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História Fique Comigo. - Boate


Escrita por: ErikaUnnye

Notas do Autor


Boa Leitura <3

Capítulo 1 - Boate


— Você só pode estar brincando — disse o segurança, cruzando os braços sobre o peito malhado. Ele encarou de cima o garoto com a jaqueta vermelha e balançou a cabeça raspada. — Você não pode entrar com isso.

Cerca de cinquenta adolescentes na fila da boate se inclinaram para frente, a fim de ouvir a conversa. A espera para entrar na boate sem restrição de idade estava longa, principalmente para um domingo, e, em geral, não acontecia nada demais nas filas. Os seguranças  eram ferozes e cortavam instantaneamente qualquer um que aparentasse estar prestes a causar qualquer tipo de confusão. Jeon Jungkook, de 18 anos, na fila com seu melhor amigo, Kim Taehyung, se inclinou para frente, assim como todas as outras pessoas, esperando alguma agitação.

— Ah, qual é. — O garoto que estava levando uma bronca do segurança levantou o objeto por cima da cabeça. Parecia uma viga de madeira, com uma das pontas afiadas. — É parte da minha fantasia.

O segurança nem um pouco contente, ergueu uma sobrancelha. — Que seria de que?

O garoto sorriu. “Ele parecia normal o suficiente para entrar na boate.” Pensou Jungkook. Tinha cabelos pintados de loiro que pendiam de sua cabeça como os tentáculos de um polvo assustado, mas não tinha tatuagens no rosto ou grandes piercings nas orelhas ou nos lábios.

— Sou um caçador de vampiros — disse, apertando o objeto de madeira. Dobrava com a mesma facilidade que uma folha de grama dobraria de lado. — É falsa. De borracha. Está vendo?

Os olhos do garoto eram verdes, como folha de bambu, excessivamente brilhantes. O segurança deu de ombros, repentinamente entediado. — Tá bom...! Pode entrar.

O garoto passou por ele, rápido como um raio. Jungkook gostou do movimento dos ombros dele, do jeito que mexeu no cabelo ao entrar. E, existia uma palavra que a mãe dele usaria para descrever aquele garoto: “Despreocupado.”

— Você o achou bonitinho — disse Taehyung, parecendo resignado. — não achou?

Jungkook deu uma cotovelada nas costas dele, mas não respondeu.

Lá dentro, a boate estava cheia de fumaça de gelo-seco. Luzes coloridas enfeitavam a pista de dança, transformando-a em um multicolorido reino de azul, verde, rosa-shocking e dourado.

O garoto da jaqueta vermelha passou a lâmina afiada na mão, com um sorriso indolente nos lábios. Havia sido fácil... -  Algum encantamento na lâmina, para fazer com que parecesse inofensiva. Outro encanto em seus olhos e, assim que o segurança o encarou, ele entrou. Evidentemente, ele poderia ter passado sem toda a comoção, mas aquilo fazia parte da diversão. – Enganar os humanos, descaradamente, na frente deles, curtir os olhares vazios naqueles rostos que tanto lembravam ovelhinhas de rebanho.

Não que os humanos não tivessem utilidade. Os olhos verdes do garoto examinaram a pista de dança, onde braços vestidos em peças de seda e couro preto apareciam e desapareciam nas colunas giratórias de fumaça enquanto humanos dançavam. Garotas mexiam em seus cabelos longos e belos, garotos balançavam os quadris vestidos de couro e peles nuas brilhavam com suor. Vitalidade simplesmente transbordava deles, ondas de energia que os enchiam de tontura inebriante. O lábio do menino se contraiu. Eles não sabiam a sorte que tinham. Desconheciam o que era prolongar vida em um mundo morto, no qual o sol se pendurava no céu como brisa queimada. Tinham vidas que flamejavam tão brilhantes quando chamas de velas – e eram igualmente fáceis de ser apagadas.

A mão do garoto apertou a lâmina que carregava. Havia começado a adentrar a pista de dança quando uma garota surgiu da multidão de dançarinos e começou a caminhar em sua direção. Ele a encarou. Ela era linda, para uma humana – cabelos longos quase exatamente da cor de tinta preta, olhos negros como carvão. Vestido branco até o chão, do tipo que as mulheres usavam quando este mundo era mais jovem. Mangas de renda desciam se abrindo por seus braços finos. Em volta do pescoço havia uma corrente grossa de prata, na qual um grande pingente vermelho-escuro se pendurava. Ele só precisou apertar os olhos pra ver que era de verdade – de verdade e precioso. O garoto começou a ficar com água na boca a medida que ela ia se aproximando. Energia vital pulsava dela como sangue fluindo de uma simples ferida aberta. A garota sorriu, passando por ele, acenando com os olhos. Ele se virou para segui-la, sentindo nos lábios o doce sabor de sua morte iminente.

Sempre era fácil. Ele já podia sentir o poder da vida que evaporava da garota, correndo por sua veia como fogo. Os humanos eram burros demais. Tinham algo tão precioso mas cuidavam mal daquilo. Jogavam a vida fora por dinheiro, por saquinhos de pó, pelo sorriso charmoso de um estranho. A garota era um fantasma pálido passando através da fumaça colorida. Ela chegou a parede e virou-se, segurando a saia com as mãos, levantando-a enquanto sorria para ele. Sob a saia usava botas que iam até a coxa.

Ele foi até ela, sentindo a pele pinicar com a proximidade da garota, ela não era tão perfeita: dava pra ver o excesso de maquiagem sob os olhos, o suor grudando o cabelo ao pescoço. Ele podia farejar a mortalidade, o doce apodrecer da corrupção.

“Te peguei.” Pensou ele.

Um sorriso descontraído curvou os lábios dela. Ela foi para o lado, e ele pôde ver que a menina estava se apoiando em uma porta fechada. “ENTRADA PROBIDA – DEPÓSITO” estava escrito em tinta vermelha. Ela alcançou a maçaneta e girou-a, entrando. Ele avistou várias caixas empilhadas e fios amaranhhados. Um depósito, literalmente. Deu uma olhada para trás – ninguém estava olhando. Muito melhor se ela quisesse privacidade.

Ele entrou na sala depois dela, sem perceber que estava sendo seguido. “Aqui será perfeito, gatinha.” Pensou com um sorriso psicopata nos lábios, contraindo os mesmos.



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