História Find A Place - Find A Place - Capítulo Único.

Fechei a porta do apartamento, encostei a testa na mesma e dei um longo suspiro. Hoje tinha sido mais um dia cansativo. Nos últimos meses, era bem mais fácil lidar com esse lado da fama, as festas, comemorações que um fim de um trabalho exigia.

Era fim de 2018, mais uma gravação do Especial de final de ano da Rede Globo, logo após o fim de mais uma novela de sucesso. Eu passei a odiar isso com o tempo. Não tinha mais paciência pra essas coisas. Na verdade, não tinha mais paciência pra nada.

- O que aconteceu dessa vez? - A voz de Guilherme soou ao fundo, me chamando atenção.

- Nada, só estou um pouco cansado. - Menti, como sempre.

Guilherme sabia que eu não estava bem, fazia meses que meu comportamento havia mudado drasticamente. Eu mesmo sabia disso, só gostava de mentir pra mim mesmo.

- Sei... Senta aí, vamos trocar uma ideia. - Ele respondeu, se aproximando do sofá.

Bufei irritado, mas já me sentando.

- Guilherme, estou cansado cara, só quero tomar um banho e cair na cama. – Argumentei.

- Você sabe que eu sei que você não está desse jeito apenas pelo cansaço ou “qualquer saco cheio” que seja. - Questionou com voz calma.

Eu odiava isso, essa preocupação que estava causando as pessoas que me amam, mas era inevitável. Eu mesmo não conseguia lidar com o que estava sentindo ultimamente.

- Sim, Guilherme, não é só cansaço, na verdade, nem eu sei o que é, eu só... - Não consegui terminar, minha garganta se fechou, meus olhos lacrimejaram. Droga! O que estava acontecendo comigo?!

- Você anda estranho Rafael, nos últimos meses tem se afastado de todos, de mim, seus amigos, sua família, principalmente da Julia. - Seu tom não era acusativo, era preocupado.

- Eu sei, e sinto muito por isso, mas é só uma fase ruim, eu sou assim mesmo, logo logo passa. - Respondi, sabendo que aquilo era mentira. Eu só havia ficado assim uma vez, depois do término com Ela...

Guilherme me olhava com olhos curiosos, eu sabia que ele estava pensando, provavelmente num possível motivo pra explicar essa minha pequena "depressão", se é que podemos chamar assim.

- Eu lembro bem da última vez que você ficou assim. - Eu me remexi desconfortável no sofá. Não gostava de lembrar dessa época.

- Quando você e Isabella terminaram, você estava exatamente desse jeito que está agora, só que um pouco pior, com mais raiva eu diria. - Enquanto falava, Guilherme observava atentamente minhas reações.

- Você sabe que eu odeio lembrar dessa época, odeio reviver esses sentimentos, e já foi horrível ter que encontrar com ela na festa de fim de ano e fingir que tudo esta bem....

- Então aí está o problema. - Meu amigo me cortou, levantando do sofá e caminhando para a cozinha.

- O que? O que você quer dizer com isso? – Perguntei, agoniado, enquanto o seguia.

- Você sabe bem o que eu quero dizer... - Respondeu enquanto encostava no balcão.

- Não, Guilherme, eu realmente não sei o que você quer dizer, pode por favor esclarecer minhas ideias? - Perguntei, não conseguindo esconder o tom de ironia e descrença na minha voz.

- Simples, ela ainda mexe com você. Na verdade, nunca deixou de mexer. - Respondeu de forma simples, olhando nos meus olhos.

Eu odiava isso! Odiava quando achavam que eu era fraco a ponto de ainda sentir algo pela Isabella, mesmo depois de tudo que aconteceu. Odiava que mesmo depois de três anos, e desses três, dois de um relacionamento sólido e maravilhoso com à Julia, eu ainda era o idiota apaixonado pela garota dos olhos mais azuis que eu já vi na vida...

- Você só pode estar louco! Essa piada já perdeu a graça cara, não cola mais. - Dessa vez, não consegui segurar o deboche em cada palavra dita.

Guilherme permaneceu parado, me observando, analisando minhas expressões. Eu já estava irritado com isso.

- Me admira muito você, Rafael, o cara mais sentimental e amoroso que eu conheço, se tornar frio e calculista quando se trata de seus sentimentos para com à Isabella. É triste. - Agora o tom irônico partiu dele, e eu não gostei nada!

- Qual é o seu problema, Guilherme? Eu não sinto mais nada pela Isabella, na verdade, sinto, respeito e admiração, nada mais! EU AMO À JULIA! - Respondi de forma desesperada.

- Wow, calma aê, não precisa gritar. Eu sei que você ama à Julia, e nunca duvidei disso, mas me diga Rafael, esse sentimento, é maior do que o que você tinha ou tem pela Isabella?

Não entendia o porquê desse questionamento, não entendia o porquê dessa minha mudança, mas principalmente, não entendia o porquê de não conseguir responder essa pergunta.

- Eu... É.. Onde você quer chegar, Guilherme? - Respondi de forma nervosa. Porquê eu estava tão nervoso?! Porquê esse aperto no peito?!

Guilherme me observou, se aproximou colocando a mão no meu ombro direito.

- Eu quero chegar ao lugar que você nunca deveria ter saído, Rafael. Ao seu coração!

Eu simplesmente não sabia o que fazer, meus olhos pesaram, uma imensa vontade de chorar me dominou. E foi o que eu fiz. Chorei abraçando meu amigo.

- Tá tudo bem cara. Eu sei que esse teu coração de poeta deve tá uma bagunça. - Guilherme disse se afastando, e levantando minha cabeça.

- Só não se esquece de quem você é Rafael. Não se esquece de que você é isso, sentimento, amor, carinho. Não se esquece de buscar sua felicidade como sempre buscou. É só isso que eu tenho pra te dizer, o resto o tempo vai te mostrar.

Assisti meu melhor amigo se afastar e caminhar até seu quarto. Continuei parado na cozinha, em pé, sem nenhuma reação.

Em segundos, passei a lembrar do que aconteceu naquela festa.

FLASHBACK

Estava saindo do bar, tinha ido buscar um drink pra mim. Julia não estava me acompanhando, ela tinha um compromisso hoje, alguma sessão de fotos, eu acho...

 Caminhei até a varanda do local, trombando com alguém que saia de lá.

- Opa, me desculpa... - Balbuciei, olhando para minhas mãos molhadas pelo líquido do copo derramado.

- Oi, Rafa. Não se preocupe, está tudo bem. - Levantei meu olhar, caindo diretamente naquele mar que ela carregava nos olhos. 

Ouvir ela me chamar de "Rafa", com essa voz suave, depois de tanto tempo. Meu Deus!

- I..Isabella. Que surpresa encontrar você aqui... Quer dizer, não é surpresa, já que você trabalha aqui e bom.. - Paralisei com o som da sua risada leve sobre a minha confusão. Ela sempre me deixou confuso!

- Eu entendi. - Respondeu, com aquele maldito sorrido de lado. - Você esta bem? Como anda a família? 

- Eu estou bem sim. A família... Tudo vai muito bem. E você? – Acho que eu não fui muito confiante nessa resposta, Isabella me olhou com olhos curiosos.

- Estou bem, cada dia mais feliz, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. – Não sei porquê, ouvir essa resposta fez meu coração apertar.

Não que eu não quisesse a felicidade da Isabella, claro que eu queria, mas o que me incomodou, de fato, foi a parte final, o "pessoalmente". Afastei esses pensamentos rapidamente.

- É ótimo saber disso. - Respondi, e passei a olhar para os lados por causa do silêncio que se instaurou no lugar.

Acho que nenhum de nós esperava esse encontro.

- Eu assisti sua novela, você arrasou como Léo Régis, sucesso total com as “regetes.” - Isabella quebrou o silêncio, sorrindo timidamente em seguida. Ah, esse sorriso...

- Obrigado. Você então, nem preciso falar, foi um espetáculo como Letícia. Arrasou como sempre! - Respondi olhando pra ela.

Meu Deus. Eu não tinha reparado nela por inteiro, acho que me perdi nos seus olhos antes. Isabella usava um vestido preto, justo, caindo perfeitamente em suas curvas. Sua cintura fina e delineada estava a mostra por causa de uma abertura sensual no vestido. Seu corpo estava ainda mais lindo do que eu me lembrava.

Ela era a mulher mais linda que eu já vi na vida!

- Rafa. Rafael... Rafa. - Acho que me perdi um pouco. Acordei com ela me chamando, completamente vermelho de vergonha.

- É.. Oi, pode falar. - Respondi, quase que engasgando.

- Eu tenho que ir. Foi muito bom te rever, de verdade! - Isabella se aproximou, me abraçando, envolvendo aqueles pequenos braços nos meus ombros. 

Eu demorei um pouco para corresponder, mas depois, me agarrei aquele corpo pequeno, inalando o perfume de seus cabelos agora curtos, mas não tão curtos como quando começou a novela. 

Que saudade desse cheiro. Ela ainda tem o mesmo perfume natural. Eu não sei explicar, é algo totalmente único, é maravilhoso!

Me separei dela a contragosto, e permaneci de olhos fechados, como um completo idiota.

- Tchau, Bella. Também foi bom te rever. Manda um beijo pra sua mãe e pra Nina!

- Pode deixar, vou mandar sim! Até mais, Rafa. - Observei ela saindo, através das cortinas que separavam a varanda do salão central.

Caminhei adiante, abrindo lentamente as mesmas cortinas que ela tinha deixado para trás. Observei ela encontrar com seu namorado, Lucas, no meio do salão, abraçar seu pescoço, sussurrar algo e sorrir. Sorrir daquele jeito que só ela sabe sorrir. Sorrir até fechar os olhos.

Uma música lenta tocava, e os dois dançavam no mesmo ritmo. Abraçados. Sorrindo. Felizes... Virei pra trás e voltei pra varanda no momento em que eles começaram um beijo de cinema, apaixonados.

Meus olhos lacrimejavam. Eu não conseguia pensar em nada, só sentia um vazio incrivelmente assustador e angustiante. Eu não entendia nada. Só queria fugir daquele lugar o mais rápido possível. E foi o que eu fiz...

FLASHBACK OFF

Meu Deus!!! Eu ainda estava parado na cozinha, do mesmo jeito. Chorava silenciosamente. Roboticamente. Tudo isso de novo, tudo aquilo que eu passei, todo o sofrimento, a dor, o medo... Absolutamente tudo tinha voltado. Voltado com uma força ainda maior.

Guilherme tinha razão. Eu passei os últimos meses negando isso pra mim mesmo, mas eu sabia que era sobre ela, sempre foi.

Eu nunca deixei de acompanhar a vida da Isabella, estava sempre olhando suas fotos, admirando seus sorrisos. Sorrisos esses que não eram mais direcionados a mim.

Meu coração se apertava a cada declaração, cada viagem, cada momento que ela passava ao lado dele. Eu simplesmente queria estar lá, no lugar dele, sendo o motivo da felicidade e do amor dela.

Sai de casa caminhando até a praia, não era muito longe do meu apartamento. Sentei na areia e desabei. 

O que eu estava fazendo com a minha vida? Como lidar com isso? E à Julia, como ficava nessa história?

Julia. Ela que sempre me apoiou, sempre esteve ao meu lado, me amando. Ela estava distante nos últimos meses. Será que até ela percebera isso? Será possível, meu Deus?!

Eu não sabia o que fazer, estava bem claro na minha cabeça, eu amava Isabella. Acho que nunca deixei de amar. E junto com essa constatação, toda a certeza sobre o que eu sentia pela Julia se esvaiu como o vento.

Agora o que fazer?! Eu vi com meus próprios olhos. Isabella amava Lucas, era apaixonada por ele. Eu estava ficando louco!

Em meio a tantos pensamentos confusos, olhei para o céu. Ela estava lá, à LUA, minha companheira. Toda vez que olhava para o céu era um lembrete, de que eu sempre amaria Isabella. Como pude ser tão burro, como não percebi isso antes?!

Eu me sentia completamente sem forças e sem esperanças. Confuso e amedrontado. Não queria me sentir assim. Eu estava cansado... Eu estava perdido!

Precisava Encontrar Meu lugar...