No dia seguinte, metade do time de basquete estava surtando. Talvez pareça exagero, mas, se você me perguntar o que estamos aprendendo em Álgebra, Geografia ou Inglês – vou apenas fingir que não ouvi o que disse.
No refeitório, Johnny e Kian conversavam sobre métodos para colar na prova e como seria mais fácil se Johnny lesse ao menos a matéria do livro – coisa que eu, de longe, não faria. Kian não era nenhum gênio, mas sabia se safar.
Sentados à mesa do meio, onde todo o time ficava, eu encarava a Mesa dos Perdedores. Os idiotas pareciam se divertir com a nossa desgraça. Não. Eu não pediria ajuda a nenhum deles. Meu orgulho é maior que a minha vontade de jogar basquete.
Era ridículo de tão notável o quanto o mundo era dividido entre Uns e os Outros. Uns são perdedores babacas que só sabem passar nas provas. Outros são jogadores que têm mais o que fazer do que entender X mais Y.
Quando terminamos o café, levantamos em direção à aula de Biologia. No corredor, Kian falava sobre sua nova maneira de passar na prova de Inglês, a primeira que teríamos. Ele sempre dizia que preferia arranjar suas notas sozinho. O “perigo da descoberta” era mais emocionante.
Já Johnny parecia empenhado em estudar. Pelo menos, em tentar.
- O.k., eu posso aprender Álgebra, não posso? – perguntou Johnny, aflito. – Quer dizer, tem letras no meio. Eu sei falar. Isso já é meio caminho andado, certo?
- Não funciona assim, Johnny – afirmou Kian. – Mas não vai ser tão difícil pra você, acho. Claro que não mais do que vai ser pro Logan – continuou, e os dois riram.
-Babacas.
...
Já na sala, a professora... Bem, eu não sei o nome dela, mas, ela falava sobre alguma coisa relacionada a seres vivos. Porém, eu não conseguia prestar atenção. Apoiei o rosto na mão esquerda, como se estivesse entendendo tudo, até que Kian se inclinou e sussurrou:
- Cuidado com a baba, cara.
- Vai se ferrar, Kian.
- Olha aquela garota – ele disse. Apontou para uma loira na ponta da fileira perto a parede. – Katherine Hoffmann. É o gênio da escola. Por que você não tenta falar com ela? Sei o quanto você não gosta dos nerds, mas... Bom, aquela garota tá longe de fazer jus ao estereótipo.
Parei para olhá-la e, realmente, não podia negar. Ela era linda. Tinha os cabelos loiros e as pontas pintadas de roxo. Usava óculos pretos e uma roupa maneira. Não parecia nerd. Não parecia nem ao menos ser possível que aquela garota fosse a tal “mais inteligente”.
Ao perceber que a estava encarando com cara de retardado, chacoalhei a cabeça e tentei prestar atenção na voz da professora, embora fosse só um eco distante na mente.
...
A próxima aula era Física, mas ainda tínhamos uns dois minutos antes da aula começar. A tal Katherine saiu com mais duas garotas da sala e seguiram rápido em direção à próxima aula – logo percebi que uma das garotas era Jenny Hill. Essa sim eu conhecia, e não só pela inteligência. Ela não tinha A Fama como as outras garotas do Colégio, mas – não era uma desconhecida para nós.
Não, eu estava errado. Meu orgulho não era maior que minha vontade de jogar.
Corri em direção à “suposta gênia” e encostei em seu ombro:
- Kate? – perguntei. Ela virou-se para mim, e arqueou as sobrancelhas, olhando de relance para as amigas. Estas saíram andando em direção a sala.
- É Katherine, na verdade. – ela respondeu, parecendo sem paciência.
- Não é... A mesma coisa?
- Seria a mesma coisa se eu te chamasse de “Log”?
- Na verdade, s... Espera, você me conhece?
Ela revirou os olhos e suspirou.
- O que você quer? Estou atrasada para a aula.
- Alguns minutos não fazem diferença.
- Talvez não para você. Será que dá pra ser rápido?
Foi a minha vez de erguer as sobrancelhas.
- Eu... Fiquei sabendo que você é a “mais inteligente” da escola. E, suponho que você saiba o que tá rolando entre os jogadores de basquete...
- Sim, vocês otários vão ter que estudar ou parar de jogar – ela disse, parecendo se divertir com a informação.
- Somos otários por querer o caminho mais fácil?
- Na verdade, sim – disse taxativa.
Respirei fundo.
- Enfim – falei, já sem nenhuma paciência. – Eu queria saber se você não podia, sei lá, me dar uma ajuda?
- Não – e me virou as costas.
Fui mais rápido e fiquei em frente a ela, olhando em seus olhos, e usando o velho truque de sedução.
- Qual é, Kate. Se você não me ajudar eu posso ficar sem jogar – disse, sorrindo de lado.
- Primeiro: não me chame de Kate. Não somos íntimos e eu não gosto desse apelido. Segundo: se vira. Isso não é problema meu. – sorrindo, e sem esperar pela resposta, seguiu seu caminho.
Bufei, apertando os nós dos dedos.
Metida. Quem ela pensa que é pra falar assim comigo? Talvez ela não saiba de verdade quem eu sou. Se soubesse, teria dado a devida importância.
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