História Fleur de Ma Vie - Doze.

David voltou para casa frustrado e ao mesmo tempo feliz. Aquilo realmente estava acontecendo, não era uma miragem. Ela estava ali, tão perto e ao mesmo tempo tão longe.

Um broto de esperança ressurgiu no coração do jogador. Agora, ele tinha uma chance valiosa e não poderia e nem cogitava a hipótese de perde-la. Não mais.

(...)

Mariana e o filho estavam cansados, por mais de Nicolas não houvesse parado um segundo de falar desde a chegada. A casa que morariam não era a mesma de outrora, a casa nova era menor, mas aconchegante. Nos primeiros seis meses o aluguel não seria por conta de Mariana, mas depois de se estabilizar ela poderia ficar ou mudar para um outro lugar se quisesse.

A casa era de apenas três cômodos, com um só quarto. Nada ali era luxuoso, mas Mariana se apaixonou à primeira vista pela residência. Havia ali uma pequena varanda de onde se via boa parte do bairro que era iluminado assim como a cidade inteira.

Mari e o filho resolveram tomar banho e dormir, guardariam tudo no outro dia. Ela ainda tinha alguns dias para se organizar antes de começar aa trabalhar. Logo procuraria uma escola para o filho.

Nicolas foi tomar banho enquanto a mãe escolhia um pijama para os dois, assim que saiu a mãe entrou para tomar seu banho.

Há quem diga que o banho serve, além de lavar o corpo, para refletir e pensar na vida. Mariana pensava em sua vida toda vez que sentia a água escorrer por seu corpo. E, ali, debaixo de um chuveiro os pensamentos a invadiam.

Ela estava em Paris.

David estava em Paris.

No fundo, ela queria vê-lo, nem que fosse de longe. Só ver. Sem que ele percebesse e viesse feito cão sem dono procurá-la. Talvez ela não negasse amor se ele viesse. Talvez ela privasse seu coração dele. Eram tantos “talvez” que a jovem carregava consigo.

Poderia ela amar o tanto que seria capaz de perdoar todas a burradas que ele fizera? Amar ele não a fazia bem, ela sabia disso. Então, por que ela insistia em amá-lo?

Para Mariana, amar David era morrer um pouco por dia. Ela estava se matando um pouco todos os dias. Ele estava matando-a todas as vezes que fazia algo de errado. Então, por que ela insistia em amá-lo? Essa era a pergunta que ela não cansava de fazer para si mesma mas nunca encontrava uma real resposta para tal.

Assim que saiu do banheiro Mariana encontrou o filho todo esparramado na cama, ela se permitiu sorrir ao ver aquela imagem. Ele estava crescendo tão rápido, ela não conseguia se conformar com isso. Deitou-se ao lado da criança e logo dormiu.

(...)

David acordou cedo, mas como não havia treino, resolveu sair a procura do amor de sua vida.

Lembrou-se da clínica que Mariana trabalhou quando veio morar pela primeira vez em Paris e foi até lá. Foi bem recebido e, com seu francês fajuto, perguntou por Mariana.

- Ah, ela ainda não começou a trabalhar.

- Mas ela vai trabalhar aqui, certo?

- Sim! Mariana é uma ótima profissional, ainda bem que aceitou ser funcionária efetiva da clínica.

- Ela é ótima mesmo! – uma certa ambiguidade soou ali, mas só David entendeu. – Escute querida... Margot – David disse olhando crachá da jovem – eu sou jogador do PSG, time aqui de Paris e preciso muito de um acompanhamento com um fisioterapeuta dentro e fora do clube, mas infelizmente são muitos jogadores para poucos profissionais lá. Então, me indicaram Mariana Silveira, mas eu não tenho o contato dela e não posso esperar até ela começar a trabalhar aqui. Você poderia, por favor, me informar o endereço dela?

- O endereço não será possível, senhor. Apenas o contato.

Davis pensou rápido. Se ele ligasse ela talvez atendesse, mas com certeza não diria a ele onde estava morando. Mas o número dela seria útil.

- Pode ser. – falou e sorriu sincero.

- Aqui está. -  a recepcionista deu-lhe um papel com um número telefônico.

- Muito obrigado, senhorita.

- Não há de que. Você estará em boas mãos.

- Tenho certeza! – disse antes de sair.

David entrou no carro mas não ligou. Ficou ali pensado no que faria. Ligaria? Tentaria encontrar o endereço de Mariana de outra maneira? Ele precisava de alguma maneira encontrá-la e fazer tudo certo dessa vez ou estragar tudo novamente...

Debruçou-se sobre o volante e respirou fundo. Decidiu ligar.

Os dedos estava frios e trêmulos, ele estava nervoso. O rapaz só se sentia assim quando se trava dela. Apenas dela.

Discou todos os números e ligou. Chamou uma, duas, três. Ela atendeu.

- Alô. – a voz suave adentrou os ouvidos do jogador e ele sentiu vontade de chorar. Sim, de chorar.

- Mariana? – falou coma voz um pouco embargada por causa do nervosismo.

- David. – ela sussurrou – David? – proferiu em um tom mais alto.

- Sim. Sim, Mari. Sou eu, eu...

- Como você conseguiu esse número?

- Eu vi você ontem, Mari. Você e o Nick. – disse não respondendo à pergunta da moça. – Deus do céu! Você está aqui. Eu preciso muito te ver.

- Não! Não quero ver você. Não me liga...

- Espera! Só uma conversa, por favor?

- Você já teve sua chance, David! Para, por favor.  Me esquece, caramba. Esquece que eu existo. Desiste!

- Nunca!

- Cala a boca! Você quer conversar, não quer? Mas você já falou muito, agora é minha vez. Eu não quero ter alguma ligação com você. Não quero falar com você, olhar pra você. – cada palavra dita parecia ser um caco de vidro que perfurava a fundo os dois – Já não basta tudo que você fez eu sofrer? Quer me deixar no chão outra vez? Você só me machuca, machuca e nem percebe. Diz que me ama mas se deita com tantas, diz que vai mudar mas não consegue. Eu cansei de amar você! Me deixa em paz!

David ouvia aquilo incrédulo e Mariana nunca imaginara que seria capaz de dizer tudo aquilo que, em parte era verdade, mas havia ali algumas mentiras. Ela queria vê-lo sim, mais que isso, queria amá-lo, mas não podia, já não conseguia ser tão magoada.

Aquele era o fim. Mas eles já tiveram tantos fins...