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História Fire N Gold - Halloween


Escrita por: CovenCult

Notas do Autor


Hey! Espero que gostem bastante desse capítulo ♡ Me desculpem por erros que passaram despercebidos,
Enjoy It!

Capítulo 23 - Halloween


Acabo de sair correndo da escola. Muitos alunos gostavam de trotes no Halloween e eu não queria ser uma das vítimas com ovos quebrados na cabeça ou tinta vermelha espalhada pela roupa. Como esse é meu primeiro Halloween na cidade, eu não fazia ideia de que isso aconteceria, mas Caleb me avisou dois dias atrás para que eu tomasse cuidado.
Quando vi uma garota receber um banho de tinha vermelha ao meu lado, logo saí correndo pois sabia que havia começado. Tenho certeza de que o diretor odiava isso, mas teria que punir mais da metade dos alunos por isso.
Limpo os respingos de tinta que caíram em minha mão e começo a andar pelo estacionamento, procurando minha bicicleta. Ouço gritos da escola e penso ainda mais em sair de lá. Quando acho minha bicicleta, saio daquele lugar e vou para a rua. Faria uma visita a Adam.
Era ótimo ver as ruas decoradas. Poder andar sem que a chuva me atrapalhasse também era ótimo. Hoje somente o frio circulava pelas pessoas nas ruas. Morcegos, abóboras, bruxas, caveiras e outras coisas dessa ótima data decoravam as vitrines das lojas. As pequenas luzes douradas que sempre decoravas os postes da cidade e davam um ar natalino hoje estavam laranjas.
Ver crianças com máscaras feias andando com suas mães me fez lembrar de que eu ainda não havia comprado doces para as que passariam em minha casa hoje. Tio Jack disse que adorava fazer isso, mas já que viajaria com Isobel para a cidade vizinha, onde ela trabalharia cantando em um evento importante, eu teria que receber as crianças em casa e fazer isso por ele.

- Não se esqueça de sorrir para elas. Sou conhecido como um dos melhores vizinho com doces nesse dia, não acabe com minha reputação. – Ele havia me dito quando partiu para sua viagem na manhã de hoje.

Agora preciso ir a três lugares ao invés de dois, ao mercado, à galeria de Michelle para decidir algumas coisas com ela e à livraria para visitar Adam.
Decido ir primeiro ao mercado, pois está mais perto de mim. Deixo minha bicicleta no estacionamento e entro no lugar, lembrando de quando fui ao mercado dias atrás e o desconhecido me enviou uma mensagem.
Eu realmente deveria ter comprado os doces dias atrás. Muita gente está ali e até mesmo brigam para conseguirem o que querem. Ando com calma entre elas, não quero ser alguém que leva um soco por pegar o tipo de bala que alguém alega ter visto primeiro. Meu carrinho não fica cheio, mas acho que tem o bastante para que eu jogue para as crianças que aparecerem em minha porta.
Volto à minha bicicleta e logo às ruas, vendo que até lá alguns trotes aconteciam e pessoas sujavam as outras com ovos e tinta spray. Chego à livraria, mas antes havia passado no Café em frente para um chá gelado. Era incrível com a livraria estava cheia, mais do que o normal. Isso significava uma coisa: lançamento de livros e autógrafos do autor.
Eu estava certo. Uma grande mesa estava no centro do lugar e um cara de mais ou menos 25 anos sorria para pessoas que falavam com ele e entregavam seu livro para que ele autografasse.

- Você também gosta dele? – Peter aparece atrás de mim segurando alguns livros em sua mão. Ele sorria de um jeito assustador, mas parecia feliz.

- Conheço alguns trabalhos, mas não sou um grande fã.

- Poxa, ele é ótimo. E logo hoje lança seu novo livro de terror. Confesso que já li quando nos entregaram e é ótimo!

- Precisa ser, já que toda essa gente está aqui. – Steve diz do meu outro lado.

Desde que eu decidi esperar pela boa vontade do desconhecido de se apresentar para mim e resolver o que faria, ignorei minhas suspeitas de Steve. Ignorei minhas suspeitas de todos. Eu apenas esperaria.
Sorrio para ele e recebo um para mim.

- E sobre o que é o tal livro? – Pergunto a ele, mas a resposta vem de Peter.

- Uma garota que é perseguida. – Que coincidência. – Mas não por uma pessoa. Por uma sombra.

- Uma sombra? – Aposto que ela não manda mensagens para o celular da garota.

- Sim, é algo esquisito, mas ótimo.

- E ela consegue se livrar dessa sombra? – Pergunto.

- Eu não posso contar isso. Por que não lê e descobre? O melhor está no final. – Peter continua sorrindo.

- Deixe o Slender ser o fã esquisito de sempre. – Steve diz fazendo uma careta para Peter. – Entre na fila e pegue um para você.

Saber se a garota se livra ou não da sombra é algo que eu realmente quero saber. Talvez me ajude a me livrar de minha “sombra”. A fila está grande, mas escuto música enquanto estou nela e o tempo passa mais rápido. Vejo meus antigos colegas de trabalho andando de um lado para o outro e sinto um pouco de falta disso. Claro que agora não posso voltar a trabalhar aqui. Eu recebi a chance de mostrar meu trabalho, então deveria aproveitar isso. Meu chá gelado acaba.
Quando chega minha vez, decido pegar dois livros e dar um de presente para Dinah. Eu daria um para Caleb, mas ele não gosta de terror, então não seria uma boa ideia.

- E o seu nome é? – Diz o escritor para mim.

- Caleb. – Sorrio. – Mas um deles pode dedicar à Dinah.

- Eu acho que conheço você... – Ele diz e levanta uma sobrancelha para mim.

- Pouco provável... Você é conhecido, não eu.

- O que faz aqui? – Adam se aproxima de nós com um sorriso e me dá um beijo rápido.

Sinto todo mundo na livraria nos observando, mas ignoro isso.

- Autógrafo, e presente para Dinah.

- Ah, então eu te conheço mesmo. – O homem volta a dizer. – Vi uma foto sua na sala do Sr. Carter.

Adam tinha um porta-retrato e Grace e eu sorríamos sentados no sofá de sua sala nessa foto. Não me lembrava que Adam havia a colocado em sua sala. Sorrio para os dois.

- Não precisava ter pego essa fila enorme. Era só ter me dito que queria dois livros autografados.

- Mas assim eu não o conheceria. – O homem diz e me entrega os dois livros. – Muito obrigado por ter pego a fila.

Sorrio para ele e logo saio de lá com Adam, indo para sua sala. Realmente algumas pessoas nos olhavam. Adam diz que pegaria pelos livros. Quando chegamos lá, vamos diretamente para o sofá. Trocamos um beijo calmo e ele se inclina sobre mim, fazendo com que minha cabeça fique no braço do sofá. Depois apenas relaxa sua cabeça em meu peito e eu mexo em seu cabelo.

- Estou com saudade. – Ele diz baixinho.

- Nos vimos antes de ontem! – Digo dando risada e mexendo em sua orelha.

- E você acha isso legal?

O drama que ele faz é engraçado. Não dormi esses dias na casa de Adam como fiz na semana passada e ele reclama muito de saudade.

- Eu iria para a festa de Michelle hoje, mas não estou afim de festa e tio Jack quer que eu entregue doces, lembra?

- Mas a festa é de noite e as crianças sempre pegam doces no fim da tarde.

Ele realmente queria que eu fosse para a festa de Halloween na casa de Michelle, mas eu já havia dito que preferiria ficar em casa. Ele não pareceu muito feliz e tentava me convencer.

- Vá e aproveite. – Digo. – Eu ficarei em casa com os livros autografados. Talvez eu vá para a casa de Dinah e durma por lá.

Ele me olha, mostrando seus brilhantes olhos verdes e sorri.

- Certo, mas amanhã quero você para mim depois do trabalho. Promete?

- Sim. Sr. Carter.

Ele revira os olhos e depois ri. Ficamos abraçados por alguns minutos antes que eu voltasse ao primeiro andar da loja que parecia mais cheio ainda. Até mesmo Nate estava lá, mas o ignorei.

- Boa sorte com todo esse povo hoje. – Digo para Peter que olhava as pessoas animadas na fila de autógrafos.

- Boa sorte lendo o livro no Halloween.

Dizer isso e sorrir de um jeito estranho como ele faz não foi legal. Me despeço dele e de outros vendedores antes de sair da loja. Steve está fumando na calçada e ao lado de sua moto, sorri quando me vê.

- E aí, o que fará hoje? – Pergunta passando a mão por seu cabelo curto.

- Distribuir doces. Depois acho que vou para a casa de Dinah.

Ele concorda com a cabeça e assopra a fumaça do cigarro para o lado. Como eu odeio esse cheiro.

- E você? O que irá fazer?

- Andar por aí. Passar em festas que estejam acontecendo. O que aparecer em minha frente. E garotas também. As fantasias delas são ótimas no Halloween.

- Enfermeira sexy é o que mais existe por aí. Existiam várias na minha cidade antiga. – Digo tentando não parecer desconfortável ao falar disso com Steve.

- Sim! Elas são ótimas. – Ele olha para dentro da loja e Peter acenava para ele. – Preciso ir.

Ele traga o cigarro mais uma vez e depois esquece de assoprar a fumaça para o lado, jogando-a um pouco para frente e me deixando incomodado. Então ele me abraça com força.

- Bom Halloween para você.

Ele se afasta e entra na loja. Fico no meio das pessoas que passavam pela calçada. Acho que preciso de outro chá gelado.

- Para você também, Steve. – Sussurro.

(...)

Eu havia comprado dois chás gelados, um para mim e outro para Michelle, pois agora fui em sua galeria. Procurei um lugar para deixar minha bicicleta e encontrei quase perto da galeria. Ela ficava perto de um dos parques da cidade, era uma grande construção branca e bonita.
Eu já havia tomado metade do chá, mas Michelle já havia acabado com o dela.

- Obrigado novamente por isso. Adorei. Milo, não mecha nisso.

Ela impede que o filho dela mexa em uma escultura que seria exposta ali. Quatro quadros meus estavam juntos em um cantinho. Dois se completavam e mostravam um jardim onde eu havia detalhado o maior número de coisas que eu consegui. Os fiz há muito tempo e aproveitei para mostra-los. Outro mostrava uma cidade vista de cima. Usei somente preto, azul escuro e amarelo para cria-lo. Outro mostrava a silhueta de um homem nu em frente a uma janela. Muita sombra existia no quadro e olhar para ele me deixava feliz.
Duas esculturas de Dinah também estavam ali. Uma era branca e com muitas pontas, um rosto parecia sair do centro. A outra era de um laranja brilhante e de uma forma abstrata. Eu não fazia ideia do que Dinah queria mostrar com elas, mas fiquei feliz por também ter um espaço ali comigo e tantos outros artistas.
Eu não esperava que o lugar fosse ficar cheio de tantos trabalhos que poderiam ser descobertos. Era lindo ver aquilo.

- Lhe chamei para ver como havia ficado mesmo. Estou conferindo com todos os artistas se os lugares escolhidos estão bons para eles e coisas desse tipo.

- Para mim está ótimo. Mal posso esperar o dia.

- Eu também! – Ela dá um pulinho com seu filho no colo que ri. – Não irá mesmo até minha festa hoje?

- Não, me desculpe. Não estou no clima para festas hoje.

- Ah, tudo bem. Ainda teremos as festas de fim de ano para celebrarmos juntos. Não se preocupe.

Concordo com a cabeça e aprecio os trabalhos ao redor com ela por mais alguns minutos. A tarde já estava chegando e eu precisava ir para casa resolver algumas coisas. Também estou curioso para ler o livro que havia comprado. Espero que o perseguidor de lá tenha alguma falha que me ajude a me livrar do meu.

(...)

Eu havia pendurado algumas decorações de Halloween na varanda de casa. Tio Jack já havia feito isso dois dias atrás, mas ele havia esquecido algumas e decidi dar um propósito a elas. Kali ficou comigo na varanda enquanto eu fazia tudo. Ela me observava atentamente.

- Não fuja hoje. – Digo para ela. – As ruas ficarão cheias e podem pensar que você não tem dono. Então fique em casa.

Ganho um miado em resposta e sorrio. Tio Jack disse que muitas pessoas saíam pelas ruas do bairro com suas fantasias e as deixavam lotadas, a nossa principalmente. Muitas casas da rua também realizariam festas. O pôr do Sol chegava e eu já via algumas crianças andando pela rua com seus pais.

- Venha, vamos esperar eles baterem na nossa porta.

Pego Kali no colo, aceno para o Sr. Hunt, meu vizinho policial, e entro em minha casa. Eu havia fechado as cortinas da janela para criar um clima melhor enquanto eu assistia um filme de terror na televisão. Aparentemente todos os canais exibiam algo assim. Olho os livros que comprei sobre a mesa de centro e quero ler, mas não agora porque... A campainha toca. Por causa disso mesmo não posso.
Ando até a porta e vejo e quando a abro vejo três crianças sobre a o piso de madeira da varanda. Seus pais estão na calçada e conversam entre si.

- Você não é o Sr. Jones. – Uma garota fantasiada de pirata me diz.

Um garoto ou uma garota que está sob um lençol branco concorda com a cabeça. Só consigo ver seus olhos castanhos pelos furos no lençol.

- Não, mas... eu tenho doces. Não é isso que vocês querem? – Digo pegando alguns que haviam sobre um armário perto de mim.

- Tanto faz. – Diz a terceira criança fantasiada de zumbi.

Reviro os olhos e lhes entrego doces o bastante para que a falta de tio Jack seja compensada. Não demoram dois minutos para que a campainha toque novamente e mais pequenos fantasiados apareçam.

- O Sr. Jones se fantasia. – Era uma das coisas que eu escutei nas tantas vezes que abri a porta.

Aquilo era cansativo. As crianças cobravam muito de mim por não ser meu tio. Certa hora pensei em deixar os doces em uma caixa na varanda, mas não seria uma boa ideia, alguma das crianças levaria toda a caixa e ainda pediria mais. Entreguei doces por mais ou menos uma hora e meia. Quando o céu escureceu, elas já não andavam pela rua com seus pais. Agora era a hora de outras pessoas aproveitarem enquanto as crianças ficavam em casa e comiam seus doces até terem cárie.

- Pelo menos sobraram alguns para mim. – Digo novamente para Kali que parecia sonolenta sobre o braço do sofá. Assistimos dois filmes de terror juntos. – Que tal se jantarmos e depois subirmos?

Não sei porque ainda espero alguma resposta de Kali. Ela apenas anda para a cozinha em direção ao seu potinho de comida. Pego o telefone da sala e o levo para a cozinha. Coloco uma pizza congelada no forno e me encosto na pia enquanto disco o número de Dinah para avisar que ficaria em casa mesmo. Ligaria do meu celular, mas ele está descarregado.

- Oi! Estou tentando falar com você já faz um tempo. – Ela diz animada.

- Celular descarregado, desculpe.

- Tudo bem. Tenho algo legal para dizer. Sei que não está afim de festa, mas Joe dará uma hoje, então você poderia ir e voltar para minha casa comigo.

- Era sobre isso mesmo que eu ia falar. Agora que já entreguei os doces para as crianças, irei para a casa de Adam e esperarei por ele lá.

Eu não faria isso, mas não queria recusar seu convite apenas para ficar em casa.

- Ah, tudo bem então. Não se esqueça de me entregar meu livro depois.

Ela diz algo para sua mãe do outro lado da linha e eu fico de frente para a pia, olhando para a janela sobre ela. Via a cerca que separava minha casa da do vizinho, via uma de suas janelas acessas e os arbusto de seu jardim se mexerem com o vento. Aquilo não era muito agradável de se olhar. Sinto meu corpo se arrepiar.

- Hey! – Dinah volta a falar comigo. – Sabe aquela garota de cabelo azul da escola? Ouvi dizer que...

O telefone mostra que outra chamada está sendo feita para mim.

- Só um momento, Die. Outra ligação.

- Tudo bem, preciso me arrumar para a festa mesmo. Conversamos depois. Beijos.

Ela encerra a chamada e logo eu atendo a outra.

- Estou em sua varanda. Abra a porta da frente.

Uma voz grossa e cansada diz isso. Sinto como se alguém apertasse meu coração com muita força. Respiro fundo. Será que o desconhecido finalmente teve coragem de vir até aqui?

- Quem é?

- Por que não vem até aqui e descobre.

Fico na porta da cozinha sentindo um pouco de medo. Sei que ele realmente está aqui quando escuto a voz de meu vizinho pelo telefone. Ando devagar, atravessando a sala e escutando sua respiração pesada, isso me dava agonia. Seguro a maçaneta e a giro devagar. Rezo para que ele não a chute para a abrir e logo me esfaqueie.
Quando a porta está toda aberta, não vejo nada em minha frente. Continuo escutando sua respiração e então...

- AAAAAAH! – Joe aparece gritando em minha frente.

Não consigo evitar de dar alguns passos para trás. Meu coração acelera e me apoio na parede do pequeno corredor que leva até a sala. Ele guarda seu celular no bolso de sua calça e ri apoiando suas mãos nos joelhos. Dou uma tapa em seu ombro e ele se encolhe perto da porta.

- Isso não é legal! – Digo respirando rápido. – Não pode fazer isso com as pessoas.

- Foi mal, não pude resistir. É o Halloween.

Ele arruma sua jaqueta de couro enquanto sorri.

- O que está fazendo aqui? Além de me matar do coração?

- Vim te convidar para a festa que darei hoje. Liguei várias vezes para você e não me atendeu... está brigado comigo?

Ele faz um bico e reviro meus olhos.

- Na verdade, estava falando agora mesmo Dinah e ela me disse sobre sua festa. Mas não irei, me desculpe.

- Porque? Saia e aproveite. Todo mundo estará lá. Será legal.

- Não... – Pego uma das balas que haviam sobrado sobre o armário e mostro para Joe. – Irei para a casa de Adam daqui a pouco. Ele foi a uma festa, mas o esperarei em sua casa. – Precisava dar a mesma desculpa para ele, vai que comentava algo com Dinah. Coloco a bala no bolso de sua jaqueta e sinto algo ali. Era um cigarro. Faço uma careta para ele. – Dinah não vai gostar disso.

- Não conto se você não contar.

Concordo com a cabeça e ele então balança os ombros.

- Bom, pelo menos tentei te chamar. Aproveite com seu namorado.

Joe me dá as costas e logo começa a andar no meio da multidão que já havia tomado conta da rua. As casas já tocavam músicas e muitas fantasias se espalhavam pelo lugar. Fecho a porta de minha casa e a tranco. Espero poder descansar agora.
Fico na cozinha lendo meu livro enquanto a pizza não fica pronta. Kali já comeu e agora dorme embaixo da mesa. Meu coração já voltou ao normal depois do susto que aquele idiota me deu. Não consigo evitar de olhar para a janela que fica sobre a pia de vez em quando. Ouvi dizer que quando estamos com medo, costumamos ver algumas sombras, não acredito nisso, mas olhar para a janela e ver que não há ninguém ali me deixa mais confortável.
O livro começa de um jeito bacana. A fonte é grande e logo chego à página 50. Uma garota havia mudado de cidade após terminar sua faculdade e a casa que comprou era muito antiga. Ela se descrevia de um jeito chato, mas o mistério que acompanhava a história era bom. A sombra não demora para aparecer, ela acha que é besteira de sua cabeça, pois quando pequena passou muito tempo em psicólogos por ter imaginação fértil ou algo do tipo. Na sinopse fala que ela sofrerá muito durante todo o livro, mas até onde li, ela continua sendo apenas a garota que mora sozinha em uma casa estranha.
Metade da pizza vai embora enquanto leio, aquilo estava ficando bom. Decido ir para meu quarto e Kali me segue saindo da cozinha. Antes de subir afasto um pouco a cortina da sala e observo a bagunça que estava na rua. Ela estava lotada e todos os tipos de músicas tocavam, pois, cada casa tinha uma festa. Arrumo a cortina e subo as escadas segurando o livro em uma mão e meu celular na outra.
Deito em minha cama e Kali fica embaixo dela. Coloco o celular para carregar ao lado de minha cama e decido escutar músicas em meu fone de ouvido enquanto leio. Todas as luzes de minha casa estavam apagadas, até mesmo a do meu quarto. Como tenho uma janela que dá visão para a rua logo atrás de mim, decidi que a luz do poste iluminaria meu livro enquanto leio. Achei ótimo fazer isso, me ajudou a criar um clima para acompanhar a história que começava a ficar tensa.
Escuto músicas clássicas que combinam perfeitamente com o que acontece com a garota. Agora ela está em seu porão pois escuta barulhos vindo de lá todas as noites. Está muito bagunçado lá e ela morre de medo do escuro, nada legal para alguém que é perseguida por uma sombra. O jeito que ela descreve o porão me deixa incomodado, parecia um lugar horrível. Fico com minhas pernas cruzadas e olho meu quarto ao redor, criar um clima não foi uma ideia muito boa.
Já faz duas horas que estou ali sentado e lendo. Minha playlist continua tocando as músicas clássicas e já sinto um pouco de fome novamente, assim como sede. Meu celular não estava nada carregado. Tinha apenas 2% de bateria. Acho que deve ter se desconectado do carregador em algum momento e fiquei escutando música, ajudando-o a perder o pouco que carregou. Já são 22:46, acho que consigo terminar o livro hoje, ele me ganhou e faltam poucas páginas.
Me levanto da cama e retiro meus fones de ouvido, deixando-os sobre a cama. Respiro fundo, ando descalço até a porta de meu quarto. Tenho meu celular em minha mão e penso em ligar para Jack para saber se está tudo bem. Quando desbloqueio a tela, escuto um som vindo do primeiro andar. Era o piano. As teclas estavam sendo pressionadas aleatoriamente. Kali costumava andar por ele de vez em quando, mas não a vi saindo do quarto.
Olho embaixo de minha cama e lá está ela me observando. Meu corpo se arrepia. Então algo estava apertando as teclas do piano. Não as escuto mais. Ando novamente até a porta de meu quarto e coloco a cabeça para fora, mas logo a trago novamente para o cômodo quando vejo que alguém sobe a escada. Prendo a respiração no mesmo segundo. Escuto os passos se aproximando. Alguém está aqui. Preciso me esconder.
Vou para debaixo de minha cama, ficando com Kali. Meu coração bate tão rápido que esqueço de focar em minha respiração acelerada. Coloco minha mão esquerda sobre minha boca e deixo meus ouvidos trabalharem enquanto tenho minha barriga colada ao chão.
Os passos agora estão no meu quarto. Não consigo ver os pés do invasor pois o lençol da cama bloqueia minha visão. Escuto ele inspirar profundamente e então expirar. Mais passos são dados. Acho que agora ele está perto de minha cômoda. Escuto gavetas serem abertas e fechadas. Mais passos, meu guarda-roupa é aberto e também fechado.
Não consigo ver Kali comigo, mas rezo para que ela não mie. Ela precisa ficar quieta.
A tela de meu celular em minha mão se ascende, era uma ligação de Caleb. Sinto que agora morrerei. Ele escutará o toque do celular e será meu fim. Apenas fecho os olhos, esperando pela música. Mas nada acontece... Segundos se passam enquanto a tela do celular continua acesa, mas nenhum som sai dele. Eu havia deixado no silencioso! Quase respiro mais alto quando percebo isso, aliviado, mas minha mão me impede. Ele continua andando pelo quarto e mexendo em algumas coisas. Cancelo a ligação de Caleb, mas envio uma mensagem para ele. “Socorro. Tem alguém em minha casa.” Isso é a única coisa que consigo fazer, pois a bateria do meu celular acaba.
Sinto uma raiva invadir meu corpo e disputar espaço com o medo. Agora eu estava ali e dependia apenas de Caleb aceitar que aquilo era um pedido de verdade e não uma brincadeira de Halloween. Os passos param ao lado da cama. Sinto o pelo de Kali em meu braço e rezo mais uma vez para que ela não mie e ele olhe aqui embaixo. Então ele se deita na cama.
O intruso invadiu minha casa, revirou minhas coisas e deitou em minha cama!
Ele respira fundo novamente. Ele nem mesmo fala sozinho para que eu consiga identifica-lo pela voz. Segundos demorados se passam. Penso que a qualquer momento ela olhará embaixo na cama e me puxar para fora, ou que ele já saiba que estou aqui e espera que eu me entregue.
Então sinto Kali se movendo perto de mim, ela sairia debaixo da cama. Assim que ela sai, mia e ele põe seus pés novamente no chão. Kali mia novamente, mas dessa vez distante. Deve ter andado pelo corredor e partido para o quarto de Jack. O invasor começa a andar novamente. Percebo quando ele sai do quarto e começa a andar pelo corredor. Era agora. Eu preciso sair daqui. Preciso descer a escada, sair dessa casa e chamar a polícia.
Me arrasto para fora da cama depois de levantar um pouco o lençol com muito medo e ver que ele não estava parado na porta e me observando. Saio e fico de pé. Guardo meu celular em meu bolso enquanto caminho descalço até a porta. Coloco minha cabeça para fora do cômodo, vendo o fim do corredor sendo iluminado pela luz que entrava de uma janela perto da escada. Escuto barulhos vindo do quarto de Jack. Ele está lá com Kali.
Saio do quarto, pisando devagar no piso de madeira. Minha vontade é de correr e gritar. Dou mais alguns passos. Mais um e eu poderia chegar ao primeiro de muitos outros degraus da escada.
Resolvo olhar para trás, para garantir que ele ainda estava lá, mas fazer isso foi péssimo. Ele me observava do fim do corredor. Eu via sua silhueta. Usava capuz e uma máscara branca cobria seu rosto. Minhas entranhas se reviravam e minha respiração sai em um suspiro. Eu não conseguia ver seus olhos, eram apenas buracos escuros. Dou um passo para frente bem devagar, ainda olhando para ele. O chão de madeira range de um jeito assustador. E então ele se movimenta. Ele corre em minha direção e eu não esperei para que ele chegasse perto.
Desço a escada pulando degraus e tentando não tropeçar e morrer com o pescoço quebrado. Quando chego ao primeiro andar vejo a porta da sala trancada, eu não teria tempo de destrancá-la, preciso ir para a da cozinha. Ao contrário de mim, ele não pulou alguns degraus, ele pulou quase a escada inteira, parando no terceiro degrau e esticando seu braço que agarro meu. Tento me livrar, mas ele me segura com muita força. Ao dar mais um impulso para trás, acabo caindo sobre uma mesinha de vidro ao lado da escada com ele por cima de mim. O barulho do vidro enche o lugar. Um gemido sai de minha boca, mas ele não produz um só som. Sua mão continua em meu ombro e a outra para em minha boca. Ele usa luvas. Sinto um cheiro que me sufoca.
Meus olhos estão muito abertos. E apesar da pouca luz no cômodo, consegui ver sua máscara melhor. Ela era toda branca e cobria todo seu rosto, a única coisa diferente era o nariz da máscara, ele era pontudo como os que os médicos da peste negra usavam antigamente, só que bem menor. Eu ainda não conseguia ver seus olhos. Minha visão estava um pouco embaçada. Bati a cabeça no chão e uma dorzinha já começava a aparecer.
Ele retira sua mão da minha boca e coloca seu indicador na frente da máscara, insinuando que eu deveria ficar quieto. Então ele se levanta. O observo de baixo. Cada perna sua está de um lado de minha cintura. Eu não penso duas vezes antes de pegar um pedaço de vidro ao meu lado e enfiar em sua perna enquanto também levanto minha perna e dou um chute em suas partes. Nenhum som! Nada é emitido por ele! Seu corpo apenas se curva e eu começo a me levantar. Sentindo os cacos de vidro sob minhas mãos e meus pés. Vejo sua mão se esticar para me segurar enquanto corro para a cozinha, mas sou mais rápido. Não olho para trás, apenas corro.
A porta da cozinha está entreaberta, foi por ali que ele entrou. Saio e encontro meu quintal escuro. Vou até a lateral da casa, passando por um portão de madeira que ele também deve ter aberto para chegar ao quintal e pulo a cerca que divide a minha com a do vizinho. Estou tão nervoso que tropeço. Minhas mãos aliviam o impacto, mas se machucam nos pequenos cascalhos sobre o chão. Busco por ar enquanto caminho pela lateral da casa do Sr. Hunt. Precisava falar com ele. Ele é policial.
Chegando na porta dos fundos de sua casa e vendo o interior iluminado da cozinha, vejo também sua esposa e seu filho sorridentes perto da pia.

- Sra. Hunt... – Tento dizer, mas nenhum som sai de minha boca. Apenas respiro.

Escuto a mistura de músicas que vem da rua, aquilo estava me deixando incomodado. Fico de joelhos sobre a porta bato com minhas mãos fechadas no vidro.

- Sra. Hunt! – Agora o som sai alto e claro.

Vejo ela olhar assustada para a porta e então abri-la. Sua cara é de choque. Eu devo estar péssimo. Só consigo pensar em respirar. Não escuto o que ela diz. Ela apenas me levanta e me leva para uma cadeira da cozinha. Acho que as coisas estão em câmera lenta. Seu filho sai correndo do cômodo. Vejo o rosto da Sra. Hunt. Ela não me machucaria. Acho que agora estou seguro.
Ele veio atrás do que queria. Acho que me encontrar não estava em seus planos, mas finalmente nos encontramos. Eu não faço ideia de quem ele seja, mas sei que minha casa não é um bom lugar para me esconder dele. Saí vivo e ele sabe que eu me defendi para que isso acontecesse. Farei a mesma coisa se ele voltar. E eu sei que ele vai. 


Notas Finais


E então? Gostaram? Espero que sim ♡ Me digam o que acharam, quero muito saber! Tentarei não demorar com o próximo capítulo. Obrigado por lerem ♡
XOXO


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