- Ai! – exclamei. Que garota maluca. Eu não estava certo? Pelo menos ele estava conseguindo alguma coisa.
Ela pegou o livro e leu o primeiro parágrafo da matéria.
- Biologia é a ciência que estuda os seres vivos. Debruça a origem, evolução e o funcionamento dinâmico dos organismos desde uma escala molecular subcelular até o nível populacional e interacional, tanto intraespecífica quanto interespecificamente, bem como a interação da vida com seu ambiente físico-químico.
Por um minuto, pensei que ela estivesse fazendo falando outra língua.
- A matéria que estamos aprendendo é sobre vírus, então em vez de ler tudo, é mais fácil você ler só sobre essa parte. É o que vai cair na prova. Os vírus são seres muito simples e pequenos formados basicamente por uma cápsula proteica envolvendo o material genético, que, dependendo do tipo de vírus, pode ser o DNA, RNA ou os dois juntos, citomegalovírus.
- Espera, vai devagar. Que droga é essa?
- São Herpes-vírus, com alta especificidade com relação ao hospedeiro.
- Claro. Como não pensei nisso?
- Talvez estivesse muito ocupado olhando lá pra fora.
- Pra onde você queria que eu olhasse?
- Pros livros.
Suspirei.
- Tá, continua.
- Vírus são parasitas obrigatórios do interior celular e isso significa que eles somente se reproduzem pela invasão e possessão do controle da maquinaria de auto-reprodução celular.
- Controle do quê? – perguntei, confuso. Eu não estava entendendo nada.
- Da maquinaria de auto-reprodução celular. – ela repetiu. Num dos momentos em que eu fingia prestar atenção, percebi no quanto ela arqueava as sobrancelhas quando ficava irritada. O que significa que ela fazia muito isso. Estava usando uma regata listrada, e uma calça jeans. Completamente diferente do dia da festa, mas ainda assim...
Mas era a Katherine, pensei. A garota metida que acha que sabe tudo. Nunca. Eu podia ficar com burras, acéfalas (como Hoffmann dizia), garotas patéticas e choronas quando bêbadas, mas não com uma garota como ela. Dava muuuuito trabalho.
E então, ela me explicou o que era isso e continuou lendo. Toda vez – quase a cada parágrafo – eu pedia pra ela explicar de novo. Mesmo irritada, revirando os olhos para a minha burrice, ela explicava. Sua voz, mesmo quando ela ficava brava pelas piadinhas ou meus surtos de distração, conseguia me fazer assimilar o que ela dizia. Pelo menos da terceira ou quarta vez que ela repetia, claro.
- Transcriptase reversa – ela repetiu, numa das vezes, sobre algum tipo de vírus.
Cara, Johnny e Chelsea ainda não tinham nos visto aqui. Bizarro. Ela estava com um livro na mão, lendo e olhando pra ele, e o pior: Johnny realmente parecia ouvir o que ela estava dizendo. Tipo, hã? Ele havia ficado com ela noite passada. Por que estava de novo com ela no dia seguinte?
- Se você vai ficar babando pelo seu melhor amigo ali do lado, eu vou embora – comentou Katherine.
- Calma. Eu só estava pensando que ainda não estabelecemos as regras.
- Regras do quê?
- Da aposta. Você sabe, você só ganha se eu passar em todas as provas...
- Ah, claro. Então eu vou ter que depender da sua inteligência.
- Eu diria mais do seu método de ensino.
- Tudo bem. – ela falou, respirando fundo. – Mas, você vai ter que prestar atenção no que eu digo. E estudar em casa, por que só aqui não vai funcionar.
- Estudar em casa? Lugar de estudar é na escola, Hoffmann.
- Está vendo? Esse é o seu problema. Você não tá nem aí pra nada e ainda quer passar de ano.
- Não começa.
- Quer saber? Eu não preciso disso. – ela reclamou, se levantando e recolhendo o material.
- Isso, desista. Eu posso até ser burro, mas não desisti assim tão fácil. – Meu pai queria que eu fosse administrador, mas eu deveria estudar Psicologia. Porque a minha Psicologia Reversa estava pegando fogo com essa garota.
Achei, por um segundo, que Katherine fosse me queimar com algum tipo de raio laser nos olhos.
- Eu acho que é o suficiente de aula por hoje – e saiu da biblioteca.
[...]
Kian e seus olhos saltados para a tela da televisão estavam tão concentrados que ele não parecia me ouvir. Seus dedos, ágeis e sincronizados não pareciam deixá-lo falar direito.
- Espera, fala de novo? O Johnny o quê?
- Ele estava na biblioteca. Com.A.Chelsea.
- E o que que tem?
- Como assim? Ele não ficou com ela noite passada? Por que raios ele ia pra biblioteca com ela?
- Talvez ele só esteja unindo o útil ao agradável. Porque que Johnny não vai conseguir colar comigo, já é notável. A letra dele é tão ruim que, a gente fez um teste escrevendo na etiqueta da camiseta, e meu Jesus, parecia um hieróglifo.
- Um o quê?
- Deixa pra lá. De qualquer forma, deve ser bem mais fácil estudar com ela, né?
- Não tenho certeza. Fui estudar com a Katherine e não consegui me concentrar nem um pouco.
- Seu pervertido – comentou Kian.
- Não, idiota. É porque ela é metida, mesmo. Mas eu não acho que, um garoto e uma garota juntos consigam se concentrar. Em livros.
- Primeiro: é o que você vai ter que fazer, sabe disso. Segundo: Diferente da Katherine, a Chelsea dá condição pro Johnny. Ele pode se concentrar nos livros e nela em vez de ficar desesperado pra...
- Já entendi, cara.
- Achei que eu tivesse que desenhar.
Dei um peteleco na sua cabeça e ele me xingou.
Não tinha certeza se conseguiria passar de ano. Eu não entendia nada, e Katherine não ajudava. O Treinador dissera que todos participariam dos jogos, até a final. Sem nota, sem final.
Eu estava tão ferrado.
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