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História Finding Him - Capítulo 1


Escrita por: mr_reedies

Capítulo 1 - Capítulo 1


Rafael Solano embalava Mateo e sorria enquanto observava sua carinha recém-nascida. Nela, era exibida uma expressão descontente, com direito a testa enrugada e boca escancarada, emitindo todo um berreiro. Rafael sabia que era aquilo que mantinha o garoto vivo e, por conta disso, o som não poderia lhe ser mais agradável. Era como música para os ouvidos.

Sentiu vontade de chorar e deixou que uma lágrima escorresse. Apesar do choro, riu, porque, em dado momento, o bebê ergueu os dedinhos no ar em um V que lembrava muito o sinal da vitória, e Rafael concordava que aquela era uma grande vitória, afinal, por quanta coisa aquele bebê e sua mamãe não passaram até que aquele momento chegasse? Por conta disso, achava curioso que seu filho parecesse tão saudável, principalmente após todas as suspeitas que tivera, e isso o maravilhava. Era como se toda a jornada de repente mostrasse o seu valor, e Rafael se sentia orgulhoso de ter tido parte no desenvolvimento de uma criança tão linda.

– Ele é lindo, não é? – ouviu a voz de Jane dizer.

– Mais do que eu seria capaz de descrever.

Em pé ao lado de Jane, que ainda se mantinha deitada em seu leito por recomendações médicas, Rafael se esquecia do mundo e de tudo o que o levara até ali. Não se importava com aparências, problemas que precisavam de solução ou o que fazer a seguir; apenas apreciava o momento como só um pai poderia apreciar.

– Rafael – Jane voltou a dizer, e só então Rafael se voltou para ela.

– Sim?

– Pode me passar o bebê?

Jane continuava tão linda que nem parecia ter passado por um trabalho de parto há algumas horas. Seu semblante era alegre e feliz, de um jeito que só alguém que se sentia completo poderia exibir. Era contagiante, e Rafael se deixou contaminar pela animação.

Jane lhe oferecia os braços abertos, ainda pedindo Mateo, e Rafael o depositou com cuidado neles, sussurrando palavras de carinho para o filho. Com Mateo nos braços, Jane lhe entregou um agradecimento e se voltou para o outro lado da cama, oferecendo a criança a Michael.

Ao Michael?

– Ei, ei, ei, o que está fazendo, Jane?

– Você já estava com ele há meia hora, pensei que quisesse descansar um pouco...

– Jane, por que está entregando o bebê a ele? – Rafael perguntou, apontando um dedo para o outro homem na sala.

– O quê? Tem medo de que eu o roube? – Michael retrucou.

Jane estava certa sobre Rafael já estar com Mateo nos braços há meia hora, mas ele não vira esse tempo passar e não veria mesmo que estivesse com o filho nos braços durante um dia inteiro. A sensação era indescritível e hipnotizante, e não à toa, por um momento, ele se esquecera completamente de que o antigo namorado de Jane se encontrava no mesmo recinto o tempo todo, parado como uma estátua, como se sequer estivesse ali realmente. Michael pedira para segurar a criança assim que entrara no quarto, mas Rafael estivera tão distraído enquanto se deixava envolver pelo amor que sentia pelo filho que se esquecera da sua presença.

E agora Michael embalava o seu filho enquanto Mateo agarrava seu dedo indicador no que talvez fosse um pedido de socorro que nem Michael e nem Jane eram capazes de enxergar.

– O que ele está fazendo aqui? – Rafael sussurrou para Jane, ainda que não houvesse espaço para que algo pudesse ser dito em segredo.

– Ele é importante para mim, Rafael. O Michael sempre me apoiou durante a gravidez, mesmo depois de... – Jane soltou um pigarro, como se preferisse isso a dizer o que tinha em mente. – Ele é um grande amigo.

– Um grande amigo – Rafael repetiu, com um quê de questionamento.

– No momento, não mais do que isso. – Jane se voltou para Michael e, ainda sorridente, o contemplou com algo muito parecido com ternura. Rafael se perguntava se Jane não desejava que fosse ele o pai do seu filho. – E você é o pai – Jane retomou e se voltou para Rafael. – E, mais do que é isso, é um grande amigo também.

Rafael enfiou as mãos nos bolsos e sorriu, enquanto lágrimas de decepção escorriam para dentro do rosto, longe do alcance de visão alheio.

– Meus parabéns, Jane – disse Michael, o rosto ficando avermelhado, dando-lhe a impressão de que estava prestes a chorar de emoção. – Seu bebê é uma criança linda.

Jane lhe ofereceu um sorriso de gratidão.

– Consigo ver como o Mateo se parece com você – Michael continuou e tocou a ponta do nariz do bebê. – Esse nariz...

– Eu acho que o nariz do Mateo se parece muito com o meu – disse Rafael, finalmente.

E Michael balançou a cabeça em negativa.

– Eu não sei. O nariz do Mateo é mais afilado, como o da Jane, sem essa corcova que você tem no seu...

– Como pode ter certeza disso, se a criança acabou de nascer?

– Bem, é algo que posso ver enquanto estou com ele nos meus braços.

Rafael sorriu e dessa vez pouco se esforçou para que o sorriso parecesse sincero.

– Mas e os olhos? Não há como dizer que os olhos não são os meus.

– Talvez. Mas se você observar bem a maneira como as pálpebras caem sobre os olhos, verá que...

– E também tem a cor da pele. Eu e Mateo temos a mesma cor, como você pode ver.

Michael ergueu ligeiramente a cabeça na direção de Rafael, mas não se deu o trabalho de fazer isso por muito tempo. Rafael deu-se por satisfeito com seu silêncio, pois ele demonstrava que Michael entendera, enfim, que aquela conversa não tinha nenhum propósito.

– Bem, você e a Jane não são tão diferentes nesse aspecto... – ele disse, no entanto.

– A que ponto está querendo chegar, Michael?

– Eu só acho que o Mateo tem muito do que os Villanueva têm mostrado há tantas gerações...

– Eu sou o pai dessa criança!

– Ei, vamos acabar com o drama agora! – pediu Jane, espalmando as mãos na direção dos dois como se apartasse uma briga. – Vamos fazer o seguinte: eu estou cansada no momento e tudo o que eu queria era uma boa noite de sono na companhia do meu filho. Michael, por favor – disse, oferecendo os braços na direção de Michael como fizera há pouco com Rafael. Michael deu um último beijo na testa da criança e a entregou a Jane. – Ótimo. Acho que vocês deveriam ir para casa descansar. Foi um dia bem difícil para todos nós e...

– Não precisa dizer mais nada! – disse Rafael em tom carinhoso. Aproximou-se de Jane e afagou-lhe os cabelos. – Espero que tenha uma ótima noite.

– Eu desejo o mesmo – disse Michael, aproximando-se da mesma forma. – Vai precisar de toda energia do mundo, se essa criança for tão animada quanto você.

Jane distribuiu sorrisos iguais para ambos.

Rafael fuzilou Michael com o olhar, sem que esse se desse o trabalho de percebê-lo.

Michael apoiou-se na cama e se curvou na direção de Jane, aplicando-lhe um beijo na bochecha.

Rafael se apressou em fazer o mesmo e por muito pouco o corpo não caiu inteiro em cima da mulher que amava durante o beijo.

– Acho que nunca mais nessa vida vou receber tanto amor quanto estou recebendo nesse momento – disse Jane, visivelmente constrangida. – Agora vão! Amanhã a gente volta a se falar.

Sem oferecer outra opção, Jane empurrou os homens que a beijavam e procurou uma posição melhor na cama tanto para ela quanto para o bebê.

– Até amanhã, Jane – disse Michael.

– Até amanhã, meu amor – Rafael disse em seguida, quando ele e Michael passavam para fora do quarto, abrindo passagem para que uma enfermeira que estivera ali o tempo todo entrasse.

Rafael seguiu à esquerda, direção na qual ele sabia que ficava uma espécie de cafeteria do hospital, onde esperava tomar um café e comer alguma coisa. A saída do hospital ficava à direita no corredor, mas não foi para essa direção que Michael seguiu.

– Você sabe que a saída do hospital é naquela direção, não sabe...? – Rafael lhe disse, sem lhe destinar qualquer atenção.

– Eu sei – disse Michael alguns passos atrás. – Mas não estou pensando em ir embora.

Rafael o checou por cima do ombro e inclinou a cabeça em consentimento. Virou novamente à esquerda e adentrou uma salinha pequena e vazia àquela hora da noite, onde estavam distribuídas algumas mesas redondas e uma porção de cadeiras, todas tão brancas quanto as paredes do hospital.

Caminhou para a máquina de café e acionou o botão referente ao tipo mais forte de café que tinha disponível. Enquanto isso, vasculhou as opções oferecidas em uma máquina de snacks, concluindo que um pacote de amendoins salgados caberiam bem no momento, ainda mais acompanhados de um copo de café.

Ofereceu alguns dólares à máquina e digitou o código dos amendoins. Quando um lampejo de paranoia o tomou, fazendo-o imaginar que, assim como nos filmes, o aparelho seguraria seu pacote de amendoins e não o soltaria nem após um conjunto de chutes, sentiu-se pronto para brigar com a máquina. Momentos após, no entanto, o pacote se soltou da mola que o prendia e logo encontrou abrigo na bandeja abaixo, de onde Rafael o retirou satisfeito. O aroma de café expresso preenchia o pequeno refeitório, deixando claro que sua bebida já estava pronta há algum tempo na máquina ao lado. Rafael a apanhou também, tomando cuidado para não derrubar nada, agora que estava com ambas as mãos ocupadas, e se voltou para o refeitório, pensando em qual mesa escolheria naquela noite.

Michael estava exatamente às suas costas, brincando com os dedos enquanto aguardava a sua vez de usar as máquinas.

– Amendoins e café. Que escolha interessante.

– O que está fazendo aqui, Michael?

– Hoje foi um dia e tanto, mal tive tempo para comer. Se não me engano, essa está para ser a minha segunda refeição do dia, e é bom que eu me apresse em fazê-la, porque meu estômago já parou de roncar há algum tempo e eu não sei o que isso pode significar.

– Poderia comer na sua casa.

– Sozinho? – Michael franziu o nariz e sacudiu a cabeça em negativa. – Não em um dia como esse, e você deve me entender bem, já que preferiu pagar por um café ao invés de ir para o seu hotel e pedir serviço de quarto. Pelo menos aqui eu estou próximo da Jane.

Rafael analisou as feições de Michael por um instante, em busca de qualquer coisa que pudesse lhe dar indícios do que dizer a seguir. Michael o encarou de volta com o semblante bondoso que não parecia abandonar seu rosto pálido mesmo quando precisava fazer algum trabalho sério. Talvez tivesse algo a ver com seus olhos pequenos e azuis, que passavam pouca austeridade. Rafael já o contemplava havia tempo demais para que pudesse dizer algo que valesse a pena quando decidiu que o melhor a fazer era simplesmente sair da frente e se dedicar ao seu café.

Escolheu uma mesa no canto, distante o bastante das outras mesas para que Michael tivesse liberdade de escolher aquela que lhe conviesse – e que fosse mais distante. Abriu o pacote de amendoins e despejou alguns sobre a superfície da mesa. Levou alguns à boca e mexeu o conteúdo do seu copo com uma colherzinha de plástico, olhando para fora do refeitório.

Michael se sentou em uma mesa ao seu lado, acompanhado de uma barra de chocolate e um copo de café.

– Não vai dormir se beber café demais – Rafael lhe cutucou.

– Você não pareceu se preocupar com isso quando pegou esse copo de café expresso. Aliás, não sei nem como consegue beber café assim. Eu jamais me sujeitaria a beber uma bebida que tivesse um cheiro tão estranho...

– A Jane pode precisar de mim durante a noite e quero estar bem desperto.

– Ela deve imaginar que você foi embora, a essa altura.

Rafael deu de ombros e sorveu um gole de seu copo de café. A bebida desceu com amargor e força, mas ele escondeu do rosto qualquer traço de repulsa; não queria trazer mais satisfação ao olhar de Michael.

– Jane não está com nenhum de nós, Rafael – Michael retomou, tomando uma posição mais confortável e largada em sua cadeira. Fitava qualquer coisa fora da sala enquanto falava, e Rafael juraria que ele falava sozinho, se Michael não constantemente mencionasse o seu nome. – Ela gosta muito de nós. Como amigos, como você ouviu. Admira o nosso esforço e tudo que fizemos por ela até aqui, mas você há de concordar que ela não é mais apegada a nenhum de nós. Chegou a esse hospital sozinha e teve todo o apoio de que precisava durante o parto: sua família. É com eles que ela conta, não com a gente. Você é o pai por acidente do filho que ela nunca pensou em ter. – E só então destinou um olhar demorado a Rafael quando disse: – E eu só fui o namorado que estava com ela quando essa bomba explodiu.

Rafael sustentou o olhar de Michael com frieza, tamborilando os dedos sobre a mesa.

– Eu cometi erros – Rafael deixou escapar.

– Eu também cometi alguns.

– Mas erros podem ser perdoados e eu estou disposto a conversar com a Jane e explicar cada uma das minhas atitudes.

– Um pouco de perdão pode ser bom, mas talvez não mude o que ela pensa sobre você.

– Você tem esperança de que um dia ela volte com você, Michael?

Michael deu de ombros.

– Eu não sei. Mas estarei aqui por ela quando e se ela precisar de mim.

Rafael apertou os olhos na direção de Michael e se voltou para seu copo de café. Era melhor que o finalizasse enquanto ainda estivesse quente, pois pelo menos assim o sabor pareceria mais agradável do que realmente era.

Já havia se passado pelo menos dez minutos de silêncio constrangedor quando uma enfermeira surgiu na porta do refeitório e esquadrinhou, com olhos saltados, o pequeno recinto em busca de algo ou alguém.

– Algum de vocês dois é pai de Mateo Villanueva? – perguntou, enfim.

– Eu sou, Rafael Solano.

– Poderia me acompanhar, por favor?

– Algo aconteceu?

– Se puder me acompanhar...

Rafael abandonou o copo de café e o pacote de amendoim do jeito em que se encontravam e se levantou num pulo. Esbarrou no pé da mesa e por muito pouco não tropeçou; apoiou-se em sua superfície para evitar a queda. Não olhou para trás quando acompanhou a enfermeira corredor adentro e, mais uma vez, se esquecera completamente da existência de Michael.

– O que está acontecendo? – Rafael perguntou com uma voz mais enérgica, difícil de ser ignorada.

Mas a enfermeira o ignorou mesmo assim e só voltou a falar quando, num súbito, parou em frente a uma porta e a abriu, oferecendo passagem para Rafael.

– Tudo o que você precisa saber está aí dentro.

Rafael caminhou para dentro da sala e se deparou com um senhor de certa idade, com os cabelos ralos e brancos como algodão doce e olhos pequenos e esmagados escondidos atrás de grossas lentes. Por conta disso, conseguiu prever pouca coisa do teor da conversa que estava prestes a ter, mas nem por isso suas expectativas eram das melhores.

– O que aconteceu com o meu filho? – disparou sem pensar duas vezes.

O senhor à sua frente ajeitou os óculos sobre o nariz e respirou fundo, como se temesse aquele momento tanto quanto o próprio Rafael. Quando falou, tentou manter o tom calmo da voz, típico de médicos que procuram ter tato antes de revelar a alguém que o nódulo em seu pescoço se revelou como um câncer. Talvez esperasse diminuir a urgência do fato que acabara de revelar ao fazer isso, mas Rafael bem sabia que, quando uma notícia ruim precisava ser dada, não importava o jeito como ela fosse dita, o seu impacto seria sempre o mesmo.

Sendo assim, quando Rafael ouviu do diretor do hospital que seu filho havia sido raptado sem deixar rastros, sua reação não foi outra, senão girar nos próprios calcanhares e deixar aquela sala.

A primeira pessoa em quem Rafael pensou foi em Jane, e foi esse pensamento que lhe concedeu forças para correr. Em nenhum momento duvidou do que o médico dissera, pois estava convicto de que um hospital sério como aquele não faria uma brincadeira de teor tão desagradável. Pensou com a razão, e sabia que o certo a se fazer era agir enquanto ainda fosse cedo. Seu corpo podia até estar preenchido com pavor no momento, especialmente enquanto corria todos os metros que o separava de Jane, mas em nenhum momento ele pensou em desistir. Jane seria aquela que mais precisaria de ajuda no momento, e ele queria estar por perto para lhe dar toda a força de que ela precisasse.

Deparou-se com Xiomara Villanueva à porta do quarto de Jane quando o alcançou. Como era de se imaginar, a mãe de Jane já recebera a notícia e parecia inconsolável enquanto limpava o nariz avermelhado em um lenço de papel.

– Xiomara, eu preciso falar com a J...

– Não é uma boa hora, meu jovem.

Rafael sentiu uma mão lhe tocar o ombro e se voltou na direção da voz. Era Rogelio De La Vega quem falava.

– Confie em mim, eu já tentei – disse o pai de Jane com um tom de voz derrotado, quase à beira do choro. – Xiomara não quer falar comigo e não me deixa nem consolá-la. Está à porta do quarto porque Jane exigiu que ninguém estivesse por perto: está não só chocada como paranoica, com medo de que lhe façam mal. Eu estava lá dentro quando trouxeram a notícia e fui obrigado a sair, porque...

– A Jane não sabe o que quer.

– Ela tem idade suficiente para saber o que quer, Rafael, e eu sou a melhor pessoa para afirmar isso. – Destinou um olhar triste a Xiomara, que ainda chorava, inconsolável, à porta do quarto. Rafael se perguntava se Jane não quisera nem a sua presença naquele momento. – O que eu aconselho é que fiquemos por perto para quando precisarem de nós, o que pode acontecer a qualquer momento.

Rafael nunca vira Rogelio falar com tanta seriedade. Nem parecia o homem com o qual convivera durante seu tempo de namoro com Jane. Talvez tivesse sido essa a constatação que o fizera repensar sua estratégia; forçar a natureza das coisas não daria certo nas atuais circunstâncias. Jane era uma mulher geniosa, que gostava de ter controle sob a situação, e se Rafael entrasse naquele quarto mesmo sem ser da sua vontade era provável que arruinasse tudo ainda mais.

– Sei que deve estar sendo difícil para você também e, se precisar de alguém para conversar, eu estarei por perto.

– Obrigado, Sr. De La Vega, acho que vou precisar de todo o apoio que puder...

– Mas não agora – disse Rogelio, afastando Rafael que, num ímpeto, se aproximara para abraçar o homem. – Fiz uma viagem sem pausas para estar aqui agora e estou morrendo de vontade de usar o banheiro. Se puder aguardar só um instante...

Rafael o observou partir pelo corredor, andando depressa como só alguém que passara tempo demais sem usar o banheiro poderia fazer. Aquele era o Rogelio que ele conhecia. Ainda o observava sumir à distância quando percebeu Michael caminhando na direção contrária, aproximando-se da entrada do quarto de Jane. Rafael se prontificou a se colocar em seu caminho, no intuito de impedi-lo de fazer o que ele próprio não conseguira fazer.

– A Jane não quer receber ninguém, Michael, então não vá estragar tudo... O que está fazendo?!

Michael agarrou o seu pulso e, com a mesma seriedade com que chegara ali, puxou Rafael consigo. A segurança no seu gesto fora tanta que Rafael não conseguiu resistir e teve que adaptar a sua caminhada à de Michael para não tropeçar nos próprios pés e encontrar o chão.

– O que pensa que está fazendo?!

– O bebê da Jane foi raptado – Michael disse em resposta, tão monótono quanto um robô.

– E ela vai precisar de mim em um momento como esse...!

– Ela tem todo mundo de quem precisa ao lado dela, Rafael, não seja estúpido.

Cruzaram um par de portas e, antes que Rafael pudesse se dar conta, se depararam no estacionamento em que mais cedo naquele mesmo dia Rafael estacionara o próprio carro. Àquela hora da noite, ele estava vazio e, de certo modo, pouco convidativo, especialmente se fosse considerada a atual atmosfera que se instalara no hospital.

– Já chega de gracinha, Cordero! – disse Rafael por fim e, com um único impulso, conseguiu se livrar do aperto em seu pulso. – Não é momento para brincar de quem consegue sabotar o relacionamento alheio com a Jane primeiro! Meu filho foi raptado e a Jane está fragilizada, e não há ninguém melhor do que o pai do seu filho para consolá-la...!

– Você quer ficar por aqui, tentando consolar alguém que não quer ser consolo? Que fique! – disse Michael, abrindo os braços em sinal de redenção. – Eu tinha uma ideia melhor e achei que você pudesse se interessar por ela também, mas, pelo visto, você é mais do tipo que gosta de sustentar as aparências ao invés de fazer algo para consertar um problema.

– O que você quer dizer com isso?

– Seu filho foi raptado e tudo o que você quer é ficar em um hospital esperando algo acontecer? – Michael sacudiu a cabeça com descrença. – Pode fazer isso se quiser, mas eu que não vou ficar aqui parado.

– E o que você vai fazer?

Michael acionou a tranca do seu carro, guardou a chave no bolso de seu paletó e dele retirou uma carteira de couro pequena. Revelou o seu conteúdo para Rafael enquanto caminhava para o banco do motorista.

– Sou investigador e tenho todos os meios de que preciso para investigar um sequestro – ele disse, exibindo o distintivo. – Estou sem parceiro atualmente, porque a única que eu tinha trabalhava contra mim e fugiu. Achei que fosse se interessar por tomar o seu lugar em um momento como esse, mas eu estava enganado...

– Você não faz ideia do que aconteceu ao Mateo, Michael, então como pode pensar em querer fazer alguma coisa?

– Como você pode não pensar em querer fazer alguma coisa?

Rafael abriu os braços, pronto para entregar uma réplica, mas, de repente, deparou-se sem saber o que dizer. Não tinha resposta para a pergunta de Michael e sentiu-se com as calças arriadas. Engoliu em seco e assistiu o chão como se esperasse encontrar nele qualquer vestígio do que fazer a seguir. Não encontrou nada que estivesse sequer próximo do que pensava em dizer, o que o deixou desarmado, sem saber como agir.

– E como eu poderia ajudá-lo? – ouviu sua própria voz dizer, e o embargo que a acompanhou, por si só, deixava explícito o quanto lhe doía ter que fazer aquela pergunta.

– Entre no carro e eu explico melhor – disse Michael e lançou-se no banco do motorista.

Rafael hesitou por um instante no estacionamento e, mais uma vez, considerou a ideia de voltar pelo mesmo caminho que o trouxera até ali. Tinha medo do que poderia lhe acontecer se entrasse no carro de Michael naquele instante, mas temia ainda mais as coisas que poderiam acontecer ao seu filho se não fizesse algo para encontrá-lo. De qualquer forma, Jane não queria vê-lo e já era hora de aceitar que eles não eram mais namorados e tampouco se amavam como antes.

Talvez fazer algo para encontrar Mateo a fizesse mudar de ideia.

Rafael deu um passo à frente e abriu a porta do carona do carro de Michael. Não fazia ideia de qual seria o seu próximo passo após ter tomado essa decisão, mas algo lhe dizia que qualquer coisa seria melhor do que apenas torcer pelo melhor enquanto Michael tomava iniciativas que ele próprio deveria tomar.



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