New York, 9°c. O ar gélido açoitava as faces dos transeuntes. A cidade que não para, nem mesmo em épocas festivas como o aproximar do natal. Aliás, se possível, tornava-se ainda mais caótica e movimentada. O café os aquecia, tal como seus agasalhos e cachecóis. A proximidade dos corpos em nada atrapalhava-os de se locomoverem.
— Então, central park? — Tony apontou na direção da imensidão de galhos, enrolados à milhares de mini-lâmpadas. Absurdamente enfeitado para o Natal.
— Gosto bastante daqui. Tem ar puro, verde…
— Branco. Está tudo branco. — o sorriso, embora discreto, perceptível nos lábios recém umedecidos de Tony.
— Ainda é bonito. Nunca foi a um lugar, onde independente da estação do ano, seja seu lugar favorito? — era complicado, doloroso até. Ele sabia a resposta para toda e qualquer pergunta em relação à Tony e seus gostos… mas não poderia admitir.
O silêncio reinou por alguns minutos. Nada constrangedor, apenas um silêncio acolhedor enquanto caminhavam em direção aos inúmeros pisca-piscas.
Embora Steve conhecesse Tony como a palma de sua mão, essa pergunta sempre permanecera sem a devida resposta.
— Tem um lugar… mas não tenho certeza de conhecê-lo de verdade. — seu olhar perdia-se enquanto observava a imensidão alva da neve.
— E como é? — continuaram caminhando, até um banco próximo à eles.
— Não é grande, mas é acolhedor. Eu sei que me sinto bem. Como voltar pra casa. As paredes são de um azul tão claro, que quase se confunde com branco. O piso de madeira polida, móveis rústicos. E cheiro de café. Não qualquer café. Torrado e moído na hora. E um som, uma risada. — Tony não ousou olhar para Steve, seu monólogo sucedeu-se com o moreno apreciando a vista do central park. Steve parecia estático. Seus olhos brigavam para manter as lágrimas nos dutos lacrimais. Tony estava descrevendo o seu apartamento. — E por último, mas não menos importante, um cheiro suave de sabonete de limão com alecrim. Eu não sei que lugar é esse, ou o porquê desses cheiros, mas… esse é meu lugar favorito.
Quando finalmente permitiu-se olhar para Steve, pode enxergar com clareza que aquele azul parecia ainda mais intenso visto de perto, e que lágrimas se formavam ali. Sua única vontade era aproximar-se ainda mais, e impedir que as lágrimas caíssem. Steve, aparentemente notando seu estado, se recompôs, pigarreando para liberar a garganta do característico desconforto de quem segura o choro.
— É a sua vez… sua vez de me levar à algum lugar especial. Mas, seja lá onde for me levar, o meio.de transporte será diferente. — Steve sustentava um belíssimo sorriso. — Faz parte das minhas coisas preferidas em New York! — num salto, pôs-se de pé, tomando a mão de Tony adjunto a sua, puxando-o para a direção desejada.
Era estranho e familiar. Em outra ocasião, Tony reclamaria pela brusca invasão de seu querido espaço pessoal. Mas essas coisas pareciam não importar quando Steve tocava-lhe e puxava-o central park adiante.
— Isso é sério? Vamos andar nisso aí, como se estivéssemos dentro daqueles filmes de comédia romântica? — não estava realmente contrariando a ideia, tendo em vista que encontrava-se confortavelmente sentado ao lado de Steve.
— Para onde?
— Top of the rock. — Steve sorriu ao ouvir Tony informar ao cocheiro o destino.
— Rockfeller Center, por quê? — automaticamente, assim como em todas as vezes que saiam juntos, Steve acomodou a mão, deixando-a espalmada na superfície da coxa coberta de Tony. O moreno chegou a lançar-lhe um olhar curioso, colocando sua mão por cima da do loiro logo em seguida. Algumas coisas nunca mudam.
— A vista compensa qualquer infortúnio do dia. — comentou enquanto o veículo ganhava velocidade.
— Vale a pena sim. — Steve olhava maravilhado para a vastidão de prédios altos, cobertos por neve alva.
Top of the rock, Rockefeller Center, 30 Rockefeller Plaza, New York, NY 10020, EUA. Um dos arranha-céus mais altos do mundo. Com um observatório em seu último andar, agraciando a vista dos espertos que ousavam visitar aquele prédio de 69 andares.
— Bonito, não é? — debruçado nas barras de contenção, Tony não ousava tirar os olhos daquele esplendor branco.
— Muito bonito. Talvez a coisa mais bonita que eu já vi. — não, ele não se referia à bela paisagem urbana. Referia-se à Tony, o belo moreno de estatura mediana que tinha o sorriso mais encantador e os olhos mais intensos.
— Esse é um belo lugar. Não devemos desperdiçar esses momentos. — Tony sorriu, aproximando-se de Steve, envolvendo seus braços ao redor do pescoço do loiro.
— Eu não desperdiçaria nenhum momento. Vou beijá-lo sempre que possível.
O toque, suave e lento. Um singelo roçar de lábios, seguido por uma breve mordiscada, como se instigassem um ao outro para elevarem o nível de contato. O beijo, apaixonado e repleto de carinho.
— Preciso ver uma coisa… — Tony sempre fora ousado quando colocava alguma idéia em mente. Precisava entender o porquê daqueles sonhos com o loiro, e o porquê de sonhar acordado.
Steve não teve tempo de reagir, ou impedir - não que o quisesse, obviamente -. A mão, quase trêmula, acomodou-se na nuca de Steve, puxando-o para um selar de lábios, que logo deu início a um beijo tímido e suave. A mesma sensação, o mesmo desejo de jamais se afastar. “O que diabos está acontecendo?” O único pensamento que se formou após o beijo.
— Talvez devêssemos procurar um lugar mais calmo para conversar. — Steve sugeriu, mordiscando o lábio inferior, evitando os olhares curiosos dos presentes naquele arranha-céu.
— Se você não se importar, pode ser na sua casa. — Tony sorriu brevemente, deixando o olhar se perder entre a feição de Steve, e os curiosos que lhes sorriam.
Um prédio simplório, porém repleto de adornos natalinos, pisca-piscas, renas de material impermeável afixadas à calçada perto da portaria. Algumas poucas crianças corriam e faziam disputas de boneco de neve, ou anjos no chão. Algumas, mais travessas, jogam bolas de neve.
— Vizinhança bem familiar. — o comentário aleatório veio no exato momento em que uma das crianças sorriu e acenou para Tony. — Criança simpática. — levemente sem já o moreno sorriu e acenou de volta.
— Peter. — confinados entre quatro paredes metálicas que compunham o elevador. — Ele é sim, muito simpático.
“Peter… soa familiar. Tudo perto de Steve soa familiar.”
— A casa é simples, mas quero que você se sinta confortável aqui.
As portas metálicas abriram-se, revelando um corredor de coloração gelo, com rodapé em madeira de lei e piso lustrado. O apartamento 6A, assim como os demais daquele corredor, tinha a porta numa tonalidade de amarelo claro. Steve parecia nervoso, levando a destra ao bolso em busca da chave, enquanto a restante seguia até sua nuca, apertando-a na intenção de amenizar a tensão. Não levou um minuto, mas pareceu uma eternidade. O girar da maçaneta, o típico clique metálico, o leve ranger da porta e por último o interruptor na parede próxima. O suficiente para mais uma sensação de déjà vu.
— Ridículo me carregar assim, me sinto sempre tão menor que você quando… — um beijo roubado, fazendo assim com que Tony calasse a boca por um tempo. Suas pernas, envolvidas à cintura do loiro, que o carregava apartamento adentro.
Com ambas as mãos ocupadas sustentando o corpo de Tony adjunto ao seu, usou o pé para fechar a porta. Naquele instante não importava muito se trancaria a porta ou não.
— Quer mesmo discutir isso agora? — seu olhar entregava todo o desejo que sentia no momento, e Tony podia sentir devido à proximidade de seus corpos.
— Depois do sexo de reconciliação, brigamos de novo. Assim teremos que repetir a dose.
— Você não muda mesmo, não é? — os lábios só trocaram os movimentos de falar, para um roçar provocativo no pescoço do moreno.
— Pra sua sorte, não.
As passadas, levemente desordenadas. A excitação do momento impedia que uma linha reta fosse traçada. As peças de roupas perdiam-se pelo caminho, sapatos na sala, camisa no abajur do aparador no corredor, outra camisa agarrada a maçaneta da porta do quarto.
O beijo, tão repleto de amor e desejo que era capaz de fazer o moreno esquecer qualquer motivo de briga, assim como Steve sempre perdia o foco das discussões quando Tony lhe sussurrava algo no ouvido.
— Eu te amo, nunca esqueça isso…
Lágrimas eram visíveis tentando romper a barreira imposta por seus cílios compridos. Sua boca entreaberta, sua feição de dor e pesar. Não eram simples sonhos, eram? Como imaginaria algo tão vívido quanto aquilo?
Aquela casa, Tony estava parado na porta, olhando Steve e seu apartamento. O piso de madeira, os móveis rústicos, a parede num tom de azul tão claro… seu lugar preferido. Aproximou-se de Steve, na esperança de que talvez estivesse apenas vendo coisas, ou sonhando.
— Tony, o quê?
Aproximou-se o suficiente para acomodar seu rosto na curvatura do pescoço alheio. Limão e alecrim.
— Isso é algum tipo de brincadeira? Porque não tem graça. Natasha chamou você para me pregar uma peça, para me fazer pagar pelo aniversário dela? O que está acontecendo aqui? Quem é você e por que eu sinto que te conheço? Por que eu tenho esses sonhos, sei lá, com você? — abalado, jogou-se no sofá, esperando por uma resposta.
— Tony… nos conhecemos. E não são sonhos, são lembranças reprimidas. Eu posso te explicar tudo, só precisa de um pouco de paciência e…
— Se me conhece, sabe que paciência não é meu forte. Isso, isso tudo não tem graça. Chega de brincadeira. — sua cabeça girava, doía e aparentemente a memória cismava de bombardeá-lo com imagens desconexas de Steve.
Não saberia dizer como havia chegado ao térreo daquele prédio, nem quando achou um táxi e se embrenhou nele evitando olhar pra trás, ou ouvir Steve chamando-o.
— Natasha? Ele lembrou de alguma coisa...E saiu daqui transtornado.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.