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História Filosofia e Animes - A Mensagem por trás de One Punch Man


Escrita por: HansHardt

Notas do Autor


Antes de começar o texto, quero dizer duas coisas. A intro desse anime é uma delicia, e quem discordar de mim está errado

Capítulo 1 - A Mensagem por trás de One Punch Man


Fanfic / Fanfiction Filosofia e Animes - A Mensagem por trás de One Punch Man

One Punch Man é diferente de qualquer anime que você já viu. Ele até zomba de alguns mecanismos de anime. No final ele não tem drama nenhum. Dado alguns episódios, você sabe muito bem o que vai acontecer, e como vai acontecer. Na verdade, você fica até na ESPERANÇA de que ALGUMA COISA vá posar alguma ameaça ao protagonista. Alguma... QUALQUER COISA (AAAAAAAAAA). Na verdade, é esse o gostinho que eu acho que todo mundo ficou na última luta. O anime faz *questão* de fazer um hype enorme pro vilão, inchar ele como se fosse um balão ameaçador enorme, só para Saitama dar um peteleco nele e é ele desintegrar. É frustrante às vezes, mas também engraçado. O diretor da coisa nos priva de T O D A catarse (aliviar a gente, explodir, dar o clímax de todas as emoções que estivemos sentindo) do vilão. 
Mas duas coisas são muito interessantes. O anime consegue nos manter interessados pelo desenvolvimento dos personagens secundários, e ele contém uma mensagem muito forte de onde a civilização está indo.

One Punch Man é realmente uma coisa original. Consegue manter uma comédia muito bem feita, além de ao mesmo tempo, conseguir fazer isso sem fazer a ação de super-herói perder a seriedade (bom, não quando não for de propósito pelo menos). Conseguimos muitos, MUITOS momentos emocionantes e excitantes no episódio que não são tingidos pela graça do humor, e outros que são feitos exclusivamente dele (o humor). Os dois mundos são muito bem divididos, e quando são fundidos, fazem uma sinergia muito boa. Mas depois de acabar o último episódio ~bateu uma crise existencial porque eu reparei que era o último~, comecei a imaginar como seria viver como Saitama, e como estudante não-oficial (estou no Ensino Médio ainda) de filosofia, como o anime mostra essa vida, e como isso se aplica à nosso cotidiano, e existência. OBVIAMENTE, vai ter spoilers no caminho, então esteja avisado. 

Eu sei, né? Aplicar a vida do Saitama ao cotidiano? Não é como se quebrássemos meteoros do tamanho de uma cidade casualmente, nem salvássemos centenas de vidas de boas por passatempo. Mas fique comigo, tudo vai ficar claro no final do texto. 

Como acho que vocês já sabem, Saitama é nosso protagonista. Um dia, foi um jovem desiludido com a vida, que descobre um amor incondicional por ser herói, que cria um fogo nos seus olhos. Passe algum tempo, e ele consegue ser o herói supremo, mas esse fogo sumiu (junto com seu cabelo, por algum motivo). Apesar dele dizer que é um herói para se divertir, ele não parece estar muito entretido no que faz. E isso é porque ficou tudo muito entediante, já que consegue acabar com toda ameaça com menos de um peteleco. Alguém que vê a vida do Saitama consegue muito bem ver que o tema é "tédio". Isso só pela quantidade de vezes que vemos ele cutucando o nariz ou a orelha nas lutas. Enquanto isso também é verdade, o tema prevalente, na verdade, é "conflito". Especificamente, um mundo sem ele. Conflito é algo muito importante para o enredo, mas também para a mensagem. E os inimigos anormais do anime ajudam a expor essa mensagem, pois são criaturas que simbolizam esse conflito, que são elementos chave para prosseguir uma história. Seja num filme de terror, suspense, ação, romance, é sempre a intriga e atrito que nos mantém na ponta dos pés para ver o resto. Sem conflito (e eu já usei essa palavra demais) os personagens não tem o *propósito* para serem o que são. Seja impressionar uma garota, desativar uma bomba, vencer um inimigo por dentro, resolver um problema com sua namorada, é sempre o PROBLEMA que força os personagens a mudarem e crescer, tudo para encararem o "final boss" da história. Veja Star Wars. Luke começa como um aventureiro ingênuo, que passa por inúmeros obstáculos (tipo descobrir que a menina que ele gosta é a irmã dele) e lutando contra várias criaturas, tudo em preparação para o conflito com Darth Vader. 

Mas isso não acontece em One Punch Man. Por que aconteceria? Saitama é literalmente a criatura mais poderosa na face da terra. Em um episódio, onde ameaçou socar Genos (seu aprendiz), ele atravessou uma MONTANHA apenas com a massa de AR. E ele *NEM COMPLETOU* o soco (Vou deixar vocês calcularem isso por um minuto). Diferentemente de Luke, ele não tem conflito, nem propósito, nem medo de derrota, e portanto, nada em nome do que possa lutar. Já jogou algum jogo com seus pais? É um *tédio*. Justamente por isso. Porque não tem nenhum obstáculo. Você nem precisa cogitar que você vai perder, porque eles mal sabem os controles em primeiro lugar.
Aliás, porquê não há nenhuma progressão do personagem de Saitama, ele normalmente não está presente nos conflitos grandes (aparecendo só depois) ou é só um observador passivo. Igual naquela vez que Genos lutava contra a mulher-mosquito, e ele só observa até o final. No final, quem ganha o foco são os personagens secundários, quanto à suas histórias, motivações. E até os viloes! Aliás, FALANDO NO GENOS...

Genos é o que mais encara conflitos, constantemente conseguindo "upgrades" no seu corpo. Ele é um personagem clássico. Um guerreiro peregrino que encontrou um mestre, do qual deseja extrair imensa sabedoria (que infelizmente o Saitama não tem, e que o anime mostra isso de maneira hilária), mas também é um vingador atrás de um vilão. Um justiceiro.

Você vê os viloes como Dr. Genus que dedicou sua vida para encontrar o segredo da evolução humana, tudo para ser desfeito por um cara careca que quer se divertir. Os motivos de Saitama não são nada profundos. Ele é o que diz que é. Só um cara sem nada pra fazer. A facilidade com que ele atingiu o status de criatura mais forte da terra destitui todos os outros personagens de qualquer significado que eles podem ter TRABALHADO e se debatido para conseguir. Alguns ficam até bem bravos com o fato. (Aliás, aqui eu posso fazer um paralelo com filosofia Nietzschiana: Nietzsche dizia que algumas pessoas simplesmente nasceram superiores às outras (Ayn Rand diria isso também na Revolta de Atlas, mas o contexto é outro). Ele dizia que por mais que os "inferiores" se esforçassem, eles poderiam chegar perto da grandeza dos destinados, mas eles nunca alcançariam seu total potencial. E vemos isso constantemente em OPM. Os personagens relatam uma grande história, cheios de grandeza e conflito, tudo para serem reduzido a pó por um soco. O conceito é claro: por mais que você tente alcançar aquele que foi destinado a grandeza, você não vai alcançá-lo. Apenas chegar perto. E a pequeneza dos inferiores limita o potencial do grande (como vemos a multidão tentando culpar Saitama pelos seus problemas depois de destruir um meteoro, mesmo que tenha sido ele que os salvou dele em primeiro lugar). Como você quer que ele manifeste toda sua glória, se quando ele manifesta, ficam bravos com ele por isso?

Aliás. Quanto à irrelevância dos esforços, nenhuma cena explicita mais isso do que a cena em que Genos luta quase até a morte para salvar a cidade da mulher-mosquito, só para Saitama matar ela num bofetão. Tudo seria pra nada.


Daí o nome da série, aliás (DÃÃÃÃÃÃ). Saitama é tão absurdamente poderoso que todo e qualquer inimigo pode ser derrotado facilmente com apenas um soco. Nem um soco sério, apenas um o gesto de um soco (entendemos isso quando Saitama - só no último episódio - revela dar um soco sério, enquanto todos os outros socos ele mesmo dá o nome de "socos normais")!
Apesar da ideia ser extremamente excitante, perceba como Saitama encara isso por todo o percurso: ele parece feliz de ter isso? Não muito. Eu lembro de ter escutado em algum lugar que histórias servem para repetir o "passado para frente". Nós se identificamos com os personagens e as situações porque elas nos lembram de eventos que ocorrem perto da gente. Alguns lutadores japoneses usavam caricaturas "malvadas" de americanos para dar aquela "hype" quando eles ganhassem deles. Capitão América ficou tão popular porque a uma das primeiras ediçoes dele foi dele lutando contra Hitler, algo que os americanos precisavam. 

Com OPM é o completo OPOSTO. É a ANTI-CATARSE. Faz um ótimo trabalho em criar toda a estrada emocional pra catarse só pra nos depravar desse sentimento de alívio e clímax. 
Mas ele não está fazendo isso só pra dar humor, está fazendo isso pra nós mostrar precisamente O QUE ESTÁ FALTANDO NAS NOSSAS VIDAS. Masahiro Morioka diz que nossas tentativas de minimizar a dor e sofrimento na verdade TIROU valor das nossas vidas. Na superfície, a vida nunca foi mais fácil do que isso. Nunca tivemos mais conforto. Mas para Morioka, nós gradualmente perdemos a oportunidade de conseguir a alegria da vida, que está no atrito causado pelo conflito, que essencialmente nos faz crescer. 

Nota de rodapé: Dostoiévski, um dramaturgo russo, tinha escrito algo parecido. Uma crítica à utopia. Ele dizia em "Memórias do Subsolo" que mesmo que se uma utopia fosse possível, e atingível, o homem faria qualquer coisa para se livrar desse estado desértico de propósito. Aliás, você pode pensar na vida do Saitama exatamente como andar num deserto: você já viu de tudo, e não importa o quanto você ande, você só vai ver a mesma coisa. Sem vida, a mesma cor, a mesma coisa por uma eternidade. 
Jordan Peterson comenta o texto: "e esta é uma excelentíssima pergunta! Por que raios você iria querer acabar com todos os problemas e conflito no mundo? Por que você não acha que é precisamente isso que dá a vida seu significado?"

De volta à Masahiro Morioka: "Nós gradualmente perdemos a oportunidade de experienciar o prazer da vida que vem de encontrar uma situação não-querida e forçar a nós mesmos a pensar e sermos diferentes". 

Lembra-se de quando eu disse sobre Saitama ter perdido o fogo nos olhos? Neste momento, Saitama já atingiu o máximo de seu potencial, ele já está no seu MAXIMO. Ele está profundamente entediado. Ele até diz fazer a coisa de herói por diversão, mas vemos que ele mal se diverte fazendo isso. Como se ele estivesse na esperança que o papel de herói vá preencher o vazio que esses poderes deram a ele. 
O que me faz pensar que o ponto do anime é esse: a emoção e significado não é estar no topo do morro, no topo da hierarquia, mas a emoção é a escalada da pirâmide de qualidade e o conflito, e é este conflito que dá a vida seu significado. 

A emoção é de cair e levantar, e levantar mais forte do que antes, e o suspense da possibilidade de derrota. Como se fosse um teclado de piano: as teclas brancas são vitórias, as teclas negras são derrota, mas essa é a ideia: você precisa das duas para fazer música. 
Qual seria o ponto de tocar piano se você aprendesse toda música em menos de 5 minutos? Não seria minimamente gratificante. 
De fato, um tema recorrente no anime é: TÉDIO. Um enorme e esmagador TÉDIO. Você tem noção de como deve ser incrivelmente entediante estar no topo de tudo e todos sem esforço para ter ou sequer manter essa posição, sem nem precisar nem pensar na possibilidade séria de derrota, e perder a posição?
Volto ao exemplo: Você já jogou video-game com seus pais?: eles são tão ruins na coisa (sem ofensa, pais), que algo que deveria ser gratificante fica tedioso. Uma hora fica até frustrante. (Aliás, é exatamente isso que Saitama expressa quando derrota o primeiro inimigo que vemos no anime/mangá. Ele põe as mãos na cabeça e grita de raiva, porque só levou um soco para seu inimigo ser completamente desintegrado, e nada mais). E por que? Porque eles não posam uma ameaça, eles não posam um desafio. Quando você priva alguém de todo o desafio, e só da o efeito de gratificação, essencialmente esse efeito vai embora, e não existe mais. Sabia que na fisica, o frio tecnicamente não existe? Ele é só a ausência de calor. Só sabemos o que é frio, e temos essa distinção, porque temos a presença do calor. Nessa analogia, sem a presença da derrota, o que exatamente significa "vitória"? A resposta é: NADA. 

E este é o grande aviso de One Punch Man. Que se nossa vida ficar fácil demais, ela mesmo vai se tornar chata, entediante, vazia, sem significado, e frustrante justamente por não ter desafios. 

Seja grato pelos desafios que a vida te posa, pois são eles que te mantém vivo(a), e crescendo cada dia mais. 

(Seja grato por não ser o Saitama)


Notas Finais


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