História First things first - Mais um ano

- Maya, tenha cuidado na estrada! – Meu pai me alertava enquanto caminhávamos para meu carro, minha mãe, avós, alguns outros familiares e meu irmão mais novo de dezesseis anos em frente à casa prontos para se despedirem. As férias de verão haviam acabado, e eu voltava à universidade para o segundo ano do curso de perícia criminal.

- Ainda não entendo por que ir tão cedo! – Minha mãe reclamava mais uma vez, revirei os olhos por instinto com um sorriso leve no rosto.

- Mãe, eu já disse preciso arrumar minhas coisas, esse ano não fica mais fácil que o anterior, preciso me organizar. – Tentei acalmá-la, o que pela minha experiência como filha dela por dezenove anos iria durar por apenas alguns minutos duradouros.

- Tudo bem, só tome cuidado e ligue assim que chegar. – Ela me abraçou forte não muito satisfeita com a minha resposta, como se eu fosse mudar de país.

- Abigail, você vai sufocá-la! – Meu pai puxava minha mãe pelos ombros, que já tentava conter suas lagrimas.

– É melhor ir antes que ela te acorrente aqui. – Rhys falou brincando, levando um tapa na nuca do meu avô, me fazendo rir. Dei um abraço em todos me despedindo mais uma vez, e me dirigi ao meu carro, que eu havia ganhado de presente por entrar em uma boa faculdade, era minha preciosidade que eu cuidava com o maior zelo.

- Prometo ligar assim que pisar no estacionamento! – Garanti a minha mãe que faltava pular pela janela e me agarrar dizendo que nunca mais me soltaria.

- Mas filha o Connor ficou de passar aqui, ele queria tanto falar com você. – Minha mãe disse fazendo um arrepio correr pela minha espinha, e não era um arrepio bom, se é que ele existe, e o fatídico dia ia tomando seu lugar em minha mente, tanto esforço para não pensar nisso por agua abaixo.

- Isso é uma pena, mas eu realmente tenho que ir. – Falei pensando em arrancar com o carro o mais rápido possível. Ela fez uma carinha triste e foi afastada do carro pelo meu pai, repeti minha despedida mais uma vez e acelerei, vendo a casa desaparecer pelo retrovisor e comecei a respirar aliviada, mas ainda em alerta.

Parei no posto de gasolina na saída da cidade para abastecer e pegar algumas coisas para a viagem de duas horas, eu estava muito feliz com o recomeço da faculdade e ficar longe dos meus pais, não que eu não os amasse, mas ter independência era maravilhoso.

O posto não estava muito cheio, assim que entrei na loja de conveniência meu celular tocou, e eu não precisava olhar no visor para saber quem era.

“Little Dove!” A voz com um sotaque britânico e polido soou pelo celular.

“Você podia melhor um pouco esse sotaque. ” Respondi com o celular preso entre meu ombro e pescoço pegando dois pacotes de salgadinhos da prateleira segurando mais algumas coisas.

“Me desculpe senhora dos sotaques!” Skye disse com um tom de deboche, provavelmente com os dois braços erguidos fazendo uma careta, eu não via, mas anos de convivência fazem alguém se tornar muito previsível. “ Enfim, você assistiu o último episódio?!”

“NÃO, eu ainda estou no fim da segunda temporada. ” Falei esperando a bufada “cansada” que não demorou dois segundos.

“Você não tem graça, já sabe de tudo que vai acontecer.” Skye disse indignada com certeza revirando os olhos.  

“Ok, o que você quer?” Perguntei enquanto já estava na fila do caixa, sabendo que essa ligação não era só pra saber onde eu estava.

“Querendo saber o que você não terminou de me contar, que eu sei que é uma grande coisa e provavelmente uma fofoca bem grande, mas você foi uma péssima amiga e simplesmente só disse que tinha algo para conta.” Skye falava, lutando pra se manter civil, o que me deixou com uma grande vontade de rir.

“Eu não sou uma péssima amiga, eu nem te falei nada, você ouviu fofocas e sinceramente” Eu falava enquanto via a mulher do caixa me lançar um sorriso falso e curto enquanto passava as coisas pelo leitor e fingia não escutar minha conversa. “Não vou discutir por telefone um assunto delicado como meu primeiro beijo.”

Eu abaixara a voz na esperança de Skye conseguir ouvir, enquanto a mulher me lançava um sorriso falso mais uma vez e me olhava estranho não entendendo porque eu havia quase entrado no celular, devolvi o sorriso igualmente falso enquanto colocava uma nota de cem dólares no balcão esperando que a mulher fosse um pouco mais rápida.

Skye soltou um bufo pesado do outro lado da linha, bem indignada, pelo menos ela ouvirá.

“Eu não acredito que você vai me fazer esperar duas horas. ”

Sorri me sentido, satisfeita e vitoriosa.

“Até daqui duas horas!” Falei em um tom de alegria enjoavel.

“Faça boa viagem com seus M&M’s! ” Sky falou seca desligando o celular logo em seguida.

Balancei a cabeça revirando os olhos rindo da birra enquanto saia da loja indo para o meu carro, o nível de drama dessa garota é preocupante.

Primeiro beijo. Com dezenove anos e eu tive meu primeiro beijo. A maioria das pessoas vai perguntar, mas como assim SÓ com DEZENOVE ANOS? Bem, com treze, quatorze anos eu não me preocupava com isso, eu não me preocupava com garotos, na verdade os achava estúpidos. A questão é que nunca fiquei fissurada em trocar salivas com alguém, na verdade naquela época isso me apavorava, quem em são consciência trocaria germes, bactérias e saliva com outra pessoa, a humanidade enlouqueceu? (Não que isso ainda não seja uma coisa nojenta hoje em dia)

Os anos foram passando e essa “necessidade” nunca chegou a ser minha prioridade, eu tinha provas para me preocupar e uma boa faculdade para entrar, até isso acontecer. Que ser humano beija o outro a força NO MEIO DE UMA DANÇA INOCENTE EM UM CASAMENTO COM TODOS OLHANDO? Como eu queria poder esquecer esse dia, essa cena, pular essa parte da minha vida e principalmente esquecer aquele beijo horroroso.

- OK, Maya, se concentra na estrada! – Falei comigo mesma apertando o play na playlist do meu celular.

As 16hrs e eu passava pelos portões que davam acesso ao prédio dos dormitórios no campus da universidade. Estacionei na vaga perto da porta e vi uma garota de cabelos loiros com as pontas coloridas e meias amarelas nos pés passar pela porta do prédio e correr na direção do meu carro. Skye.

Sem nem me cumprimentar ela foi direto para o porta malas o abrindo e retirando as únicas duas malas de dentro enquanto eu a ainda pegava minha bolsa e mochila no banco do passageiro.

- Se você demorar muito de adeus aos seus M&M’s! – Ela passou por mim arrastando as duas malas para dentro do prédio. Peguei minhas coisas rapidamente e tranquei o carro a seguindo.

- Você ataca os pobres coitados que não tem como se defender.

- Você reparou que você está defendendo M&M’s. – Ela me deu uma olhada por cima dos ombros enquanto subíamos para o terceiro andar, ela carregando as duas malas sem esforço algum, eu realmente devia pensar em começar academia.

 - Alguém tem que defender. – Respondi começando a me cansar, respirando rápido, eu realmente devia pensar em exercícios, eu não carregava coisas pesadas e já me apoiava no corrimão, me sentindo como se tivesse corrido uma maratona.

- Você por acaso se ouve? – Skye murmurou incrédula balançando a cabeça, finalmente chegamos ao terceiro andar, eu respirando esbaforidamente apoiada no corrimão e Skye abrindo a porta empurrando as malas para dentro.

Ela se virou para trás vendo que eu ainda estava parada tentando controlar a respiração e revirou os olhos.

- Você vai para a academia comigo amanhã e não pense que você tem direito aqui. – Ela falou ameaçadoramente, apontando o dedo no meu rosto e me puxou para dentro do apartamento.

Levei tudo para o meu quarto sendo acompanhada pela Skye, coloquei tudo no canto perto do guarda roupas e peguei meu celular colocando na discagem rápida para casa, falei rápido com meus pais e desliguei. Enquanto Skye pedia comida fui tomar um banho antes que ela me impedisse começando a me questionar sobre tudo. Assim que sai do banho ela já estava sentada na minha cama com uma bola de pelos no colo.