História First friend, my only love - I

Anti-social. Sem qualquer amigo. Odeia a escola. Odeia o mundo. Prazer, eu.         Como ninguém liga para o que eu digo, você não deve nem estar prestando atenção nisso. Mas... Vou falar do mesmo jeito, não tenho nada mais a fazer além de escrever esse diário, que aliás você nem deveria estar lendo. “Ui, a garotinha escreve em um diário, ui”. Pense o que quiser, eu não ligo. Outra coisa: esse diário é escrito no presente, mas não quer dizer que eu passo o dia inteiro escrevendo ele.

  -18 de fevereiro-

  As aulas começam hoje, ou seja, mais um ano escolar de exclusão, ao menos para mim. Cá estou eu, sentado em uma classe do lado da janela, no lugar mais distante de todos que estão presentes na sala. Se tem uma coisa que eu realmente gosto de fazer, é observar o céu. Tão vasto, tão perto mas ao mesmo tempo tão longe de todos os astros.

  O professor entrou na sala, e como de costume  todos fizeram silêncio.

- Bom dia –disse ele largando sua pasta em cima da mesa.

- Bom dia –responderam todos em uníssono.

- Gostaria de anunciar que teremos um novo aluno esse ano. Por favor, entre.

  Para os outros, mais uma pessoa para conversar e se divertir. Para mim, mais um pra lista de “pessoas que sequer percebem minha presença”.

  Foi então que um garoto baixinho, com cabelos morenos que iam até a linha dos ombros, entrou na sala. Bem magro e com um rosto bonito, o uniforme da escola lhe caía muito bem. Talvez por causa dos óculos de armação vermelha, que faziam contraste com sua pele clara.

- Meu nome é Mizui Shinji, prazer em conhece-los –disse fazendo uma reverência.

  Logo que se apresentou o professor lhe disse pra escolher um lugar pra sentar, já que haviam vários vagos. 

  Espera... Ele está vindo na minha direção? Não, impossível. Faz muito tempo que ninguém senta do meu lado, não é agora que isso vai mudar. Balancei a cabeça, como que para espantar esses pensamentos. Mas eu havia ficado tão imerso neles, que nem percebi... Que o garoto havia MESMO sentado do meu lado. E agora, o que eu faço? Não sei o que dizer! Não sou bom em falar com as pessoas... Ele tá me encarando! Como vou-

- Oi –sorriu.  

  Normalmente é como se eu fosse invisível, então por que isso tão de repente?

- O-oi... –falei encarando a mesa e sentindo meu rosto esquentar.

  NÃO É POSSÍVEL QUE EU ESTEJA CORANDO!

- Meu nome é Mizui Shinij, prazer em conhece-lo –sorriu novamente.

- Meu... Nome... Meu nome é Yamazaki Masahito, p-prazer.

- Hm... Você pode me chamar de Aiji!

- Aiji? –o encarei fazendo uma cara de desentendido.

- É assim que meus amigos me chamam –disse sorrindo.

- A...Migos? –amigos? O que quer dizer com isso?

- É, bom, vou sentar do seu lado, então isso quer dizer que nós seremos amigos, certo?

- Amigos... –dessa vez eu corei mesmo, e ele me olhou com cara de quem não está entendendo nada.

- Você não tem amigos, Yamazaki-kun?

- É... Digamos que... Não. –fui sincero, não tenho motivos para mentir. Ainda mais que mentira tem perna curta, e essa em especial nem pernas teria.

  Ele ficou quieto de repente, pensativo. Até que falou:

- Então agora você tem um.

  Espera, eu escutei direito?

- Hã?

- Agora você tem um amigo, Yamazaki.

  Fiquei sem reação. Desde que eu era pequeno nunca tive amigos, e agora simplesmente chega uma pessoa do nada e me diz que agora eu tenho um amigo. Sério, o que tá acontecendo?

- O que acabou de dizer... É sério?

- Claro! E por que não seria? –riu.

- Waaaaa~ –sorri, fiquei muito feliz. Era a prmeira vez que diziam algo daquele tipo para mim.

  Isso é um milagre... Certo? Só pode ser!

  Acho que é a primeira vez que eu me sinto vivo de verdade!

  Ainda bem que estamos sentados no fundo da sala, assim o professor não percebe que estamos conversando ao invés de prestar atenção na aula...

  O tempo passou rápido, logo o sinal bateu para o intervalo, o melhor período da aula.

- Você não trouxe nada pra comer, Yamazaki-kun? –indagou Mizui.

-Ah, não. Desacostumei a comer de manhã.

- Entendo... De qualquer forma, quer um pouco do meu? –pegou um pedaço de frango e direcionou à minha boca.

- Não, obrigado –ri. Esse sentimento de estar com alguém é tão bom, dá vontade de ficar dessa forma pra sempre.

- Aaaaaaah, pega um pouco! –fez uma cara fofinha.

- Tá! –ri, abrindo a boca e recebendo um pedaço de frango –Isso tá ótimo! Foi você que cozinhou?

- Sim, foi. –sorriu –Fico feliz que tenha gostado!

- Já que... Nós vamos ser amigos...

- Já somos.

  Corei de novo.

- Você poderia... Me chamar apenas de Masahito?

  Ele rapidamente ficou sério.

- Não.

- Ah, ok, hã...

- Vamos inventar um apelido pra você.

- Apelido?

- Que tal... Caramelo? Seus cabelos tem a mesma cor de um caramelo.

- Tá brincando, né? –fala sério, Caramelo?

- Sim –começou a rir.

-...

- Então, algo que tenha a ver com o seu nome... Maya? Sim, Maya!

- Desde que não seja Caramelo, tá valendo –rimos.

- Certo, Maya. E você, trate logo de me chamar de Aiji!

- Sim, senhor! –falei fazendo posição de sentido.

- Francamente, não parece que você nunca teve amigos, Maya.

- Eu nunca falei com outra pessoa dessa forma, Aiji –sorri.

- Sério?

- Sim, sério...

  Sorrimos.

  Esse dia com certeza foi o melhor da minha vida.