História First friend, my only love - III

-20 de fevereiro- 

Posso dizer que eu nunca estive tão ansioso para algo, tanto que mal consegui dormir na noite anterior, imaginando como seria o outro dia. Afinal, é a primeira vez que durmo fora, né.

  Sobre a permissão de meus pais, praticamente nem precisei pedir para dormir na casa de Aiji. Eu simplismente perguntei se podia dormir na casa de um amigo e eles consentiram. Era de se esperar que eles nem se dessem ao luxo de se preocupar comigo e perguntarem quem era ou quando eu sairia, mas como dizem por aí, a esperança é a última que morre.

  Acordei por volta de umas oito e meia e conferi se tinha pegado tudo certinho, não queria chegar lá com, talvez, algo importante faltando, se é que entende o que estou querendo dizer. Após confirmar que tudo estava certo, fechei o zíper da mochila e saí em direção à porta do apartamento. Não precisei me despedir de ninguém, já que a essa hora os outros dois moradores da casa já estavam trabalhando em seus respectivos empregos. De qualquer forma, se estivessem presentes não faria muita diferença.

  Segurando um papel com seu endereço escrito, segui pelas ruas até finalmente após vinte minutos de caminhada com uma mochila pesada nas costas, chegar à casa de Aiji. Era uma casa média e muito bonita, pintada com uma coloração creme. Tinham dois vasos com folhagens, um em cada lado da porta, que faziam um contraste bonito com a grama bem cuidada do pátio. O portão era de madeira, e após ele havia um caminho de pedras até a porta da casa. Tudo passava uma sensação realmente aconchegante, amorosa. Sensação essa que o apartamento em que moro jamais conseguirá passar.

  Chamei por Aiji, que logo veio abrir o portão.

- Bom dia, Maya! –exclamou sorridente como sempre.

- Bom dia, Aiji! –sorri.

  O dia mal havia começado e eu já estava muito feliz. Até que não é ruim acordar de bom humor de vez em quando...

  Ele então me convidou para entrar, e claro que eu aceitei.

- Fique á vontade –disse Shinji com naturalidade, sentando no sofá.

- Você fala como se fosse fácil, né! –sentei-me também.

- Er... Maya... –começou um riso.

- Hm? –mas do que diabos ele está rindo?

- Por eu você sentou com a mochila nas costas?

- Aaaah, isso? Hã, isso é... –uma desculpa, preciso inventar uma desculpa! Não posso dizer algo como “É por que eu estou nervoso por estar aqui, kyun~!” –É que eu acabei acostumando com o peso dela por causa da caminhada, sabe. –ri constrangido

- Certo, certo –ele continuou rindo, me fazendo corar. Por sorte, ele não percebeu.

- AAAAAAAAAAAAAAAAIJIIIIIIIIIIIIIII! CADÊ A MINHA CUECA?

 Arregalei os olhos. Santo Cristo, de onde veio esse grito?!

- COMO VOU SABER ONDE ESTÃO SE AS CUECAS SÃO SUAS? –gritou Aiji em resposta à outra pessoa.

- VOCÊ É MEU IRMÃO, TEM QUE SABER DISSO!

  Aiji tem um... Irmão?

- VÁ PROCURA-LAS POR SI MESMO, NII-SAN!

- Irmão? –indaguei confuso.

- Ah, é mesmo, eu acabei esquecendo de te contar...Talvez por que ele não é algo tão importante a ponto de se lembrar –falou a segunda parte com um tom mais alto, provavelmente para ter certeza de que o outro escutaria.

- Eeh... Eu queria ter um irmão também! –fiz bico.

- Não. Não. Não, não e não. Não queira isso –fitou-me com uma expressão séria, mas engraçada de se ver.

- Por que?

- Já não deu pra perceber? Todos os dias acontecem coisas do tipo que você acabou de presenciar, quando não piores. Sabe, eu sou mais novo que ele, mas tenho muito mais senso. Acho que aquela criatura milagrosamente vive sem um cérebro, por que nunca vi pessoa mais imprudente –apoiou o rosto na mão direita.

- Ah, mas deve ser bom ter alguém pra cuidar, né? Enquanto tiver seu irmão ao seu lado, você nunca se sentirá sozinho –sorri fechado.

  Aiji suspirou, como quem diz “Ok. Não vai adiantar explicar pra você.”

  De repente vi alguém saindo do que aparentava ser o banheiro. Com apenas uma toalha envolta na cintura, cabelo úmido e cheio de mechas com cores diferenciadas, unhas pintadas de rosa e abundantes tatuagens espalhadas pelo corpo de pele alva, parecia que eu estava vendo um arco-íris na minha frente. Sério.

- Não achei a cueca, Aiji! –choramingou.

- Nii-san! Isso é jeito de aparecer na frente das visitas? –o xingou, corando.

- E daí? Só tem homem na casa mesmo... Ou não? –se aproximou de mim, ficando a milímetros do meu rosto, o que me fez corar.

- Sai, Miyavi! –Shinji levantou e tirou seu irmão de perto de mim. Ele aparecia estar muito, muito irritado.

- Calma Bete! Eu só tava brincando! –fitou seu irmão com cara de “OMG”.

- Pois isso não é o tipo de brincadeira que se faça! –bradou irritado.

  Ele estava... Me protegendo?

  Senti meu rosto corar de novo e as batidas do meu coração acelerarem. Mizui Shinji é a única pessoa no mundo que faria isso por mim. A única pessoa que prometeu estar sempre do meu lado. O único que sei que não me abandonará.

 Quando voltei à realidade, Miyavi já havia saído dali, ou melhor, sido expulsado dali.

- Você está bem? –perguntou o moreno preocupado.

  Consenti com a cabeça:

- Obrigado por me defender, Aiji –sorri.

  Eu realmente não esperava que uma coisa dessas acontecesse quando eu viesse pra essa casa, mas estou feliz por ter visto um lado de Aiji que eu ainda não tinha tido chance de conhecer.