História Filhos de Ninguém - Terceiro

Assim que chegamos o NamJoon veio na nossa direção como sempre faz quando eu saio com algum deles para o hospital. Ele sempre se preocupa.

Antes que ele começasse a falar ou a fazer perguntas eu disse tudo.

-Levaram pontos na cabeça. – disse referindo-me ao Yoongi e ao Hoseok

Saí e tirei o outro miúdo da cadeira

-Quem é esse? – perguntou o NamJoon surpreso

-Não sei. Estou a espera que ele me diga o nome dele!

-É para ficar? – voltou a perguntar

Apenas acenei com a cabeça confirmando o que ele perguntara. Ninguém gostava de saber que mais uma criança tinha sido abandonada mas íamos dar-lhe todo o amor e carinho.

-Yoongi e Hoseok na minha sala em 5 minutos – olhei-os

Eles acenaram e foram caminhando na minha frente.

-Este é o tio NamJoon. Ele vai cuidar bem de ti – disse ao pequeno que me respondeu com um aceno de cabeça

Fiquei surpreendido claro. Até agora eu pensei que ele pudesse ser surdo e ninguém tivesse dado por ela. E agora ele responde-me. Que miúdo mais fofo.

-Toma conta dele NamJoon – passei-o para o colo dele – eu vou falar com os rapazes!

Segui até a minha sala onde eles já estavam os dois sentados na frente da secretária.

-Ora vamos lá saber, porque é que lutaram um com o outro?

Eles ficaram em silêncio e eu sentei na minha cadeira esperando por respostas.

-Eu não sei como querem, mas não vamos sair daqui sem eu saber o que se passou! Podem começar a desbobinar.

-Foi o Hoseok que começou

-Mentira – gritou o Hoseok

-Um de cada vez. Eu tenho tempo. Vou ouvir os dois!

-O Hoseok diz que como estou a ficar mais velho, breve tenho dezoito anos, então não me vão mais querer aqui e vão me expulsar não tarda nada. Depois bati-lhe

Olhei o Hoseok

-Ele disse que também não faltava muito para eu ter 18 – terminou baixando a cabeça

-Peçam desculpa um ao outro.

Eles demoraram um pouco recebendo apenas o meu olhar.

-Desculpa Yoongi

-Desculpa Hoseok

-Espero que tenham aprendido a lição e quanto a isso de fazeres 18 anos, depois falamos. Vão embora. Tomar conta do miúdo que o NamJoon tem mais coisas para fazer!

-Temos mesmo de tomar conta dele!? Não somos babysitters.

-Têm!

Eles levantaram e saíram da sala.

Eu já tinha dado mil voltas a cabeça sobre o assunto de ter de os mandar embora aos 18, talvez eu possa abrir uma exceção. O Yoongi está cá desde sempre.

Flashback On

 Estava calor e eu não queria sair de casa. Eu odiava quando a minha mãe me obrigava a sair com o calor. Mas segundo a minha mãe, ela precisava de ir a igreja aquela hora para se confessar já que não estaria lá ninguém seria rápido. Eu era pequeno obviamente não gostava de estar fechado dentro de um sitio onde parece que todos os santos me estão a observar. Mas tive de ir com ela por alguma razão.

Ela deixou-me sentado num banco ao fundo da igreja. Não havia nada que eu pudesse fazer então apenas fechei os olhos e tombei a cabeça para trás. Voltei a abrir os olhos quando ouvi choro.

Se querem saber eu achei que fosse algum fantasma ou então o diabo…mas depois pensei que estava numa igreja então não seria possível.

Levantei do banco e fui seguindo o som que parecia vir de fora da igreja através da grande porta do fundo.

Olhei para ver se via a minha mãe e nada, então apenas sai e dei a volta a igreja. Fiquei parado de frente para uma cesta. O choro vinha de lá. Nada impede a curiosidade de uma criança então e apenas me aproximei do cesto e vi um bebe enrolado numa manta com a cabeça de fora com a chupeta caída.

-Não chores! – disse irritado mas ele não me entendeu

Peguei a chucha dele e enfiei-lha na boca. Talvez assim ele se calasse! Ele calou-se quase de imediato.

-Tens fome? – perguntei

Eu era muito inocente. Como é que um bebe me ia responder.

Arrastei o cesto até dentro da igreja e voltei a sentar no banco onde a minha mãe me tinha mandado sentar.

E esperei até que ela voltasse.

-Jin…Jin, acorda!

Eu esfreguei os olhos e vi a minha mãe do meu lado. Eu tinha acabado por adormecer.

-Quem é este bebé Jin?

Eu encolhi os ombros. Eu não gostava muito que me fizessem perguntas que eu não soubesse responder.

-Mãe. Eu não sei quem ele é! Eu só o ouvi a chorar e fui ver onde ele estava. Ele estava lá fora sem a chucha e eu acho que ele tem fome.

Eu com 5 anos não sabia muito da vida. Mas sabia que ninguém deixa bebés sozinhos por aí de qualquer forma.

A minha mãe tirou a pequena manta de cima do bebé e pediu-me que segurasse em alguns papéis que tinha encontrado na cesta.

Eu realmente não entendia nada.

-Espera aqui Jin!

Eu acenei que sim e a minha mãe voltou a ir não sei aonde mas desta vez levou o bebé no colo. Eu fiquei com os papéis na mão sem saber muito bem o que fazer.

Suspirei de alivio ao ver a minha mãe a voltar na minha direção. Eu era uma criança com fome já.

-Vamos para casa Jin

-Ele vai connosco? – perguntei

-Sim vai.

-O bebé tem nome omma? – perguntei na maior das inocências

-Claro filho, todos os bebés têm nome. O nome deste bebé é Yoongi!

-Yogi…

A minha mãe riu do que eu acabara de dizer.

-Yoongi

-Sim, eu sei. Foi o que eu disse, Yogi…

Naquele dia voltamos para casa depois de levar o Yogi ao médico. Eu nunca tinha dado o biberão a um bebé mas nesse dia pedi a minha mãe que me deixasse dar o biberão ao Yogi. Ela passou a rir-se sempre que eu dizia aquilo. Eu não via a minha mãe rir há muito tempo. E eu gostei. A noite a minha mãe disse que ia mostrar como se mudava uma fralda e eu disse que queria ver mas arrependi-me.

O Yogi era o bebé mais lindo do mundo.

Flashback Off

Eu não percebia naquela altura que Yogi era diferente de Yoongi. Eu sempre fui uma criança muito teimosa. Mas quem iria corrigir uma criança que nos volta a fazer sorrir.

Por causa do Yoongi eu fiz a minha mãe voltar a sorrir. O que eu raramente via. Ela sempre estava ocupada por causa dos miúdos que entravam no orfanato. Normalmente eu brincava sozinho no pátio ou na casa de madeira, mas depois do Yoongi ter chegado eu quis passar mais tempo com os outros meninos. Talvez eu fosse capaz de fazer a minha mãe sorrir mais.

Agora percebo que as vezes o que falta é só alguém que nos faça sorrir. Eu agora sorrio sempre que vejo algum deles bem.

Como iria eu mandar o motivo do sorriso da minha mãe?

Eu estabeleço ligações com todos eles. Quando vão embora por vontade própria eu não posso fazer nada, mas quando eu vejo que eles começam a discutir por coisas idiotas como esta, fica difícil não me lembrar de cada um dos detalhes do passado deles.