Noticiário: Mais uma derrota dos aliados. Hoje, pela manhã, mais uma base militar foi atacada quase dizimando uma tropa completa. Nela havia brasileiros, americanos e mexicanos. Não foi divulgado o número de mortos. Estão recrutando voluntários das áreas de saúde para atuar na guerra. Mais notícias em breve no...
- Clara, acabou o plantão, hora de ir. – Ordenou minha enfermeira chefe, após 12 horas cansativas de trabalho.
Segui muda, durante todo meu caminho pra casa. O carro já fez tantas vezes o trajeto trabalho-casa, que automaticamente sabe o caminho de volta. Mas hoje foi diferente. A velocidade ultrapassou os habituais 60km/h. Dentro da minha casa, descalcei os sapatos que apertavam meus pés, olhei no relógio de pulso, marcavam 19 horas. Corri e liguei a televisão, nada dos canais de culinária desta vez. Agora a coisa era séria. Guerra.
Sintonizo em algum dos canais terminados em “News”, as noticias eram a mesma em todos eles: Precisam-se de voluntários nas áreas de saúde.
Uma pequena voz soou em minha cabeça, “isso é porque todos os outros voluntários morreram tentando”. Enquanto isso nossos homens no campo de batalha sofriam.
Desligo a televisão em busca de paz, ao menos silêncio. Impossível foi lidar com minha mente trabalhando a todo vapor, tanto vapor quanto saía do meu banho quente, nessa época de inverno não tão cruel paulistano.
Analisando minha vida, vi que nada tinha a perder. Um dia fui atleta, joguei vôlei por diversos clubes da minha cidade, já pratiquei artes marciais, já fui enganada por alguns namorados e hoje vivia sozinha, ganhando o amor dos meus pais à distância e do meu cachorro vira-lata. Grande coisa.
Hoje sou enfermeira, posso continuar a ficar na mesmice e orar pra que um dia a guerra acabe favorável a nós ou ser muito nobre e “dar a vida” por pessoas que jamais vi.
Essa história de campos de guerra, batalhas e vida/morte revirou meu estômago, o que era incrível, já que eu comeria até pedra se fosse preciso. Meus cem por cento apetite se reduziu a cinzas.
Fui deitar com um dilema a resolver. Sempre meu coração vencia o que o cérebro tinha a dizer. E meu coração dizia pra que eu fizesse algo para que eu pudesse me lembrar.
E se eu viesse a morrer?
Então você seria lembrada!
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