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História Flor da meia-noite - XX Marie Blake


Escrita por: thafagundes27

Capítulo 20 - XX Marie Blake


Sempre passei boa parte dos meus dias me perguntando realmente o que ela devia estar sentindo, pensando, na noite em que caminhou até o penhasco e, então, continuou andando, com os pés pedalando no ar. Perguntava-me se ela estava com medo. Perguntava-me se pensou em mim ou em Peter. Perguntava-me se lamentava nos deixar para trás.

Mas agora que sei que ela foi empurrada, e não por vontade própria, aquela mágoa desaparecera, deixando apenas um vazio inexplicável no meu coração.

Me lembro daquele dia, lembro de ter ido atrás do Adam porque ele estava começando a se afastar. Por três anos achei que era porque ele tinha uma certa inveja em me ver no topo, ciúme por não ter mais tanto tempo pra ele. Mas o tempo todo o ciúme era da Marie, ele queria a minha mãe só pra ele. E então ele me levou pros túneis e apagou essa parte da minha memória, ele apagou várias partes da minha memória, agora eu sabia. Mas ele tinha os motivos dele, ele está sempre certo.

Mais cedo, eu havia tomado uma decisão. Estava à mesa de jantar com mamãe e papai, vendo os dois mastigarem e engolirem em silêncio, e trocarem olhares inexpressivos, com a sensação de que o ar pesava à minha volta e dificultava minha respiração, como duas mãos apertando cada vez mais um balão de água, quando percebi algo.

Eu precisava ir embora.

Não podia dar aos dois o peso de uma filha problemática, assassina e um perigo à segurança deles. Eu permanecia instável. E com caídos atrás de mim, podiam usar os dois como isca. Não podia fazer isso com as pessoas que cuidaram de mim por dezoito anos. Simplesmente não podia.

— Allyson? Tá tudo bem? – Minha mãe chama da escada enquanto estava no banheiro. Tratei de colocar as lentes especiais que Adam me deu e saí – Quase não falou nada no jantar.

— Tô exausta, sabe como são essas atividades de fim de semestre, e ainda tem a formatura.

— Ah é – Ela sorri e sentamos as duas no degrau – E como você está?

— Indo, fazendo o possível pra me formar sem nenhum imprevisto.

— Tenho até medo desses imprevistos. Ah, depois de amanhã é a entrevista pra Ballard.

Bato a mão na testa e fecho os olhos. Claro, a entrevista pra universidade, eu já estava me esquecendo desse pequeno detalhe. Eu ia ou não pra faculdade? Parecia uma ideia ridícula agora, fora do normal, incabível. Faria aquilo e iria embora de casa, eu poderia ir morar com o Peter, ou ficar em tempo integral na hidroelétrica.

— Você vai, não é? Sonhamos com a Ballard desde que era criança.

— Vou, mãe, claro que vou – Sorrio e ela me abraça – Se eu te contar uma coisa, promete não surtar, ou contar pro papai?

— Não prometo nada.

— Eu sei – Suspiro e mesmo assim continuo – O Jake está vivo.

— O que? Como...? Eu...

Sua boca estava aberta e ela não parecia saber como completar uma frase qualquer. Eu conhecia muito bem aquela sensação.

— Ok, calma – Segurei a mão dela – Eu e Adam achamos um lugar, era suspeito e fomos investigar. O Jake está lá, mãe, eu falei com ele, está vivo. Mas não conseguimos tirar ele de lá – Me apresso em dizer – Estamos trabalhando nisso.

— É uma ótima notícia, minha nossa, quer dizer que podem ficar juntos. Ele sabe de...?

— Sabe, ele sabe de tudo o que venho passando. Mas não podemos ficar juntos, eu amo...

Não, espera. Quem eu amo? Não amo ninguém. Quando penso nisso encontro apenas o vazio, um vácuo gigantesco, como se eu tivesse entrado no meu quarto que foi o mesmo por muito tempo e aí tiraram tudo do cômodo e só restou poeira.

— Ama...?

— Ninguém, é que eu superei sua morte, seria meio esquisito.

— Já é esquisito saber que ele não tá naquele caixão. Bom – Minha mãe se levanta e me dá um beijo na testa – Conversamos sobre isso amanhã, vá dormir.

— Tudo bem.

♕♕

— Sonho de inverno – Começo dizendo enquanto aponto pro quadro que eu e Clove montamos ontem – Vamos aproveitar as cores da escola e deixar tudo bem mágico e inesquecível. Vai ser grande, rico em detalhes, e ao mesmo tempo simples e apaixonante. Vai ser uma noite de memórias, relembrar quando éramos adolescentes bobos que acabaram de entrar no ensino médio, então... Angel, quero todas as fotos constrangedoras de geral que tá se formando, vamos fazer  tipo um labirinto.

— Adorei a ideia, Ally, farei isso – Ela sorri anotando algo em uma caderninho.

Passo a folha em que estava pra trás e vou pra outro ponto.

— A escada vai representar o crescimento da gente nesses anos. Desculpem, foi ideia do diretor. Muito obrigada Senhor Hacket – Jogo um sorrisinho cínico e ele ri.

— Disponha Senhorita Hale.

— O que estão de acordo com o tema, por favor, levantem a mão.

— Você tem um dom especial pra fazerem gostarem de você – David disse atrás de mim enquanto guardo as coisas da apresentação – Mesmo quando é uma megera enfeitiçada.

— Não sou enfeitiçada, melhor rever o jeito que fala comigo, o time de futebol iria adorar bater em alguém, Hermie.

— Você não é assim.

— Eu sou.

— Jason me contou que seus olhos não estão tão verdes como deveriam estar.

— Meus olhos não são da sua conta – Pego a bolsa de treino e começo a andar – Olha David, você não é meu inimigo, mas Jason é, então se continuar andando com ele, não te quero ao meu lado, ele é um caído, não merece nenhuma pena.

— Ao seu lado pra que?

— Guerra, é claro – Viro meu rosto e o encaro enquanto passo pelos corredores lotados de gente – Preciso da sua cabecinha humana cheia de informações e lendas.

— Ficou sabendo que Hazel perdeu os dons?

— Fiquei, agora estou livre, não preciso de um guia. Tá comigo ou não?

— Ally, te sigo até o fim dos tempos.

— Continua sendo Allsyon pra você – Sorrio e dou um beijo no rosto de David, e entro na quadra. Tudo se ganha com um pouco de charme, amo ser mulher – Vamos lá, vadias, é o nosso último jogo, temos que ganhar esse estadual! Então quem não suar sangue não sai daqui hoje.

— Ally.

Alguém chama meu nome e me viro enquanto as duplas pegam as bolas pra começar o aquecimento. Hazel me olha com cara de cachorro abandonado e percebo uma ferida acima de sua sobrancelha, outra no lábio inferior. Eve fez um trabalho excelente, devo admitir.

— Você tá linda – Sorrio e pego o esparadrapo da bolsa – O que quer?

— Eu sei que você tá aí, Ally, bem no fundo, só queria dizer que eu vou te salvar, que eu não vou desistir de você, nunca.

— Ah Hazel... me ajuda, por favor, eu não sei mais o que fazer - Digo enchendo os olhos de lágrimas, e quando ela se aproxima eu começo a rir – Bobinha, não tem o que salvar, essa sou eu agora. Então se não sair da minha frente agora, vou terminar o que a Eve começou.

— Essa não é você.

— Sai.

— Não.

— Sai! – A empurro e ela desliza pelo chão até bater a cabeça no equipamento de treino. Todo o time para o que tá fazendo e olha pra nós – Estão olhando o que? Vamos! treinando!

Hazel se levanta e sai de braços cruzados da quadra. Puxo Hann pra ser minha dupla e aos poucos tudo volta ao normal, a treinadora entra e digo que Hazel decidiu deixar o time. Depois de muita bronca, tivemos que colocar alguém na posição dela e nos preparamos pro último jogo na semana que vem.

— Você é Allyson Hale? – Uma menina magra demais com a pele branca demais me pergunta quando saio do vestiário. Ana?

— Depende, quem é você?

— Meu nome é Kaleesa, Adam me mandou, sou uma bruxa do clã de Holdorn. Aquela é Kyla, uma nephilim. De agora em diante somos seu escudo até a chegada da Guerra.

Olho pra sombra atrás de Kaleesa. Kyla é uma garota de pele morena impecável; os olhos são castanho escuro e ela me encara com intensidade, quase como se pudesse enxergar minha alma. Embora as duas saibamos que só eu era capaz de fazer isso.

— Tudo bem, gostei disso – Sorrio para as minhas novas escudeiras.

P.O.V. Jason

— É sério, ela tá irreconhecível, eu não sei o que fazer – Hazel diz se sentando derrotada na mesa do laboratório de química. Clove e David se entreolham e abaixam a cabeça.

— A gente não pode desistir – Insisto.

— Ela voltou a ser uma vaca, só que dessa vez é de verdade – David limpa as unhas e se recusa a olhar pra mim, imagino o porque – Olha, ela ainda fala comigo e com a Clove, mas vai ser difícil tirar alguma informação dela, ou informação de como salvar ela.

— Eu conheço alguém – Digo saindo da sala.

♕♕

Era noite, Peter tinha acabado de sair do mercado e estava colocando as compras no porta malas do carro. Eu tinha ouvido alguns rumores de que ele tinha abandonado as tropas e desistido de tudo o que estava planejando, parece que colocou um homem de confiança no lugar.

Me aproximo dele e assim que o faço vejo ele sacar uma arma da cintura e apontar pra mim imediatamente.

— Calma, sou só eu – Levanto as mãos em sinal de rendição.

Peter relaxa, mas não abaixa a arma.

— O que você quer?

— Ajuda, precisamos fazer alguma coisa antes que a situação piore. Precisamos deixar nossas diferenças de lado.

— Escuta aqui, Jason, eu vi o meu melhor soldado fazer lavagem cerebral na minha filha. Ela virou uma assassina. Esse mundo, o seu mundo, dizimou o meu. Minha mulher, pai, a minha família inteira, tudo porque eu tinha que sempre fazer alguma coisa e uma profecia me fez acreditar que era invencível. Por que eu entraria nisso de novo? - Peter diz ainda com a arma na mão.

— Porque pessoas vão morrer, sabe disso, e você sabe de coisas que ninguém nem imagina. Você sabe como salvar a Allyson e pegar o Adam sem transformar isso em um banho de sangue.

— Desculpa, mas a outra única pessoa que eu conheci que sabia fazer o que a Ally faz está morta. Não posso te ajudar. O que posso fazer agora é arrumar um quarto pra minha filha ficar comigo e tentar cuidar dela da forma mais humana possível – Peter olha no relógio de pulso, abaixa a arma e junta as sobrancelhas – Tenho que ir, ela chega amanhã.

— Espera, quem era a outra pessoa?

Ele para no momento que ia abrir a porta do carro e olha pra mim com tristeza.

— Marie, a mãe dela.



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