História Finding and Uncovering (Hiatos) - Ele. Ela. E um jardim

Na sala

O estresse estava tomando conta dos nervos do pessoal. Principalmente de Ever que não poupou esforços em chamar a atenção de quem estava irritando-a.

"Freed! Pare de chorar como uma menininha. E você também, Bixlow! Pare já de rir... Isso não é engraçado" Sussurou a última parte.

Parando de bater as almofadas umas contra as outras, o mais velho dos três se acomodou melhor no estofado e lançou um sorriso aconchegante. Mesmo que ninguém tivesse tido a glória de vê-lo.

"Chega Bixlow, você está me esmagando..." Disse com sufoco.

"Então você não gosta de abraços?" brincou, "Como pode uma pessoa mudar tanto em apenas um dia?..."

Em meio as novas implicâncias de Ever e Bixlow, Freed se encolhia ainda mais. Sua respiração estava aflita e tudo só piorou quando ouviu alguma coisa saindo fora do lugar.

"Mas o quê?-" Foi interrompido.

"Shiii, não há o que temer Freed," a suavidade de sua voz, de algum modo, conseguiu acalmar o amigo, "Eu só irei checar se Laxus precisa de ajuda".

O verdeado concordou com a cabeça e passou silenciosamente boa parte do momento. Com o tempo, as brincadeiras dos outros dois também cessaram. Logo, o ambiente transbordava em silêncio.

"..."

Para amenizar o clima estranho, Bixlow teve uma ideia.

"Que tal contarmos ovelhin-"

"PLAFT!"

"Ou melhor não?" Perguntou amedrontado.

Laxus

Bastou nem piscar os olhos para saber que tinha feito uma das maiores burradas de sua vida. Estava estampado em sua face assustada e vermelha que o que fez, mesmo num ato do momento, de adrenalina, foi incontestável. Seus hormônios não tiveram nada haver com isso. Agora se ela o entederia, era uma outra história.

O que não havia percebido era que ele não tinha sido o único que foi levado pelas emoções do momento, pois Mirajane ainda mantinha uma das mãos sobre a sua. Sua tentativa de tirá-la, só fez Laxus colocar seus olhos no lugar onde ela não gostaria que ele pusesse.

Enrijecendo logo em seguida, ambos retiram as mãos e viraram os corpos para lados opostos. Enquanto o louro pôs a mão na testa, Mirajane baixou a cabeça cobrindo o decote. Realmente havia uma tensão no ar.

Pareceu que um e outro tiveram a mesma ideia. No canto que Laxus tinha se virado, vasculhando aos arredores encontrou somente uma pá. E no outro extremo, Mirajane acabou descobrindo a existência de uma vassoura encostada atrás de um armário.

Os dois retornaram para o local onde tudo aconteceu e deram um passo para trás quando fixaram os objetos que haviam levado consigo.

"Eu estava procurando por-"

Ambos acharam engraçada a coincidência. Risadas foram soltas por ambas as partes e de pouquinho à pouquinho, a inquietação começava a se dissipar.

Eles resolveram desconversar sobre o que havia acontecido momentos atrás. Coisas desse tipo eram melhores serem deixadas dentro de um baú.

Pondo as mãos na massa, Laxus viu que era melhor eles trocarem de posição pelo bem do seu estado mental.

"Acho melhor você ficar com a pá"

"Por que?"

"Só...fica"

Mirajane

Assim, eles continuaram a catar os cacos de porcelana espalhados no chão. Porém desta vez, Mirajane não se atreveu a cantar. Talvez porque quando veio a vontade, três figuras alvoroçadas vieram em disparada para onde ela e Laxus estavam.

"Nós só não chegamos mais cedo porque...eh...porque-"

Mesmo com a cabeça inclinada ao chão, Laxus murmurou um "frouxos" que somente a branca pôde ouvir. Retorcendo um pouco a cara com o comentário maldoso do seu parceiro de limpeza, Mirajane se levantou e tentou acalmar os ânimos dos seus colegas.

"Já está tudo bem agora. Eu e Laxus já estamos terminando de arrumar a bagunça" Sorriu ao final.

"E o que isso tem haver com..." Sem escrúpulos, Ever apontou para a direção de seu busto. O que só fez a atenção dos três se voltarem para a fina sobra queimada.

"Aah! Isso?" Pressionou os braços fortemente a fim de escondê-los. O que não foi uma boa já que o contato com a sua pele sensível rendeu uma boa dor.

Mesmo assim, a branca olhou para Laxus por longos segundos em busca de arrego para aquele questionamento. Porém, o mesmo se manteve encarando o chão como se fosse a coisa mais instigante possível.

Sem saída, a albina embolou em meio as palavras. Num estouro, correu para a porta que ficava próxima ao armário de mais cedo. Ficou fascinada com o que havia descoberto.

Um jardim.

Desde pequena, Mirajane costumava correr entre a imensidão que era o seu jardim. Seu sorriso era retangular, e ele se ampliava ainda mais quando notava que não estava sozinha. Sim, pois naquele lugar extravasava vida. Vida refletida através das orquídeas de tom lilás, dos passarinhos cantantes, dos seus irmãos que vez ou outra participavam de suas aventuras de criança.

Com toda certeza aquele lugar era de longe o seu favorito.

Ela só se tocou do que estava pensando, quando sorrateiramente envolveu as duas cordas que prediam o balanço elaborado no topo de uma árvore. Aproveitando o vento e a calmaria da noite, permitiu que seus cabelos de platina e que seu corpo embalassem naquele friozinho que estava tendo.

Laxus

Mas por outro lado, agora era Laxus que precisava de arrego. Como ele arrancaria a coragem de dentro de si para explicar o que exatamente aconteceu? Se nem ele mediu esforços para apoiar Mirajane?

Antes que seus amigos pudessem dizer qualquer coisa, o louro já havia iniciado sua sentença muito rapidamente. A moral foi que ninguém conseguiu acompanhar.

"AenergiacaiueeuvimparaacozinhapegarumavelaporémeunãotinhapercebidoapresençadeMirajaneesemquerereuacabeiderrubandoavelaesurpreendentementeseudecotecomeçouapegarfogopeloamornãopensembesteira" Recuperou o fôlego no final.

"Compreendemos" Agarrando disfarçadamente o colarinho de Ever e Bixlow, os três rapidamente se despediram pelo corredor. O que só deixou Laxus boquiaberto.

No corredor

"Por que não nos deixou a par de saber a situação?"

"Você não viu o quão sem graça Mirajane ficou por conta da sua discrepância?" Rebateu Freed.

"Ei! Eu não fiz por mal. Só achei estranho o seu vestido estar queimado, justamente nessa área..." Ever reproduziu o que viu.

"Vocês querem voltar ao filme ou preferem ficar discutindo sobre o quão indiscreta e inusitada estão imaginando a cena? Porque eu estou tendo umas ótimas ideias passando pela minha cabeça sobre o que pode ter acontecido..."

"Nojento Bixlow" Ambos concordaram um com o outro.

"Então juntem os traseiros e andem aqui..." bateu nos dois lugares vagos ao seu lado no sofá, "Depois de tudo isso eu nem me lembro mais da onde a gente parou..."

Pegando um pouco de água na geladeira, Laxus caminhou e parou em frente a porta de alumínio da cozinha. Olhou através do vidro da mesma e ficou contente com a reforma feita na parte detrás da casa. Estava mais florida e iluminada. Seus olhos percorreram até avistar a árvore onde ele mesmo havia construído um balanço qualquer. O mesmo que estava balançando Mirajane.

Para não ficar parado feito um bobo em frente a porta, Laxus decidiu abusar um pouco mais da água, deixando ao final no tapete escrito "Lar doce Lar", uma pomada indicada para queimaduras.

E a única coisa que se lembrou foi de se espremer em um canto do sofá para tirar um cochilo.

5 dias depois

Os dias da semana passaram mais depressa do que Laxus gostaria. E só de pensar que uma hora ele teria que voltar para casa já o deixava irritado. O problema não era a saudade do lugar. Praias? Blé! No momento ele nem mais ligava pra elas. Seus amigos? Sempre! Porém, havia surgido um outro empecilho para o seu retorno.

Pareceu que aquele incidente, que mesmo havendo mais chances de surtir o efeito reverso, tinha aproximado-os cada vez mais. E Laxus não estava pronto para abandonar os seus olhares, as suas conversas... Ele só não estava pronto para abandoná-la, simples.

Ele sentiu que Mirajane se abria cada vez mais e no seu caso, a mesma coisa. Porém deu para ver em seus olhos que nem tudo estava totalmente bem. Havia algo em Mirajane que ele não tinha conhecimento, mas também não faria sentido algum pressioná-la.

"Presa em nome da lei!"

"Poxa," suspirou, "Eu achei que estava indo bem..."

"Você só estava sendo muito descarada, Mirajane," rindo um pouco, prosseguiu, "Assim fica óbvio para o detetive, no caso eu, descobrir que você é a ladra".

"Então da próxima vez tomarei mais cuidado. Obrigada, Lax"

E essa foi a primeira vez que ela deixou escapulir esse carinhoso apelido. O que sempre fez Laxus ruborizar, mesmo que minimamente, em todas as vezes.

Um dia desses, o louro havia recebido um telefonema de seu avô e como sempre, o havia estressado profundamente. Não é que ele não amava o velho, era que... Argh, nem ele mesmo sabia porque repelia o seu avô.

O mais interessante de tudo isso era que ele estava lá, naquele jardim vistoso, ajeitando as plantinhas um pouco ressecadas. Se viesse alguém de longe, ficaria abismado com a cena.

"Não sabia que tinha todo esse cuidado com plantas"

Lentamente Mirajane vinha ao seu encontro, e Laxus apenas continuou com o que estava fazendo.

Ele só acordou quando viu uma mão a sua frente, segurando uma xícara de chá. Ele não vai mentir, o aroma era tranquilizador.

"Está tudo bem Lax?" Perguntou de um jeito tímido.

Escondendo um pouco o rubor abaixo de seus olhos e aceitando de bom grado a xícara de chá, Laxus respondeu:

"Sim, eu meio que estou deixando o tempo passar. E não há nada melhor do que passar o resto do dia aqui fora na companhia desses seres".

"Como se fosse uma terapia?" Deu um palpite.

"É, como se fosse uma terapia. Sabe, a gente descobre coisas diferentes quando entramos em uma ambiente mais colorido como esse, mais calmo. Mesmo que ainda há pássaros que gostam de encher o meu saco"

Seu comentário final fez Mirajane abafar uma risada.

"O sentimento é bom. É envolvente e puro. Acredito que foi Ever que decidiu construir isso aqui"

"Na verdade foi Freed que tomou primeiro a iniciativa. Nessa época eu havia viajado pra cá e meio que ajudei um pouco nisso tudo," prosseguiu, "Está vendo aquele balanço ali? Fui eu mesmo que construi".

Sem desvencilhar seu olhar no objeto, Mirajane falou.

"Gosto desse balanço. Ele me remete a um sentimento de liberdade e juventude, como se meu instinto de criança ainda estivesse vivo aqui dentro"

Laxus fitou Mirajane com admiração. Como ela pode ser tão...tão.

Ele estava tão entretido que não havia percebido que a mesma tinha mudado de assunto. Viagem. Quando foi mesmo que ele citou sua viagem?

"Então... Isso quer dizer que está viajando... Você não mora aqui?"

O louro realmente não queria conversar sobre isso. As questões que fizeram ele e o seu avô se mudarem do reino de Fiore não era assunto para Mirajane. Não era assunto para se resolver nesse momento.

"Não se preocupe, eu não irei embora sem me despedir de você..." Ele viu Mirajane fechar um pouco a cara "E-Eu não estou pensando em voltar agora. Tenho uma longa temporada aqui pela frente"

Ele percebeu que tinha esfriado a conversa entre eles. Com um pouco de curiosidade e na tentativa de animar novamente o ambiente, Laxus fez uma pergunta para Mirajane.

"Sabe, você ainda não me contou muito sobre você. Sei tudo sobre o que te diz respeito durante esses dias que nos conhecemos, mas antes disso... "

"Bem... Eu nunca fui uma pessoa de muitos amigos e graças aos meus irmãos eu não me senti sozinha por todos esses anos"

"Você tem irmãos, quantos?"

"Tenho dois, e ambos são mais novos do que eu. Tenho uma irmãzinha que se chama Lissana e um irmão chamado Elfman..."

Elfman. Estranhamente familiar.

"E eu estou morrendo de saudades deles"

"Então porque não volta para casa?"

Indagação direta e errada. No fundo, Laxus não queria que Mirajane retornasse para onde veio. Mas então porque...

"Não é tão simples assim, Laxus..."

Se ele ouviu bem, ela havia o chamado de Laxus. Muito bom cara.

Mirajane apenas colocou sua xícara entre os lábios e permaneceu ali, a beira do silêncio.

O louro não pretendia que sua conversa chegasse a esse ponto. Ele sabia muito bem que existem coisas que não gostaríamos de compartilhar, coisas que só mantemos guardadas para nós mesmos.

Abrir o coração de alguém custa muito.

Sem muita experiência com romance e com flores, Laxus arrancou bruscamente não uma, mais várias flores amarelas. O ruído da planta sendo puxada e retornando para onde estava, chamou a atenção da albina.

"Laxus! Por que voc-" Toda tristeza e ressentimento que julgava estar sentido não havia mais propósito. Sua visão e sua mente foram preenchidas da mesma forma, com a mesma imagem. A imagem de Laxus com o rosto próximo, quase colado ao seu, junto do toque quase imperceptível em sua orelha, só fez a albina arrepiar-se inteiramente.

"Lax..." Na mesma hora em que ela precisava se safar dessa condição agonizante que era estar cara a cara com Laxus outra vez, ela queria uma coisa. Memórias. Mirajane queria ter memórias com Laxus.

"Sei que deveria ter respeitado o seu momento. Desculpe. Nós dois temos problemas que ainda não estamos prontos para compartilhar uns com os outros, então só vamos conversar sobre outras coisas e esperar a hora certa"

E foi em prol dessas circunstâncias que Laxus e Mirajane passaram a se dar muito bem.

Abraçando o travesseiro ao seu lado, sonolenta, Mirajane também se despedia dessa boa lembrança. Sem saber que existem outras pessoas envolvidas em seu problema. Inclusive Laxus.

***

"Você achou mesmo que poderia fugir de mim depois de todos esses anos?" Empurrando fortemente a porta que não lhe pertencia, o homem por fim se apresentou.

"A quanto tempo, papai".