História Flowers and Drawings for her - (Camren) - Medo.

Narradora Pov.

[Um mês depois]

Medo.

Um sentimento necessário, desnecessário. Correto e contraditório. Todos tem, ninguém quer ter. Atrapalha e ajuda. Te faz pensar, ou parar. Te faz ser, te faz parar de ser. Te faz ir, ou cair.

Medo. Até que ponto ele está presente nas nossas ações?

Do que mais tem medo? De morrer? Perder quem você ama? Medo de borboletas? Cobras? Palhaços? Aranhas? Medo de alguém? De algo? De si mesma? Do que tem tanto medo?

Medo é arte. É sensação. É aquilo que te ajuda nas piores decisões. Se tem medo, isso quer dizer que ainda sente algo. Quando nem ele se fizer presente, você está morto. Sem razão, sem um porquê.

Devemos senti-lô quando olharmos do alto de um prédio. Aquele frio na barriga, aquela leve adrenalina, e então você pensa.

"Será que devo pular daqui?" "Será que vai doer?"

Arriscar com medo, isso sim é coragem.

Você ouve as batidas frenéticas do seu coração. Ouve sua respiração pesando a casa milésimo de segundo. As mãos suando, pés que ganham vida sozinhos. Ansiedade é o novo oxigênio.

Mas, do que você tem tanto medo?

Essa era a pergunta que Camila repetia em sua mente. A latina terminava de se arrumar para voltar à escola. Depois de quase três meses em casa, finalmente, ela iria voltar a sua rotina.

Tudo havia passado tão rápido. Mas nenhuma memória tinha escapado da garota que se encarava pelo reflexo do espelho.

Camila sentia sua respiração pesar constantemente. Ela estava nervosa, não sabia como iria ser sua volta às aulas.

Durante esse tempo que se passou, a garota se descobriu, tentou, levantou, caiu, chorou e continuou.

Tantas fases, uma borbulha de sentimentos no mesmo dia. Aquilo, claro, havia afetado sua vida, e iria sempre interferir em suas escolhas, porém, ela se sentia assustadoramente pronta.

Finalmente, pronta.

Jogando a mochila vermelha sobre os ombros, Camila saiu de seu quarto, descendo as escadas rumo a cozinha, onde Sofia a esperava.

-Tudo pronto? -Questionou a mais velha com um sorriso leve no rosto, ainda meio receosa de falar com a irmã.

Noite passada, Sofia havia chorado quando soube que suas aulas já iriam começar. A garotinha de bochechas fofas e olhos brilhantes ainda tinha medo de tudo que poderia acontecer com ela. Mesmo com acompanhamento psicológico, Sofi acabou adquirindo uma "sindrome do pânico", não conseguindo ficar mais que cinco minutos sozinha em algum lugar.

-Acho que sim. -Respondeu dando um gole em seu achocolatado. -Regina vai hoje, certo? -Disse já mudando o tom de voz para preocupada.

-Vai sim, meu amor. Logo Lauren vem nos buscar, e Regina vai vir junto. -Confortou a menor, que lhe sorriu de leve. -Pegou seu lanche? -Confirmou com a cabeça. -Ótimo. Meu número está salvo no seu celular, qualquer coisa, me ligue. O da Dinah, Mani e Lauren também estão ai, ok?

-Tudo bem, Kaki. -Apertou seu celular novo em mãos. -Você vai ir me buscar?

-Não, mas a Mani vai. Você e a Regina, espere ela dentro da escola, tudo bem?

-Sim. -Respirou fundo.

-Ei, pequena. -Se ajoelhou ao lado da irmã. -Não precisa ter medo, vai ficar tudo bem. -Beijou sua testa.

Três buzinas foram ouvidas, fazendo as irmãs Cabello se assustarem. Pegando suas respectivas mochilas, as duas sairam da casa. Enquanto Camila trancava tudo, Sofia já corria de braços abertos até o encontro de Lauren, que às esperava ao lado do carro.

-Dormiu bem? -Camila ouviu Lauren questionar a sua irmã, enquanto ainda estavam abraçadas.

-Uhum. -Murmurou apertando mais a morena contra seu corpo. Camila sorriu com a cena. Sofia e Lauren haviam criado um laço muito forte durante esse tempo, fazendo a latina agradecer por sua namorada ser tão atenciosa e carinhosa.

-E eu, não ganho abraço? -Perguntou brincando, cruzando suas braços abaixo dos seios. Lauren sorriu abertamente e se levantou, logo puxando a namorada para um abraço apertado.

-Bom dia, princesa. -Disse levantando a latina do chão.

-Bom dia, anjo. -Sorriu com o ato. Assim que se afastaram um pouco, Camila a puxou para um beijo cheio de amor e carinho, fazendo Sofia fazer cara de nojo com a cena.

-Eca. -Murmurou fazendo as duas rirem.

Entrando no banco de trás, Sofia e Regina, irmã de Dinah, se cumprimentaram calorosamente, com abraços desajeitados e gritinhos histéricos.

Lauren abriu a porta para Camila entrar, assim que se acomodou, a morena seguiu para seu lugar de motorista, todas afivelaram os cintos e seguiram até o Colégio.

O caminho, na maioria do tempo, foi silencioso. Apenas o ruído do rádio era ouvido. Todas pareciam aflitas, todas estavam com medo.

-Chegamos. -Lauren anunciou estacionando o carro. Sofia e Regina, apesar de estudarem na mesma escola que Camila, ficavam em outra unidade, para que alunos com diversas idades não fossem misturados.

O casal rapidamente deixou as garotinhas sobe a responsabilidade da professora, que confirmou mais uma vez as ordens, caso houvesse uma emergência.

Voltando para o carro, Lauren e Camila respiraram fundo assim que se acomodaram.

-Você acha que ela vai ficar bem? -A latina perguntou enquanto observava a irmã pelo vidro do carro.

-Claro que vai! -Assegurou. -Sofia é forte, e sabe se virar muito bem. -Levou sua mão até a mão de Camila, entrelaçando seus dedos. -Ela vai ficar bem. -Levou a mão até seus lábios, depositando um beijo suave nas costas. Camila sorriu de leve e permaneceu como estava. De mãos dadas com Lauren até que elas chegaram até seu Colégio, que era duas quadras dali.

-Pode me deixar aqui, eu vou andando. -Camila disse apontando um lugar vazio na rua, já que Lauren queria estacionar dentro da escola.

-Está querendo se livrar de mim, Cabello? -Perguntou brincalhona.

-Claro que não, boba! Só não quero te dar mais trabalho.

-Você não me dá trabalho nenhum. -Disse fazendo carinho em sua mão. Estacionando exatamente de frente ao portão da escola, o casal desceu do carro e observou a entrada.

Haviam mais jovens ali, do que Camila podia contar apenas olhando. A latina se sentiu intimidada ao ver algumas pessoas da sua sala. Lauren, ao notar o receio da namorada, segurou em sua mão e caminharam juntas até a área aberta que havia ali. Muitos olhares estavam sobre as duas. Cochichos, sussurros, Camila sabia que aquilo iria acontecer, mas afinal, como evitar isso?

-Está tudo bem? -Lauren perguntou colocando uma mecha de cabelo da namorada atrás da orelha.

-Acho que sim. -Sorriu nervosa. -Tinha me esquecido como essas pessoas me olham. -A de olhos claros sentiu uma pontada no coração. Aquilo não era certo, Camila não merecia a pena de ninguém, apenas, admiração.

-Se você não quiser fazer isso agora, não precisa.

-Não, eu preciso, vai ser bom. -Sorriram. O sinal tocou e logo metade da escola já não estava mais ali, Lauren respirou fundo e deu um longo selinho na namorada.

-Se cuida, ok? Qualquer coisa me liga. -Beijou sua testa, fazendo Camila sorrir.

-Pode deixar, anjo, digo o mesmo. -Mordeu o lábio inferior, tentando controlar o nervosismo.

-Eu volto pra te buscar.

-Não precisa, eu pego o ônibus.

-Até mais tarde, princesa. -Disse já se afastando. Camila sorriu e negou com a cabeça, sabia que Lauren não tinha aceitado sua ideia.

Caminhando lentamente para dentro da escola, a latina se recusava a olhar para os lados, sabendo que se fizesse isso, perceberia que ela estava sendo o centro das atenções. Quando chegou na frente da sua sala, ela agradeceu internamente por estar vazia. Se sentando na última cadeira, da última fileira, a latina pegou seus fones e celular, tirou o livro "Diário de Anne Frank" da mochila, e começou a se perder entre os relatos da garota que fez história.

Enquanto se perdia na leitura, Camila pode ouvir algumas vozes se aproximando, mas se recusando a olhar que poderia ser. Ela não queria nenhum contato, só queria terminar logo seu último ano escolar, e se ver livre daquilo.

Antes que ela pudesse virar mais uma pagina livre, uma mão a impediu. Camila sentiu um arrepio ao notar que alguém poderia mexer com ela. Levantando seu olhar lentamente, a latina respirou aliviada ao ver seu professor de matemática. Tirou os fones e fechou o livro, o professor lhe sorriu em agradecimento e voltou para a frente da sala.

-Bom dia alunos. Sejam todos bem-vindos novamente a nossa querida escola! -Algumas vaias foram ouvidas. -Sério? Não sentiram nem um pouquinho de saudade de mim? -Todos negaram. -Nem você, Camila? -A latina sentiu seu rosto queimar, quando toda a sala lhe encarou.

-Matemática não é meu forte. -Respondeu nervosa, fazendo os demais alunos rirem. Respirou aliviada e abaixou a cabeça.

Na verdade, Camila amava seu professor de matemática. David, lhe dava aulas desde a 5° série, e eles acabaram criando um laço muito grande. Mas como nem tudo é flores, logo especulações de que os dois tinham um caso, se espalhou pela escola. O boato foi espalhado por um grupo que sabia da história de Camila, mas que não acreditavam que ela havia sido estuprada, e sim, que ela havia seduzido o próprio pai. O caso foi levado ao diretor, e os alunos expulsos, já que as "piadas" diárias acabaram afetando psicologicamente a aluna.

-Estou magoado com vocês. -Disse David, fingindo tristeza enquanto levava as mãos até seu coração. -E só por isso, teremos uma prova hoje! -Os alunos se manifestaram de imediato, fazendo o professor rir. -A prova vai ser em dupla. -Um coro de felicidade foi ouvido. -Você e seu conhecimento! 30 questões, valendo dois pontos na média. -Novamente um protesto.

Camila se divertia na aula de matemática, o professor sabia bem como falar com os alunos, era a medida certa entre respeito e amizade.

Quando a sala se cessou, o professor entregou as provas e logo todos estavam fazendo. Camila não demorou mais do que 15 minutos para terminar. Pegando novamente seus fones e livro, a garota permaneceu da mesma maneira até a troca de aula, nem reparando quando o professor havia recolhido os papéis.

A aula de química passou como uma folha branca para a latina. Ela não entendia a matéria, não gostava, e não estava nem um pouco afim de prestar atenção. Sua terceira aula era de educação física. Pegando mais um livro, já que o de Anne Frank ela já havia terminado, Camila ficou em uma área isolada da arquibancada, enquanto os demais alunos jogavam vôlei dentro da quadra.

Camila: Oi anjo, estou com saudade ><

Digitou rapidamente a mensagem para a namorada, abrindo um sorriso largo ao ver que ela já a respondia.

Lolo: Oi princesa, também estou morrendo de saudade :( Como está sendo ai? Está tudo bem?

Camila: Tudo normal. Mesmas pessoas, olhares, mas estou bem ... E você?

Lolo: Estou bem também, mas estaria melhor se estivesse te beijando :)

Camila: LAUREN! Se comporte! -Sentiu seu rosto corar, enviou a mensagem enquanto sorria e mordia o lábio inferior.

Lolo: Eu to quietinha :)) Só com saudade da sua boca

Camila: Sei bem :X

Lolo: Não disse saudade dela aonde ... -Camila mordeu mais ainda seu lábio, sentindo seu rosto queimar mais ainda.

Camila: Pervertida! Eu tenho que ir agora, to ficando sem bateria, e preciso dela até chegar na Harmony.

Lolo: Tudo bem, princesa. Eu tenho que terminar alguns desenhos aqui.

Camila: Então, até mais tarde, anjo. Te amo XOXO

Lolo: Até, pequena. I love u more XOXO

Camila suspirou pesado. Seu coração saltava feito louco. A cada dia que passava, ela se sentia mais apaixonada por Lauren.

Se encostando melhor ali, a latina logo abriu um novo livro, "Cidades de papel", se concentrando em cada palavra do John Green, ela nem reparou quando o sinal para o intervalo havia tocado, só notando que a quarta aula havia chegado, quando uma nova turma apareceu ali.

Andando o mais rápido que conseguia, a latina voltou para a sua sala, se praguejando por não ter notado a hora passar. Bateu três vezes na porta, e a professora de história a abriu.

-Com licença, professora, posso entrar? -Perguntou nervosa.

-Claro. -Deu espaço pra latina passar.

Assim que passou pela porta, a sala inteira a olhou. Novos cochichos foram ouvidos. Camila percebeu que estavam falando sobre ela e uma "garota de olhos verdes", ignorando novamente aquelas pessoas, se sentou em seu lugar e fingiu que assistia as aulas, já que sua cabeça estava em outro lugar.

O último sinal bateu, Camila esperou todos os alunos sairem, e só assim, começou a arrumar suas coisas. Quando saiu da sala, sentiu seu coração parar ao ver aquela menina. A mesma que havia lhe entregado o envelope com o dinheiro de Selena. Tentando passar despercebida, mas falhando, já que a garota começou a caminhar ao seu lado.

-Selena quer falar com você. -Disse baixo, Camila suspirou e a encarou.

-Sobre?

-Eu não sei, ela só me pediu pra lhe dizer isso.

-E como eu vou entrar em contato com ela?

-Você sabe onde encontra-la.

-Eu não vou na prisão visitar ela. -Disse parando de andar. A garota menor sorriu tristemente e a encarou.

-Ela sente sua falta. Não para de perguntar sobre você. -Camila suspirou.

-E-eu não posso ir lá, se ela tem algo a me dizer, que escreva outra carta.

-Eu vou dizer isso à ela ... Aliás, me chamo Ariana. -A garota sorriu e estendeu a mão para a latina.

-Vocês são amigas? -Questionou apertando gentilmente sua mão.

-Somos, ela morava comigo antes de tudo, eu sei que ela é uma boa pessoa, e você também.

-Eu sei disso, e por isso vou dar uma chance pra ela me fazer uma carta. Eu juro que vou ler. -Ariana concordou com a cabeça.

-Sua namorada vem vindo, falo com você amanhã. -Disse baixo, e antes que Camila podesse dizer algo, Lauren já colocava a mão em seu ombro.

-Oi, princesa. Tudo bem? -Questionou a encarando, e em seguida, analisando a garota menor ali presente.

-Oi, anjo. Tudo sim. -Sorriu e lhe deu um selinho. -Até amanhã. -Disse pra Ariana, que sorriu de leve e caminhou para fora da escola.

-O que ela queria? -Lauren perguntou um pouco séria.

-Calma, ela é uma colega minha, só estava perguntando se eu estava bem. -Se sentiu horrível por mentir, mas ela não podia contar para Lauren.

-Fico feliz que tenha uma amiga aqui. -Sorriu. -Bom, vamos? -Camila concordou com a cabeça. Caminhando até o carro, o casal logo estava no restaurante próximo à Harmony. Fizeram seus pedidos e almoçaram entre uma conversa animada e cheia de carinhos.