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História Fire N Gold - Prefiro os Vilões


Escrita por: CovenCult

Notas do Autor


Hey! Aqui está o terceiro cap. Acho que demorei um pouquinho e peço desculpas. Espero que gostem do capítulo, ele ficou um pouco grandinho, mas aproveitei para desenvolver algumas coisas >.<
Me desculpem por erros que passaram despercebidos.
Enjoy It :D

Capítulo 3 - Prefiro os Vilões


O despertador me acorda de um pesadelo onde uma imensa fila de pessoas pediam para que eu embrulhasse livros para presente na livraria. A primeira delas era minha mãe, dizendo que eu precisava conseguir aquele emprego, ou teria que abandonar a cidade e viajar com ela para outro país.
O Sol começava a sair, mas minha cortina grossa e escura bloqueava boa parte dele. Foi bom ter acordado do pesadelo, até porque, hoje preciso realmente embrulhar livros para presente.
Tomo meu banho de sempre e isso me ajuda a terminar de despertar. Visto uma calça bege e uma blusa de moletom preta. Tenho certeza de que hoje fará mais frio. Pego minha mochila e imediatamente lembro do trabalho de biologia que devo entregar, o que fiz com Caleb. Isso também me lembra de que ele faltará na escola hoje, o que não me deixa muito feliz. Eu precisava dele.
Ao descer as escadas, vejo meu tio na cozinha, preparando seu café se sempre.

- Bom dia, Jack – Desde pequeno chamo meu tio por seu nome. Um hábito que não consigo abandonar.

- Bom dia. Comi os pedaços de pizza que estavam sobre a bancada. Cheguei exausto do trabalho.

- Tudo bem, eram mesmo para você. Kate, aquela garota da escola, fez aniversário ontem e a mãe dela me entregou a pizza.

- Muito obrigado então – Meu tio sorri e coloca uma caneca vazia em minha frente. – Você foi à festa de aniversário? Por isso chegou tarde ontem?

- Isso mesmo, desculpe por não avisar. Nate me levou até a casa dela após o trabalho.

- Sim! O trabalho! Como foi?

Como esqueci de contar sobre o trabalho para ele? Logo começo a falar sobre meu chefe e até mesmo sobre quando o vi em sua farmácia enquanto corria de bicicleta com Nate. Conto sobre o chato do meu instrutor e sobre como me virei bem. Bebo o café enquanto falo, não gosto muito do sabor que ele deixa na boca e escovo os dentes novamente antes de sair de casa.
Eu tinha uma bicicleta há alguns meses atrás, mas Nate acabou destruindo-a e fiquei apenas com a promessa de ganhar uma nova. Caminhar até a escola não era algo ruim. Às vezes eu encontrava pessoas conhecidas e caminhávamos juntos. Eu ainda era o “garoto novo”, mesmo fazendo meses que havia me mudado para esta cidade, e todos continuavam fazendo perguntas sobre coisas que eu gostava ou sobre como era a minha antiga escola. Como eu morava na cidade ao lado, não respondia perguntas sobre isso, as pessoas dessa cidade costumavam visita-la bastante e sabiam como ela era. Não sinto falta da antiga cidade, não tinha ninguém lá que me segurasse, nem mesmo algum amigo. Tinha apenas colegas de classe que ficaram felizes ao saberem que eu me mudaria para a cidade ao lado, que era um pouco mais que legal que a deles.
Ao chegar na escola, procuro o carro de Caleb no estacionamento e não o encontro. Ele realmente não foi para a escola.
Encontro Nate em um dos corredores e caminhamos até a sala. Ele ainda não tinha achado alguém para o trabalho de biologia que seria entregue hoje. A aula parece demorar muito para acabar. O professor de biologia era muito chato e havia feito um mapa de sala, colocando alunos que conversavam demais separados de seus amigos. Me mudei perto das aulas começarem, então ele percebeu que eu já tinha certa amizade com Nate, pois não parávamos de conversar durante as aulas. Uma semana depois e ele me colocou atrás de Caleb (algo que não odiei). Ele era o garoto quieto da sala, mas que ria quando seu amigo contava alguma piada, aquela risada que ficava em minha cabeça quando eu chegava em casa e me perguntava o porquê de não conseguir me concentrar no dever de casa.
Todos sabem que sou gay. Minha mãe foi a primeira pessoa a saber disso quando eu tinha 15 anos e contei. Lembro até hoje que quando contei ela estava ocupada trabalhando e disse “Tudo bem, filho”, o que foi ótimo, pois odiaria ter que discutir sobre isso com ela.
Meu pai faleceu quando eu tinha apenas dois anos. Ele era piloto de avião e um trágico acidente levou ele e muitas pessoas desse mundo. Tenho várias fotos suas e penso em como teria sido crescer com ele ao meu lado. Pelo menos tenho minha mãe e meu tio Jack, sei que sempre posso contar com a ajuda deles.
Caleb descobriu que eu era gay quando falei sobre isso na aula de sociologia e até mesmo conversou sobre isso comigo depois. Ele não ligava para isso.
Era muito difícil que os alunos tivessem todos os horários de aulas iguais, mas Caleb e eu erámos exceção. Tínhamos quase todas as aulas juntos, apenas duas ou três ficavam de fora. Foi por isso que acabei me apaixonando. Eu sempre sentava atrás dele e ficava admirando seu cabelo, que chegava aos seus ombros, enquanto pensava sobre o que conversar com ele quando acabava de copiar a lição da lousa. Às vezes ele se virava e começava a conversar comigo, o que me deixava muito feliz (me pergunto se ele reparava isso, não sou muito bom em esconder esse tipo de coisa). Nós conversávamos sobre todos os tipos de coisa, sempre. No dia em que ele pediu o número de meu celular eu fiquei tão feliz que cheguei em casa e fiquei esperando alguma mensagem chegar. Nós passávamos madrugadas de sexta para sábado conversando e eu sempre dormia com um sorriso em meu rosto. Ele era tão gentil e conversava de um jeito que me fazia sentir bem, mas ao mesmo tempo era distante. Eu tentava trazer algo dele para perto de mim em conversas, mas não conseguia. Depois que começamos a conversar, ele começou a faltar bastante na escola. Nunca dizia o motivo das faltas e isso me preocupava.
O resultado dessa aproximação com conversas foi algo que tomou conta de meu coração, e hoje em dia, até mesmo um sorriso dele faz algo dentro de mim querer abraça-lo e nunca mais soltar.

A manhã na escola foi algo cansativo. Não tinha Caleb para conversar e Nate não participava de nenhuma de minhas aulas. Eu só queria ir para o segundo dia de trabalho.
Na hora da saída, encontro Joe Baker no estacionamento. Ele era um garoto do time de futebol que vivia soltando piadas quando estava perto de mim. Na aula de sociologia em que todos souberam que eu era gay, foi ele quem trouxe o assunto, dizendo que não conseguia aceitar isso e achava muito estranho. Ele não era a primeira pessoa que fazia isso comigo e não seria a última, mas não me importar com ele era o bastante para mim.
Eu poderia ir para minha casa e almoçar antes de ir para o trabalho, mas vejo que tenho um pouco de dinheiro em minha carteira (Minha avó, mãe de minha mãe e de meu tio Jack, sempre manda um pouco de dinheiro todo mês. Ela acha que sua aposentadoria não deve ser gasta somente com seus gatos, então manda um pouco de dinheiro para mim), então resolvo almoçar na cafeteria em frente à livraria. Não estou com fome agora, vou direto para a livraria e esperar meu horário começar.

Caminhar até a livraria foi meio complicado. O frio continuava forte e mesmo com minha blusa, meu corpo tremia quando o vento gelado passeava pelas ruas. O que eu mais amava nessa cidade era seu movimento. As pessoas viviam andando pelo centro até mesmo em dias de chuva e isso me deixava animado.
Ao entrar na livraria, já sou recebido por Peter, meu instrutor.

- Você chegou cedo – diz ele com sua voz que completava sua estranheza.

- Bom, ontem você reclamou do meu 1 minuto de atraso, então acho que não fiz nada de errado.

Ele me olha de cima a baixo como no dia anterior e apenas balança seus ombros antes de sair da loja. O movimento na loja ainda está fraco e resolvo ir até a sala dos funcionários no segundo andar. Dentro do pequeno cômodo encontro Steve, o outro garoto que está no treinamento para conseguir o emprego. Ele está sentado em um pequeno sofá de couro preto e mexe em um notebook enquanto escuta música em seu fone de ouvido. A música está realmente alta e posso ouvir um rock enquanto ele mexe a cabeça no ritmo. Quando me vê, abaixa o volume e tira os fones de ouvido.

- O que está fazendo aqui? – Pergunta ele com uma cara confusa.

- Resolvi chegar mais cedo e acho que você fez o mesmo – Me sento ao seu lado no sofá.

- Não gosto muita da minha casa.

Steve retira uma maçã da mochila ao seu lado e a morde. Ele tinha a pele um pouco pálida e seu cabelo era bem curto, como aqueles caras do exército. Seu queixo era quadrado e seus olhos azuis eram o que mais marcavam seu rosto.

- Cara, eu acho que aquela Megan não vai conseguir nada aqui dentro. – Disse ele sobre a garota que também está tentando conseguir a vaga na livraria. – Ela é muito desastrada. Não sei porque ela não desiste de uma vez.

- Dá para perceber que ela está tentando bastante... – Queria a vaga, mas não estava afim de falar mal da concorrência.

- É, acho que sim. – Antes que eu perceba ele já comeu a maçã e se levanta para jogar o resto na pequena lixeira ao canto da sala. – Pelo menos ela é bonitinha. Não que você se interesse, sei que gosta de garotos.

- Como você sabe disso? – Não que ele saber disso me incomodasse, mas não me lembro de conhecer Steve, então não sei como ele sabe sobre mim. Ah não ser que... – Você estuda na minha escola?

- Sim – Ele sorri coça a cabeça quase careca.

- Nunca te vi por lá. E você não tem cara de estar no ensino médio...

- Hey, eu só tenho 20 anos – Ele se senta novamente ao meu lado e começa a desligar seu computador. – Repeti de ano algumas vezes... mas dessa vez eu passo. E não me surpreendo de não me conhecer. Não fico muito exposto por lá.

Isso me lembrou um pouco de Caleb, que costumava ser quieto e não aparecer demais na escola como os jogadores de futebol ou os alunos do grupo de teatro.
Megan entra na sala e também se senta no sofá, ela não parece feliz. Não pergunto o que há de errado, pois se realmente houver algo, não estou afim de consolá-la. Steve finge que a garota nem ao menos entrou na sala, encaixa seus fones no celular e escuta novamente alguma música alta.

- Acho que precisamos novamente daqueles adesivos para identificação. Vou até o caixa para pegar novos – Digo isso para Megan, pois obviamente Steve não está escutando.

Desço para o primeiro andar e vou até o caixa. Eve, uma das três senhoras que trabalham no caixa. Me entrega três adesivos enquanto sorri e diz que estava torcendo por mim. Agradeço e sorrio de volta. Quando me viro para o lado, esbarro com o Sr. Cart... Adam e deixo os adesivos caírem, assim como alguns papéis que ele segurava.

- Temos que parar com esses encontrões. Pelo menos não foi comigo dirigindo um carro como ontem.

Adam conseguiu me envergonhar como no dia anterior. Era oficial, ele não esqueceria que quase me atropelou no primeiro dia de treinamento.

- Me desculpe – Digo encarando-o. Ele sorri e me olha fixamente. Parece não ter se importado com o acontecido. – Deixe que eu pego seus papéis.

Me ajoelho em sua frente e começo a recolher os poucos papéis e os três adesivos que estão ao redor de mim. Adam usa bonitos sapatos sociais escuros, combinava com todo o resto de sua roupa formal. Ele se vestia como um homem de negócios, pronto para liderar uma grande empresa.

- Caleb – diz ele com sua voz grossa.

Quando olho para cima, vejo e que estou perto de demais de seu corpo. Minha cabeça está perto de certas partes... não havia percebido isso. Ele levanta uma sobrancelha e logo me levanto com seus papeis em minhas mãos. É incrível como consigo passar vergonha em sua frente.

- Eu soube por Peter que você está indo muito bem. Gostaria de dar os parabéns. Continue assim.

Parece que Peter não se importou pelo jeito como nos conhecemos e me ajudou com Adam. Isso era ótimo, eu estava um passo à frente de conseguir a vaga.

Poucos minutos depois e estávamos trabalhando. O movimento da livraria não era grande como o do dia anterior, mas ainda continuava “cheia”.
Steve e eu acabamos fazendo uma aposta um pouco antes do nosso intervalo: quem atenderia mais clientes ao mesmo tempo. Eu estava pronto para atender meu quinto cliente antes de ir ao estoque para buscar livros pedidos quando Peter, meu instrutor, percebeu o que estava acontecendo e pediu para que parássemos com aquilo ou acabaríamos nos confundindo. Claro que não era essa sua preocupação. Ele apenas não queria ficar sem clientes para escutarem sua voz irritante ao serem atendidos.
Depois de pegar meu dinheiro em minha mochila, saio da loja com Steve e Megan e vamos até a cafeteria do outro lado da rua. Megan havia caído mais duas vezes na livraria e agora parecia se segurar para não chorar. Ela bebia seu chocolate quente enquanto tinha as mãos trêmulas. Eu realmente não queria falar com ela, na verdade, queria que ela desistisse e me deixasse competir com Steve. Não queria ajudá-la a se levantar novamente do chão.
Steve e eu conversamos sobre alguns clientes que atendemos hoje. Uma mulher muito alta procurava um livro de culinária que nem ao menos foi lançado. Um senhor baixinho e barbudo procurava um livro antigo de poesias. Uma garota de longos cabelos loiros, magra e muito bonita procurava um lançamento sobre um romance lésbico, me lembro de já ter visto a garota por minha escola.

- Eu juro para você que agradeço de meu instrutor não ser o Peter. Que cara chato! – Steve come um pedaço de sua mini torta de maçã. Eu havia pedido uma, mas ainda não me trouxeram.

- Ele não fica me dando ordens, na verdade, ontem eu segui fazendo o que encontrava pela frente e ele apenas fazia sinal de positivo com a mão – Não contaria para os dois que Adam estava gostando de meu trabalho.

- Eu vi como você trabalha. Anda pelos corredores de estantes como se morasse lá dentro. Eu ainda estou decorando onde ficam os gêneros.

Minha torta de maçã é entregue e o cheiro de canela é algo maravilhosamente bom. Isso me lembra um pouco de Caleb. Certa vez Nate havia feito tantos bolinhos de canela, que precisei levar para a escola. Caleb me ajudou a come-los quando o professor de história passou um chato documentário para assistirmos.
A torta de maçã está quente e seu gosto doce me deixa um pouco hipnotizado até perceber que Steve fazia uma pergunta.

- Oi? – Digo piscando algumas vezes.

- Eu perguntei se está afim de fazer algo no sábado?

Eu precisei de poucos segundos para tirar Caleb de minha cabeça antes de focar os olhos azuis de Steve com os meus.

- Fazer algo? – Penso no que tenho marcado para o fim de semana e me lembro do aniversário de Nate, acho que ele fará alguma coisa. – Tenho o aniversário de um amigo, desculpe.

- Bom – Steve enfia a mão dentro do bolso da calça e retira um papel bem dobrado de dentro. Me entrega e o desdobro. É um folheto de um bar que fica quase em uma das saídas da cidade. Nele estava anunciada a “Noite de Cerveja e Rock”, com a participação de uma banda chamada “Ultra Dumbs”. – Se resolver ir a algum lugar, aqui está. Minha banda tocará no sábado.

- Você tem uma banda? – Pergunto curioso. Isso realmente combinava com Steve. – Que legal!

- Sim, estamos começando, mas devo admitir que somos bons.

- Você não é nada modesto – Megan diz tomando um gole de seu chocolate.

- E você não é nada útil na livraria – Steve parece se arrepender imediatamente de ter dito aquilo. Levanta suas sobrancelhas surpreso com o que disse e logo balança a cabeça negativamente.

Antes que ele possa dizer algo, os olhos de Megan se enchem de lágrimas e ele se levanta de sua cadeira. Deixa o dinheiro de seu chocolate sobre a mesa e sai pela porta do estabelecimento.

- Peguei pesado?

- Acho que sim – Como mais um pedaço delicioso de torta. – Mas acho que agora ela desiste.

Falo isso e reviro a torta em meu prato com o garfo, vejo os pequenos pedaços de maçã escorrendo para o prato com o recheio. Essa visão agradável foi embora quando me assustei ao olhar para o caixa da loja. Caleb estava lá.
Seu longo cabelo estava preso em um coque no alto da cabeça, mas algumas mechas ainda escapavam. Ele não costumava usar seu cabelo assim, disse que gostava de o deixar solto. Ele usava um moletom preto e tinha as mãos no bolso enquanto conversava com o homem atrás do caixa. Eu preciso fazer algo, preciso falar com ele.

- Me dê um minutinho – Digo para Steve e me levanto da mesa.

Me olho rapidamente em um espelho que tinha no fundo do lugar e passo a mão por meu cabelo. Ajeito meus óculos redondos com o indicador e ando até Caleb.

- Hey... você – Imediatamente sinto o cheiro de seu perfume suave que me dava vontade de morrer afogado em seu pescoço.

- Olá, Caleb – Ele não parecia surpreso como eu, na verdade, apenas levantou as sobrancelhas e sorriu. Prendeu uma mecha de cabelo atrás da orelha e coçou sua barba que começava a crescer. – Horário de almoço?

- Sim, eu... – Na verdade eu não fazia a mínima ideia sobre o que falar, eu apenas queria estar ali com ele. Uma mini torta de maçã é entregue para ele em um pequeno prato. Ótimo, um assunto. – Elas são ótimas, também pedi uma.

- É, eu sei. Sempre venho aqui – Ele solta uma risada curta e fraca, olha para baixo e depois me encara sério. – Eu estava pensando em passar na livraria, achei que te encontraria por lá.

- Ótimo – digo animado demais. – Daqui a pouco volto para lá, me procure – sempre que quiser... – Serei o que carrega vários livros ao mesmo tempo.

- Certo – Caleb acena com a cabeça e se senta em uma mesa em outra área da cafeteria, mais isolada, como ele...

Quando volto para meu lugar, lembro de esconder o sorriso bobo que fica em meu rosto depois de falar com Caleb. Ao olhar para a mesa, vejo que meu prato está vazio, minha torta tinha sumido e Steve sorria.

- Achei que não comeria, desculpe.

O fuzilo com meus olhos e antes de sairmos da loja ele me compra um chá gelado. Protesto dizendo que está frio, mas ele disse que eu realmente deveria prova-lo. Realmente era bom.
Tomo o chá enquanto fico sabendo por Eve, uma das senhoras que trabalham no caixa, que Megan desistiu da vaga na livraria. Ele havia pego suas coisas e ido embora dizendo que não era boa o suficiente para aquilo. Achei ótimo, agora só restava Steve.
Não vejo o Sr. Carte... Adam – eu preciso lembrar que ele me deu permissão para usar seu primeiro nome – Enquanto atendo alguns clientes. Seu enorme carro continua estacionado em frente à livraria, mas ele passa o tempo todo em seu escritório no enorme e luxuoso sótão do lugar. Enquanto pergunto para Eve quando seria feita a nova entrega de livros, escuto o familiar e fraco barulho de sino que a porta faz toda vez que é aberta.
Caleb entra na loja, agora com as mangas de sua blusa levantadas. Seus olhos varrem a loja, curiosos. Não percebe que estou quase em sua frente. Ando até ele e aceno com a mão, conseguindo sua atenção.

- Bem-vindo. Como posso ajudá-lo? – Digo isso tentando não rir enquanto um sorriso se espalha por seu rosto.

- Você não pode interagir com conhecidos? Eu prometo que não conto a ninguém.

- Nhá, aqui não tem esse problema – olho alguns detalhes de seu rosto rapidamente. Eu queria tanto beijá-lo. Ou pelo menos abraça-lo. Ele tinha a minha altura, seria um bom abraço. – Mas eu realmente quero saber sobre como posso ajudá-lo.

- Eu quero algumas HQs e um livro que me faça passar o tempo. Sugere algum?

Passe o tempo comigo, consigo te entreter muito mais que um livro. Espera... eu disse isso? Não, ok. Ele continua me olhando e então concordo com a cabeça.

- Vamos atrás das HQs primeiro, vou pensando em algum livro.

Vamos até a oitava fileira de estantes gigantescas e achamos muitas HQs. Eu nunca me interessei por isso, mas muitas pessoas adoravam e já acabei encontrando muitas para pessoas com dúvidas.

- Eu não acho muita graça nisso – digo. Ele não se espanta com minha sinceridade.

- Eu gosto de manter minha cabeça ocupada com isso, adoro os heróis.

- Prefiro os vilões – Ele levanta uma sobrancelha e balança os ombros. Preciso me defender. – É sério. Sem eles não existiria história. Os heróis lutariam contra o que?

Ele se apoia com um cotovelo na estante e me encara. Parecia confuso. Por poucos segundos ele movimenta a boca, tentando dizer algo. Então um brilho passa por seus olhos e ele sorri.

- Eles lutariam contra seus sentimentos.

- Isso é meio profundo... – Ele havia conseguido me deixar confuso. – Mas também é bem humano, digo, lutar contra seus sentimentos.

- É, eu acho que sim.

Não conversamos enquanto ele escolhe o que quer levar. Enquanto isso, indico para uma garota aonde fica a sessão livros religiosos.

- Acho que já tenho o que quero. Pensou em algum livro?

Ele havia soltado seu cabelo, que agora ia até seus ombros. Não sei de que jeito ele ficava mais bonito.
Eu não havia pensado em nenhum livro, mas me lembrei de um que li meses atrás e até mesmo virou filme. Poderia ser uma desculpa para arrastar ele para o cinema.
Entrego o livro para ele e espero que goste. Nossas mãos se tocam por um segundo e sinto como a dele é gelada.

- Muito obrigado, Caleb – ele diz. Não me acostumava em ter ele dizendo meu nome, era igual ao dele e achava isso engraçado.

Acompanho ele até o caixa e logo Eve guarda suas compras em uma sacola. Ele acena com a cabeça para mim e então sai da loja. Seu perfume ainda continua perto de mim e respiro fundo antes de me virar e dar de cara com Steve. Ele tinha um grande sorriso e seus olhos azuis brilhavam. Quando eu menos esperava, ele dá uma grande risada que atrai a atenção de poucos clientes.

- O que houve? – Pergunto olhando em volta.

- Você está apaixonado por aquele garoto.

- O que? – Minha voz se eleva um pouco e arrasto Steve para um corredor de estantes antes que ele repita. – Por que diz isso?

- Porque é óbvio. Você olha para ele como se quisesse arrancar a cara dele com um beijo – na verdade eu quero – Eu já fiquei assim, sei muito bem como é.

- Você não sabe de nada... eu não estou assim.

- Se você diz – Steve definitivamente não acredita em mim – Pelo menos ele é um cara legal. Conheço ele há alguns anos da escola. Muito quieto, como eu.

- Eu não estou afim dele, Steve – Reviro os olhos e saio do meio das estantes.

O resto do dia na livraria se resume em organização. Peter havia perguntando se Steve e eu poderíamos ajudar a organizar novas coisas no estoque. As horas passaram enquanto Peter perguntava coisas sobre nossas vidas e contava um pouco sobre a dele. Um pouco mesmo, pois ele apenas falou sobre sua mãe, com quem morava, e sobre seus cinco gatos. Quando saímos do estoque já escurecia. Dessa vez eu havia mandado uma mensagem para meu tio, avisando que chegaria um pouco mais tarde.
Antes de sairmos, Peter pediu para que eu deixasse uma lista de livros no escritório de Adam, e foi o que fiz.
Subi até o segundo andar e passei porta que ficava em seu fim. Subi a curta escada caracol e parei em frente à porta do escritório. Antes de subir, vi que o carro de Adam não estava estacionado na frente da loja, então soube que ele foi embora. Abri a porta e vi novamente o sótão luxuoso. Não ascendi as luzes, pois um pouco de claridade vinda do poste da rua invadia o cômodo pela janela redonda que ficava em seu fim, perto da mesa de Adam. Passo pelo sofá e poltronas de couro, uma pequena estante com alguns livros e alguns quadros ainda não pendurados na parede. Algumas caixas também se espalhavam pelo chão.
Ao chegar na mesa de Adam, coloco a lista de livros embaixo de um peso de papel. Meus olhos focam um pequeno porta-retrato ao lado de um notebook. A foto nele é de Adam e uma mulher que tinha cabelo chanel loiro. Adam usava uma camisa florida e ela usava biquíni, pareciam estar na praia. Ele parecia muito feliz na foto, tinha a mesma barba rala de agora e seu sorriso era muito bonito.
Meu celular vibra e vejo que é uma mensagem de meu tio. Ele chegaria mais tarde em casa como no dia anterior.
Volto para o primeiro andar, pego minha mochila e me despeço de Steve na entrada da livraria enquanto Peter tranca a porta.

- Não esquece de passar no bar se não fizer algo no sábado – Steve diz isso antes de colocar seu capacete e ligar sua moto.

- Até amanhã, Caleb – Diz Peter. – Ele vira a esquina onde ficava a loja e vai embora.

Volto para a casa por um atalho. Não gostava muito desse caminho, ele ficava perto de uma parte estranha da cidade, mas não queria pegar o caminho mais demorado, estava cansado. Ando pelas casas enquanto o mesmo frio da manhã corta meu rosto com força. Amanhã seria o último dia de treinamento e eu tinha quase certeza de que a vaga seria minha.
Passo na frente de algumas casas estranhas. Ainda não era tão tarde, mas o frio não ajudava a pensar que não era madrugada e que a qualquer momento um assassino me esfaquearia pelas costas. Alguns caras encapuzados conversam em frente a uma casa e reconheço alguns da escola. Apenas passo reto e continuo caminhando. Logo estou em um lugar confiável e em poucos minutos estou em minha rua.
Enquanto caminho pela a calçada, vejo um carro parado na frente da minha casa. Eu conheço aquele carro...
Enquanto meu coração bate rapidamente, continuo caminhando e aperto minhas mãos no bolso de meu moletom.
Quando chego em frente à minha casa, vejo o que esperava. Caleb estava sentado na escada de três degraus que levava a pequena varanda. Kali, a gata de Jack, estava em seu colo e ele acariciava sua cabeça. Ela não se dava muito bem com pessoas que acabava de conhecer, e ela nunca havia visto Caleb para ficar assim com ele.
Atravesso o jardim e me aproximo dos degraus, conseguindo sua atenção.

- Olá, Caleb – ele diz surpreso.

- Oi... o que faz aqui?

Kali sai de seu colo e começa a passar sua cabeça em minha perna.

- Eu trouxe algo para você – Ele coloca sua mão na mochila que estava sobre o primeiro degrau e puxa um CD. – Senta aqui – Ele indica o degrau ao seu lado com a cabeça.

Meu coração está pronto para sair pela minha boca, eu tenho certeza disso.
Me sento ao seu lado e pego o CD que ele me entrega. Ele não sorri. Tem o rosto sério e parece incomodado com o frio.

- Por que isso? Não é meu aniversário – Dou uma risada que não é correspondida.

- Eu gosto de conversar sobre música com você, e me senti mal por te deixar sozinho na escola hoje. Fui na cidade ao lado com meu pai – uma pessoa que eu não gostava – e durante o caminho escutei muitas músicas que você gosta no rádio, então achei que seria legal te dar isso com algumas que eu gosto. Estou aqui faz um tempo... achei que estaria em casa.

Ele fez um CD com músicas que gosta para mim... Ele lembrou de mim quando não estava comigo... Se agora ele soubesse o quanto eu quero abraça-lo e o quanto eu preciso dele quando estou sozinho. Mas eu não posso contar para ele, eu não consigo fazer isso.
Ele me observa com seus olhos escuros. Seu cabelo está novamente preso em um coque e outra mecha fica solta perto de sua orelha. Seu perfume era tão bom...

- Obrigado, Caleb – Olho para o CD e então para ele. – Muito obrigado mesmo. Desculpe pela demora, fiquei um pouco mais no trabalho.

Ele concorda com a cabeça e faz novamente carinho em Kali que estava estre nós dois.

- Tenho que ir agora, só queria te entregar isso.

Ele se levanta, mas eu continuo sentado.

- Até mais, Caleb – ele diz.

- Até mais, Caleb – respondo. Isso coloca um sorriso em seu rosto. – Obrigado novamente.

Ele anda até seu carro em frente à minha calçada e em poucos segundos consigo ver o veículo no fim da rua.
Respira, Caleb. Respira. Ele te deu um presente, isso é ótimo, não é? Não, não é! Ele faz isso comigo e nem mesmo gosta de mim. Ele não é gay! Mas como consigo colocar isso em minha cabeça? Eu tentei uma vez esse ano e falhei miseravelmente. Eu realmente preciso dele.
Enquanto controlo minha respiração e os batimentos do meu coração, não vejo tio Jack chegar no jardim de casa.

- Está tudo bem, Caleb?

- Sim, tudo ótimo – sorrio. Jack não sabia sobre Caleb e eu nem mesmo pretendia contar. – Venha, vamos entrar. Vou te contar sobre o segundo dia de trabalho. 


Notas Finais


E então? Gostaram? Digam o que estão achando ou o que imaginam que possa acontecer, quero saber :D
Tentarei postar o outro em menos de uma semana. Espero que tenham gostado.
(Sim, fiz referência à uma personagem de minha outra história no meio dessa uahsuahsusha)
XOXO


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