História Flores no Escuro - O nosso tempo está escasso

Descordada.

Sobre o assoalho gasto da varanda, um corpo ensanguentado estava desacordado. O sangue escoria sobre seu braço, manchando parte da camisa que Stella vestia. Seu rosto levava leve escoriações, com um pequeno corte no lábio.

POV ALEX

Seu corpo caiu sobre o chão da varanda provocando um estrondo.

- Stella... – Corri a seu encontro sentindo sua pulsação. Seu coração ainda batia. Olhei para Piper... ela se mantinha estática na soleira da porta. – Piper... Me ajude aqui. – Botei um dos braços de Stella sobre o meu ombro enquanto Piper repetia o mesmo movimento.

Deitamos Stella sobre o sofá e corri para a cozinha pegar toalhas e curativos. Voltei na mesma velocidade com o olhar de uma Piper calada sobre mim.

- Stella... – Olhei seu rosto escoriado, provavelmente sofreu com algum ataque daqueles malucos. MERDA. – Eu vou cuidar de você, assim como você cuidou de mim... – Limpei suas feridas, uma por uma, e prontifiquei curativos a elas. – Carreguei seu corpo e a deitei sobre a cama do quarto de hospedes, tudo isso sobre o olhar de Piper que permanecia quieta, mas que me seguia a todo momento.

A deitei sobre a cama e deitei ao seu lado.

Stella... o que fizeram com você? Por que te machucar tanto?

Milhares de pensamentos invadiam minha cabeça enquanto acariciava seu rosto.

Porra... a gente não tem um minuto de paz?

O ódio fluía sobre meu corpo, me tomava como um veneno.

- Alex... – Uma voz doce e fraca ecoa sobre meus ouvidos. Viro-me e encontro um olhar de preocupação, um olhar perdido...

POV PIPER

Um café da manhã dos sonhos, até nosso mundo desabar sobre nossos ombros ou melhor, desabar sobre a varanda.

A amiga de Alex chega ensanguentada e desaba sobre o chão da varanda com as palavras de que “Eles nos acharam”...

Quem são eles? Por que agora? Como nos acharam? Eu sei que querem a mim e a Alex..., mas afinal, o que há de especial em nós?

- Piper... Me ajude aqui! – Me desperto sobre a voz de Alex tentando carregar Stella. Seu corpo ensanguentado sujava o corpo e as roupas de Alex.

Carregamos ela até o sofá da sala. E antes que perguntasse, Alex sai em disparada para a cozinha, volta logo depois carregada de toalhas e curativos, o olhar de preocupação e medo é evidente.

Não falo, não me mexo... só observo o jeito que Alex a toca, o jeito que cuida dela, o amor e devoção que deposita ali. Vejo seus olhos trazendo emoção, amor e ódio. Ela limpa suas feridas e faz curativos em meio a caricias. Eu sei que é um momento delicado e que não deveria ser tão egoísta a ponto de sentir ciúmes..., mas sempre tem aquele, “mas”...

Alex mais uma vez carrega seu corpo, mas sem a minha ajuda dessa vez, ela a leva escada acima e deita sobre a cama do quarto de hospedes, sigo todos seus passos. Ela se ajeita perto do corpo adormecido de Stella e ali fica deitada de costas para mim.... Meu coração se aperta.

A imagem de Alex cariciando seu rosto, me causa arrepios. A preocupação que ela demonstra sobre ela... PARE, não pense nessas coisas, ela te ama, ela sempre vai te amar.

Mas... e esses anos que estive longe o que aconteceu? Pelo o que você passou, minha querida Alex? E em que parte Stella se encaixa? E eu... me encaixo? 

Aquela cena parecia uma parte isolada do mundo, parecia que uma bolha envolvia as duas... e então decidi romper a bolha...

- Alex... – Minha voz saiu tão fraca que por um momento pensei ela não teria ouvido, mas ela ouviu... e depois de muito tempo nossos olhares voltaram a se encontrar.

POV ALEX

Um pedido em silêncio.

Era isso que seus olhos demonstravam. Apoiada sobre a porta, agarrando os próprios braços. Minha pequena Piper... meu amor...

- Pipes... – Seus olhos se iluminaram quando pronunciei seu nome e um sorriso nasceu. Levantei da cama com cuidado para não acordar Stella, a ajeitei sobre as cobertas e andei até Piper.

- Me desculpe... eu não queria atrapalhar... – Seu olhar fixava o chão e aquilo me incomodava.

- Piper... – Ergui seu rosto delicadamente. – Você nunca me atrapalha... – Seu sorriso voltou e o meu também. Beijei seus doces lábios, acariciando seu suave rosto.

Aqueles segundos ali, nos beijando, na nossa cabeça era uma eternidade. Uma eternidade quebrada por uma tosse vinda de Stella, meu olhar voltou-se rapidamente assim como meu corpo que vagou até ela.

-Stella... – A abracei forte e ela me retribuiu – Que bom que acordou...

- Alex... – Sua voz sai-a fraca. – Essa deve ser a famosa Piper... – Olhei para Piper que vinha em nossa direção.

- Sim... – Não consegui evitar um sorriso.

- Prazer em revê-la loirinha... – Piper ficou estática, mas logo estendeu a mão para cumprimentar Stella, que a puxou para um abraço.

- Sou mais de abraços... – Ri com a expressão de surpresa de Piper.

- Ok... Agora que já nos reapresentamos, que tal falarmos do que aconteceu Stella? – O ambiente de repente ficou tenso.

- Você que manda Vause... – Suspirou longamente. – Eu estava no laboratório como sempre, realizando pesquisas sobre a droga de seu pai, quando ouvi disparos vindos do lado de fora, olhei pela janela a prova de balas e vi uma cena de guerra... – Seu olhar vagou. – Eles estavam lá... Todos os nossos pesquisadores.... Mortos. – Lágrimas começaram a cair. – Era tanto sangue... e então... e quando vi que um deles veio em minha direção e conseguiu entrar no laboratório, só pensei em correr, mas ele foi mais rápido e me derrubou, socou meu rosto e tentou sacar a arma, mas eu fui mais rápida sacando a faca que sempre levo comigo e.... meu Deus, eu.... eu... – Ela tremia. – Eu matei um homem... todo aquele sangue... – A abracei impedindo que continuasse.

- Não precisa continuar se não quiser...

- Não... eu tenho. – Ela limpou as lágrimas. – Eu levantei e vi que levaram toda a pesquisa do seu Pai Alex... levaram tudo, cada frasco e cada ampola... não sobrou nada, você que eu preciso daqueles relatórios, nosso tempo está acabando...

- Desculpe... – Piper finalmente se pronunciou. – Eu tenho algumas perguntas: primeiro, quem são eles? Segundo: Por que o tempo está acabando? E terceiro: O que esse maluco fez com a gente?

- Alexandra... Você não explicou nada a ela? – Seu olhar era de repreensão.

- Eu ia... – Alex revirou os olhos. – Mas você desmaiou na nossa varanda... – Falou irônica.

- Deixe eu te explicar Piper... Anos atrás como você sabe o Dr. Alexander teve um surto psicótico e começou uma busca incansável pelo gene perfeito, para conseguir isso ele teria que obter seres humanos jovens que possuíssem um gene em potencial para isso e que aguentassem a transfusão. Durante anos houve relatos de sequestros no mundo todo... todos arquitetados por ele e por uma organização que o patrocinava, essa organização era e é partidária ao partido nazista e se denominam pelo nome de Thules. Algumas das crianças possuíam o gene, mas quando eram submetidas a transfusão sofriam alterações desastrosas no material genética, provocando deformações e perda de membros ou o ganho deles, algo parecido com o efeito da bomba atômica. – Ajeitou o cabelo curto. – Em uma das noites de seu delírio ele levou... – Olhou para mim e assenti para que continuasse. - ...sua própria filha e a submeteu aos experimentos, por sorte Alex foi a primeira a despertar um ambiente benigno ao gene e desde aquele dia ela foi trancafiada em sua própria casa, sendo levada a testes diariamente...

- Mas e eu... – Piper levava um olhar confuso. – Por que ele me quis? Ele já não tinha Alex?

- Sim... – Stella sorrio. – E ai que vem o mais fascinante na loucura de Alexander... Como você pode ter percebido ele se dominava Deus, pois foi capaz de criar uma nova raça, uma raça pura e perfeita ao seus olhos. – Sorrio mais uma vez. – Como Deus criou Adão e a partir de sua costela criou Eva, por que o viu muito sozinho. Alexander “criou” uma Piper para sua filha.

- Mas... por que eu? Por que especificamente a mim?

- Você não contou nada mesmo não é Alex? – Gelei, realmente ela iria contar. – Pensei que fosse mais corajosa... – Me olhou me reprendendo. – O pai anos antes quando tinha uma família ainda, viu sua filha se apaixonar pela primeira vez...