História Flawless - Logan

No dia seguinte, decidi levar o caderno à casa de Katherine. Sei que ela não precisava realmente do caderno, mas eu precisava leva-lo até ela.

Quero dizer, tão intelectual do jeito que ela era, talvez precisasse mais do caderno do que tivesse dito. Afinal, eu não tinha nada pra fazer.

Levantei em direção à mesa do computador, onde deixei o caderno de Katherine. Peguei-o, e rapidamente saí de meu quarto, descendo as escadas com um ânimo que só sentia quando jogava basquete.

- Vai sair, Logan? – perguntou Emily, a cozinheira. – Seu pai ligou dizendo que precisava falar com você.

- Diga a ele que... Saí de casa, virei hippie me mudei para Timbuktu – falei. – Avise a ele para não me procurar.

Ela arregalou os olhos antes de curvar os lábios num sorriso.

- Ai, Logan...

[...]

Achei melhor ir andando até a casa de Katherine. Pedi a Kian que pedisse o endereço dela para Jenny, e como imaginei, ela o deu. Caminhei por um tempo, algo que não fazia há muito, pensando em tudo que estava acontecendo. Eu precisava de notas simplesmente para jogar basquete, o que, embora eu soubesse que não se transformaria numa carreira, era uma das paixões da minha vida. Uma das únicas. Eu era bom e ninguém podia dizer ao contrário. Mas de repente tudo mudou e se tornou só uma aposta com uma garota metida porque ela me enchia o saco, e era divertido vê-la brava. E de repente – como se as reviravoltas já não fossem muitas – eu começava a sentir alguma coisa pela tal garota metida. Eu sei que, possivelmente nada vá acontecer entre mim e Katherine – ela nunca aceitaria isso. Era teimosa. Mas eu podia tentar, não é? Quero dizer, eu passei a gostar de “pessoas como ela”. Talvez eu já gostasse – eu era amigo de Kian -, mas sempre era muito bom ver que ela, além de bonita tinha o tal “conteúdo”. Não acho que eu poderia voltar a sair com garotas diferentes disso – o que, convenhamos, não tenho certeza se é bom ou não.

A casa dela não era uma mansão como a minha, mas era uma ótima casa. Ficava no meio de algumas casas parecidas, tinha dois andares e era branca. Me aproximei da campainha e toquei, esperando com o caderno na mão – deixando visível que eu não tinha segundas intenções naquela visita.

Como ela demorou um tempo a atender, encostei-me a parede – apesar de minha boa condição física por conta do basquete, eu era uma pessoa preguiçosa. Assim que ela abriu a porta, me desencostei e falei:

- Vim trazer o seu caderno. Achei que você fosse precisar – acabei dando um sorriso idiota, mas logo o desfiz pra não deixar tão na cara.

- Hã...Obrigada – ela disse – mas não precisava trazer. Peguei o de Chelsea emprestado.

- Mesmo assim – afirmei. – E olha, eu vim andando. Sem motorista.

Ela riu quando apontei a rua, sem nenhum carro.

- Ótimo.

Ficamos por um milésimo de segundo sem falar nada, sem saber o que falar, então quebrando o silêncio, eu disse:

- Então elas estão aí? – perguntei me referindo às suas amigas.

- Sim.

Eu realmente não estava afim de sair dali, mas ela poderia me expulsar a qualquer momento – eu já estava indo embora quando Chelsea apareceu, descendo as escadas.

- Katherine, cadê o...Ah, oi Logan.

- Oi Chelsea.

-Como está Johnny?

- Está bem. Ele fala muito de você – comentei, meio que desabafando.

Ela sorriu, parecendo tímida por um segundo.

- Bom, então eu vou voltar à estudar. Não... Precisa subir, se não quiser, Katherine.

Dei risada, enquanto Katherine enrubescia. Percebi que era melhor me despedir e ir embora, já que ela não gostava de ser interrompida enquanto estudava. Experiência própria.

- Bem, então a gente se vê na escola – ela falou.

- É o que eu espero – dei uma piscadela antes de finalmente partir.

[...]

Sim, eu sei. Você tem toda razão. Eu estou apaixonado de verdade pela Katherine. Acho que a única pessoa pela qual já me senti assim foi Angie Moore, mas terminamos na oitava série. Ainda assim, era diferente. Eu sentia que deveria fazer algo para conseguir ficar com ela – e não só “ficar” ficar com ela, no modo convencional (digo no meu modo convencional). Queria chama-la para sair.

Entretanto, Katherine não sairia com o cara que só-pega-líder-de-torcida-e-patricinhas-burras-e-não-socializa-com-os-nerds-por-acha-los-anti-sociais-e-estranhos. De uns tempos pra cá, percebi que talvez eu não fosse aquele cara horrível que ela pintava. Ela só achava que eu era assim porque era a minha imagem – e de certa forma, eu acabei me tornando a minha própria imagem. Estava na hora de ser quem eu deveria me tornar, então. Era isso? Não sei. Me responda você, ué.

Nota: eu também preciso parar de falar dentro da minha própria cabeça.

[...]

Já em casa, fui até a cozinha onde encontrei Emily encostada a pia, cozinhando.

- Emily, posso te fazer uma pergunta?

- Claro – ela falou, de uma forma alegre.

- Você me acha... Egocêntrico? Materialista? Acha que eu não me importo com as pessoas que são diferentes de mim?

Ela me observou atentamente, como se tentasse adivinhar se eu queria que ela fosse sincera ou não.

- Isso não tem nada a ver com o meu salário, tem?

Ri.

- Pode falar o que quiser. Não vou demiti-la.

- Bem, você é filho de um dos empresários mais milionários dos Estados Unidos, Logan. É um pouco difícil pedir para uma criança como você não se tornar materialista, ou não ver o mundo dentro daquela bolha do dinheiro. Eu sei que você não é uma pessoa ruim, mas existe todo um mundo fora das garotas, dos dólares constantes e das festas.

Uou. Nunca achei que fosse ouvir algo desse tipo de Emily. Ela jogara a verdade nua e crua na minha cara, e agora eu tinha que lidar com isso.

- E você acha que eu posso mudar?

- Claro que sim. Você não é essa pessoa, Logan, é isso que estou dizendo. Você só acabou achando que deveria ser assim. Mas devia falar com a sua mãe sobre isso.

Minha mãe. Isso.

[...]

Esperei minha mãe chegar de onde quer que seja que ela estava, e disse a ela que precisávamos conversar.

- Ah, não, você não engravidou ninguém não é, meu filho? – Ela era uma mulher alta, de cabelos castanho-escuro, que inclinara a cabeça alguns centímetros quando fez essa pergunta. – Eu mal tenho estrutura psicológica pra te criar.

Revirei os olhos – a convivência com Katherine estava pegando.

- Não, mãe. Eu preciso te contar uma coisa.

- O quê?

- Tem essa garota na minha escola, a Katherine, e eu pedi ajuda pra ela pra passar nas provas. Sabe, só pra não passar raspando.

- E o que tem ela?

- Ela vive me dizendo que eu sou egoísta, e que não me importo com as pessoas diferentes de mim, tipo os nerds que nunca vão nas festas, etc, como se eu vivesse só no meu próprio mundo.

- E você está preocupado com a opinião dela, então está... Gostando dela?

- Não, mãe...

- Então sim.

- Mãe, é sério.

Ela suspirou, como se se arrependesse do que fosse dizer.

- Logan, eu e seu pai erramos muito com você. O seu pai sempre trabalhou demais e eu acabei achando que só o dinheiro podia te dar o suficiente. E há algum tempo eu vi que estava errada.

- Por que você nunca me disse isso? – perguntei confuso.

- Você já tem 17 anos. Faz o que quiser e, eu sempre achei que fosse tarde demais. Mas você ainda pode mudar, sabe? O seu avô, por exemplo, era super nerd. Como você acha que ele criou esse super império? Ele sempre foi inteligente. Acho que só tô querendo dizer que ele estudou e trabalhou pelo que quis. E conseguiu. E as pessoas diferentes não são erradas. Se fossem, você não ia estar apaixonado por essa garota.

- Não estou apaixonado por ninguém, mãe.

- Por favor. Kian me contou tudo.

O QUÊ?

- O QUÊ?

- Bom, eu comecei um curso de idioma árabe, e liguei pra saber se ele sabia alguma coisa sobre.

- Você está falando árabe, mãe?

- Você não me escuta muito, não é? Igualzinho seu pai.

- Por que você está falando árabe?

Ela deu de ombros.

- Eu não queria ser uma daquelas dondocas que não fazem nada o dia todo –ela disse. – Estou quebrando o estereótipo, meu querido. E você deveria fazer o mesmo.

Ela acabou indo para o seu quarto, e eu fui para o meu, engolindo essa frase a seco.