História Flowers and Drawings for her - (Camren) - Inspiração.

Camila

[Segunda feira. Miami. 6:30.]

Só mais um dia Camila, só mais um dia...

Rotina.

Essa coisa acaba com a nossa vida, não acha?

Pode parecer clichê uma quase adolescente, quase adulta falar isso.

Quase adulta. Ainda não me considero madura o bastante pra isso.

Tenho 18 anos, e não vejo a hora de sair desse inferno, chamado de casa. Quero conhecer o mundo, me sentir livre.

Não me sinto bem aqui, nunca me senti. Nunca vou me sentir bem comigo novamente, não depois do que aconteceu à 10 anos.

Mas isso não vem ao caso, acredito que isso não fara diferença na vida de vocês.

O ponto aqui é que, me chamo Camila, mas isso já repararam.

Já devem ter reparado também, que sou bem atrapalhada. Até demais.

Me desculpem se eu as vezes parecer grossa, sou muito tímida, então minhas respostas curtas, soam como grocerias a outros olhos.

Em algum momento da minha vida eu sonhei, sonhei alto e longe.

Sonhei como uma criança, afinal, eu era uma criança da última vez que me permiti sonhar.

Em algum momento da minha vida eu amei, amei muito e incondicionalmente.

Amei como se não houvesse amanhã, afinal, quase não houve o amanhã pra mim.

Me fechei do mundo. Me fechei de sentimentos. Hoje, eu já não amo mais, e não quero.

Da última vez, doeu, doeu muito, tanto psicologicamente, quanto fisicamente.

Minha amiga diz para que eu siga em frente, mas ela não sabe como é sentir nojo de você mesma. Não sabe como é praguejar os céus e a terra pela sua maldita existência.

Normani. Uma linda e simpática garota. Negra dos olhos brilhantes, e cabelos a cada instante de uma maneira, já que a mesma diz que ama mudar.

Ela é um verdadeiro anjo na minha vida, pois mesmo sabendo o que houve comigo, não me olha como os outros, com pena.

As vezes penso se algum dia, alguém vai me conhecer por eu ser apenas eu mesma, e não a garotinha traumatizada na infância.

Será que algum dia vão conhecer meu verdadeiro eu?

Isso é impossível Camila! Pare já de se iludir. Aliás, isso é um dos meus defeitos, me iludir, me enganar, talvez o mal de ser pisciana. A verdadeira trouxa se chama Camila!

-Cabello, se você não levantar essa bunda daí agora, vou te puxar pelos cabelos!! -Ouço Mani gritar.

Como num salto, corro para o banheiro, onde faço minha higiene matinal, e tomo um banho gelado. Nessa época, Miami mais parecia um forno.

Estamos em junho, ainda bem que estou de férias. Normani dormiu aqui em casa noite passada, pois fiquei de acompanhar ela até o aeroporto para buscar sua namorada, que chega hoje de viagem.

Mani e Dinah já namoram a pouco mais de um ano. Dinah, é uma importante estilista, apesar da pouca idade.

Mesmo tendo apenas 20 anos, a loira já viajou mais do que eu na minha mente.

Desço como um foguete as escadas que dão acesso a cozinha da minha casa. Logo avisto minha mãe a mesa do café. Acredito que pelo horário, minha irmãzinha, Sofia, ainda está em seu longo sono.

-Bom dia, mãe. -Falei depositando um beijo estalado em sua bochecha.

-Bom dia, querida. Acho que vou trazer Normani mais vezes aqui, pelo menos acorda antes do meio-dia. -Disse sorrindo.

-Venho com o maior prazer, Tia! -Mani fala rindo, me fazendo revirar os olhos enquanto pego uma banana sobre a mesa.

-Que lindo as duas fazendo complô contra mim!! Vamos logo Mani, quero acabar logo com isso, já vai ser difícil demais servir de vela pra vocês!

-Ahh, que isso Mila, não se preocupe, hoje terá companhia, e quem sabe não se garante?! -Fala jogando uma piscada pra mim.

-Como assim?

-Dinah trouxe uma amiga com ela, uma nova desenhista do estúdio dela, e pelo que me parece, a garota é linda! Quem sabe não te arrumo uma nora, não é Tia?! -Diz olhando pra minha mãe.

-Vou esperar ansiosa! -Minha mãe exclama me fazendo bufar.

Mais um fato sobre mim, sou lésbica. Minha mãe nunca viu problemas com isso, pelo contrário, vive me jogando pra cima das meninas que ela considera "Boa para minha filha". Acho fofo isso, mas às vezes me sinto constrangida.

-Ok minhas cúpidas! Vamos logo. -Nos despedimos da minha mãe, e seguimos para o carro de Mani.

O caminho foi animado, Normani estava ansiosa para rever a amada. Ela cantava e se remexia ao som de Beyoncé. A diva foi a complô pro inicio do namoro delas, já que se conheceram num show da mesma.

-Sossega, Mani!! Você deve estar em uma seca horrível... -Falei sorrindo.

-Pelo menos tenho alguém pra matar minha seca! -Bufo e reviro os olhos. -É serio Mila, não acha que está na hora de arrumar alguém?

-Normani, eu vou ficar com alguém quando eu me sentir confortável, não é facil ... Paciência!

-Eu sei bunduda, é que me importo com a sua felicidade!

-E eu agradeço por isso. Mas quando eu achar alguém, você vai saber... Eu juro!

-Quem sabe essa pessoa não aparece hoje? Se quiser, posso pedir para Dinah apresentar a amiga dela pra você.

-Mani... A menina mal chegou, e já tão empurrando a coitada, se aquieta! Além do mais, eu nem a conheço, e acredito que não vou querer conhecer!

-Se fosse eu, não teria tanta certeza ... Sério Mila, ela é muito linda, e me parece ser uma ótima pessoa!

-Então pega ela você! Dinah sabe desse seu interesse todo pela amiga dela? -Digo sugestiva.

-Affs... Só comentei, sua chata. Mas... Tudo bem, vou deixar rolar... Chegamos. -Falou ao adentrar o estacionamento do aeroporto.

Ela estaciona o carro, e descemos. Normani perguntava algo a mulher do guichê de informações. Me distraí olhando para os aviões que davam partida.

Quem sabe um dia Camila... Um dia você irá viajar ...

Normani informa que chegamos cedo demais, então só nos restava esperar.

Nos acomodamos em duas cadeiras próximas ao portão de desembarque.

Fiquei observando o fluxo de passageiros. Tantas pessoas, tantas coisas, respiro fundo, fazia um bom tempo que eu não via tanta gente estranha.

Depois do ocorrido à 10 anos, não me interessava em mais nada, sempre me limitava com as coisas que possuíam em minha casa. Não fiz mais amigas depois da Mani, e só conheço Dinah por ela as vezes frequentar minha casa. Nos tornamos muito amigas por isso.

Na escola, eu sempre evitei ter contato com outras pessoas fora Mani e os professores, pra mim, o olhar de pena deles nunca faria falta na minha vida.

Sempre estudei no mesmo colégio desde que me entendo por gente.

Consequentemente, quando houve... Bem, aconteceu minha morte interna, grande parte dos funcionários ficaram sabendo, tendo como resultado, um cuidado exagerado em cima de mim, e logo, fiquei sendo conhecida como a "favorita dos professores por ser gostosa", pelos alunos que não sabem de nada, apenas como me irritar e me magoar profundamente.

Depois de um tempo, taquei o foda-se pra eles, e continuei sendo como eu sempre fui, e como eu deveria ter permanecido, quieta, sem pensar ou agir, já que quando fiz isso, me arrependi profundamente da minha capacidade de lembrança.

Desde as férias, não fui mais longe do que a sorveteria próxima de casa, e sempre acompanhada. Medo, muito medo. Tenho medo de sair de casa sozinha, ou ficar sozinha em casa, por isso, sempre estou colada em Normani.

Lembro que quando ela começou a sair com Dinah, a loira achava que eu estava interessada em Normani, ou que eu não gostava dela, já que fazia o possível pra não sair do lado da morena.

Até o dia em que eu resolvi contar à Dinah, que me pediu perdão por pensar mal de mim. Ela no começo, tinha um cuidado diferente comigo, mas logo tudo voltou ao normal, e hoje, é como se ela não soubesse, e eu a agradeço por agir dessa maneira.

-Vou ao banheiro! -Falei me levantando.

-Só não demora, o avião delas acabou de chegar. -Concordo e sigo em busca do banheiro, naquele lugar tão desconhecido por mim.

-/*/-

Lauren

[Segunda feira. Nova Iorque. 4:30.]

Merda, merda, MERDA!!!

-Vai logo, Hansen!! Estamos muito atrasadas, e você sabe que pra mim desistir dessa viagem, é só uma questão de segundos!! -Falei praticamente arrombando a porta do banheiro do hotel onde estávamos.

-Tô indo, branquela! Que saco, você tá precisando goz ...

-Nem termina!! Sei que você é minha chefe, mas ainda posso te matar!

-Que mal humor em ... Sorte sua que é uma ótima desenhista ... Estou pronta, vamos Jauregui!

-Finalmante! -Digo pegando minhas malas. Descemos até o saguão principal do hotel 5 estrelas, onde nosso táxi já nos esperava.

Adentramos rapidamente o veículo, que praticamente voou entre as ruas movimentadas da cidade que nunca dorme.

Coloco meus fones de ouvido, deixando o volume da música no máximo.

Não estava mais suportando Dinah falar de como estava ansiosa para rever a namorada, eu adoro a Normani, mas já estava cansada de ouvir sobre ela, e de como eu ia gostar da amiga dela...

Sério, temos um novo projeto pra entregar em 6 meses, eu preciso de inspiração para meus desenhos, e ela querendo me arrumar uma namorada? Só a irresponsável da minha chefe mesmo!!

Tento me concentrar no fluxo de pessoas que andam apressadas pelas calçadas. Ajeito meu cachecol, Nova Iorque amanhecia em uma temperatura comparada a do Alasca, se não, pior.

Minhas bochechas estavam levemente vermelhas, e tento ignorar o fato que daqui a poucas horas, provavelmente terei que andar praticamente nua, já que Miami estava no verão.

-Ei, onde eu vou ficar? -Perguntei tirando os fones.

-Como onde? No meu apartamento, ué! -Ela fala como se fosse óbvio. -Já não disse que tenho mais dois quartos livres? Não se preocupe, tem seis meses da minha hospedaria garantidos!

-Só de pensar que vou passar seis meses sendo obrigada a te ver, já dá até um refluxo -Falei debochada.

-Você me ama que eu sei, Jauregay! -Reviro os olhos. -Chegamos!

Descemos do taxi, e o gentil taxista nos ajudou com as milhares de bagagens, sendo elas 80% da Dinah.

Pagamos pela corrida, e seguimos para o local de embarque.

Graças a nossa condição financeira, conseguimos fazer todo aquele processo clichê antes de embarcar, em menos de 10 minutos.

-Vamos naquela cafeteria? -Dinah disse apontado para o local, concordo caminhando até o local.

Adentramos o ambiente com iluminação baixa e quadros espalhados pelas enormes paredes. Escolhemos a mesa que estava mais ao fundo do local. Me sentei colocando meu caderno de desenhos e uma caneta preta sobre a mesa.

-O que vai querer?

-Um cappuccino grande, e um donut com confeitos. -Falei me arrumando melhor na cadeira.

-Você se alimenta como uma criança. -Jane falou sorrindo.

-E você se comporta como uma! -Ela revira os olhos e segue até o balcão para fazer nossos pedidos.

Coloco novamente meus fones, deixando a voz da Lana Del Rey invadir minha mente. Abri meu caderno, e analisei detalhadamente meu último desenho, que eu nem sabia de onde tinha vindo minha inspiração.

Eu tinha começado a rabiscar, enquanto Dinah falava sobre a tal amiga da sua namorada.

Ela falava animada da tal Carla ... Carolina ... Enfim, não me recordo, só sei que me inspirei e comecei os primeiros traços de algumas flores, que não me recordo dos nomes.

-Desenhando flores, Jauregui? -Dinah fala colocando meu pedido sobre a mesa. A encaro com uma cara de duvida. -Você não me parece gostar de flores. -Diz se sentando.

-Pois eu gosto muito de flores. Só não posso me dar ao luxo de ter, já que não vivo em casa, e acredito que Taylor não saberia como tratar uma obra como uma flor. -Sorrio ao lembrar da minha irmã mais nova.

-Uau, quem te viu, quem te vê em branquela! Não sabia dessa sua paixão por flores ... Mas adorei saber, me deu uma ideia pra uma nova peça de roupa! -Diz enquanto analisava o desenho.

-Ótimo! -Observo o desenho, e pra quem não desenha, diria que está perfeito, mas pra mim, faltava algo a mais. -Eu não gostei ... Falta alguma coisa.

-Bom ... O que te deu inspiração pra fazer?

-Sei lá ... Ela só veio ontem, enquanto você falava da amiga da Normani, a ...

-A Camila? - ~Camila~

-Isso!

-Hmmm ... Interessante isso.

-Por que?

-Você nem conhece a menina, e ela já é sua inspiração, imagina quando ver a bunduda!

-Bunduda? -Perguntei fazendo uma careta.

-É, a bunda daquela menina é enorme!! Mas enfim ... Já temos a inspiração que tanto procurava!

-Não viaja, Jane, ela não é minha inspiração! Eu nem conheço ela, como você mesma disse! Foi só uma coincidência.

-Não acredito em coincidências, prefiro acreditar no destino! -Reviro os olhos, e resolvo não prolongar muito o assunto. Terminamos de comer em cima da hora, quase perdemos o vôo.

**

[Segunda feira. Miami. 9:00]

-Finalmente chegamos!! -Dinah exclama ao sair do avião.

-Ainda bem, não aguentava mais "A Mani" pra lá, "Meu amor" pra cá! Acho que vou ter diabetes enquanto estiver aqui, com tanta melação!

-A branquela, fica na sua! Você fala isso porquê nunca se apaixonou!

-E nem pretendo! Estou bem do jeito que estou.

-Isso é o que veremos ... Venha, quero encher logo minha namorada de beijos! -Reviro os olhos, e aperto os passos, tentando alcançá-la.

Olhamos em volta, e nada da Normani. Eu já começava a soar, prendo meu cabelo em um coque mal feito, na tentativa falha de amenizar o calor.

-Socorro! Aqui é muito quente! -Exclamei enquanto tirava o cachecol.

-Eu sei, já estava com saudades desse clima. -Ela fala ainda olhando em volta. -Onde ela se meteu?

-Sei lá ... Eu vou ao banheiro lavar meu rosto. Quando achar ela, me manda uma mensagem avisando onde estão.

-Tá, se você achar ela no caminho, me liga. -Concordo com a cabeça, e sigo em busca do banheiro.

Acho que fui parar do outro lado do aeroporto, andei toda a extensão a procura do bendito banheiro, já que a grande maioria, estavam com as portas ruins, até que finalmente achei um que me parecia normal.

Entrei no local, e aparentemente, estava sozinha.

Tirei meu sobretudo preto, e minhas luvas que deixavam somente as pontas dos meus dedos à mostra, em cima das peças, coloquei com cuidado meu caderno de desenhos.

Me curvei sobre a pia, e molhei meu rosto. Logo o contato da água gelada, amenizou um pouco o calor que estava sentindo.

Ouço um barulho de alguma porta sendo aberta, pelo espelho, vi o reflexo de uma bela menina.

Seus longos cabelos escuros, estavam presos em um rabo de cavalo bem feito, deixando seu lindo rosto a quem quisesse ver. Ao ver que eu a olhava, deu um leve sorriso, e entrou em uma das cabines.

Arrumei melhor o meu cabelo, fixando mais o coque. Molhei um pouco minha nuca, e lavei o rosto novamente, é, eu realmente detesto sentir calor.

Acabei molhando um minha camiseta social branca, o que deixou a parte dos meus seios, um pouco transparente, dando pra visualizar minha lingerie preta.

Merda Lauren! Faz alguma coisa direito!

Peguei alguns pedaços de papeis, na tentativa falha de secar o tecido de ceda. A menina que estava na cabine, sai e sorri, se voltando a pia, lavando as mãos, e em seguida o rosto.

-Acho que não vai secar desse jeito, nem adianta se estressar. -Ela disse, me fazendo encará-la.

-Também estou começando a achar ... -

Falei meia tímida, ela sorriu e se virou para sair do banheiro. Reparei que ela puxou a porta repetidas vezes, mas a mesma não abriu.

-É ... Poderia me ajudar? -Perguntou olhando para a porta.

-Um pouco fraca você, não acha? -Falei divertida, ela fez uma cara de indignada. Me coloquei a frente da porta, onde puxei a maçaneta 1, 2, 3, 4 e nada. -Oh, Merda!

-Vai lá, ô fortona! -Ela falou cruzando os braços. Revirei os olhos, e tentei novamente.

-Acho que estamos presas ... A porta deve ter emperrado, as outras também estavam assim. -Falei me virando pra ela.

-Ahh não! Mas que ótimo! O que vamos fazer? -Ela disse parecendo irritada. Segui até meu sobretudo deixado em cima da pia, onde meu celular estava dentro do bolso. -O que vai fazer? -Ela disse se aproximando.

-Pedir ajuda, ou quer ficar aqui presa? -Ela bufa, e fica me observando enquanto eu discava o número do celular da Dinah.

"O telefone discado, está fora de área ou desligado"

-Ótimo, o celular dela desligou! Está sozinha aqui? -Ela me olhou confusa. -Você está com alguém no aeroporto, ou está sozinha ?

-Ahh ... Estou com minha amiga.

-Certo, toma, liga pra ela, avisa que precisamos de ajuda. -Falei lhe entregando o celular. Rapidamente ela discou o número, levou o aparelho até sua orelha, e pela cara que ela fez, provavelmente ouviu a mesma coisa que eu.

-Esquece! -Falou me devolvendo o celular. -E agora, o que faremos?

-Gritar? -Ela revira os olhos, e se apoia na pia olhando fixamente no espelho. -Ei, calma, a gente vai sair daqui, nossas amigas vão se dar conta que sumimos, e vão nos procurar. -Falei me colocando ao seu lado, ficando de costas para o espelho apoiada sobre a peça de mármore.

-Certo ... Você tem razão ... Só que se passar mais de meia hora, aí a gente coloca seu plano em ação.

-Que plano? -Falei me virando um pouco para encará-la.

-O de gritar! -Sorrimos.

Ela parecia analisar cada detalhe do meu rosto, já estava me sentindo envergonhada, ela pareceu perceber, e voltou sua atenção ao espelho.

Me viro, e lavo mais uma vez meu rosto, aquele lugar mais parecia um forno.