História Fire - Capítulo único - Luvas de camurça

O fogo crepitava na lareira e os lençóis vermelhos estavam completamente bagunçados, e os dois corpos estavam sentados, nus, cada um em uma ponta.

- Sabe, você está muito lindo agora. - afirmou Jeonghan, observando o corpo magro e ligeiramente musculoso do mais novo ser iluminado pelas chamas. - Eu poderia desenhar você.

- Bobagem. - sorriu Seungcheol, mordendo a maçã em uma de suas mãos - Você transformaria o lápis em cinzas por inteiro ao primeiro toque.

Aquela havia sido a coisa mais dura que o garoto já havia dito em todos aqueles anos. O maior sentiu como se uma flechada acertasse seu coração. Antes que pudesse sentir qualquer outro tipo de mágoa por dar de frente com a dura realidade daqueles poderes que não pôde escolher ter, Seungcheol revirou sua bolsa no chão, levantando e exibindo duas luvas de camurça, um sorriso estampado em sua face. Demorou um tempo ao ser percebido pelo adulto cabisbaixo, que hesitou ao ver o que o namorado tinha em mãos.

- Elas são muito grandes, Cheollie. Eu ficaria mais desajeitado do que já sou se tentasse desenhar com elas.

- Eu acredito em você, amor. Se você treinar, pode se tornar o melhor desenhista de todo o reino, mesmo usando essas luvas idiotas à prova de fogo.

Ao serem jogadas no colo de Jeonghan, ele as vestiu prontamente. Estendeu a mão ao ar e observou como ficavam, sorrindo. Juntou as mãos e ficou sentado com um semblante bobo, apenas fitando a figura a sua frente. Choi agora se encontrava deitado, seu tronco atravessando o colchão. Se aproximou, botando os cabelos negros para trás, deixando à mostra suas orelhas de elfo. Como todos os outros da espécie, ele era adorável e extremamente fofo. Mas Seungcheol havia algo diferente de todos os outros, que chamava a atenção de Jeonghan desde que o menor estava em seus poucos anos de vida. Ele era especial. Se destacava no meio dos outros. Carregava uma pureza em si que era tão sobrenatural quanto sua genética. Seus sorrisos eram sempre infantis e sem maldade alguma, o que fazia o peito do moreno se aquecer, um tipo de quentura diferente da que levava na ponta dos dedos.

Acariciou o corpo do jovem, marcado com pequenas queimaduras ocasionadas pela última vez que haviam feito amor. É claro que o mais velho se sentia culpado. Por desfrutar de sua inocência daquele modo despudorado. De sentir coisas por uma criança — para ele, 17 anos era apenas um filhote que mal poderia sair dos braços da mãe — que uma pessoa da idade de Seungcheol não poderia sentir.

Eles eram reprovados, odiados. Mas não ligavam, porque pelo menos estavam juntos. Então, Jeonghan pegou um dos lápis na bolsa jogada no chão e começou a traçar esboços quase perfeitos.