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História Fire N Gold - Sinos


Escrita por: CovenCult

Notas do Autor


Hey! Mais um capítulo para vocês! Mais uma vez, me desculpem pela demora em postar, minha vida está muito corrida e o tempo para escrever é pouco. Espero que gostem de como ficou e me perdoem por erros que passaram despercebidos. Esse capítulo tem foto yeeeey ♡
Enjoy It!

Capítulo 32 - Sinos


Fanfic / Fanfiction Fire N Gold - Sinos

A luz que entrava pela enorme parede de vidro ao lado da porta vinha das lâmpadas na varanda. Passei muito tempo olhando para lá enquanto James segurava Grace em seu colo no sofá e assistia jogos de futebol em diferentes canais.
A tontura que antes me acompanhava foi embora horas atrás. Fui amordaçado logo depois que percebi aonde estava já e havia desistido de tentar me soltar das cordas que me prendiam na cadeira dura. James nem mesmo olhava para mim enquanto eu fazia sons que machucavam minha garganta e tentava me mover na cadeira. Disse que conversaria comigo depois de algumas horas, quando eu estivesse realmente consciente.
E realmente haviam se passado algumas horas. Eu continuava apenas de cueca ali, já havia chorado, tentado me soltar e desejando que isso tudo fosse apenas um pesadelo.
Quando o jogo de futebol acaba, James coloca Grace no chão e ela caminha até mim sorridente. Bate suas mãozinhas em minha coxa e então deixa sua cabeça ali enquanto fala coisas que apenas ela entende. James se levanta do sofá e vem até mim. Não sorri como Grace. Na verdade, parece triste.

- São quase 23:00. Acho que já posso conversar com você sem que pareça um idiota sonolento.

Ele desamarra na parte de trás de minha cabeça o tecido que cobria minha boca e sinto 1% do alívio que meu corpo todo precisa. Bebo água gelada em um copo que ele leva até minha boca e sinto uma gota escorrer pelo meu queixo. Sinto como se tivesse acabado de chegar de uma longa viagem pelo deserto e beber essa água era o que eu precisava para viver. A bebo de olhos fechados e em poucos segundos ela acaba. Não acho que foi o bastante. Abro meus olhos e encaro James que continua com seu olhar triste.

- Mais? – Pergunta olhando para o copo.

Não respondo. Continuo preso em seus olhos azuis que fazem raiva surgir dentro de mim.
Mesmo sem nenhuma resposta minha, ele enche o copo com a água de uma garrafa de vidro que estava sobre uma mesinha ao lado do sofá e leva novamente o copo até minha boca. Não consigo evitar de beber e ela logo acaba.

- Papá! – Grace grita e ri com sua cabeça ainda em minha perna.

- Agora você precisa brincar. – James diz pegando-a no colo e a levanto até o meio da sala, onde o tapete estava cheio de seus brinquedos. – Tio James conversará com seu outro papai.

Grace se distrai rapidamente com um ursinho de pelúcia e James volta para mim. Puxa uma cadeira e se senta em minha frente, apoiando seus cotovelos em seus joelhos e juntando suas mãos. Não consigo tirar meus olhos dos seus. Sinto meu corpo esquentar e sei que isso é raiva. Já havia entendido o que ele fez comigo e quero mais detalhes.

- Seus pulsos estão doloridos, não é?

Não respondo novamente, mas ele está certo. Sinto meus pulsos arderem e me mover anteriormente só ajudou isso a piorar.
Sua mão direita pousa em meu joelho e ele faz carinho com seu polegar. Tento esquivar, puxando minhas pernas para o lado, mas como também tenho elas amarradas, não consigo evitar de sentir seu toque.

- Eu prometo que lhe soltarei. Não pretendo lhe manter amarrado aí para todo o sempre. Só preciso estabelecer regras com você e ter certeza de que as entendeu antes que faça alguma besteira que acabe prejudicando Grace, Caleb e até mesmo você.

Sinto meu coração acelerar e o ar fugir de meus pulmões. Tento mover meus braços ao ficar surpreso com a notícia de que Caleb também está aqui, mas acabo sentindo mais dor e ardência.

- Ele... onde ele está? – Minhas palavras são baixas. Não estou conseguindo falar direito.

- Na cabana de Morgan, sabe? O velho que cuida da casa quando ninguém está aqui. Bem... cuidava.

James faz uma arma com sua mão e encosta seu indicador no meio do meu peito.

- Pow! – Exclama em um tom de voz baixo.

Meu corpo se arrepia e sinto um pouco de tontura. Eu só quero me levantar daqui. Quero Adam. Quero que James morra.

- Não precisa se sentir mal. Foi tão rápido que ele nem mesmo percebeu o que aconteceu. Caleb está fazendo companhia para seu corpo naquela cabana.

- Não...

- Sim, meu pequeno. Eu não poderia ter vocês três aqui enquanto aquele velho andava livre por aí. Veja pelo lado bom, Caleb está vivo. Você não quer que ele morra, não é?

Sua mão direita vem até meu queixo, mas viro meu rosto e olho para a varanda, imaginando Adam parado ali, pronto para me salvar.

- Foi mais complicado com Mary. Eu não poderia disparar uma arma em minha casa, os vizinhos escutariam e seria péssimo. Então tive que usar outra coisa. Sabe... – Volto a olhá-lo e prendo meus olhos nos seus novamente. Ele passa a mão por sua barba e sua língua por seu lábio inferior. – Eu nunca havia esfaqueado alguém até a morte antes. E poder realizar isso com minha esposa foi algo... divertido.

Imagino Mary caída no chão de sua casa. Seus cabelos louros cobrindo seu rosto enquanto sua roupa e o chão sob ela estão sujos de sangue. James respirando rápido após fazer essa coisa horrenda e observar seu trabalho com seu sorriso ridículo que sempre está em seu rosto.

- O melhor foi não precisar desfazer minhas malas da lua de mel. As deixei em meu carro e fui para o apartamento de Adam. – James relaxa em sua cadeira e cruza seus braços enquanto parece se divertir contando aquilo. Seu olhar triste de antes era apenas encenação. – Ah! Quase me esqueci. Hana também morreu, tive que estrangulá-la, sinto muito. Era uma ótima babá. Consegui esconde-la em um freezer no meu apartamento. Não o uso mesmo, então ela ficará sozinha por lá.

Me recuso a chorar na frente de James. Não quero mostrar que tudo isso me destrói agora. O esforço é grande, tanto que mordo minha bochecha direita e sinto apenas uma lágrima sair de mim.

- Estou pulando algumas partes, então é melhor colocar tudo em ordem. Hora da história!

Ele aproxima mais sua cadeira da minha e inclina seu corpo para frente, me olhando profundamente com aquele maldito sorriso.

- Eu não aguentava mais ficar ao lado de Mary na lua de mel. Tive que aturá-la em todos os cantos do hotel em que ficamos e dormir com ela todas as noites foi péssimo. – Ele dá ênfase a isso revirando seus olhos. – Eu pensava somente em você e nada mais. Quando pedi desculpas para você em meu casamento, fui sincero. Mas o que senti longe de você foi horrível, então decidi o que deveria fazer.

Grace ri enquanto brinca. Ela não faz a mínima ideia do que está acontecendo.

- O plano original era me livrar de Adam em seu apartamento, mas Hana era a única ali, então tive que mudar tudo rapidamente. Eu já tinha Grace, então agora precisava apenas de você. Devo confessar que me senti aliviado em não matar Adam, afinal de contas, ele ainda é meu irmão. Você me disse que Caleb viria com você e eu já tinha tudo pronto. Subornar o homem que cuida das câmeras do prédio para que elas fossem desligadas foi algo fácil. Já lhe disse que sou extremamente rico?

Se gaba ao dizer isso. Sinto minhas costas doerem por ficar sentado na mesma posição durante tanto tempo e não consigo evitar uma careta. Só quero pegar Grace e Caleb e fugir o mais rápido possível daqui.

- Espere mais um pouco, meu pequeno. Já disse que lhe soltarei. Continuando. O responsável pela segurança de lá foi dar uma volta depois de receber uma boa quantidade de dinheiro e pude fazer o que queria. Arrastei o corpo de Hana do apartamento de Adam até o meu pela a escadaria e depois parti para a garagem, onde encontraria você. Sinto muito por bater em Caleb com um pé de cabra, mas eu precisava derruba-lo e não tinha o anestésico em mãos. Pense pelo lado bom, ele não morreu. Ainda...

- Se você fizer algo com ele...

- Você não irá fazer nada, Caleb. Por isso mesmo precisa entender que te soltarei se concordar em seguir todas as minhas regras. Voltando para a história. – Ele ri e mexe em meu cabelo. – Você é muito ansioso, meu pequeno. Então, depois de colocar você arrumadinho no banco do passageiro e Caleb no banco de trás com Grace, parti para cá. Ele dormiu tranquilamente durante a viagem, mas você precisou de outra dose. Precisamos agradecer a Mary por isso, ela guardava essas coisas em casa. – Ele passa sua mão por meu joelho e então para o interior da minha coxa. Aquilo é horrível, mas não consigo evitar de sentir aquele toque que parece me queimar. – Seus celulares já foram destruídos e jogados na estrada, me desculpe por isso também.

- Você sabe que nada disso dará certo, não é? Sabe que acharão o culpado de toda essa merda e que pagará por isso?

- Talvez, mas não quero pensar nisso agora. Quero aproveitar o momento que terei com você com essa casa somente para nós. E eu sei que não fugirá. Se fugir, você não terá apenas uma pessoa para deixar para trás e morrer, terá duas. Sei o quanto se importa com Grace e Caleb para apenas ir embora e deixar que eu acabe com eles. Algumas regrinhas existirão, meu pequeno. E você terá que as seguir. Agora o soltarei, certo? O resto nós combinamos com o tempo.

Estou me controlando muito para não chorar agora. Mordo novamente minha bochecha direita e penso em como seria matar James agora mesmo.
Ele começa a desfazer o nó que prende meus tornozelos e sinto um grande alívio quando afasto minhas pernas lentamente. Quando caminha para minhas costas beija novamente minha nuca.

- Prometo que tudo ficará bem se seguir as regras.

O mesmo alívio que senti antes agora vai para meus braços que finalmente trago para a frente de meu corpo. Vejo como meus pulsos estão vermelhos e irritados enquanto movimento-os. Me espreguiço na cadeira. Meu corpo todo dói, sinto fome e um pouco de sono, mesmo tendo passado tanto tempo derrubado com o que James colocou em meu corpo.
Ele fica em minha frente novamente, mas dessa vez em pé. Prendo meus olhos nos seus por alguns segundos e observo seus pés descalços no chão de madeira. Sinto a raiva correr pelo meu corpo, fazendo parte de meu sangue.
Dou um impulso para a frente e abraço o corpo de James enquanto continuo empurrando. Seu corpo atinge a parte traseira do sofá e logo sinto seus braços nos meus. Ainda estou fraco demais para conseguir lutar contra ele. Seu corpo não é diferente do de Adam, os dois são fortes e altos. Isso não é uma boa combinação para alguém fraco como eu no momento.

- Eu já esperava isso.

Logo estou com minhas costas no chão e ele prende meus dois braços enquanto me olha de cima com o mesmo sorriso idiota.

- O que você fizer refletirá em Grace e Caleb até aprender a se comportar. Isso rendeu a vocês três o direito de dormir com o estômago vazio.

- Não...

- Sim, meu pequeno. Agora venha comigo e se comporte. Amanhã será um novo dia. Pense em como se comportar enquanto não dorme.

Ele sai de cima de mim e estende sua mão para me ajudar. Não aceito, e me apoio no chão para ficar em pé. Olho para o tapete onde Grace havia sido colocada e vejo que agora ela dorme vidara para cima, totalmente despreocupada.
James indica a escadaria na sala com a cabeça e então começo a andar naquela direção. Sua mão fica em meu ombro quando chego ao segundo andar. Ainda me lembro de lá e ele me guia ao mesmo quarto em que fiquei com Adam da outra vez. A enorme cama em que fiquei da outra vez estava ali.

- Não gostaria de fazer isso com você, Caleb. Mas amanhã será um novo dia e você talvez entenda a gravidade da situação.

Ele sai do quarto e escuto a porta ser trancada.

- Até amanhã, meu pequeno.

Eu não aguentava mais ouvir isso. Escuto passos se afastando da porta e fico parado olhando para a cama. Nem mesmo ando até ela para desmoronar em lágrimas. Apenas me deito no chão e começo a chorar. Realmente havia acontecido algo. Agora é tarde demais para pensar no que James poderia fazer comigo, porque ele já fez.
Eu preciso de Adam. Somente de Adam.

(...)

Adam

Estou há uma hora no hospital. Até agora tento entender o que acontece enquanto faço tiras no copo de plástico em que bebi água minutos atrás. Janine não chora tanto quanto uma mulher sentada ao meu lado que espera seu marido sair da sala de cirurgia em que entrou em estado grave, mas vejo que se controla bastante para evitar que lágrimas corram por sua bochecha.
Ela conseguiu conversar com James, mas não teve coragem de dizer para ele que Mary foi esfaqueada em sua casa e por algum milagre conseguiu contatar a emergência. Minha “cunhada” passa por alguma cirurgia complicada enquanto estamos na sala de espera. Eu teria avisado James sobre isso, mas Janine disse que ele está muito ocupado em uma viagem de trabalho e avisar isso por telefone seria algo péssimo.
Outra coisa que me preocupa muito é Caleb. Recebi uma mensagem sua dizendo que precisava ir ao shopping urgentemente e levaria Grace consigo. Tento entrar em contato para saber como estão e escuto somente a voz de uma mulher dizendo que o número está indisponível. Precisei vir ao hospital com Janine assim que ligaram para ela falando sobre Mary. Minha irmã é seu segundo número de emergência e quis que eu a acompanhasse. O hospital não conseguiu entrar em contato com James.
Saí da casa de Caleb tão rápido que não pude me despedir direito de seus amigos. Ainda tento colocar as coisas em ordem na minha cabeça. Não tenho o número de nenhum amigo de Caleb que poderia me passar o número do outro Caleb, os dois ainda devem estar juntos. Ligo novamente para o meu Caleb e escuto a mesma voz feminina dizendo que o número está indisponível.

- Droga, Caleb...

A mulher ao meu lado chora parece chorar mais alto e isso começa a me incomodar demais. A tristeza que ela sente parece invadir meu corpo aos poucos, então me levanto.

- Aonde vai? – Pergunta Janine segurando minha mão.

- Preciso tomar um pouco de ar. Caleb ainda não apareceu... estou preocupado.

- Tenho certeza de que está tudo bem.

Sinto algo estranho na voz de Janine. Sinto incerteza.
Concordo com a cabeça e começo a caminhar pelo corredor do hospital. Passo por uma pequena sala onde um idoso recebe pontos na cabeça enquanto um garotinho, que assumo ser seu neto, segura sua mão. Escuto mais pessoas chorando e sinto ainda mais necessidade de me afastar. Odeio hospitais. Eles abrigam memórias ruins e sofrimento. Claro que ao sair daqui as pessoas agradecem por terem conseguido sobreviver pelo o que passaram, mas acredito que todas as possibilidades ruins que passaram por suas cabeças permanecem aqui.
Entro em um elevador e espero ele chegar ao térreo. Mary trabalha aqui como enfermeira. Seus colegas de trabalho devem estar preocupados com o ocorrido. Pobre James, nem mesmo voltou de sua lua de mel e isso acontece. Quando me disse que precisava que eu buscasse Grace em minha casa pois teria um jantar ligado ao trabalho, não imaginei que fosse em outra cidade. Agora ele está longe de sua esposa e teve sua casa invadida por alguém que deixou sangue derramado. Janine me disse que ele não sabe quando volta, pois a viagem pode se estender.
Caminho até a entrada do hospital e sinto o ar gelado em meu rosto quando as portas deslizam para que eu passe. O largo estacionamento do lugar se estende em minha frente. Pego meu celular em meu bolso e ligo novamente para Caleb. Não aguento mais ouvir a maldita voz daquela gravação e não a dele me atendendo. Caleb não me deixaria sem informações desse jeito. Já são 21:30 e até agora nada. Tem algo errado, sinto isso. O dia começou normal e agora tantas coisas estão acontecendo que começo a ficar com dor de cabeça.

(...)

O vento faz um galho fino bater contra o vidro da janela trancada com um cadeado. Estou deitado na enorme cama do quarto onde fui trancado na noite anterior. Um grosso e pesado edredom branco me cobre por inteiro. Acordei há poucos minutos e a claridade que entra no quarto me incomoda, então resolvi cobrir minha cabeça para bloqueá-la.
Minha garganta dói. Passei muito tempo gritando e batendo meus punhos contra a porta enquanto chorava na noite anterior. James nem mesmo se importou de me impedir, com medo de que alguém pudesse ouvir. Ninguém iria ouvir. Não há ninguém por perto.
Depois de tanto gritar resolvi procurar por coisas no quarto que poderiam me ajudar a escapar de lá ou me proteger contra James, mas nada encontrei. Havia apenas uma cômoda ali, mais nada. Tomei banho e escovei os dentes. Tudo no banheiro parecia já ter sido arrumado para mim. Depois de chorar mais um pouco na cama, adormeci, ainda tentando entender que aquilo era verdade.
Agora, acordado, sinto fome enquanto me encolho embaixo do cobertor. Se o que James fala for verdade, eu só preciso seguir suas regras idiotas para que nada aconteça com Grace ou Caleb. Me sinto arrependido de ter feito Grace passar a noite com fome após tentar agredir James. Precisam existir mais opções para mim além de fazer o que ele quer.
Escuto a porta sendo aberta e me sento na cama rapidamente. Vejo James entrar totalmente despreocupado no cômodo enquanto segura uma muda de roupas em sua mão direita. Se senta na cama e passa sua outra mão por minha bochecha. Não viro meu rosto para o lado, temendo que ele invente outra punição.

- Você grita bastante, meu pequeno. Quase me fez vir até aqui para lhe acalmar com um abraço. – Ele olha para a janela e respira fundo. Então volta a olhar para mim. – Tenho roupas limpas para você. São minhas, mas não me importo em dividir. Como não desfiz as malas da lua de mel, tenho todas as minhas roupas comigo. Achei um pouco de sangue na que eu usava ontem, então aproveitei para lavá-la junto com as suas, espero que não se importe.

Assovia alguma música enquanto se levanta da cama e sai do quarto, então tranca a porta e diz:

- Volto em cinco minutos. Sei que já tomou banho, então se troque e iremos tomar café. Acho que gostaria de conversar um pouco. E já são 08:00.

Sobre a cama existe uma camisa social branca, um short preto e curto, parecido com os que as pessoas usam em academias, e uma cueca também preta. Ele disse ter lavado minhas roupas, mas não sei porque não as trouxe para mim.
Jogo a cueca que realmente pertence a mim no cesto do banheiro e visto a nova. O short não fica grande em mim, pois tem elástico, mas a camisa é o oposto. Preciso dobrar as mangas para que fiquem em meus pulsos. Ela tem um cheiro bom de lavanda.
Por um segundo esqueço de toda a situação e coloco minha mão embaixo do travesseiro, na intenção de encontrar meu celular ali. Como se fosse algo que faria em uma manhã normal. Mas essa não é uma manhã normal, de jeito nenhum.
Me sento na cama e fico encarando a porta. Escuto meu estômago roncar e imagino que com certeza James não me alimentaria. A ideia de estar sendo mantido aqui se misturou com coisas que sempre vi em filmes e séries. Não quero ser uma daquelas pessoas que apanham e passam fome enquanto ficam trancadas em porões escuros e cheios de ratos. Mesmo que eu tenha tentado ir para cima de James, ele me deixou em um bom quarto e me privou apenas de comida, fazendo o mesmo com Grace e Caleb.
A porta volta a ser aberta e James sorri.

- Venha. Não quer deixar Grace sozinha, certo?

Me levanto e passo por ele. Sinto que sua roupa também tem cheiro de lavanda. Ele veste uma camisa social branca como a minha e uma calça preta. Seus pés, assim como os meus, pisam descalços no chão de madeira.
A porta é trancada com um pequeno cadeado daqueles que precisam de senha. Quatro fileiras com números de 0 a 9 existiam nele e claro que não sei a combinação colocada ali por James. Depois que ele a tranca, indica o caminho que eu deveria fazer para o primeiro andar. Vejo em um dos corredores uma porta que leva a uma pequena varanda, mas também está trancada. Acho que o tempo em que fiquei desmaiado foi aproveitado por James para que ele cuidasse desse tipo de coisa. Talvez ele não tenha dado um jeito em tudo. Talvez algo tenha escapado e eu só precise encontrar o que.
Chegando ao primeiro andar, vejo Grace sentada no sofá enquanto come uma panqueca que segura com as duas mãos. Ando até ela e beijo suas bochechas enquanto seus dentinhos aparecem para mim em um sorriso. Ela me oferece o que come, mas recuso e ela volta a mastigar enquanto olha para a TV. Um programa infantil muito colorido, desses que Adam odeia, atrai a atenção da pequena.
Vejo algo sendo jogado no sofá por James, e quando olho vejo que é uma tornozeleira dourada. Pequenos sinos estão por ela percebo que fazem um barulho calmo quando a seguro em minha mão.

- Coloque-a. – Ordena James enquanto anda até a cozinha.

Quando ele desaparece no cômodo, nem mesmo penso antes de pegar Grace no colo e me dirigir até a porta. Quando giro a maçaneta a porta não abre. Droga! Volto ao sofá, deixando Grace, que não entendeu o que acabou de acontecer, no seu lugar e me sentando ao seu lado do jeito que estava.
Uma tentativa já falhou, e tive que desistir rapidamente antes que James voltasse e decidisse algo por causa disso. Coloco a tornozeleira a tempo de ver James colocando pratos sobre a mesa na sala de jantar que fica logo atrás da sala de estar.

- Venha. Não quero que morra de fome.

- Porque pretende me matar de outro jeito?

Ele não responde, apenas balança sua cabeça enquanto organiza coisas sobre a mesa. Quando levanto do sofá e começo a andar, já percebo a intenção de James ao me jogar aquilo. O som dos pequenos sinos me acompanham até a mesa, onde apoio minhas mãos.

- Achei que seria uma boa ideia saber por onde você anda. Afinal de contas eu não pretendo mantê-lo naquele quarto 24 horas.

- E o que pretende fazer, James?

Ele se senta em uma ponta da mesa e indica com sua cabeça que eu deveria fazer o mesmo. Sobre a mesa existem alguns tipos de frutas, bolo de chocolate, suco de laranja, café, chocolate quente, pães, torradas, geleias, biscoitos e mais da panqueca que Grace comia no sofá.
Me sento e cruzo os braços. Ele já toma um gole de café e olha desinteressado para o desenho na televisão.

- Juro que ainda não sei. Primeiro quero que entenda que não lhe farei mal. – Toda essa comida sobre a mesa já desconstruiu o que eu pensava sobre passar fome em um porão escuro. – Eu realmente preciso que siga as regras, apenas.

- Me fale mais sobre elas.

- Coma um pouco. Não quero que continue com fome. Não se preocupe, não envenenei nada.

Pego uma torrada e espalho geleia de morango sobre ela com uma colher pequena. Não vejo nenhuma faca sobre a mesa. Quando sinto o gosto doce em minha boca, sinto ainda mais a fome que está dentro de mim. James me observa enquanto mastigo e faço o mesmo com ele. Aquilo me dá raiva.

- Eu já lhe disse que se fizer algo de errado, isso refletirá em Grace ou Caleb. E não se preocupe com ele, já tomou café da manhã. Talvez eu apareça por lá de noite para que ele coma novamente.

Eu não cheguei a entrar na casa de Morgan quando o visitei com Adam na primeira vez em que estive aqui, mas me lembro que não passava de uma cabana de madeira. Não faço ideia se Caleb está amarrado a uma cadeira ou a uma cama. Se está andando livremente pelo lugar trancado ou tentando se livrar batendo nas paredes de madeira.

- Você não fez nada com ele, certo? – Pergunto.

- De modo algum. Ele continua inteiro e não me deu o trabalho que você deu ontem. Ele entendeu a gravidade da situação e preferiu não arriscar que alguma coisa acontecesse com você.

- Não acha que já estão atrás de você? Não acha que Adam sabe quem você é agora?

- Você tem essa imagem tão forte de Adam. Não é como se ele fosse aparecer ali agora mesmo e lhe salvar. Desista disso. – Ele realmente fala como se eu fosse louco por pensar em Adam desse jeito. – Falei com Janine ontem, enquanto você estava desmaiado naquela cadeira. Ela queria saber o que eu estava fazendo e simplesmente disse a verdade: que estou viajando a trabalho em outra cidade e não faço ideia de quando volto. Todos sabem o que estou fazendo, mas não sabem onde você, Caleb e Grace estão. Talvez Adam já tenha imaginado que você fugiu com o outro garoto apaixonado por você e resolveram levar sua filha junto para construírem uma família.

Seguro com força o copo em minha mão, imaginando que ele vá quebrar a qualquer segundo. Penso em jogá-lo contra James, mas sei que isso resultaria em uma punição. Antes que outras ideias cheguem até mim, Grace aparece ao meu lado, balançando seus bracinhos para cima.

- Mais! – Grita. – Mais!

- Deve estar com fome. – Digo e lhe entrego mais uma panqueca. Volta correndo até a sala de um jeito engraçado.

Não consigo evitar um sorriso, mas ele logo vai embora quando volto a ver James do outro lado da mesa.

- Ainda bem que ela não chorou essa noite. Odeio bebês chorando. Você terá que cuidar para que ela não faça isso frequentemente. E não trocarei mais suas fraldas, aquilo é estranho.

- E por quanto tempo ficaremos aqui...?

Imediatamente sinto medo da resposta que eu poderia receber. Respiro fundo e movo meu pé embaixo da cadeira, fazendo os sininhos produzirem seu som.

- Veremos como as coisas se desenrolarão.

Passamos minutos ali, comendo enquanto trocamos olhares de vez em quando. Eu penso em como procuraria jeitos de sair daqui, em como Caleb está naquela Cabana que com certeza não o protege do enorme frio existente lá fora, em como Adam deve estar desesperado por não saber onde sua filha está. O que me incomoda é não saber o que se passa pela maldita cabeça de James enquanto ele sorri. Não sei se planeja me matar para que mais ninguém me tenha e meus últimos minutos sejam com ele. Não sei se deseja me tratar como um dos garotos que pagava por sexo e querer que eu não reaja de jeito nenhum, com medo de consequências. Não sei se ele deixou algum tipo de coisa para trás que poderia incriminá-lo e trazer a polícia até mim.
Depois de minutos olhando para a parede de vidro ao lado da porta de entrada, James me chama.

- Pode sair se quiser. Andar ao redor da casa. Não há nenhum problema com isso. Só não pode levar Grace e continuará descalço.

Claro que não posso levar Grace. Sair correndo com ela pelo meio das árvores seria algo ruim para ele. Mas eu também não poderia deixar Caleb para trás. E sem usar nada em meus pés, acabaria me machucando.
Concordo com a cabeça e ele anda até a porta. A destranca com uma chave que escondia no bolso da frente de sua camisa e a abre. Ando até lá e sinto o vento gelado em meu corpo. Não conseguiria ficar muito tempo aqui e ele também sabia disso. Sua ideia é me manter dentro da casa, nada mais.
A porta se fecha atrás de mim e fico sozinho na varanda. O vento está forte e meu corpo todo se arrepia. Minhas pernas e parte de minha coxa estão expostas graças ao short curto. A camisa fina não barra nem 10% do vento. O cheiro das árvores ao redor é maravilhoso. Algo bom nisso tudo.
Desço os sete degraus largos de madeira e sinto as folhas secas sob meus pés.
Começo a andar e então me dou conta de que não vejo o carro de James por ali. Não faço ideia de onde pode tê-lo colocado. Vejo a entrada para a estrada de terra que leva a estrada asfaltada. Penso em como seria egoísmo meu sair correndo por ali, deixando a filha de Adam e Caleb para trás. Demoraria quase uma hora correndo para chegar a estrada e pedisse a ajuda de alguém. Tudo parece tão distante e ao mesmo tempo tão perto. Me pego torcendo para que alguém apareça aqui como o primo de Adam apareceu e atrapalhou nossa viagem, mas uma parte de mim parece gritar “Esqueça”.
Me encosto em uma árvore na borda da lareira e encaro a casa em seu centro. Percebo agora como não estou com minha aliança. Provavelmente James não conseguiria olhar para mim enquanto eu usava algo que me ligava diretamente ao homem que amo.
Chorei tanto na noite anterior que acho que por enquanto não consigo chorar. Sinto apenas um aperto em meu peito. Minha cabeça dói um pouco e o vento frio aumenta. Passo vários minutos castigando meu corpo com aquilo enquanto tento acreditar que aquilo não é verdade.
Ouço o som dos pequenos sinos novamente enquanto caminho até a casa.

(...)

Adam

Muita gente está na casa de Caleb. Não dormi um minuto sequer da madrugada, mas sinto o sono se pendurar em meus ombros, me obrigando a deitar. São 07:30 e a polícia ainda continua procurando os três pela cidade.
Jack não conseguiu resistir e foi até seu quarto para dormir. Katarina prepara café para policiais que continuam fazendo as mesmas perguntas para os amigos de Caleb. Querem saber se ele comentou algo sobre isso com eles, se foi algo planejado.
O pai de Caleb me olha de cara fechada do outro lado da sala. Havia dito que tivera uma briga feia com seu filho antes que ele viesse para cá na tarde do dia anterior. Haviam brigado por causa do meu Caleb. Seu filho está apaixonado pelo meu Caleb e isso o irritou demais. Agora ele não sabe fazer outra cosia além de me observar com ódio.
A dor de ter Grace longe de mim não sai de meu coração. Tenho vontade de gritar e olhar em todos os cantos da cidade para acha-los. Quase peguei meu carro e fiz isso, mas Katarina pediu para que eu ficasse com ela enquanto a polícia trabalhava. Seu filho também está desaparecido. Meu amor está desaparecido.
Não minto que imaginei os dois fugindo com minha filha por aí. Mas confio em quem amo de verdade e sei que ele nunca faria isso comigo.
Não sei nem mesmo o que sentir agora. Colocar meus sentimentos em uma caixinha e defini-los agora é algo impossível.
Sei que isso não é culpa da pessoa que perseguia Caleb. Essa pessoa está morta, era apenas um drogado qualquer. Isso é algo diferente, algo bem ruim.
Meu telefone toca e todos na sala olham para mim. Sr. Hunt, o vizinho policial de Caleb, disse que se fosse um sequestro, poderiam entrar em contato comigo ou com Katarina, então qualquer ligação seria algo importante.
O número na tela é de Janine. Não tenho notícias de Mary desde que saí do hospital e vim até a casa de Caleb.

- Acho que precisa vir ao hospital, Adam.

- O que houve? Algo com Mary?

Ela sabe como estou por causa de Grace e Caleb, não deve contar as coisas desse jeito.

- Nossa mãe está aqui, Adam. Ela veio nos visitar.


Notas Finais


E então? Comentem! Ainda acontecerão mais coisas que farão vocês sofrerem, sorry ♡ Teve o ponto de vista do Adam pela primeira vez! Me contem o que acharam, please.
Até o próximo cap, meus amores ♡
XOXO


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