tom de deboche. – Pode ficar até o anoitecer, mas não deve tentar nada, ouviu?

   Assentiu positivamente, reparando pela primeira vez que a garota estava a usar um pijama. Vasculhou seu bolço, encontrando um único celular, deparando-se com nenhuma mensagem ou atualização, como sempre. Não possuía exatamente muitos amigos ou conhecidos, era por excelência solitário.

    Preferia não manter laços, pois realmente não acreditava nas pessoas, todos sempre o traíam ou enganavam, Raul fora um deles, o homem que há muito chamara de irmão, decretando sua morte. Não gostava de laços ou amizade pelo simples fato de ter medo de perder o que mais preza, medo de sentir dor, a mesma dor que sentiu ao assassinar o homem que o acolheu.

    Olhou um tanto melancólico para a menina, dizendo:
- Se vamos passar o dia juntos, gostaria ao menos de saber seu nome. – Inquiriu o vampiro ainda com um quê de desconfiança em sua voz.
- Ly, pode chamar-me de Ly. – Respondeu a menina ainda secamente.
- Fabrizio, prazer. – Acrescentou levemente.
- Certo, Fabrizio, poderia deixar-me trocar de roupa?- Rebateu em forma de deboche, fechando a porta na cara do vampiro.

    Sim, Fabrizio Piazzi, o conhecido farejador, o mais famoso do estado. O que ele fazia pastando atrás de sangue fresco por semanas? Raul encomendara um serviço, o qual pagara extremamente caro, porém o mesmo não fora capaz de concluir a missão dada, gastando quase todo o dinheiro em bebidas e ervas. O chefe do crime ficou realmente revoltado, sendo assim, decretou sua imediata morte da forma mais dolorosa possível, mesmo que a vítima fosse seu irmão de consideração.

   Fabrizio realmente não conseguia lembrar nenhum detalhe da noite passada, apenas fome, a fome era algo que não poderia nunca ser capaz de esquecer, a fome que sentira por severas semanas, semanas as quais vagou pedinte, atrás dos meios legais para sua alimentação, meios incapazes de realizar sua função, pois era Raul que mandava, era Raul que decidia e ainda decide quem vive e quem morre.

   No que Raul havia se transformado, ainda lembrava do garotinho inocente que conhecera ao chegar no país, um menino ciumento que o tratava como a um irmão. Agora tornara-se um monstro, que estava desesperada para manter seu legado de crime, esquecido dos valores da família, nutrindo antigos ódios.

   Realmente uma  coisa possuíam em comum, ambos eram monstros, obrigados a rastejar por sua natureza, amantes da morte e inimigos da vida. Fabrizio por sangue matava, por sangue vivia e ao mesmo tempo, deixava de viver. Estava cansado da podridão da cidade, estava cansado da corrupção que acostumara-se a viver diariamente, não deveria mais viver, um corpo andava livre sem alma.

   Não mais era religioso há muito, porém ainda nutria alguns sentimentos de sua velha tradição católica, era ele um descendente de Caim? Era ele um pecador condenado ao inferno? Não sabia, apenas sabia que o inferno é algo que vivia todos os dias, o inferno estava em sua podre forma de ser e agir.

    A menina ruiva abriu a porta do quarto novamente, revelando uma roupa, certamente, casual. A jovem observou o homem  por instantes, indicando o banheiro, onde ele deveria limpar o rosto, pois o sangue seco incomodava a garota profundamente.

   O banheiro localizava-se dentro do quarto de Ly, a esquerda da cama de casal. O apartamento era realmente muito estranho, apenas possuía aquela saída de ar? Caso houvesse um incêndio, a jovem estaria realmente perdida. Seguiu para o banheiro, banheiro que possuía uma pia de mármore, uma pequena privada e um boxe cor de terra, os quais encontravam-se todos extremamente amontoados dentro do pequeno espaço de azulejos brancos.

    Olhou de relance para o espelho acima da pia, reparando no sangue espalhado por sua boca e marcas, inclusive, em suas orelhas. Estranhou levemente, porém limpou-se rapidamente. Ao concluir a limpeza encarou seu reflexo por incontáveis minutos, os olhos azuis, o seboso e liso cabelo loiro, que estendia-se até suas orelhas e a pequena cicatriz próxima ao queixo livre de pelos.

    Aqueles eram os traços de seu pai, os traços de um homem há muito tempo esquecido, morrera na guerra como muitos outros, por este motivo insistia em não lembrar, afinal, esquecer para um vampiro nada mais é além de uma triste escolha, assim como ter sentimentos ou não.

   Voltou a reencontrar a menina na sala, a qual almoçava vorazmente um prato de comida qualquer. Observou de longe, com um ar de divertimento evidente em sua face, pois quando humano comer era algo que amava fazer, assim como amava preparar o mesmo. Mas o tempo mandou tudo isso para o desuso, porque agora não passava de uma criatura rastejante.

     A menina rapidamente notou a presença do homem a soleira de seu quarto, questionando-o:
- Você é descuidado ou o que? – Perguntou secamente.
- Não sei o que aconteceu na outra noite e prefiro não saber, ragazza. – Respondeu Fabrizio com divertimento evidente.
- Italiano? – Rebateu Ly, ainda comendo.
- Io sono figlio di puttana Italia! – Solucionou em óbvio deboche.
- Como soube que eu era uma maga? – Rebateu ainda desconfiada.
- Sou um farejador, consigo sentir muita coisa no ar. Sabe, magia tem cheiro de algodão doce. – Respondeu, sentando-se em uma cadeira, próximo a garota. – Todo vampiro pode sentir essas coisas, ele só precisa ser treinado, como não é o caso de lobisomens, claro.
- Você trabalha para o Raul, não trabalha? – Argumentou em questionamento desconfiada.
- Não tenho realmente um serviço fixo. – Comentou, encerrando o assunto levemente.

  A menina rapidamente voltou a comer, encerrando a conversa definitivamente. Fabrizio realmente questionava o fato de ter sido resgatado e acolhido pela jovem, afinal, por que diabo uma bruxa iria ligar para as regras de conduta de um vampiro? Qualquer teria, inclusive, denunciado o mesmo para a O.C.B.

                                                      ~...~

   A luz do entardecer tomava cada canto da pequena loja, criando diversas sombras sob os estranhos objetos, que encontravam-se espalhados de forma desordenada, envolta de um balcão de madeira pura. A bagunça da loja de paredes desbotadas refletia encima da bancada, com potes portadores de estranhos líquidos das mais distintas procedências e uma caixa registradora, aparentemente, antiga como a loja em si.

  Os objetos que aparentavam desordem óbvia, possuíam todos pequenos papéis colados com preços em letras garrafais, que eram atualizados toda semana por um homem, o mesmo homem que fundara a loja em 1974.

   Homem que agora encontrava-se presente no belo entardecer, mais especificamente um senhor de setenta e seis anos, portador de uma tatuagem negra, a qual fazia um circulo envolta de sua boca, sendo proveniente do coro cabeludo, de olhos puxados, pele vermelha, de estatura mediana e cabelos grisalhos lisos. Ele estava atualizando os preços dos misteriosos produtos, os quais seguiam de tambores iorubás à massa cinzenta humana.

   Aquele era Moacir, presidente do Conselho de Magos e Feiticeiros do Estado de São Paulo (C.M.F.E.S.P.), associação extremamente influente no estado de São Paulo, que fora fundada em 1856 pela família real, sendo assim, juntamente com a Associação de Caçadores Unidos (A.C.U.), antecessora da O.C.B., moldaram os contrastes e leis da sociedade sobrenatural brasileira atual.

   Moacir assumira a sede de São Paulo da C.M.F.E. no mesmo ano em que fundara a loja em Osasco, lugar para o qual migrara na década de 60, após a desapropriação do território de sua tribo na construção da AM-010. Sim, ele era indígena, ele era juruna, mais especificamente.

   A loja foi patrocinado e incrementada com objetos das mais diversas procedências mágicas pela C.M.F.E.S.P após seu primeiro ano de posse, tornando o local referência para qualquer mago ou criatura mágica no estado. Humanos não permitidos por magia de entrar ou ver o estabelecimento, pois tal ato quebraria o Tratado Feijó, que já perdurava há 181 anos.

   Enquanto ajustava os preços distraído ouviu e sentiu a energia de um morto. De ressalto levantou sua cabeça, reparando na presença de um possível cliente, um homem de olhos flamejantes, pele morena, nariz turvo e terno branco.

   No momento em que Moacir pôs seus olhos na estranha criatura, sentiu uma estranha energia emanando do ser, energia que queimava como fogo a mente do velho. Ouviu de leve a voz de seus ancestrais, que protestavam, quase gritando em desespero.

  A criatura com um sorriso extremamente branco olhou para Moacir, dizendo:
- Não consigo entrar em sua mente... Yussaddiq! – Comentou com um forte sotaque.
- O que você quer? – Respondeu de forma senil e lenta, tentando calar as vozes desesperadas de seus antepassados.
- Preciso da informação. – Falou, com divertimento em sua voz.
- No que eu puder ajudar.
- Onde eu poder encontrar Fogo de Gomorra? – Arriscou o estranho ser, ainda sorrindo.-  Soube que estar aqui em São Paulo.
- Isso é um artefato mágico de nível seis. – Respondeu Moacir, com uma pitada de medo em sua voz. – Pela lei nenhum artefato mágico de nível três para cima não pode entrar em território nacional...
- Acho que falei muito. – Interrompeu, rindo profundamente em uma gargalhada espontânea. Gargalhada que foi capaz de calar os antepassados de Moacir por contáveis segundos.

   Moacir estava amedrontado, aquela provavelmente era a primeira vez que sentira os mortos temer um vivo, pois aquela criatura, certamente, não estava morta. Porém obviamente estava a fazer algo ilegal, seria possível haver uma coisa como o Fogo de Gomorra contrabandeada distante dos órgãos reguladores?

   O juruna abaixou os olhos levemente, pois a aura da criatura incomodava-o fortemente, aura que nos segundos encarando o solo desaparecera repentinamente. Subiu seus olhos rapidamente... O ser havia desaparecido.

   As vozes ainda encontravam-se descontroladas em sua cabeça, com estranha admiração e nojo ao pronunciar uma única palavra repetitivamente, palavra que só pode entender naquele momento, “jinn”.


Notas Finais


Muito obrigado a todos! Críticas negativas ou positivas são sempre bem vindas! Quando a história atingir quinze capítulos irei revisá-la por inteiro, corrigindo os erros de gramática e concordância. O próximo capítulo será postado no dia 5 de Fevereiro.

Atenciosamente...
GAAL


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