História Flawless - Logan

Bem, pelo menos agora eu poderia estudar em casa sem querer dar um tiro em minha própria cabeça. Logo que terminamos de estudar, depois de escrever meu endereço em seu caderno, segui em direção ao vestiário da quadra, onde o jogo logo começaria. A maioria dos caras já estavam prontos, então andei até onde Kian estava – Johnny estava conversando com outro garoto, provavelmente sobre Chelsea – e disse-lhe meu grande feito.

- Você realmente não consegue estudar sozinho, não é? Eu me pergunto como somos amigos – ele falou, irônico.

- Eu também, parceiro. De qualquer forma, ao menos agora eu não precisar me virar sozinho – comentei.

- Logan, meu caro. Acho que se você fizesse uma competição com um bicho-preguiça, ele ainda assim dormiria menos que você.

Enquanto nos preparávamos para o jogo, comecei a perceber a semelhança entre Kian e Johnny. Meu Senhor, eles só falavam daquelas garotas. Pareciam apaixonados. Mas o Johnny não era desse tipo – contudo, ele não era do tipo que saía mais de uma vez com ninguém e, Chelsea está durando mais do que eu esperava. Quem sabe.

[...]

O jogo começara. O time adversário possuía a bola. Olhei para a arquibancada de relance. Jenny e Chelsea estavam uma ao lado da outra na fileira da frente – com Katherine ao seu lado, provavelmente para ver Joshua. Estava usando uma camisa com alças finas, mostrando ao mundo porque a primavera e o verão eram as melhores épocas do ano. Ela mantinha os olhos no celular e no jogo, ligeiramente absorta.

Carl tocara a bola para mim, e, assim que tive chance, fiz uma cesta. Levantei os braços, vibrando junto com Kian – que subitamente brotara do meu lado. O jogo decorrera difícil, mas nosso time acabou vencendo.

Quando os jogadores começaram a se dispersar (leia seguir em direção às líderes de torcida), segui até a grade que rodeava a quadra, e grudei meu rosto, cansado, nesta.

-  Então, você vai à minha casa esse final de semana mesmo, não é Hoffmann? – eu disse. Ela tirou os olhos do celular e me encarou.

- Já disse que sim.

- Ok.

Segui em direção ao vestiário. Eu precisava de um banho.

[...]

Já em meu dormitório, eu permanecia deitado em minha cama, enquanto Johnny e Kian jogavam videogame. Todas as partes do meu corpo pareciam doer, como se um hipopótamo tivesse sambado em cima delas.

Pensei no final de semana, que não estava longe de se aproximar. Estudar em casa, que emocionante. Eu não sei como uma garota como a Katherine podia fazer uma coisa dessas. Tantas coisas para se fazer numa casa, e eu vou estudar.

Virei meu rosto e vi os dois babacas virando as mãos para os lados, como se isso fosse fazer seus bonecos se mexerem. Não sei se foi a quantidade de matéria que meu cérebro absorvera, ou alguma bolada da qual eu não me lembre ou simplesmente a dor pelo corpo todo, mas comecei a ter algumas reflexões – e te juro, eu não sou desse tipo de pessoa. Kian até que nunca falava de garotas, não como nós. Ele havia saído com algumas líderes de torcida e algumas garotas bem bonitas, mas ele não tinha aquela alegria de viver que Johnny e eu tínhamos. E agora que ele estava saindo com Jenny parecia quase impossível. Já Johnny... O que falar desse cara? Uma semana. Mais de uma semana com a mesma garota. Quero dizer, Chelsea é bonita e tal, mas existe todo um oceano com os mais variados peixes. E mesmo assim, ele não parecia se importar em sair com outra garota. Acho que nunca senti isso. Será que elas eram tão boas que eles não precisavam de outra? Tipo, um pacote completo? Isso me parece um pouco estranho. Talvez porque quando eu saía com alguém, ou ela era gostosa e burra, ou... Bem, era só assim. Nunca houve outra opção. E, a única que parecia ser a minha única opção tinha saído rapidamente da arquibancada, atrás do jogador do time adversário. Não que eu sentisse falta, óbvio, mas pelo menos por um segundo aquelas líderes de torcida pareciam tão... Vazias. Como se faltasse alguma coisa, mesmo que eu não saiba o que é.

- Cara, acho que tô tendo uma crise existencial – comentei.

- Espera, quais são os sintomas? – falou Johnny.

- Johnny, não me diz que você acha que crise existencial é doença – falou Kian. – Porque se você fizer isso, eu chuto as suas bolas tão forte que nem Hillary Montgomery vai te querer – acrescentou. Hillary era uma garota apaixonada por Johnny desde a terceira série. Ela era tão apaixonada, mas tão apaixonada, que ficou dois anos sem sair com ninguém esperando ele a chamar pra sair. Aí a mãe dela a tirou do colégio.

- Bom, depois dessa eu não vou dizer mais nada né.

- COM LICENÇA, EU ESTOU COM UM PROBLEMA SÉRIO AQUI. PAREM DE DISCUTIR O DÉFICIT DE INTELIGÊNCIA DO JOHNNY.

- Olha, isso é racismo.

- Idiotas – reclamou Kian. – Crise existencial por quê?

- Sei lá. Você tá saindo com a Jenny, Johnny com a Chelsea. E vocês não parecem precisar ou querer outra garota. E se eu estiver me sentindo assim e não sei?

- O sintoma disso é Katherine – ele rebateu.

- Falei – acrescentou Johnny.

- Belos amigos, vocês – disse. – Deixa pra lá, também.

[...]

Depois de algumas horas de sono, antes de Johnny me chamara (É HORA DE JANTAR, PEQUENO EXISTENCIALISTA), comecei a pensar de verdade nas coisas que Katherine falava, e no que Kian sempre dizia. “Diferente não é errado”. Eu nunca disse que era melhor que ninguém, nem que o pessoal da Mesa do Fundo era “pior raça do mundo”. Só dizia que pra mim é babaquice não ir á festas, nunca ficar com ninguém, ser obsessivos com estudos, provas. Qual é a graça disso? Subitamente a voz de meu pai surgiu em meu cérebro, me dizendo às vezes as coisas que valem a pena não têm muita graça, Logan.

E é a mesma coisa com as garotas. Por que ficar com uma, se eu poderia ficar com todas? Será que Kian era feliz daquele jeito? Ele parecia feliz com Jenny, tanto quanto Johnny parecia feliz com Johnny. O que está acontecendo? Por que drogas eu estou falando com você dentro da minha própria cabeça? Por que eu estou pensando nisso tudo? Essa droga de x + y está me deixando maluco. Ou talvez seja essa droga de Katherine. Difícil dizer. Talvez eu esteja drogado.