História Flawless - Logan

Apesar de meus protestos para que ficasse – e talvez dormisse lá, por que não? -, Katherine teve que ir embora por conta da mãe. Eu parecia um idiota, com um sorriso no rosto – lembro-me de nem mesmo me importar com o resto do dia. Nem mesmo com o jogo amanhã – até porque depois de um dia daqueles, não tinha certeza se eu poderia jogar nunca mais.

Levei-a até a porta, e envolvi sua cintura com os braços antes de finalmente deixá-la ir.

- Não quero que você vá embora – afirmei.

- Eu também não – disse ela. – Mas não é por muito tempo, de qualquer maneira – acrescentou, me beijando e se despedindo. A única palavra que vinha em minha mente era finalmente.

Assim que fechei a porta, peguei meu celular pra mandar uma mensagem para Kian – às vezes eu sentia como se fôssemos duas garotinhas do colegial, mas fazer o quê? – até lembrar que ele e Johnny não estavam se falando, e que eu estava praticamente pisando em ovos. Desisti de falar com qualquer pessoa, até porque eu estava feliz demais para falar qualquer coisa.

[...]

Bem, mas a minha animação era tanta que eu tive que compartilhar minha alegria, e apesar das reclamações de Emily para que eu não exagerasse nos detalhes, acabei contando a ela mesma tudo que acontecera – bem, não tudo, eu não pretendia deixá-la traumatizada. Mas enfim, ela disse que estava feliz por mim, e aquele tipo de coisa que “as pessoas que te viram crescer” falam. Ela acabou indo limpar outro cômodo da casa bem na hora que a campainha tocou, e quando abri a porta, Kian me encarava com uma expressão estranha de quem precisava conversar.

- Posso entrar?

- Óbvio.

E então ele entrou, com uma expressão ainda mais abatida do que quando estava lá fora. Logo se jogou no sofá, e eu fiz o mesmo no outro, esperando que ele começasse a falar.

Porém, como eu já sabia que ele faria, ele ficou encarando o teto por algum tempo antes de finalmente explodir. Nesse meio-tempo, o silêncio pairou no local, e eu soube que não deveria falar nada sobre o que havia acontecido. Eu tinha que deixá-lo falar.

- Logan, seja sincero, tudo bem que eu estava bêbado, mas você acha que eu fiz muita merda em falando aquilo tudo? – perguntou ele, e passou a me encarar com olhos interrogativos.

- Ah, Kian, merda tu fez, já que não é exatamente aconselhável jogar a verdade não-tão-incrível de se ouvir sobre seu melhor amigo na cara do Colégio inteiro, e mas importante, na cara da Chelsea. Mas, de qualquer forma, ela já sabia daquilo tudo, eu acho. Ela ia terminar com ele você dizendo ou não. Ele só tá nervoso.

Ele me encarou de novo, como se quisesse ter certeza sobre a minha sinceridade.

- E o pior é que nem a Jenny se lembra de nada – disse ele.

- Foi o que eu imaginei. Vocês beberam tequila o suficiente pra acabar com a sede no mundo – afirmei. Mas isso não importa mais, já foi, já fazem semanas e agora o pessoal vai parar de falar disso.

- Ah, tá. Sei.

- Vai mesmo. E por uma ótima razão – falei, estreitando os lábios e tentando conter um sorriso.

- Que seria?

- Eu e Katherine.

- Vocês?

- A gente transou, cara! Quão incrível é isso?

- COMO É QUE É? E VOCÊ SÓ ME CONTA ISSO AGORA, SEU CACHORRO?

- Bem, tecnicamente foi há apenas uma meia-hora atrás, acho.

- Ah, não me diga que vocês fizeram no sofá?

Revirei os olhos.

- Claro que não, seu patife.

Ele fingiu suspirar. Sorriu e, como adivinhei, disse:

- Esse é o meu garoto.

Nós demos risada, mas depois ele me fizera uma pergunta que realmente fez eu parar pra pensar. “E o quê exatamente isso significa, então?”

- Você não pode só curtir o momento, né Kian? Tem que fazer pergunta difícil.

Bem, eu não sabia mesmo o que aquilo significava, mas se ela quisesse, eu sabia o que podia passar a ser.

Pensei nisso enquanto voltamos no assunto Johnny, e no quanto ele estava sendo um babaca com a Chelsea.

- Quero dizer, se até você, que costumava passar o rodo no Colégio até mais do que o faxineiro, conseguiu gostar barra ficar com uma garota só, por que ele não faz o mesmo? Não é tão difícil assim. Não é como se as bolas dele fossem explodir no meio da cara otária dele.

- Sei lá, cara – falei. – Vai ver ele se acostumou a ficar só com as garotas carentezinhas que se jogam nele, e a Chelsea meio que tacou o foda-se. No final quem se deu bem foi o Carl – acrescentei.

- Mas foi só na festa – informou Kian, mostrando seu poder de fontes de notícias. – Ele me contou.

- Então talvez Johnny ainda tenha uma chance – disse eu. – De qualquer forma, ele vai acabar voltando e pedindo desculpa, então não se preocupa com isso, seu Judeu péssimo pra beber.

- Péssimo? Não fui eu que acordei agarrado a uma garrafa no corredor da escola, Loguinho – falou.

- Isso é do que você se lembra – menti.

[...]

Ele acabou decidindo que ia dormir na minha casa, então jogamos um pouco de videogame na sala até a minha mãe chegar, quando jantamos e eles começaram uma conversa bizarra em árabe/hebraico/grego que eu não entendi nada.

- É sério isso, Kian? Você não podia aprender um italiano, um francês, não, tinha que ir logo pro Oriente Médio? – comentei. – Seu metido.

- Quando você começar a aprender inglês, a gente conversa, meu caro semialfabetizado amigo.

Em respeito a minha mãe, não mostrei o dedo do meio.

Depois do jantar, voltamos a jogar videogame, e eu acabei contando tudo o que acontecera naquela tarde.

-... E então ela finalmente dera o braço a torcer – falei.

- Bem, ela deu um pouco mais do que isso.

- Vai se ferrar, Kian – continuei, lhe dando um soco no braço.

- Calma, cara. Tô só brincando. Eu sei que a Katherine não é uma Jamie Hathaway... – começou ele. – Nem uma Lily Jensen, ou Shanon Walker, nem mesmo uma...

- Já entendi, parceiro. Você conhece muita gente – falei.

As coisas pareciam dar certo – e os milagres não paravam de ocorrer. Eu havia tirado uma nota boa, estava dando conselhos a Kian em vez do contrário e eu finalmente tinha Katherine só para mim. Não sei se era Alá, Jesus, Jeová ou a Iemanjá, mas qualquer que seja o Deus que estava me ajudando, bem, ele sabia o que estava fazendo.