História Flawless - Katherine

No dia seguinte à casa de Logan, Chelsea e Jenny vieram a minha casa para estudarmos. Eu já estava na cozinha, terminando de almoçar, quando elas bateram à porta. Susan atendera e logo ouvi a voz excêntrica de Jenny preenchendo e ecoando pela casa.

- Finalmente - comentei, enquanto elas entravam. Coloquei meu prato dentro da pia e tentei fazê-las entrarem antes de minha mãe aparecer, mas ela sempre brotava nos lugares quando eu não pretendia vê-la.

- Olá, meninas - ela disse, sorrindo de ponta a ponta. Acho que depois de mim, Jenny e Chelsea eram as únicas pessoas que minha mãe "tolerava". - Estão indo estudar?

Jenny respondeu que sim e logo eu as empurrei para as escadas, em direção ao meu quarto. Não precisava do discurso de sempre.

Quando chegamos lá, abrimos os livros e pegamos tudo que precisaríamos para estudar.

- Chelsea, me empresta o seu caderno de Química - pedi.

- Ok. Cadê o seu?

- Esqueci na casa de Logan,

As duas logo se entreolharam, então suspirei dizendo:

- O que é dessa vez?

- Bem, querida Katherine, você não é do tipo de pessoa que simplesmente "esquece" as coisas na casa das outras pessoas - falou Jenny. - Essa daí é a Chelsea.

- A não ser que você estivesse ocupada demais para se lembrar de... Qualquer outra coisa.

- Sim, eu estava ocupada demais tentando fazer qualquer coisa ser absorvida no cérebro daquele garoto.

Jenny revirou os olhos, imitando-me pessimamente.

- Claro. Ele é só "aquele garoto". Katherine, por favor, aposto que você já até superou o Joshua. Já era um pouco notável que...

- E você só me diz isso agora?

- Bem, ele é um cara legal. E bonito, a gente queria manter ele por perto.

- A gente? Até você, Chelsea?

- Ops.

- De qualquer forma, eu não quero nada com o Logan, só estou fazendo pela aposta.

Elas fizeram uma expressão de que não acreditavam em mim, e por um segundo me perguntei se eu mesma acreditava naquilo.

Não, eu não poderia mesmo se quisesse. É o Logan.

Mas é o Logan, droga.

Que desgraça, tinha um nó de escoteiro no meu cérebro.

...

A campainha tocou lá embaixo, e como minha mãe havia saído e a empregada já tinha ido embora, tive que descer para atender - o que fiz muito lentamente, já que estava com sono.

No momento em que abri a porta, confesso que até tomei um susto. Logan - que parecia estar encostado por um tempo - permanecia em pé à porta da minha casa, com o que notei ser meu caderno na mão.

- Vim trazer seu caderno. Achei que você fosse precisar - ele disse, com um rápido sorriso nos lábios.

- Hã... Obrigada - falei - mas não precisava trazer. Peguei o de Chelsea emprestado.

- Mesmo assim - ele afirmou. - E olha, vim andando. Sem motorista.

Ri quando ele apontou a rua, verdadeiramente, sem nenhum carro.

- Ótimo.

Para o que suponho ser quebrar o silêncio que se instalou sobre nós por alguns segundos, ele disse:

- Então elas estão aí? - ele deveria estar falando das meninas.

- Sim.

Logan não parecia querer ir embora, e, mesmo que meu impulso maior fosse expulsá-lo - ele já me trouxera o caderno e não tinha mais motivos para continuar ali, antes de conseguir fazer qualquer coisa Chelsea apareceu, descendo as escadas.

- Katherine, cadê o... Ah, oi Logan.

- Oi Chelsea.

- Como está o Johnny?

- Está bem. Ele fala muito de você.

QUE DROGA ESTÁ ACONTECENDO?

Ela sorriu e voltou para o quarto, não sei antes dizer:

- Bom, então eu vou voltar a estudar. Não... Precisa subir se não quiser, Katherine.

Enrubesci tão rapidamente quanto fiquei irritada.

- Bom, então a gente se vê na escola.

- É o que eu espero - falou ele, piscando e finalmente partindo.

Enrubesci mais uma vez, incomodada por não saber o que eu estava sentindo.

[...]

- Que porra foi aquela, Chelsea? - exclamei, assim que entrei no quarto.

- O quê aconteceu? - perguntou Jenny.

- Ué, só estava batendo papo com Logan. Por que não?

Respirei fundo.

- Chelsea, olha, eu só não te bato...

- MEU DEUS, LOGAN ESTAVA AQUI E VOCÊS NÃO ME CONTAM NADA, SUAS VADIAS. Me conta tudo, Chelsea.

E ela realmente começou a falar, como se eu não estivesse ali, sobre o que acontecera há poucos segundos.

- Não foi assim - afirmei.

- Foi assim. Katherine, qual é o problema? Somos suas amigas. Você pode assumir se estiver apaixonada ou só quiser pegar o Logan. Não é como se a Jenny pudesse te julgar.

- Como é q...

- Não é isso. É o Logan, ok? Ele é só um...

- Idiota, babaca, materialista, ridículo, egoísta - listou Chelsea, de forma assertiva. - A gente já sabe seu discurso todo. Mas toda moeda tem dois lados, minha cara. E você precisa ver o outro lado de Logan.

Será que um cara como ele tinha dois lados? Será que ele não era uma moeda com as duas caras iguais? Será que eu realmente precisava/queria saber essas respostas? Não sei. Desde que terminei com Joshua – talvez até antes disso – percebi que não sentia só raiva de Logan quando ele se aproximava. Porém, eu não estava apaixonada. Sabia disso. Sabia disso tanto quanto sabia que eu passaria na prova de Química – o que era irônico, porque todos os meus pensamentos acabavam se voltando para Logan. Ele realmente parecia diferente naquele dia em sua casa, como se eu tivesse girado a moeda e caísse o tal lado diferente. Essa era uma péssima metáfora por sinal. Logan não era uma moeda. Era uma pessoa. E às vezes as pessoas realmente são só aquilo que vemos – porque por vezes, é tudo o que elas desejam mostrar.

Entretanto, os pensamentos continuavam, e aquela fora a única vez que estudamos juntos em sua casa. Foi o que eu disse a ele. Foi o que eu faria. Certo?