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História Flor da meia-noite - XXI Quando cinco minutos podem mudar tudo


Escrita por: thafagundes27

Capítulo 21 - XXI Quando cinco minutos podem mudar tudo


Ah, a festa anual dos formandos. Esperei tanto tempo por isso que mal consigo respirar. Tudo estava indo bem e as coisas começavam a criar eixos novos na minha vida.

Depois de muito choro, levei minha última mala à casa do Peter, tentei colocar na cabeça que me mudar pra lá era a melhor coisa a se fazer, mesmo depois de ver meus pais abraçados, chorando enquanto se despediam. Eu precisei fazer aquilo, precisei fazer aquilo por eles.

Fui à entrevista na universidade da minha mãe, e se tudo desse certo, eu podia pensar em ter um quarto na colônia quando tudo acabasse. Todos por lá já me conheciam, entrar seria fácil, mas ainda assim, formalidades existiam.

Tentei arrumar o quarto que Peter arranjou pra mim da melhor forma possível, mas mesmo depois de colocar todas as minhas decorações, o formato do cômodo ainda parecia estranho, eu ia demorar pra me acostumar a chamar aquela casa de minha.

Depois do longo dia, passei pra cortar o cabelo e tingir. Os resquícios da antiga Allyson sumiram de vez e eu gostei do resultado, mal podia esperar pra mostrar ao Adam. O corte de uma guerreira.

Passei no café antes de ir à festa pra comer uns donuts no caminho até a fazenda. Esse ano o tema seria neon, ia ter bebida, gente legal, música boa e muita saudade. Uma guerreira ainda podia sentir saudades, né?

— Allyson? - Me viro na fila e encontro David – Quem é você e o que fez com a minha amiga?

— Não sou sua amiga.

— Tudo bem, já chega – Ele coloca as mãos no bolso da jaqueta e começa a andar.

— Não, espera – Seguro seu braço.

— Não gosto quando você é assim, achei que as coisas tinham mudado entre nós, sabe, depois da festa.

— Desculpa.

— Como é? – David ri e eu não consigo segurar o sorriso.

— Pedi desculpas, deixa de ser chato e me acompanha na festa no celeiro.

— Só se me contar o que diabos fez no cabelo.

— Combinado – Pago os donuts e seguimos até o meu carro.

A casa e o velho celeiro ficam em um pedaço de terreno entre duas colinas, um pequeno vale, como se as construções estivessem bem no meio dos lábios contraídos de alguém. Por causa da maneira como a terra se inclina, ainda não consigo ver a casa, mas, conforme me aproximo do topo da colina, a música se torna mais clara, mais alta.

Alguém está cantando: uma linda voz, tão densa e pesada quanto mel morno, percorrendo uma escala tão rapidamente que fico tonta só de ouvir. A música executada sob a voz é estranha, dissonante e selvagem. Curiosamente, ela me faz lembrar o oceano durante uma forte tempestade, com as ondas se agitando e quebrando e a espuma do mar sendo jogada nas docas; a maneira como nos deixa sem fôlego, com seu poder e sua enormidade.

O celeiro está completamente arrasado: escancarado e carbonizado pelo incêndio que houve há alguns anos, aberto para o exterior. Apenas metade continua de pé, fragmentos de três paredes, um pedaço do telhado e parte de uma plataforma elevada que deve ter sido utilizada para armazenar feno. É ali que o dj está tocando. Apesar das histórias de terror que rodeiam esse lugar, é aqui que se encontram as melhores festas.

Árvores esguias e finas começaram a surgir pelo campo. Árvores mais antigas, devastadas pelo fogo e completamente desprovidas de galhos ou folhas, apontam para o céu como pálidos dedos fantasmagóricos. Quinze metros depois do celeiro, vejo a faixa profunda de escuridão onde começa o território não regulamentado. A Selva, onde não devíamos ir, o limite da cidade, onde os monstros habitam. Agora não tenho mais que temer a Selva, os monstros vieram pra Ellicot. Não consigo ver a grade da fronteira a essa distância, mas imagino que posso senti-la, perceber a eletricidade que vibra no ar.

— Então é assim uma festa de verdade – David sussurra pra si mesmo olhando ao redor e eu rio, o puxando pelo braço até o balcão das bebidas.

— Nunca foi à uma festa?

— Não uma organizada pelos predadores.

— É assim que chamam a gente mesmo? - Rio mais ainda.

— É, pior que é.

— Tá, mas essa festa é de todo mundo, vamos nos formar!

— É isso aí!

Festas assim pareciam a coisa mais normal do mundo pra mim, porque nesses três anos esse foi o ambiente que eu mais frequentei, mas pra David ainda é tudo mágico demais como na primeira festa que Clara Mason me levou.

O dj bebia algo de seu copo toda hora e balançava a cabeça no ritmo da música. Os corpos suados, quase sem roupa e cobertos de desenhos em tinta neon esbarravam uns nos outros, mas pareciam animados. Alguns calouros andavam com bandejas de drinks coloridos distribuindo pra todo mundo. Genial. A decoração estava perfeita como sempre, modéstia a parte, eu e Hann estávamos craques nisso.

— Allyson! – Kate surge do nada e me dá um abraço de urso – Já estava me perguntando que horas ia chegar.

— Uma boa rainha sempre chega elegantemente atrasada – Ela ri e percebo em seus olhos que já está bêbada – Esse é o David! – Tive que gritar por conta da música – Vai se formar com a gente.

— Hey – Kate sorri e o abraça. David fica confuso no início mas seus olhos brilham depois de perceber que sua mão tava perto da bunda dela – Nunca te vi, mas bem-vindo ao bando!

— Obrigada! – Depois que Kate sai dançando ele se vira pra mim – Bando?

— Predadores, lembra? É coisa nossa – Sorrio e o puxo pra apresentar mais umas pessoas.

— Você tá com cara de brava – David diz dançando comigo – Tá brava?

— Não – Franzo as sobrancelhas – Tô frustrada.

Ele faz uma pausa pra analisar minha afirmação e sorri.

— Sexualmente?

Me aproximo dele e quando nossos lábios estão quase nos tocando eu me afasto e puxo ele pras tintas.

— O Jason vai me matar.

— Quer falar do Jason? – Tiro a jaqueta que estou, ficando apenas com um sutiã branco rendado, brilhando na luz negra – Ou quer pintar meu corpo?

— Eu quero pintar seu corpo.

— Ótima escolha – Sorrio e entrego o pincel pra ele.

Depois de muito tempo dançando, nem percebi a hora passar. Clove chegou, junto com Adam, Kaleesa e Kyla. Não me importei e continuei junto com David.

A música se tornou abafada de repente e um ruído metálico tomou conta da minha audição. Me senti tonta na hora e parecia que só eu ouvia aquilo. Formas se materializaram nas sombras, nos cantos onde o jogo de luz não pegava, e logo depois desapareciam como fumaça. Um deles saiu do chão e eu corri pra fora do celeiro.

— Adam! – Chamei entre a multidão mas não vi sinal.

— Allyson Blake— O ruído ficava ainda pior quando se transformava em palavras – Você nos convocou e agora nós exigimos.

Três das sombras surgiram atrás de mim e eu me virei com o susto, pronta pra pegar a adaga escondida na bota.

— Armas mundanas não ferem Arcanjos— Eles não abriam a boca pra falar, e por um segundo me assustei quando escutei a voz mesmo assim.

— Arcanjos?

— Cemitério de Ellicot City, assim que o sol se pôr na baía. Lembre-se, você tem um trato conosco.

— Ache os Arcanjos, mate Jason Benacci.

As três sombras balançam a cabeça em sinal de afirmação ao mesmo tempo, e logo depois somem na noite fria. Sinto calafrio e volto pra dentro.

— Achei os Arcanjos – Digo ao Adam e ele sorri – Cemitério de Ellicot City, quando o sol se pôr na baía.

— Você é demais – Ele me beija na testa e eu sorrio orgulhosa de mim mesma.

♕♕

Eu queria ser uma dessas pessoas que têm uma sequência a manter, que chamuscavam o chão com sua intensidade. Mas agora pelo menos, eu conhecia pessoas desse tipo, e elas precisavam de mim como um cometa precisa de uma cauda.

Walt whitman disse que que nada pode acontecer que seja mais belo do que a morte. Bom, eu começava a duvidar daquila afirmação enquanto meu ossos tremiam na noite fria. Kyla estava comigo, assim como Adam, mas era noite de lua cheia, e mesmo que algumas criaturas da noite tenham jurado lealdade a ele, a barreira ainda estava aberta, e eu virei um farol, assim como a lua brilhando majestosa acima da minha cabeça.

— O sol já se pôs há muito tempo, onde eles estão? – Pergunto ajeitando as luvas, ainda de ressaca pela noite de ontem.

— Eles são Arcanjos, podem fazer o que quiserem.

— Até atrasar? – É raro quando Kyla fala alguma coisa, então eu me viro com a sobrancelha arqueada e ela se encolhe.

— Cansei de esperar, vou embora.

— Você vai esperar, eu tô mandando – Adam segura meu braço e eu encaro sua mão parada ali. Algo se acende dentro de mim levanto a cabeça de novo.

— Você não manda em mim, eu sou Allyson Blake, a Filha da Profecia, a que vai devolver à minha raça a glória que nos foi roubada, eu sou...

— Finalmente— Ouço aquela voz metálica de novo e me viro. Lá estão os três vestidos de preto e olhos brilhando, azuis, como o céu do verão e como o mar agitado – Já estávamos nos perguntando quando a Filha da Profecia ia aparecer.

— Senhor – Adam diz se curvando e Kyla faz o mesmo.

— Você não – O do meio diz quando começo a dobrar meus joelhos – Esperamos muitos anos pela sua volta, Adina de Riverland.

— Nos digam o que fazer pra derrotamos os caídos e toda a sujeira que eles trazem pra esse mundo - Adam pede ainda de cabeça baixa.

— Você não é digno de tal informação. Concordamos que conseguir manipular o soro seja um feito incrível, mas mesmo que tenha ela ao seu lado, a glória não será sua. Agora vá, queremos falar com com Allyson Blake a sós.

— Como quiser – Adam puxa Kyla consigo até a porta do cemitério e eu fico sozinha com os Arcanjos.

Eles mantinham as mãos juntas sob o manto escuro, se pareceriam com sombras se não fosse pelos olhos brilhantes, que não se apagavam por um segundo sequer.

Dois seles me seguram pelo braço e eu permaneço firme, sentindo Adina assumir o controle da minha mente, começando a me deixar mais decidida pra encarar o que estava por vir.

Minha cabeça começou a falhar como uma televisão com defeito, e por um momento uma sensação de felicidade tomou conta de mim, um amor incondicional, mas antes que pudesse me libertar, senti a escuridão chegando novamente.

Me surpreendi quando Jason e Hazel saíram de trás de um túmulo grande que havia por ali.

— Mas o que... – Tento me soltar, mas o aperto dos Arcanjos fica mais forte ao redor do meu braço – O que estão fazendo?

— Uma intervenção – Jason cruza os braços.

— Eu vou matar você.

— Não, você acha que tem que me matar.

— Ele é um caído – Me viro pro Arcanjo do meio – Vocês deviam estar do lado do Anjo, a luz.

— Há algumas regras que precisam ser quebradas pra paz reinar entre os mundos. É como eu disse, Benacci, o efeito não vai durar muito, então espero que tenham pensado em tudo.

— Pensamos.

— Efeito de que? – Pergunto sem entender nada.

— Vamos te trazer de volta por cinco minutos, Ally – Hazel diz com um brilho no olhar – Tempo suficiente para um novo acordo.

— E se não conseguirem trazer ela de volta permanentemente?— O Arcanjo da minha direita indaga – A mãe dela morreu, e acho que ela não vai querer voltar por conta própria.

— Nós vamos conseguir.

— Tudo bem, espero que ela consiga guardar nosso segredo.

— Confiamos em você – Hazel pega minha mão e eu rio sarcástica, chutando o tornozelo dela – Vai se arrepender disso depois, vadia – Mas ela diz isso sorrindo, o que me faz ficar com mais raiva ainda.

— Cinco minutos— O Arcanjo insiste.

— É suficiente.

Então ele vem até mim e posiciona os polegares nas minhas têmporas. Apago na hora.

♕♕

Eu não acredito que aqueles filhos da...

— Calma – Kaleesa põe a mão no ombro do Adam e ele olha com ódio pra mim.

— Como deixou isso acontecer?!

— Não foi culpa minha! – Ando em círculos pelo galpão sujo da hidroelétrica, sentindo vontade de voltar lá na casa daquele imundo do Jason e acabar com os dois – Os Arcanjos me seguraram pelos braços, já viu a força deles?

— Não, Allyson, eu não vi! Você falhou!

— Me traz de volta, aí eu lembro, depois que eu te contar, você me transforma de novo. Posso fazer isso.

— Não consigo te trazer de volta.

— Como é?

— Não precisava te trazer de volta, eu estava confiando no meu plano, Jason ia conseguir.

— Bom, melhor assim, eu me sinto ótima – Cruzo os braços e sopro a franja que caiu no olho.

— Tem certeza que não se lembra?

— Porra, eu já falei que não.

— Você pode matar eles amanhã – Adam diz apoiando as mãos na mesa.

— Ótimo.

— Não, Adam, é muito precipitado, ainda precisamos das informações – Dessa vez Kyla se levanta da cadeira, furiosa – Precisamos que ela se lembre das vidas passadas.

— Eu não tô nem aí.

— Pensa com clareza pelo menos uma vez na vida.

— Quem você acha que é pra falar assim comigo?

— Eu não devo nada a você – Kyla cospe as palavras — Devo a ela, Allyson é a garota da profecia, não você.

— Isso – Kalessa concorda – O que devemos fazer, Allyson?

— Tenho que matar todos eles – Franzo as sobrancelhas – Mas devemos esperar até a formatura, mais uma tragédia no ano letivo e a escola vai levar fama ruim, preciso ganhar o jogo da semana que vem e me formar. Aí a gente vai atrás deles.

— Espero que você tenha um bom plano – Adam sussurra claramente irritado por ter perdido a discussão.

— Eu sempre tenho, mas preciso ver alguém antes.

— Quem?

— Jake, vamos ressuscitá-lo em Ellicot. Eu ainda preciso de um rei para o baile.



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