História Fire N Gold - Perguntas

A segunda feira na escola me fez lembrar de como aquele lugar é. Passar o fim de semana com Adam pareceu ter me colocado em uma espécie de bolha onde somente nós dois vivíamos. Isso foi ótimo, mas não durou para sempre. Assim que saí de seu carro na porta da escola pude ouvir as pessoas conversando e ver rostos que já parecia ter esquecido.
Eu não vi nenhum dos meus amigos durante as primeiras aulas. Nos encontramos apenas no intervalo. Ao redor da mesa estavam Dinah e Joe felizes, Caleb com sua calma de sempre e seu cabelo preso em um coque, e Steve...
Ele havia tentado me dar um abraço quando me viu, mas fingi que precisava espirrar e me afastei dele. Agora eu o olhava do outro lado da mesa. Ele estava com uma blusa de moletom preta como a de Caleb, usava o capuz para esconder seu cabelo recém cortado no estilo militar novamente. Batia seus dedos na mesa enquanto escutava música em seu fone de ouvido. Ele tinha um corte pequeno em seu lábio inferior e o mordia enquanto balançava a cabeça ao ritmo da música. Eu não conseguia não o observar detalhadamente. Tê-lo como meu stalker me permitia fazer isso e julga-lo ao mesmo tempo, certo? Preciso fazer algumas perguntas.
Estico minha mão sobre a mesa e toco a dele antes mesmo de me dar conta que fiz isso. Seus olhos incrivelmente azuis se ligam aos meus e meu coração quase sai pela minha boca. A sensação só acaba quando ele dá um sorriso e aperta minha mão de um jeito fraco. Retribuo o sorriso, mas agora acho que estou com um pouco de medo. Ele retira seus fones de ouvido e balança seus ombros.

- O que foi?

Continuo sorrindo como um idiota. Olho rapidamente para Caleb ao lado de Steve e ele observa nossas mãos juntas de um jeito sério. Solto a mão de Steve e também balanço meus ombros.

- Como foi seu fim de semana? – Pergunto agora cruzando os braços e me encostando na cadeira.

Ele também relaxa em sua cadeira e retira sua touca, mostrando seu cabelo loiro bem curto.

- Foi ótimo. Ensaiei com o pessoal esses dias e já fomos chamados para mais um show naquele bar. Conto com você lá?

- Claro que sim. – Minto. Eu nunca mais colocaria meus pés naquele lugar. – E o que fez depois que nos despedimos na sexta feira?

Ele levanta as sobrancelhas, estranhando a pergunta.

- Continuei no bar. – Mentiroso. Sei que me seguiu. – Fiquei com Joe e seus amigos.

Espera... então ele tem uma testemunha disso! Olho para Joe e ele confirma com a cabeça.

- Na verdade, ele ficou com meus amigos, um deles até o levou para casa. – Joe diz. – Eu não estava me sentindo muito bem e fui embora de taxi.

Então Steve realmente tinha uma desculpa... Uma pergunta que não fazia sentido com o resto da conversa sai de mim antes que eu perceba.

- Steve, você ficaria comigo?

Ele levanta suas sobrancelhas. Sinto que os outros três na mesa nos observavam.

- Por que essa pergunta...?

- Curiosidade.

Digo isso com convicção. Ele se inclina um pouco para a frente e limpa sua garganta antes de soltar uma risada tímida.

- Você diz ficar... como um beijo ou...

- Por que? Você transaria comigo?

- Mas o que... – Caleb diz me olhando confuso.

Steve continua me olhando. Joe pergunta bem baixo para Dinah o que está acontecendo, mas ela não o responde. Um sorriso aparece no rosto de Steve.

- Ótima piada. – Ele diz e relaxa novamente em sua cadeira. Todos dão uma risada fraca e relaxam também.

- Não foi uma piada... – Digo ainda sério e todos voltam a nos olhar curiosos.

- Mas por que você quer saber isso? – Caleb pergunta incomodado.

- Sim, eu beijaria ou transaria com você, tanto faz qualquer um dos dois.

- O que?! – Joe diz ao meu lado.

- Sim ué. Eu nunca tive nada com garotos, mas Caleb é bonito e legal. Por que não.

- Ele tem uma bunda bonitinha. – Dinah diz e Joe a olha confuso.

Steve concorda com ela e volta a relaxar em sua cadeira. Saber disso não me ajudou a ficar calmo. Ele tinha uma prova para não ir até minha casa e me ver sendo deixado por James. Mas Steve nunca estava por perto quando eu recebia as mensagens, mas ninguém nunca está por perto quando recebo mensagens! Isso não é algo bom para saber. Apenas Joe tinha ido embora e... Joe!
Joe não gostava de mim antes e soltava piadas idiotas. Lembro de quando ele me pediu desculpas na festa que teve em sua casa. Aquilo foi tão repentino. E se...

- E você? – Digo olhando para Joe.

- Eu o que? – Ele já parece nervoso apenas com essa pergunta. Mexe na gola de sua camiseta como se ela o enforcasse e passa as costas de sua mão pela testa. – Por que está me perguntando isso?

- Responda logo. Você faria ou não isso com Caleb? – Dinah diz sorridente. Ela parecia animada demais com aquilo.

- Eu não sei... Eu... O que Caleb faria? – Ele olha para Caleb do outro lado da mesa, jogando a questão para ele.

Steve e Dinah sabiam o que eu havia tido com Caleb no passado, então sabiam que com certeza ele aceitaria. Ele dá um pequeno sorriso envergonhado e olha sua mão sobre a mesa. Sua resposta vem com um simples aceno positivo da cabeça.

- Está vendo? – Digo. – Só falta você.

É Joe, só falta você. O garoto que antes soltava piadas e agora é meu amigo e namorado de minha amiga.
Era incrível como essa pergunta havia deixado ele nervoso. Eu juro que agora ele suava. Steve já estava em outro mundo com seus fones de ouvido novamente e Caleb fingia que não teve que responder aquilo enquanto observava o nervosismo de Joe.

- Responda logo! – Dinah diz lhe dando um tapa na nuca.

- Sim! Eu... faria coisas com você. Talvez se eu estivesse bem bêbado e...

- Ah, então você é desses? – Dinah diz sorridente.

- Por que você está tão feliz com isso? – Pergunto a ela.

Ela apenas disfarça e morde seu lanche olhando para o outro lado.

- Não foi tão difícil assim. – Fecho a conversa.

Caleb me observa do outro lado da mesa. Seus cotovelos estão apoiados sobre ela e seus olhos estão presos nos meus. Não são azuis como o de Steve ou verdes como os de Adam, mas são tão bonitos quanto. Lhe dou um fraco sorriso e paro de olha-lo, dando atenção apenas à maçã que eu tinha em minha mão.
Se eu sair por aí fazendo perguntas desse tipo para os outros, acabarão achando que se a resposta for sim já é meu convite para algo. Preciso de um plano melhor.

(...)

Depois de terminar uma prova de matemática que havia feito com Caleb, saio da sala com ele e andamos pelos corredores vazios da escola. Ele está calado ao meu lado e olha apenas para a frente.

- Aconteceu alguma coisa? – Pergunto parando de andar.

Ele me olha e balança seus ombros.

- Não sei. Aconteceu?

Ele diz isso calmo. Fecho minha mão dentro do bolso de minha blusa de moletom. Me senti um pouco atacado com essa pergunta em resposta.

- Comigo não aconteceu nada... Você é quem está calado e distante.

- Estou normal. Achei que algo tinha acontecido entre você e Adam para fazer aquele tipo de pergunta para Steve no intervalo.

- Não... está tudo bem comigo e com ele. Eu disse que perguntei apenas por curiosidade.

- Você já disse isso.

- Ok.

- Ok.

Ele balança os ombros novamente e aponta para uma porta no fim do corredor, sua próxima aula seria lá. Concordo e vou em direção ao outro corredor.
Eu não sei o que acabou de acontecer.

(...)

Passei a tarde e a noite de terça feira mandando mensagens para o desconhecido. Coisas como “O que acha de me encontrar para resolvermos isso logo?” ou “Não falou comigo esses dias. Está com ciúmes do outro cara mais velho?”. Talvez provoca-lo fosse uma boa opção no momento. Tê-lo quieto era pior do que ficar recebendo suas mensagens.
Ele não me respondeu nenhuma. Nada. Pensar em Steve e em Joe já estava cansando minha cabeça. Nate não olhava em minha cara na escola e eu não tentaria falar com ele. Não faria perguntas ainda mais estranhas para ele.
Uma pessoa ainda me deixava desconfiado, Janine. O desconhecido havia dito que era homem, mas claro que eu não poderia confiar totalmente nele. Então tê-la como suspeita era algo que me deixava com uma visão maior das coisas.
Continuaria mandando mensagens até que ele me respondesse. Uma hora ele se cansaria de mim. Eu acho....

(...)

Quarta feira chegou tão rapidamente quanto Jack e Eloise acabavam com uma garrafa de vinho quando estavam juntos. Estou na cozinha de Adam pegando pratos de seu armário para colocar sobre a mesa de jantar. Escuto as risadas de Grace vindo da sala de estar enquanto Hana canta algo em japonês de um jeito engraçado. Adam saiu há poucos minutos para ir até o mercado aqui perto para pegar alguma coisa que esqueceu para o que faria no jantar.
Eu não fazia ideia de quantas pessoas viriam. Sabia apenas que James e Mary viriam e já treinava minha cara de “nada aconteceu entre mim e seu noivo no carro dele quando ele me confundiu com um garoto de programa na sexta-feira passada”.
Adam me disse que perto do fim de outubro ele seus amigos começam uma pequena tradição de jantares em suas casas que duram até o fim do ano. Hoje seria aqui e ele estava animado com isso. Arrumo todos os pratos, talheres, taças, guardanapos e etc.
Me sento no sofá da sala e observo Grace jogar seus brinquedos para Hana. Como dormi aqui nos últimos dias, passei todas as noites com Grace antes dela dormir. Era incrível como ela se apegou a mim tão rapidamente. Ontem mesmo Adam tentou tirá-la de meu colo e ela chorou.
Não durmo em minha casa desde domingo. Durante esses três dias da semana fui para as aulas de pintura com Dinah e para a casa de tio Jack logo depois, ficava por lá até ele chegar do trabalho, então Adam passava por lá para me buscar. Como tio Jack não tinha ninguém para ajuda-lo, eu cuidava de Kali, da casa e de sua comida. Ele nem mesmo ligou quando eu disse que dormiria na casa de Adam essa semana. Na verdade, ele perguntou se estávamos no caminho para o casamento. Eu não respondi, apenas sorri envergonhado.
Adam estava bem ocupado em seu trabalho, então eu nem mesmo o visitei. Ele disse que sentia falta de minhas visitas, mas eu sei bem o porquê.
Eu já tinha uma gaveta para mim na cômoda de Adam e até mesmo peguei algumas camisetas suas para usar esses dias. Eu também tinha uma escova de dentes no banheiro de Adam. Isso para mim já era algo sério.
Três dias (noites) em sua casa foram ótimos para o lugar. Coloquei algumas coisas em ordem e o ajudei a se organizar com a bagunça que estava seu guarda roupa e sua lavanderia.

- Deveria ter te arrastado para cá antes. – Disse do sofá na noite anterior quando alimentava Grace.

Dormir ao seu lado essas noites também foi algo maravilhoso. Ficar sob seu edredom grosso e aninhado perto de seu peito era algo perfeito. Acordar era um ponto negativo, pois apenas tomávamos café e ele me levava para a escola, deixando Grace em casa com Hana.
A babá ia embora quando chegávamos em casa e voltava apenas pela manhã. De vez em quando Adam tinha pouco trabalho e fazia tudo de casa, não sendo necessário chamar Hana para cuidar da bebê e deixando o trabalho para ele.
Em poucos dias a ideia de uma família cresceu dentro de mim. Uma família um pouco desorganizada, mas uma família.
Grace me tira do pequeno transe em que entrei quando joga um patinho de borracha em minha cabeça. Ela ri e Hana faz o mesmo. Dou um sorriso e faço uma careta que arranca outra risada sua. Adam já deveria ter voltado. Logo os convidados chegam e ele não está aqui para recebe-los.
Pego meu celular em meu bolso e vejo que finalmente tenho uma mensagem do desconhecido que chegou há poucos minutos. Falei com ele somente quando estava viajando com Adam e ele não respondeu nenhuma das mensagens que mandei nos últimos dias. Finalmente ele tomou coragem para fazer algo.

“Não porque você quer conversar que eu também farei isso. Tenho um plano para nós, e você o seguirá como eu quero.”

Bom, pelo menos ele respondeu. Penso em mandar algo, mas agora fico confuso. Ele não gosta quando não respondo, mas também não quer que eu puxe assunto. Quando estou quase digitando escuto a campainha tocar. Hana se inclina sobre o tapete emborrachado e colorido de Grace para se levantar, mas digo que não precisa e eu mesmo atenderei a porta.
Quando a abro vejo o cabelo loiro e um rosto que logo perde o sorriso que tem quando me vê. Janine nem mesmo disfarça seu descontentamento ao me encontrar ali.

- Boa noite. – Diz com sua voz séria.

Digo o mesmo e dou passagem para ela entrar na casa. Achei que somente ela estava ali, mas não vi James e Mary logo atrás.

- Olá, Caleb! – James diz animado e sorridente. Logo me abraça. Ele disfarçaria em frente à sua mulher, então eu deveria fazer o mesmo. – Bom te ver por aqui.

- Digo o mesmo, James.

Exibo um sorriso e logo abraço Mary.

- Ótimo ver você também. – Digo para ela. – Nos vimos somente no churrasco em sua casa.

- Nem me fale daquele dia. A festa acabou tão tarde e mais pessoas chegaram. Tive que abraçar muitas pessoas que desejaram boa sorte para o casamento.

- Imagino... – Continuo com o sorriso. Eu não faço teatro, mas acho que estou indo bem. Preciso manter isso até o fim do jantar. – Entrem e vamos conversar sobre isso.

Assim que os levo para o sofá, o celular de James toca ele precisa ir até a varanda para atender, fecha a porta para que o frio não invadisse o lugar. A casa está quente, tanto que levanto as mangas de meu suéter verde escuro. Mary usa um vestido de lã de gola alta vermelho vinho que ia até seus joelhos. Seus lábios são da mesma cor e ela usa um coque em seu cabelo loiro. Uma meia calça preta e pequenas botas completavam seu visual e a deixavam linda. Ela tinha 24 anos, mas parecia ainda mais nova. Olhar para ela e saber o que James fazia era um pouco... irritante.

- Ele está tão ocupado com o novo trabalho. Antes até se envolvia no planejamento do casamento, mas agora apenas concorda com as ideias que proponho. – Ela diz sorrindo enquanto o observa pela porta de vidro da sacada.

- Mas você está se saindo bem sozinha? – Pergunto.

- Ah, claro. Sabe que trabalho no hospital e que é muito corrido, mas tento adiantar coisas por lá mesmo.

- Isso é ótimo. Mal posso esperar para o casamento de vocês.

- Eu também mal posso esperar pelo seu! – Ela diz isso tão feliz e convicta.

Levanto minhas sobrancelhas e sorrio também.

- Ah não... o nosso vai demorar... muito.

- Foi apenas uma piada, bobo. – Sua mão fica sobre a minha e sua risada acaba com o nervosismo que ela colocou em mim há um segundo atrás. Grace corre até Mary e ri ao lado de suas pernas. – E você, coisinha fofa? Onde está seu pai?

Digo para ela que Adam saiu e já volta e então continuamos conversando sobre seu casamento e sobre seu trabalho. James já havia entrado e se sentado no sofá também. Sei que prestava atenção em nossa conversa quando Mary dizia algo engraçado sobre coisas que acontecem em seu trabalho e ele sorria. Ele segurava Grace em seu colo e brincava com ela. Hana apenas observava sorrindo.
Quase dez minutos se passaram até que Adam chegasse em casa com algumas sacolas nas mãos e com mais convidados com ele. Seis pessoas haviam vindo com ele e eu conhecia apenas três. Michelle, a mulher que eu havia feito amizade no churrasco na casa de James, ela era dona de uma galeria de arte e sei que teríamos assunto para hoje. Seu marido e seu pequeno filho também estavam com ela. Mary e eu nos levantamos do sofá para cumprimenta-los. As outras três pessoas eram um casal e um amigo solteiro de Adam.

- Obrigado por recebe-los enquanto eu estava fora. – Adam cochicha para mim e me leva até a cozinha. – Estou um pouco atrasado aqui.

- Eu ajudo. – Mary diz chegando no cômodo junto com Janine.

Volto para a sala para conversar com todos os outros, mas eles já parecem ter se encontrado em algum assunto que eu não conseguiria me encaixar. Grace brincava com Milo, filho de Michelle, e com Hana. James estava sentado no canto do sofá e observava o jornal na televisão.

- Soube que o próximo jantar é em sua casa.

Ele me observa ao seu lado por alguns segundos e volta a olhar para a televisão.

- Sim. Será logo depois do Halloween e mais pessoas irão. Adam chamou mais pessoas para cá hoje, mas não puderam vir, então prometeram ir no de minha casa.

- Você não parece muito animado com isso.

Ele continua não me olhando. Respira fundo.

- Eu não me sentiria tão desconfortável sem você lá...

Poxa, ele nem mesmo parece ter pensado antes de dizer isso.

- Então você não me quer lá?

Agora sim ele me olha e balança seus ombros.

- É que antes de você saber daquilo eu já me sentia incomodado em trair minha mulher, mas agora que você sabe... me sinto pior.

- Eu disse que não vou contar.

- O problema não é esse... Ela me ama demais. Eu não posso contar para ela que faço isso e acabar com nosso casamento antes mesmo que ele aconteça.

- Então você não a ama?

Ele fica pensativo. Realmente James não fazia ideia do que estava acontecendo em sua vida. Apenas aperto seu joelho e lhe dou um pequeno sorriso. Me aproximo de Michelle para conversar, seria melhor que incomodar James.

(...)

- Seria ótimo expor um de seus quadros. Pessoas importantes visitarão a galeria em alguns dias e quem sabe você não é descoberto?

Michelle me falava que abriria sua galeria para expor trabalhos de alguns artistas da cidade que poderiam ter uma grande oportunidade se descobertos.

- Mas você nem mesmo viu outros trabalhos meus. – Digo um pouco nervoso com a situação. Ela estava dando um grande voto de confiança.

- Bom, por esse que deu de presente a Adam eu já posso ver que tem potencial. Acho que devo pular de cabeça com você e torcer para que seu trabalho se espalhe.

Isso era ótimo. Eu poderia finalmente trabalhar com isso de uma forma séria se fosse descoberto. Eu disse a ela sobre Dinah também e suas esculturas, disse que não se arrependeria se também desse espaço para ela em sua galeria.
Passei muito tempo conversando com ela, era ótimo ver meu futuro se formando em frente aos meus olhos. Adam também havia entrado na conversa e se animado com aquilo, me dando apoio.
Depois do jantar todos se encontravam na sala e conversavam sobre assuntos diversos. Foi bom interagir com os amigos de Adam. Eles eram mais velhos, mas eu conseguia acompanha-los no que conversavam.
Hana diz para Adam que havia acabado leite para Grace e que havia esquecido de avisar. Ela passou vários segundos pedindo desculpa por isso e Adam disse que estava tudo bem e que ele buscaria agora mesmo.

- Não precisa, eu mesmo compro. – Digo. – Volto rapidinho.

Adam concorda e logo estou saindo de casa com Hana ao meu lado.

(...)

Andando entre os corredores do mercado eu procurava onde ficavam os doces. Eu precisava urgentemente de chocolate e havia dito para Hana que a encontraria no caixa.
Passo os olhos pelas prateleiras e não acho o tipo que quero. Fico bravo com isso. Na verdade, já estou um pouco bravo pelo o que aconteceu no jantar. Eu me sentei ao lado de Mary e James não parou de me encarar do outro lado da mesa. Ele parecia querer ter certeza de que eu não acabaria com seu casamento ali mesmo.
Michelle também apareceu com um assunto que me deixou um pouco incomodado. Falávamos sobre perseguidores, assunto que apareceu por causa do jornal na TV, e ela disse que teve um quando era adolescente. O cara ficou tão apaixonado por ela que até mesmo quebrou a perna de seu namorado em uma crise de ciúmes. Ela sabia quem o cara era e já havia avisado muitas vezes de que chamaria a polícia se ele fizesse algo sério.
Ela sabia quem era. Ela pôde tomar alguma medida e o cara foi até mesmo preso. Mas eu não posso fazer nada. Bom... posso, mas não quero incomodar Adam com esse tipo de coisa pois sei como ele ficaria. E se for somente alguém querendo ocupar meu tempo, pretendo resolver por debaixo dos panos.
Acho meu chocolate e respiro aliviado. Caminho pelo corredor e sinto meu celular vibrar em meu bolso. Era uma mensagem dele.

“Você está muito bonito.”

Sinto meu corpo se arrepiar e olho ao redor. Haviam várias pessoas no mercado. Se ele estiver me observando, como saberei quem é. Ando por alguns corredores, procurando por Steve, Joe ou qualquer outro conhecido da escola naquele lugar. Não vejo ninguém, apenas Hana em um caixa. O lugar era grande, seria difícil encontra-lo agora. Respondo.

“Já que está aqui, porque não aparece e conversamos?”

Vejo alguém de moletom preto e capuz passando no fim do corredor. Steve tem um igualzinho àquele! Corro pelo corredor e me aproximo da pessoa. Coloco a mão em seu ombro e um garoto que parecia ter minha idade me olha confuso. Não era Steve, com certeza não era Steve. Ele tinha cabelo castanho claro e seus olhos não eram azuis.

- Me desculpe. Achei que fosse alguém...

Ele concorda com a cabeça e se afasta. Poderia ser ele. Eu não fazia ideia de quem ele era, mas se eu for culpar qualquer um por isso, acabaria louco até encontrar o verdadeiro culpado.
Vou para o caixa e Hana diz algo em japonês com uma cara preocupada e a mão em meu ombro.

- O que? – Pergunto com uma careta.

- Desculpe. – Fala finalmente em minha língua. – Aconteceu algo?

- Não, nada... Só estou um pouco sonolento. Grace chorou muito na noite anterior e eu ajudei Adam com isso. É apenas o sono.

Hana sabia que Grace dormia tranquila todas as noites, mas não se aprofundou no assunto. Apenas concordou com a cabeça e disse que faria um chá para mim quando os convidados fossem embora.
Recebo outra mensagem apenas quando estamos dentro do elevador do prédio de Adam.

“Quem sabe em alguns dias, meu pequeno? Acho que realmente não estou conseguindo esconder isso de você.”

- Ótimo. – Digo no elevador com mais três pessoas além de Hana e eu.

- O que, Sr. Jones? – Hana diz. Ela não abandonava o costume de me chamar assim.

- Nada... pensei alto.

Mas realmente era ótimo. Se ele mesmo queria que o mistério acabasse, eu não precisaria trabalhar tanto para chegar ao fim. Talvez eu nem mesmo devesse estar me preocupando tanto. Ele é quem quer algo. Então ele virá até mim para conseguir o que quer. Certo? Só me resta esperar.